EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA, INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E PARCERIAS
COM COMUNIDADES ATRAVÉS DO PEOPLE-FIRST TOURISM
Prof. Dr. James Wallace
Prof. Dr. Duarte Morais
North Carolina State University (EUA)
Como amplamente documentado na literatura científica, o turismo muitas
vezes traz aportes financeiros necessários para comunidades rurais com
alternativas econômicas muito limitadas; mas o turismo também é frequentemente
associado com distribuições desiguais de fundos, mudanças em tecidos sociais e
políticas culturais, e com a degradação ambiental e paisagística. Alguns autores
relatam que o turismo é muitas vezes um mecanismo que objetiva patrimónios e
identidades locais e, dessa forma, transforma comunidades acolhedoras em tourees
passivos (Cohen, 2001). Em vez de capacitar as comunidades rurais subalternas
(Spivak, 1985), o turismo muitas vezes torna-se num mecanismo que prolonga a
exploração hegemónica de subalternos rurais por elites internacionais, nacionais e
regionais (Wallace e Diamente, 2005). No entanto, outros autores descobriram que,
em alguns casos o turismo pode ser uma plataforma onde os subalternos podem
falar e realmente definir quais os aspetos das suas comunidades / patrimónios /
identidades que são adequadas para partilhar com os visitantes e gerar os aportes
económicos que necessitam (Wang & Morais, 2014 ).
Neste amplo corpo de literatura a examinar o papel do turismo no
desenvolvimento equitativo e sustentável das populações rurais, existe cada vez
mais consenso em relação à importância de envolver os residentes locais nas
tomadas de decisões e planeamento do turismo na região (Tosun, 2000). Pouco é
conhecido sobre o papel de pequenas empresas locais de turismo. Morais et al
(2012) propõem que as empresas do sector de turismo informal podem contribuir
com um contramovimento que envolve microempresários locais na produção de
experiências espontâneas que escapam ao controle dos centros de poder. De facto,
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autores como Chronis (2005), Morais et al (2010), e outros, têm comentado sobre a
interação dinâmica entre narrativas de património cultural sancionadas pelo estado
e as contra-narrativas criadas por comunidades acolhedoras na co-construção de
experiências de turismo cultural. Aitchinson (2001) propõe, ainda, que a partir de
uma perspetiva feminista pós-estruturalista, o subalterno muitas vezes usa espaços
criados pelo turismo para construir discursos contra-hegemónicos.
Seguindo as ideias contra-hegemónicas apresentadas neste tipo de
pesquisa, nos iniciamos um campo de investigação intitulado People-First Tourism
focado em examinar o papel do micro-empreendedorismo turístico na vida de
pessoas e comunidades com meios de subsistência vulneráveis.
Estudar populações rurais pobres traz desafios e responsabilidades
inerentes.
Desde o início do nosso projeto, que sentimos que a forma mais
sofisticada e ética para desenvolver um tal projeto de pesquisa seria utilizando uma
abordagem de investigação-ação participativa que faria:
a) Integrar a população rural pobre no processo de pesquisa para que os
empresários de turismo rural ganhem agência através da participação no
projeto;
b) Manter o nosso envolvimento de longo prazo com os participantes, de modo
a permitir a recolha longitudinal de dados para obter resultados com
inferência mais forte; e,
c) Incorporar uma empresa social que gera oportunidades de rendimento para
os participantes, de modo que, independentemente do impacto do projeto a
longo prazo através do seu efeito em praticas e políticas de turismo rural, os
participantes também terão benefícios tangíveis a curto prazo (Bradburry &
Reason, 2003).
O projeto começou em 2011, no estado da Carolina do Norte, EUA, e está a
crescer gradualmente para outros estados e países Norte-Americanos. Morais
lidera o desenvolvimento do projeto na Carolina do Norte, Wallace lidera o projeto
na Guatemala, e outros colegas lideram o seu desenvolvimento em diversas outras
regiões. Em cada região, o projeto está a ser liderado e apoiado por professores e
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alunos de uma instituição acadêmica parceira, a trabalhar com organizações
comunitárias e com os microempresários de turismo que recrutam. Essas equipas
acompanham (Freire, 1970) grupos de microempresários, registam os seus perfis
no portal on-line do projeto (www.peoplefirsttourism.com) e recolhem dados
longitudinalmente sobre certas variáveis de desenvolvimento rural.
Na nossa apresentação, vamos definir People-First Tourism, e explicar como
o projeto está estruturado e como nós encorajamos e incentivamos parceiros
académicos.
Além disso, vamos criar oportunidades para os participantes
experimentarem técnicas de avaliação rural participativa desenvolvidas ou
adaptadas para este projeto. Nomeadamente, nós vamos compartilhar o protocolo
de entrevista utilizado presentemente na Carolina do Norte, Guatemala, Pensilvânia
e Portugal. Também vamos explicar como utilizamos técnicas de investigação-ação
participativa, como o River of Life, free-listing, e pile-sorting. Além disso, vamos
explicar como utilizamos alunos e parceiros locais para operacionalizar a nossa
recolha de dados à escala internacional.
Nos desejamos que as nossas ideias sejam úteis para quaisquer
participantes interessados na pesquisa, prática e política do turismo rural. O nosso
objetivo para esta apresentação é também de motivar colegas que, como nós, estão
interessadas em fomentar melhor desenvolvimento rural equitativo e sustentável
através da sua investigação e ensino. Esperamos que alguns se unam a nós com o
desejo de colaborar neste projeto e estamos empenhados em desenvolver
parcerias mutuamente benéficas. Além disso, esperamos que apresentando um
projeto que facilita melhorias significativas nas vidas de microempresários de
turismo rural, e que gera contribuições académicas substantivas irá incentivar outros
colegas a colocar em prática as suas próprias ideias inovadoras.
Referencias
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3
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Tosun, C. (2000). Limits to community participation in the tourism development
process in developing countries. Tourism Management, 21, 613-633.
Wallace, T., & Diamente, D. N. (2005). Keeping people in the parks : A case study
from Guatemala. NAPA Bulletin, 23(1), 191-218.
Wang, Y, & Morais, D. B. (2014). Self-representations of the matriarchal other.
Annals of Tourism Research, 44, 74-87.
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In English:
As amply documented in the scientific literature, tourism often brings much
needed income to rural communities with limited economic alternatives; but tourism
is also frequently associated with unequal distribution of income, change in social
fabrics and cultural politics, and with environmental and landscape degradation.
Some authors have reported that tourism is often a mechanism that objectifies
heritages and local identities and thus transforms host communities into passive
tourees (Cohen, 2001). Rather that serving the purported role of empowering
subaltern (Spivak, 1985) rural communities, tourism often becomes a mechanism
for the continued hegemonic exploitation of rural subaltern people by international,
national and regional elites (Wallace and Diamente, 2005). In contrast however,
others have found that in some instances tourism can be a stage where subaltern
people
can
speak
and
actually
define
which
aspects
of
their
communities/heritages/identities are suitable for sharing with visitors and to generate
needed income (Wang & Morais, 2014).
Stemming from this ample body of literature examining the role of tourism in
the equitable and sustainable development of rural people and places there is
growing support for the importance of involving local hosts in decision-making and
planning (Tosun, 2000). Less is known about the role of local ownership of small
tourism businesses.
Morais et al (2012) propose that informal sector tourism
businesses may fuel a counter movement that engages local hosts in producing
unscripted experiences that escape the control of sanctioning groups. Indeed,
Chronis (2005), Morais et al (2010), and others, have commented on the dynamic
interaction between state-sanctioned heritage narratives and local communities’ own
narratives in the co-constructions of cultural tourism experiences. Aitchinson (2001)
further proposes that from a post-structuralist feminist perspective the subaltern
often uses spaces created by tourism to construct counter-hegemonic discourses.
Following the counter-hegemonic ideas presented in this kind of research, we
initiated a field of tourism inquiry titled People-First Tourism focused on examining
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the role of tourism micro-entrepreneurship in shaping the lives of people with
vulnerable livelihoods.
Studying the rural poor carries inherent challenges and responsibilities. From
the outset, we felt that the most sophisticated and ethical way to pursue such a
research program would be to use a participatory action research approach that
would:
a) integrate the rural poor in the research process so that rural tourism
entrepreneurs gained agency by participating in the project;
b) maintain long-term involvement with participants so as to allow longitudinal
data collection that would support stronger inference scholarship; and,
c) incorporate a social venture that generates income opportunities to the
participants so that, independently from the long-term impact of the project
on participants through its effect on rural tourism policy and practice, the
participants would also yield tangible benefits in the short term (Bradburry &
Reason, 2003).
The project began in 2011 in the state of North Carolina, USA, and is
expanding gradually to other US states and countries.
Morais leads the
development of the project in North Carolina, Wallace leads the project in
Guatemala, and other colleagues are leading the project development in various
other regions. In each region, the project is to be led and supported by faculty and
students from a partner academic institution, working with community agencies and
with the tourism micro-entrepreneurs that they recruit. These academic/community
teams accompany (Freire, 1970) groups of micro-entrepreneurs, register them on
the project’s online marketplace (www.peoplefirsttourism.com) and collect data
about select variables longitudinally.
In our presentation we will define the scope of People-First Tourism
scholarship,
and
explain
how
the
project
is
structured
and
how
we
encourage/incentivize academic institutions/partners to become involved. Further,
we will create experiential opportunities to use participatory rural appraisal
techniques developed and/or adapted for the scholarly and impact evaluation
6
component of this project.
Namely, we will share the interview protocol and
procedures currently used in North Carolina, Guatemala, Pennsylvania and
Portugal. We will also work with session participants to explain how we use inquiry
techniques like The River of Life, free listing, and pile sorting in our participatory
action research. Furthermore, we will explain how data collection operates and how
we train students and local people to do data collection.
Although our ideas should be of interest to anyone interested in rural tourism
research, practice and policy, our goal for this presentation is also to entice
colleagues who, like us, are interested in effecting improved equitable and
sustainable rural development through their tourism scholarship and teaching. We
hope some will approach us with the desire to collaborate on this project and are
committed to arriving to mutually beneficial partnerships. Additionally, we hope that
showcasing a project that is already enabling meaningful improvements in the lives
of rural tourism micro-entrepreneurs as well as making substantive scholarly impacts
will encourage other colleagues to put into practice their own innovative ideas.
References
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