Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 23 – Estudos sobre o Português dos séculos XX e XXI.
OS LOGRADOUROS DE CAXIAS DO SUL: SEUS NOMES, SUAS
INTERCONEXÕES.
Vitalina Maria FROSI1
RESUMO – Este texto apresenta uma breve visão das ruas e praças de Caxias do Sul,
principal cidade da Região de Colonização Italiana do Nordeste do Rio Grande do Sul
(RCI).2 Examina os nomes de alguns logradouros dessa cidade, tendo em conta a
história singular e o contexto que marcaram a trajetória dessa cidade. Dentre os
elementos mais importantes que assinalam as denominações aí ocorridas, destacam-se
as forças políticas, os fatos históricos, a cultura dos dois grupos étnicos, o de origem
italiana e o de origem luso-brasileira, suas ideologias e crenças, suas tradições e valores.
A área territorial de Caxias do Sul conta em 2009, com 3.611 ruas, incluídas nesse
número também as praças. A cidade foi fundada e desenvolvida por italianos e seus
descendentes. Os cargos de poder administrativo foram, todavia, durante quarenta e
nove anos, ocupados por líderes brasileiros, indicados pelo Governador do Estado
gaúcho. Somente em 1924, um italiano assumiu o governo do município. 61,78% dos
logradouros de Caxias do Sul têm nomes italianos, na grande maioria, nomes de pessoas
que fundaram a comunidade, nela trabalharam e viveram. Apesar disso, todas as ruas do
bairro Centro da cidade possuem nomes luso-brasileiros. É evidente a influência política
brasileira exercida nos primeiros 50 anos da história da RCI. O grupo étnico italiano
representava a maioria dos habitantes, mas o poder estava nas mãos de brasileiros
(MACHADO, 2004), PAGANI, 2005). Além da atuação política, havia, por um lado, a
igreja católica, por outro, a maçonaria. No passado, as relações entre essas duas
entidades mostraram-se aí em desarmonia (RELA, 2004). Os nomes estão ainda em
estreita relação com fatos históricos de efeitos marcantes na área de colonização italiana
(PESAVENTO, 1980). Com base na análise dos textos motivacionais dos processos de
proposição de nomes para ruas e praças, é possível explicitar, principalmente, o papel
político, neste caso, representado pelos vereadores da Câmara municipal. É também
transparente a questão de gênero. Os textos revelam que a homenagem prestada à
mulher, dando seu nome a uma rua ou praça, premiava atributos tais como ser
trabalhadora, dedicada ao marido e aos filhos, católica praticante e mãe de numerosa
prole. Dentre os 60,59% dos nomes italianos de pessoas que designam ruas, avenidas e
praças, 8,69% homenageiam mulheres de origem étnica italiana. Este trabalho propicia
1
Universidade de Caxias do Sul, Campus I, Centro de Ciências Humanas, Departamento de Letras – Rua
Francisco Getúlio Vargas, 1130 – Bloco H – 95001-970 – Caxias do Sul - RS – Brasil –
[email protected]
2
Este texto é derivado de atividades por mim desenvolvidas no Projeto TOPONÍMIA do Mestrado em
Letras, Cultura e Regionalidade. Fazem parte desse Projeto as professoras Carmen Maria Faggion, Giselle
Olívia Mantovani Dal Corno, Luiza Horn Iotti e a bolsista do CNPq Gláucia Paim Honorato.
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reflexões acerca das vicissitudes que marcaram a história sociolingüística local, com
ênfase na lexicologia e na sua importância no contexto bilíngüe da localidade.
PALAVRAS-CHAVE: hodônimos; grupos étnicos; cultura; política; fatos históricos.
Introdução
A rua é um ponto singular de atração da cidade, um verdadeiro
microcosmo dentro do organismo maior do aglomerado urbano. Para
ela tudo converge, desde o fato corriqueiro do dia-a-dia, o simples
entra e sai das casas até as grandes comemorações solenes ou festivas.
(Dick, 1997, p. 133).
Este texto apresenta um breve estudo das ruas e praças de Caxias do Sul3,
principal município da Região de Colonização Italiana do Nordeste do Rio Grande do
Sul (RCI). Situa-se no ramo da Lingüística denominado Onomástica, especificamente,
na área de abrangência da Toponímia e, mais precisamente, restringe-se à Hodonímia. A
Onomástica é um ramo da filologia que estuda os nomes próprios. Localiza-se no setor
da Lingüística denominado Lexicologia. A Toponímia compreende o estudo dos nomes
próprios de lugares, da sua origem e da sua evolução. A Toponímia subsume a
Hodonímia, objeto do presente estudo. Insere-se no nível do léxico de uma língua.
Isquerdo (2001, p. 91) considera que “o nível lexical de um sistema lingüístico
armazena e acumula as aquisições culturais representativas de uma sociedade”. É, pois,
nesse nível que se encontra o tesouro de uma língua e, portanto, também os nomes
próprios fazem parte desse tesouro lingüístico.
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Alexandre Melo de Sousa (2007), diz que a “língua, como instituição social, reflete
as manifestações sócio-culturais, a cosmovisão e os ideais de um povo. O estudo da língua,
portanto, permite a descoberta de episódios históricos, o conhecimento de características físicogeográficas de uma região”.
A palavra toponímia tem origem grega: topos ‘lugar’; onoma, ‘nome’. A
Hodonímia compreende o estudo dos nomes dos logradouros, de estradas em geral. A
palavra hodonímia tem origem grega hodós ‘estrada’ e onoma ‘nome. À Hodonímia
compete estudar a origem e a evolução dos nomes das vias e dos espaços públicos de
circulação das comunidades urbanas, contemplando os vários aspectos interdisciplinares
– históricos, sociais, econômicos, étnicos e culturais – que aí se entrecruzam e se
envolvem. Os hodônimos serão analisados em seus vários aspectos, conforme o
interesse suscitado por cada um deles. Consideramos que nossa pesquisa possui caráter
rigorosamente interdisciplinar. Desse modo, serão aproveitados os princípios teóricos
pertinentes na descrição e explicação dos hodônimos, com a justa consideração à
interdisciplinaridade aí implicada. Ao reportar-se ao caráter interdisciplinar da
Toponímia, Dick (1990, p. 36) assevera que este campo de estudos apresenta-se como
“um imenso complexo línguo-cultural em que dados das demais ciências se
interseccionam necessariamente e não exclusivamente”. Consideramos válido e
aplicável à hodonímia o que essa afirmação contém.
Este trabalho propicia reflexões acerca das vicissitudes que marcaram a história
sociolingüística local, com ênfase nos hodônimos e na sua importância no contexto
bilíngüe da localidade. Pelo que nos é dado saber, não existe um estudo sistemático da
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hodonímia da cidade de Caxias do Sul. O estudo justifica-se, portanto, por ser, nesse
sentido, inédito e necessário. Analisar a hodonímia, em seus vários aspectos
interdisciplinares, é garantir a preservação do verdadeiro e justo sentido que o nome,
oficial ou popular, possui.
A pesquisa foi desenvolvida com base em documentos escritos, isto é, efetuamos
a leitura dos textos das Leis, dos Processos e dos Atos de denominação de ruas, praças,
avenidas, parques e outros espaços da circulação urbana, junto à Câmara de Vereadores
de Caxias do Sul. Completamos o levantamento e análise dos dados alusivos às fontes
escritas, junto à Secretaria Geral da Prefeitura Municipal de Caxias do Sul e junto ao
Museu Municipal João Spadari Adami. Selecionamos e lemos as obras atinentes à
história do município que apresentavam elementos interessantes sobre o assunto, desde
sua fundação até os dias atuais. Buscamos informações em textos jornalísticos sobre a
localidade, em boletins de empresas, em revistas que contivessem dados relevantes
sobre o assunto. Além disso, procuramos, através de entrevistas semi-estruturadas, obter
informações sobre denominações populares, bem como sobre logradouros cujos
documentos ficaram perdidos por causa do incêndio ocorrido em 1992, que queimou
parte da documentação que se encontrava no prédio da Prefeitura.
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Os nomes: suas interconexões4
Os nomes estão intimamente relacionados com a trajetória de vida dos homens
que fundam e habitam os lugares, com a história e o desenvolvimento socioeconômico
desses lugares, com a origem etnolinguística dos indivíduos e, no contexto de Caxias do
Sul, com a cultura originária transplantada no país acolhedor. Nessa malha de relações,
incluem-se, certamente, também segmentos importantes do universo cultural do país
brasileiro.
As estradas nascem com os povoados, às vezes, antes deles. No espaço que
ocupam, os homens abrem caminhos, até mesmo antes de construírem as bases
convenientes e necessárias para a vida saudável do grupo humano. Entendemos que o
tempo de vida de um povoado ou de uma cidade é praticamente igual àquele da sua
primeira estrada.
Nomes escritos sobre placas, praças ou monumentos homenageiam figuras
ilustres que dedicaram suas vidas a causas importantes, foram proeminentes dentre
tantos, por seus atos ou por seus intelectos e até por sua genialidade, ou porque
rememoram aos habitantes que aí estão suas próprias raízes guardadas em outras terras,
longínquas, além mar. Outros, provavelmente, aí figuram por sua força política e
econômica, ou, quem sabe, pela pressão exercida sobre a estrutura então existente,
4
Parte do texto compreendido nos subtítulos “Os nomes: suas interconexões” e “Os hodônimos: suas
interfaces” foi por mim elaborado e redigido em março de 2007 e incluído no Projeto de Pesquisa: Os
nomes da cidade de Caxias do Sul: vias, bairros, praças, monumentos. –– TOPONÍMIA ––, aprovado pelo
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buscando ganhos e honrarias para si próprios, ou ainda por alguma ideologia norteadora
de suas vidas, sempre defendida. Há também a justa homenagem aos homens do povo,
aos que construíram, passo a passo, no humilde anonimato das fábricas, a riqueza
desfrutada pela elite economicamente privilegiada (FROSI; FAGGION e DAL
CORNO, 2008).
As ruas testemunham os passos dos que nelas transitam, por elas os homens vão
e vêm no ritmo contínuo do viver quotidiano. Nas praças, as pessoas chegam e, por
motivos os mais diversos, nelas permanecem por tempos vários. As cidades, as praças,
os povoados, os parques e tudo o que nelas existe possui nomes. As ruas e praças, os
monumentos e parques, os templos de Deus e as sociedades dos homens têm nomes que
guardam a memória coletiva do tempo transcorrido. Os nomes carregam consigo
significados que nem sempre apreendemos de imediato, quando os lemos ou ouvimos,
caminhando pelas ruas de nossas cidades. Alguns nomes têm origem distante, no
longínquo curso do tempo e no variado espaço territorial. Muitos nomes se ocultam no
tempo, são substituídos por outros e há ainda os que se preservam na lembrança das
pessoas ou nos registros documentais. Há também nomes novos que relatam histórias e
fatos atuais, apontam projetos e vidas recentes memoráveis no mundo moderno. Os
nomes dão existência às coisas, aos indivíduos, ao mundo.
Colegiado do Mestrado em Letras, Cultura e Regionalidade da Universidade de Caxias do Sul, em junho
de 2007.
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Os hodônimos: suas interfaces
Os hodônimos são sinais importantes, indicativos da cultura, da história e da
linguagem de um povo; ditos ou escritos, os hodônimos propiciam informações a
respeito das sucessivas gerações de uma localidade, dos homens que aí nasceram,
trabalharam e viveram.
Não basta a um indivíduo saber o nome das ruas, dos parques e das praças de sua
cidade. O cidadão que ama verdadeiramente sua cidade não dispensa o conhecimento do
exato significado de seus nomes. No decurso do tempo, os hodônimos podem ser
substituídos por outros; podem sofrer alterações formais; podem perder nuances de seu
significado original e podem assumir outros sentidos; podem passar por alternâncias
várias, consequentes da atuação de fatores a eles externos, às vezes, por conjunturas
políticas, históricas ou de ordem diversa, mas, de qualquer modo, guardam tradições e
crenças, sonhos e realizações: eles preservam a memória do passado e testemunham a
tessitura do presente.
Os hodônimos são reveladores da vida de uma comunidade, das escolhas feitas
pelos homens e das vicissitudes por eles vividas. Os hodônimos informam a origem
étnica do grupo, refletem a fidelidade para com seu universo cultural e/ou sua adesão ao
novo ambiente e a tudo o que o cerca. Eles espelham as diferenças e as semelhanças, a
estabilidade e os conflitos, a preservação e a mudança que marcaram a história de vida
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de um grupo étnico minoritário inserido numa comunidade maior. No jogo das
presenças e ausências, os topônimos refletem também o prestígio de alguns e o
anonimato de outros como reflexo da desigualdade que sempre caracterizou o mundo
dos homens.
Os nomes chamam à vida nossas cidades com tudo o que nelas existe. Eles
desvelam seres e poderes, fatos e feitos, diferenças e semelhanças. Além disso, os
nomes põem à luz a trama oculta que une o passado ao presente: conhecê-los e
compreendê-los, preservá-los e socializá-los é compromisso de todo cidadão.
No estudo foi levada em conta a história singular e o contexto que marcaram a
trajetória da Região. Dentre os elementos mais importantes que assinalam as
denominações aí ocorridas, destacam-se as forças políticas, os fatos históricos, a cultura
dos dois grupos étnicos, a origem italiana e a origem luso-brasileira, suas ideologias,
crenças, valores, usos e costumes. A cidade foi fundada e desenvolvida por italianos e
seus descendentes. O cargo de intendente foi, todavia, durante quarenta e nove anos,
ocupado por líderes brasileiros, indicados pelo Governador do Estado gaúcho. Somente
em 1924, um italiano assumiu o governo do município (MACHADO, 2001, p. 147).
Todas as ruas centrais que cortam o centro da cidade possuem nomes luso-brasileiros o
que demonstra a influência política brasileira exercida nos primeiros 49 anos da história
da RCI.
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Os hodônimos: suas categorias, sua representatividade numérica.
Caxias do Sul é um município do Estado do Rio Grande do Sul. Em 2007, de
acordo com dados registrados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE –, sua população era de 405.858 habitantes. É um centro urbano em contínuo
desenvolvimento. Por suas características industriais atrai pessoas de outros municípios
do estado e do país. Na década de setenta do século passado, um estudo dos
componentes étnicos de Caxias do Sul (FROSI; MIORANZA, 1983) indicava que a
população era constituída por, aproximadamente, 65% de indivíduos ítalo-descendente,
35% era formado, predominantemente, por pessoas luso-brasileiras. Hoje, embora não
se conte com um levantamento sistemático atualizado da composição étnica vigente,
calcula-se que estes percentuais devam ser aplicados diferentemente: 35% são
atribuídos ao contingente de origem étnica italiana, 65% aos segmentos de outras
origens, com predominância do grupo luso-brasileiro.
De posse da relação geral dos nomes dos logradouros de Caxias do Sul,
atualizada em 15 de julho de 2009, num total de 3611, demos início à categorização dos
hodônimos. A primeira grande divisão colocou numa lista todos os nomes italianos e
noutra todos os nomes não italianos. Foram consideradas italianas todas as
denominações constituídas por nomes próprios de pessoas, cujos sobrenomes são
italianos (CAFFARELLI, 2008; MIORANZA, 1997). No caso de dois sobrenomes para
uma só pessoa, levou-se em conta o último deles. Numa segunda lista, estão todos os
nomes de pessoas cujos sobrenomes são predominantemente luso-brasileiros
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(GUÉRIOS, 1973; BARATA; BUENO, 1999) Foram incluídos, juntamente com os
luso-brasileiros (por serem em número insignificante), também os de outras etnias que
não a italiana. Obtivemos assim agrupamentos de hodônimos relacionados com dois
grupos étnicos lingüístico-culturais distintos: os ítalo-descendentes e os luso-brasileiros,
como mostra a Tabela 1.
Da relação geral dos nomes de logradouros, 61,78% têm nomes italianos, na
grande maioria, nomes de pessoas que fundaram a comunidade, nela trabalharam e
viveram. Desse mesmo universo de hodônimos, 38,22% têm nomes não italianos.
Observamos que os imigrantes não só denominaram os povoados com nomes de
localidades italianas (FROSI, V. M.; FAGGION, C. M.; DAL CORNO, G. O. M., 2008,
p. 412-415) como também se empenharam em homenagear a terra de origem dando a
ruas, avenidas, parques e praças nomes de personagens ou de cidades italianas.
TABELA 1
Hodônimos de Caxias do Sul categorizados por grupo étnico
(com base na relação geral atualizada em 15 de julho de 2009)
Especificação dos hodônimos categorizados por grupo étnico italiano versus
grupo étnico não italiano
Quantidades
%
sobre
3.611
Hodônimos representados por nomes italianos (pessoas, cidades, animais,
acidentes geográficos vegetais, coisas etc...) ............................................................
2231
61,78
Hodônimos representados por nomes não italianos (pessoas, cidades, animais,
acidentes geográficos vegetais, coisas etc...) ............................................................
1380
38,22
Total .........................................................................................................................
3611
100,00
A Tabela 2 apresenta os quantitativos e os percentuais alusivos às demais
categorias trabalhadas nesta primeira parte da pesquisa. Foram classificados como
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italianos, os nomes de cidades, objetos, animais e outros que ou conservam a ortografia
original, ou sofreram adaptações àquela portuguesa (Vêneto, por exemplo) com
eventuais resultados de hipercorreção para o italiano como é o caso do topônimo
Venetto, grafado erroneamente com dois “tt”. Nessa categoria, foram inseridos também
os sobrenomes trentinos, mesmo aqueles que ainda preservam traços de sua origem
germânica. Figuram como hodônimos não italianos, além daqueles alusivos a nomes de
pessoas, os que são representados por nomes de vegetais, animais, santos, profissões
etc., escritos em língua portuguesa e, portanto, pertencentes oficialmente ao léxico dessa
língua.
A Tabela 2 informa que há uma predominância de hodônimos representados por
nomes italianos, particularmente de pessoas. Esse fato aponta para a presença dos
italianos tanto na fundação quanto no desenvolvimento socioeconômico de Caxias do
Sul. Apesar disso, essa comunidade foi governada por autoridades de origem lusobrasileia e, provavelmente, como decorrência disso, todas as ruas centrais da cidade têm
nomes luso-brasileiros.
Tabela 2
Hodônimos de Caxias do Sul, categorizados por gênero, por grupo étnico e
categoria dos hodônimos não representados por nomes de pessoas
(com base na relação geral atualizada em 15 de julho de 2009)
Especificação dos hodônimos por gênero, grupo étnico italiano versus grupo
étnico não italiano e categorias de hodônimos representados por nomes não
designativos de pessoas.
Hodônimos representados por nomes de pessoas, italianos de gênero masculino ......
Hodônimos representados por nomes de pessoas, italianos de gênero feminino ........
Hodônimos representados por outros nomes italianos (cidades, animais, acidentes
Quantidades
1874
314
%
sobre
3.611
51,90
8,69
60
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geográficos, coisas etc...)................................................................................................
43
1,19
Hodônimos representados por nomes de pessoas, não italianos, de gênero
masculino..........
Hodônimos representados por nomes de pessoas, não italianos, de gênero feminino
Hodônimos representados por outros nomes não italianos (cidades, animais,
vegetais, acidentes geográficos, coisas etc.) ..................................................................
851
23,57
139
3,85
390
10,80
Em sua obra Construindo uma Cidade, a historiadora Maria Abel Machado
(2001, p. 83) informa que:
Uma análise dos nomes dados às primeiras ruas do núcleo
urbano da Colônia Caxias revela que foram escolhidos nomes de
líderes luso-brasileiros, sem que houvesse qualquer preocupação com
nomes ligados à Itália, exceção feita à praça central que recebeu a
denominação de Dante Alighieri, usada a partir de 1880, na mesma
oportunidade em que o núcleo urbano também passou a ser chamado
de Sede Dante.
O Quadro 1 (FROSI, 2009, p. 344) contém as denominações das ruas do bairro
Centro de Caxias do Sul, com especificação e caracterização sucinta dos personagens
luso-brasileiros homenageados.
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Quadro 1
Nome da
rua
Nome da pessoa
Avenida
Júlio de
Castilhos
Rua
Alfredo
Chaves
Rua Bento
Gonçalves
Júlio Prates
Castilhos
Rua
Borges de
Medeiros
Antônio Augusto
Borges
de
Medeiros
de
Alfredo
Rodrigues
Fernandes Chaves
Bento Gonçalves
da Silva
Função da pessoa homenageada
Ano da
denominação
Jornalista, político, gaúcho. Foi presidente do Rio
Grande do Sul e defensor do Partido Republicano
Riograndense (PRR).
Foi engenheiro e político, um dos ministros da
Colonização do Império.
1897
Militar, comandante da revolução farroupilha nascido
em Triunfo, Rio Grande do Sul, maçom e defensor de
idéias liberais, pelas quais lutou.
Foi político, governador do Rio Grande do Sul de
1908 a 1913.
Foi engenheiro e político brasileiro, também
funcionário da Comissão de Terras. Governou Porto
Alegre por 27 anos, pertenceu ao partido
Republicano Rio-grandense (PRR).
Foi jornalista e político brasileiro, diretor da
instrução pública.
Colonização
1897
Colonização
Rua Dr.
Montaury
Rua
Ernesto
Alves
Rua
Garibaldi
Rua Guia
Lopes
Rua
Marechal
Floriano
José Montaury de
Aguiar Leitão
Ernesto Alves de
Oliveira
Giuseppe
Garibaldi
José
Francisco
Lopes
Floriano Peixoto
Foi um político e militar revolucionário italiano,
1807-1882.
Como militar consagrou-se herói da Guerra do
Paraguai, mineiro de nascimento.
Foi um grande militar, marechal do Exército e
político brasileiro, vice-presidente e segundo
presidente do Brasil, de 1891 a 1894, no período da
República Velha.
Colonização
Rua
Marquês
do Herval
Manuel
Osório
1884
Rua Moreira
César
Antônio Moreira
César
Era um grupo
revolucionário
Foi político e militar, dirigiu as operações do
combate de Tuiuti, onde o exército paraguaio foi
dizimado. Foi também Ministro da Guerra.
Foi um militar brasileiro. Atingiu o posto de coronel
do Exército Brasileiro, na arma de infantaria.
Os 18 do Forte foi assim denominado o grupo de 18
chefes militares revolucionários, movimento ocorrido
em 1922 no Forte de Copacabana.
Militar, gaúcho, general do exército.
Rua Os 18
do Forte
Rua
Pinheiro
Machado
Rua
Sinimbu
Rua 20 de
Luiz
José
Gomes
Pinheiro
Machado.
João Lino Vieira
da Cansação de
Sinimbu
Homenageia
Colonização
Colonização
1939
1897
Colonização
Colonização
Colonização
Foi Presidente da província de São Pedro do Rio
Grande do Sul, político.
1897
É o dia da proclamação da República do Piratini.
Colonização
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Setembro
Rua
Visconde
de Pelotas
Bento Gonçalves
da Silva.
José Antônio
Correia da
Câmara
Bento Gonçalves da Silva foi militar e revolucionário
brasileiro.
Foi um militar, general e político brasileiro.
Colonização
Na coluna intitulada “Ano da denominação” consta a palavra Colonização,
sempre que a rua recebeu o nome que lhe é correspondente, na primeira década da
fundação da cidade (1875-1885), porém sem ter sido possível obter com precisão a data
de confirmação em documentos escritos. Pela leitura do Quadro 1, observamos que as
pessoas que tiveram seus nomes homenageados na denominação das ruas centrais da
cidade de Caxias do Sul exerciam, em sua maioria, funções ligadas ao sistema político e
militar brasileiro. Todas elas tiveram participação ativa na governança e/ou na defesa do
país. Os nomes dos militares que figuram nas ruas do centro da cidade, acima
transcritos, tiveram presença ativa na Revolução Federalista e na Guerra do Brasil
contra o Paraguai.
O grupo étnico italiano constituía a maioria dos habitantes, mas o poder político
e militar estava nas mãos de brasileiros (MACHADO, 2001; PAGANI, 2005). Além da
atuação política e militar, havia, por um lado, a Igreja Católica, por outro, a maçonaria.
No passado, as relações entre essas duas entidades eram sabidamente de grande
desarmonia na RCI (RELA, 2004). A respeito da presença da maçonaria, nos cargos de
poder, vale lembrar o que afirma Machado (2004, p. 158):
As autoridades locais, nomeadas e indicadas pelo governo do
estado, em sua maioria eram maçons e, como tal, na época, eram
vistos como inimigos da Igreja. Representavam também “o poder” que
estava nas mãos de elementos considerados “estranhos”, mas que
detinham a autoridade e consequentemente a faculdade de tomar
decisões, independente da participação ou não das lideranças
constituídas pelos imigrantes.
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As religiões, as associações, os grupos de poder têm papel marcante na vida das
comunidades, nos rumos de seu desenvolvimento, na sua configuração. Não faltam
nomes de religiosos, de líderes políticos e militares, de personagens importantes nas
placas de ruas e praças de nossa cidade. Uma análise dos 3.178 hodônimos de Caxias do
Sul (cf. Tabela 2), alusivos a nomes de pessoas, mostra que existem aí trinta e cinco
logradouros portadores de nomes de pessoas pertencentes à Maçonaria. Desses
indivíduos, luso-brasileiros e imigrantes italianos, os que pertenciam à Loja Maçônica
Força e Fraternidade de Caxias do Sul, em sua maioria, foram atuantes na
administração e na vida dessa comunidade. Fundada nesse centro urbano em 1887, a
referida Loja teve seu funcionamento até 1903, quando foi fechada (COLUSSI, 2.003,
p. 502-574; RELA, 2004, p. 36.).
Muitos nomes têm relação com fatos históricos de efeitos marcantes na área de
colonização italiana (PESAVENTO, 1980). Na década de trinta do século passado e nos
anos subsequentes – com agravamento no decorrer da Segunda Guerra Mundial –, por
determinação do governo federal do Brasil foram desencadeadas várias ações com
implicações diretas e negativas para as áreas bilíngües do Rio Grande do Sul
(SGANZERLA, 2001; PAYER 2001; FROSI; FAGGION; DAL CORNO, 2008a). As
medidas tomadas pelo Governo central tiveram fortes e imediatos reflexos,
particularmente, nas regiões caracterizadas pela presença de grupos estrangeiros
(PAGANI, 2005; CAMPOS, 2006). Na RCI, muitos municípios e distritos tiveram seus
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nomes italianos substituídos por denominações brasileiras (FROSI; FAGGION; DAL
CORNO, 2008).
Nas cidades da RCI, é significativo o número de ruas, praças e avenidas que
também tiveram seus nomes italianos trocados por outros brasileiros (FROSI, 2009, p.
341-346). As questões atinentes a esse assunto eram apresentadas às autoridades locais
e por elas rapidamente resolvidas. Para exemplificar, o Acto nº 85 de 2 de maio de 1939
(Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami), assinado pelo então prefeito
municipal de Caxias do Sul, estabeleceu as seguintes mudanças de nomes para algumas
vias da cidade: (a) a Rua Veneza passou a denominar-se Rua Olavo Bilac; (b) a Rua
Treviso passou a denominar-se Rua Machado de Assis; (c) a Rua Vicenza passou a
denominar-se Rua Castro Alves; (d) a Rua Trento passou a denominar-se Rua José do
Patrocínio. Oficialmente cancelados dos registros documentais, esses nomes
permanecem, todavia, na memória das pessoas ainda viventes que testemunharam os
acontecimentos ocorridos no passado.
Os nomes de pessoas e de localidades italianas remetem à cultura e à identidade
desse grupo étnico (FAGGION, 2006). Serve, como ilustração, o caso da rua que
oficialmente se chama Angelina Michielon. Nas primeiras décadas da colonização, o
povo a batizara de “Rua Mântua“. Não foi, neste caso, a força do poder político o
elemento determinante do nome popular e, sim, o fato de ser natural de Mântua a
maioria das pessoas que nela morava. De igual forma, desde o início da colonização,
denominou-se Cremona uma das ruas do bairro São Pelegrino, aliás, tal denominação
permanece até hoje. A coesão étnica atua, muitas vezes e fortemente, na preservação do
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que é caro ao grupo em termos de sua identidade sociocultural. Vale lembrar o caso da
Avenida Itália. O poder político determinou, na década de trinta, a troca desse nome
pelo de Avenida Brasil. A placa indicativa do nome Avenida Itália, substituída por outra
com os dizeres Avenida Brasil, foi logo recolocada no seu devido lugar pelos próprios
habitantes dessa avenida que, até hoje, leva a denominação italiana, preferida pelo
grupo étnico local ítalo-descendente. A maioria das ruas que sofreu a troca dos nomes
não teve, porém, o mesmo final: o nome brasileiro, registrado em substituição ao
italiano, permanece até hoje, na maior parte dos casos. Paralelamente ao nome oficial,
não poucas vezes, o nome popular era preferido e usado na vida quotidiana das pessoas.
A rua que, até hoje preserva o nome oficial de “Dr. Montaury”, tinha também a
denominação popular “Rua Vila Bela” (ADAMI, 1971, p. 136). Os depoimentos das
pessoas mais idosas explicam que, nessa ‘Vila Bela’, moravam moças muito lindas.
Villa (Vila e Bela, em dialeto vêneto) é, na cultura italiana, palacete ou palácio,
correspondendo ao termo mansão na linguagem do português brasileiro. O nome da
mansão e o qualificativo atribuído às jovens que aí habitavam formou essa locução
“Vila Bela” que ultrapassou os limites da casa e, popularmente, passou a designar toda a
rua. Outros fatos se sucederam e marcaram o contexto sociocultural da RCI com
reflexos nos hodônimos existentes nas suas cidades.
O ano das celebrações do centenário da imigração italiana
inaugurou o quarto período da história sociolinguística da Região de
Colonização Italiana do nordeste do Rio Grande do Sul (RCI). Um
novo processo tomou forma em ritmo contínuo e intenso, envolvendo
os vários aspectos do contexto da região (FROSI, V. M.;
MIORANZA, C., 2009, p. 105).
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O movimento de retorno às origens étnicas teve efeitos na cultura regional, com
reflexos também na denominação de logradouros. Verificam-se, então, novas trocas em
favor de nomes italianos. Além disso, algumas ruas e praças, abertas e inauguradas após
o Centenário da Imigração Italiana (ocorrido em 1975), receberam nomes ligados à
cultura original desse grupo étnico. Ilustram essa afirmação algumas denominações de
ruas, praças e bairros, com indicação do ano entre parênteses: Vicenza (1980), Arsié
(1988), Seren del Grappa (1988), Fonzaso (1988), Rótula do Vêneto (2003), Praça
Pedavena (2004), Bairro Pedancino (2008), Bairro Santa Corona (2008).
Com base na análise dos textos motivacionais dos processos de proposição de
nomes para ruas e praças, é possível explicitar, principalmente, o papel político, neste
caso, representado pelos vereadores da Câmara Municipal. Nesses textos, é
demonstrada também a questão de gênero. Os textos revelam que a homenagem
prestada à mulher, dando seu nome a uma rua ou praça, premiava atributos tais como os
de ser trabalhadora, dedicada ao marido e aos filhos, católica praticante e mãe de
numerosa prole. Somente em três textos é dada ênfase ao nível social e à atividade
cultural.5 Dentre os 60,59% dos nomes italianos de pessoas que designam ruas, praças e
avenidas, 8,69% homenageiam mulheres de origem étnica italiana, 51,90% constituem
homenagem ao gênero masculino desse mesmo grupo étnico. Dos 27,42 do universo de
5
Atestam os textos objeto dessa análise as leis constantes na Câmara Municipal de Vereadores de Caxias
do Sul, aprovadas conforme enumeração e ano assim especificados: Lei nº 3.831 de 1992; Lei nº 3.859 de
1992; Lei nº 3.861 de 1992; Lei nº 3.982 de 1992; Lei nº 4018 de 1993; Lei nº 4037 de 1993; Lei nº 4038
de 1993; Lei nº 4040 de 1993; Lei nº 4769 de 1997; Lei nº 5351 de 2000; Lei nº 4.310 de 1995; Lei nº
4.328 de 1995; n° 4.292 de 1995; n° 4.287 de 1995; n°4.306 de 1995; Lei nº 4.282 de 1995; Lei nº 4.257
de 1995; Lei nº 4.277 de 1995; Lei nº 4.236 de 1995;Lei nº 4.210 de 1994; Lei nº 4.244 de 1994;Lei nº
4.166 de 1995; Lei nº 4.131 de 1994.
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hodônimos representados por pessoas não italianas, 3,85% é constituído pelo gênero
feminino, 23,57% são de nomes masculinos.
Os hodônimos estão em estreita relação com o contexto histórico e social de que
fazem parte. Isso nos adverte quanto ao papel que, de modo geral, foi desempenhado
pela mulher, através do tempo. A desigualdade dos dois gêneros, em detrimento da
mulher e com privilégios para o homem, reflete-se também nos hodônimos.
Numa única categoria (porque o trabalho ainda está em processo) abrigamos,
provisoriamente, todos aqueles hodônimos que não são representados com nomes de
pessoas. São poucos os do grupo étnico italiano, oficialmente existentes. Na memória,
porém, são bem mais numerosos, assim o revelaram os depoimentos colhidos através de
entrevistas. Esses poucos hodônimos que se salvaram têm como referenciais os nomes
italianos dos lugares de origem dos que, impelidos pela fome, tiveram de emigrar para
terras brasileiras (FROSI; MIORANZA, 2009). Fatos históricos suprimiram muitos
outros das placas, substituindo-os, nos registros documentais, por nomes do país
receptor. São, proporcionalmente, mais abundantes e variados os que figuram para essa
categoria no grupo étnico não italiano. Tiveram a seu favor o prestígio dos precedentes
donos da terra brasileira. De qualquer forma, é já sabido que a escolha dos nomes não
foi aleatória, nem para um grupo, nem para o outro. Os hodônimos que aí estão falam
dos homens, de seu trabalho, de suas crenças e ideologias, de suas vicissitudes, em
suma, contam a história da cidade de que fazem parte. As estudiosas Patrícia de Jesus
Carvalhinhos e Alessandra Martins Antunes, em seu texto “Princípios teóricos de
toponímia e antroponímia: a questão do nome próprio” (2007) observam que:
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Em países jovens como o Brasil, existem muito mais nomes de lugares
transparentes, isto é, cujo significado ainda está ativo no léxico
comum, que nomes opacos. A opacidade ocorre por dois motivos
principais: o primeiro, mais óbvio, é por desconhecimento da língua
em questão, o que leva à não decodificação ou não complementação
do percurso de decodificação daquele nome. No segundo motivo, o
tempo e a sobreposição de camadas lingüísticas concorrem para a
opacidade do nome.
Não diverge muito do que se contém no texto acima o caso dos nomes das ruas
de Caxias do Sul. Com efeito, muitos desses signos hodonímicos conservam a
transparência, em consonância com a idade do próprio centro urbano local, que não
ultrapassa dos cento e trinta e quatro anos de vida. Outros, porém, tornaram-se opacos,
talvez porque o bilingüismo é hoje passivo e o italiano é restrito às pessoas mais idosas
que aprenderam esse dialeto em família, quando pequenas. Em se tratando de uma
predominância de hodônimos representados por nomes próprios de pessoas e situados
em dois universos culturais distintos, há os que são transparentes para alguns, opacos
para outros e vice versa.
Considerações finais
Apoiados nos dados analisados, entendemos que os hodônimos representados
por nomes italianos de pessoas superam aqueles alusivos a denominações não italianas
de pessoas. Isso é bastante significativo uma vez que, em termos de contingentes
populacionais, os luso-brasileiros são hoje numericamente superiores aos ítalo-
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descendentes, isto é, aproximadamente, 65% de indivíduos para aqueles, 35% para
esses. Uma primeira possibilidade de interpretação é a de que haveria, na cultura
italiana, uma tendência a privilegiar os nomes de pessoas, talvez, como forma de
preservar na memória, através dos hodônimos, aquelas vidas que o silêncio envolveu.
Uma segunda possibilidade de entendimento desta questão teria como base os
acontecimentos brasileiros de ordem histórica e política que coibiram manifestações
lingüístico-culturais italianas, com reflexos nas denominações dos logradouros. As ruas
que tinham nomes italianos de lugares tiveram suas denominações suprimidas e
substituídas por nomes luso-brasileiros. Como solução, os italianos passaram a atribuir
aos logradouros nomes de pessoas. Dos quarenta e três hodônimos representados por
nomes italianos de lugares, somente quatro são anteriores a 1959, vale dizer, salvaramse apenas quatro. Uma conclusão definitiva só é possível se forem recuperados todos os
hodônimos alusivos a nomes italianos de lugares dados às ruas no percurso histórico
que vai de 1875 a, aproximadamente, 1950.
Na categoria dos hodônimos representados por nomes que não são designativos
de pessoas, o grupo étnico não italiano apresenta uma distribuição mais equilibrada
entre esses nomes e os antropo-hodônimos (990 para os antropo-hodônimos, 390 para
os demais). Nessa mesma categoria, o grupo étnico italiano situa os resultados,
praticamente, em dois pólos opostos, isto é, 2188 são hodônimos alusivos a nomes
próprios de pessoas, 43 são representados por outros nomes.
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Nas categorias de gênero masculino e feminino, a representatividade numérica
dos hodônimos dos dois grupos étnicos estudados denunciam a desigualdade de
condições sociais entre homens e mulheres. Mesmo em se tratando de hodônimos, o
gênero masculino é premiado em detrimento do feminino.
A pesquisa está em processo. Os nomes dos logradouros de Caxias do Sul
constituem um patrimônio rico e complexo. Inúmeras são as interfaces dos hodônimos a
serem analisadas, para conclusões mais abrangentes e para a socialização do
conhecimento produzido.
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Código
do
texto:
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Disponível
em:
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Fontes primárias manuscritas
Arquivo Histórico João Spadari Adami de Caxias do Sul.
Arquivos de Atos e Leis da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul
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os logradouros de caxias do sul: seus nomes, suas interconexões