Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. PROCESSOS DE REMISSÃO TEXTUAL EM REDAÇÕES DE VESTIBULAR: A REFERENCIAÇÃO NOMINAL E PRONOMINAL Maria Valíria Aderson de Mello VARGAS1 RESUMO: Discutem-se, neste trabalho, algumas formas de remissão textual que ocorrem, em redações de vestibular, por meio do uso de expressões referenciais nominais e pronominais, anafóricas ou catafóricas, que rotulam sequências linguísticas do texto, transformando-as em objetos-de-discurso e, assim, possibilitando a progressão temática. Busca-se, por exemplo, verificar, com base no modo como esses segmentos linguísticos se articulam e remetem uns aos outros nos textos dos vestibulandos, em que medida revelam o intuito de orientar o leitor a construir sentidos, a alcançar determinadas conclusões e informações armazenadas no que se convencionou chamar memória discursiva. Procura-se, assim, examinar se, nessas redações, se manifestam as condições específicas para promover a interação, apropriadas à situação de produção dos textos. Parte-se da idéia de que um texto somente alcançará uma totalidade de sentido se os segmentos que o compõem relacionarem-se entre si de acordo com certas condições que regem uma produção efetiva de linguagem. Considera-se também que o texto deve revelar um plano ou estratégia de ação, uma organização que permitirá ao leitor a construção compartilhada de sentido. Desse modo, busca-se, sobretudo, averiguar se os procedimentos de referenciação revelados nos textos produzidos em situação de exame vestibular decorrem das condições específicas de produção da modalidade escrita que se dão no âmbito escolar. PALAVRAS-CHAVE: processos de remissão textual; referenciação; referências nominais e pronominais; redações de vestibular. Introdução De acordo com a perspectiva pragmático-enunciativa da Linguística Textual, amplamente demonstrada, por exemplo, por Koch (2006), a coerência não se constitui mera propriedade ou qualidade do texto, mas consiste num fenômeno muito mais amplo, já que se constrói, numa determinada situação, entre o texto e seus interlocutores, em função de uma série de fatores de ordem linguística, cognitiva, sociocultural e interacional. Essas idéias propiciam a discussão de questões que dizem 1 Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas; Universidade Cruzeiro do Sul, Programa de Mestrado em Lingüística. Rua Joaquim Guarani, 533, CEP 04707-061, São Paulo-SP, Brasil, [email protected] 67 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. respeito ao processamento sociocognitivo do texto, como, por exemplo, a referenciação, a inferenciação, a mobilização de conhecimentos prévios, o conhecimento partilhado. A questão da referenciação textual, já bastante explorada por estudiosos como Mondada, Dubois, van Dijk, Koch, Marcuschi, envolve a construção dos chamados “objetos-de-discurso”, entre os quais se situam a anáfora associativa e as operações de nominalização e suas funções. O pressuposto básico dessas pesquisas, de acordo com Koch (2006, p. XV), é que a referenciação se caracteriza como “atividade discursiva”: a referência é definida, acima de tudo, como um problema relacionado às operações efetuadas pelos sujeitos, à medida que o discurso se desenvolve e constrói os “objetos” a que faz remissão (“objetos-de-discurso”), ao mesmo tempo em que é tributário dessa construção. O mais importante, enfim, não é a relação que se estabelece entre as palavras e as coisas, e sim as relações que se revelam no âmbito social, interativo, de acordo com as intenções e às ações dos sujeitos envolvidos nesse processo. As formas de referenciação, ou seja, os procedimentos de remissão que se realizam no texto devem, portanto, ser vistos como escolhas do sujeito em função de um querer-dizer. Ao mesmo tempo, deve-se considerar que a interpretação das expressões referenciais anafóricas – nominais ou pronominais – não se limita a localizar no texto uma sequência linguística anteriormente enunciada, mas, sim, alguma informação situada no que se convencionou chamar memória discursiva. Desse modo, amplia-se o conceito de coerência, na medida em que, ao lado de fatores sintático-semânticos, passa-se a considerar uma série de fatores de ordem pragmática e contextual. É essa nova dimensão do fenômeno da coerência, em estreita relação com a questão da referenciação, que se propôs como norteadora da análise de 68 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. uma série de redações do vestibular da Universidade de São Paulo, realizado em janeiro de 2007. Tal questão compôs um conjunto de temas desenvolvidos por um grupo de estudiosos com certa experiência no processo de seleção da universidade. Observando-se, como primeiro passo, os princípios de construção textual do sentido, sobretudo a referenciação e a coerência, na leitura de um conjunto de cem textos2, constatou-se uma série de inadequações no modo como ocorrem nos textos os procedimentos de referenciação: os relatores de sentido (principalmente as conjunções e os elementos circunstanciais) em geral não se prestam a relacionar as ações a propriedades específicas do texto; em grande parte das redações, o enunciador não realiza atividades linguístico-cognitivas, que revelariam o intuito de garantir a compreensão e estimular, facilitar ou causar a aceitação daquilo que enuncia; a maioria dos textos não se configura como ação social, determinada por regras sociais, em que a ação verbal deve ser orientada para parceiros da comunicação. Em grande parte desses textos, enfim, a língua não é utilizada como um instrumento para a realização de ações verbais, na medida em que neles não se revela um plano/estratégia de ação, tampouco a necessária hierarquia entre os atos de fala, que permitiriam ao leitor a construção compartilhada do sentido do texto. Grande parte dos vestibulandos limitou-se a dar respostas às perguntas que compunham a proposta de redação3, pouco inovando e arriscando-se minimamente a 2 Os textos foram distribuídos em quatro categorias, de acordo com a procedência dos alunos. Categoria I: ensino público sem cursinho; cat. II: ensino particular sem cursinho; cat. III: ensino público com cursinho; cat. IV: ensino particular com cursinho. Procedeu-se assim para verificar se há diferenças significativas entre os textos de alunos da escola pública e da particular 3 A proposta consistiu na apresentação de trechos de textos de Cícero (Da amizade), de Montaigne (Da amizade) e de letras de canções de Fernando Brant e Milton Nascimento (Canção da América) e de Caetano Veloso (Língua) e da seguinte instrução: A amizade tem sido objeto de reflexões e elogios de pensadores e artistas de todas as épocas. Os trechos sobre esse tema, aqui reproduzidos, pertencem a um pensador da Antiguidade Clássica (Cícero), a um pensador do século XVI (Montaigne) e a compositores 69 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. expor seus pontos de vista sobre o tema proposto. Constatou-se, enfim, que a maioria dos textos não atendeu ao que prescrevia o “manual do candidato”: A redação deverá ser, obrigatoriamente, uma dissertação, na qual se espera que o candidato demonstre capacidade de mobilizar conhecimentos e opiniões, de argumentar coerentemente e de expressar-se com clareza e adequação gramatical. Nota-se, além disso, que muitos textos reproduzem modelos de organização aplicados em treinamentos; são esvaziados de sentido, de reflexão, de provocações, e incapazes de suscitar discussões interessantes, embora muitas vezes apresentem adequação nos procedimentos de referenciação. Pouco se revela, nas redações, a noção adequada de realidade, ou seja, não se manifesta nos textos um sujeito capaz de interagir sociocognitivamente com o mundo. Em geral, não se manifesta um compromisso com o contexto em que se dá a produção do texto. São comuns as pressuposições falsas de conhecimento partilhado, responsáveis pelo processamento inadequado do sentido por parte do interlocutor e pelo prejuízo na construção da coerência. Deve-se esclarecer que o referido grupo de estudiosos não visava, com a pesquisa, apenas a apontar os problemas, muitos deles já bem diagnosticados, mas, sim, a fazer chegar, de algum modo, ao professor os resultados alcançados e discutir com ele possíveis alternativas de trabalho com a escrita em sala de aula. Essa segunda intenção concretiza-se, aos poucos, na medida em que esses estudiosos agregam-se a linhas de pesquisa de programas de graduação e de pós-graduação, orientam trabalhos de da música popular brasileira contemporânea. Você considera adequadas as idéias neles expressas? Elas são atuais, isto é, você julga que elas têm validade no mundo de hoje? O que sua própria experiência lhe diz sobre esse assunto? Tendo em conta tais questões, além de outras que julgue pertinentes, redija uma dissertação em prosa, argumentando de modo a expor seu ponto de vista sobre o assunto. 70 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. iniciação científica, mestrados e doutorados e trocam experiências em eventos científicos. No presente trabalho, conforme já se afirmou, procura-se mostrar alguns processos de remissão textual que se revelam nas redações, em especial, as expressões referenciais – nominais e pronominais –, anafóricas ou catafóricas, e suas respectivas funções. Considera-se, aqui, que as descrições nominais (nominalização) implicam “certas escolhas entre uma multiplicidade de formas de caracterizar o referente que serão feitas, em cada contexto, segundo a proposta de sentido do produtor do texto” (KOCH, 2005, p. 35). Assim, analisam-se as remissões que ocorrem por meio das expressões referenciais, tanto as que rotulam sequências lingüísticas do texto, transformando-as em objetos-de-discurso e, assim, possibilitando a progressão textual, quanto as que se realizam por meio da pronominalização. Busca-se verificar, por exemplo, com base no modo como esses segmentos linguísticos se encadeiam e remetem uns aos outros, em que medida as expressões nominais remissivas utilizadas pelos vestibulandos orientam o leitor a construir sentidos, a alcançar determinadas conclusões. Nessa busca, é possível identificar as pressuposições de conhecimento partilhado, responsáveis pelo processamento de sentido e pela construção da coerência. Procura-se verificar em que medida se criam, nas redações, as condições específicas para reger a interação, apropriadas à situação de produção dos textos. Parte-se da idéia de que um texto somente alcançará uma totalidade de sentido se os segmentos que o compõem relacionarem-se entre si de acordo com certas condições que regem uma produção efetiva de linguagem. Também se considera o pressuposto de que o texto deve 71 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. revelar um plano ou estratégia de ação, uma organização, que permitirá ao leitor a construção compartilhada de sentido. Assim, busca-se também verificar se o trabalho com as referências nas redações desenvolve-se de maneira a concorrer para a aceitabilidade do texto, para a eficiência de sua atuação sobre os interlocutores. Nesse sentido, observa-se, por exemplo, que grande parte dos vestibulandos não é capaz de estabelecer os limites necessários entre as duas modalidades – oral e escrita – da linguagem. Evidenciam-se, dessa forma, a falta de domínio das características de um texto argumentativo/ expositivo/ dissertativo, a ausência de reflexão linguística e a falta de treinamento para a adequação dos usos da linguagem a situações específicas de comunicação. Por outro lado, é preciso reconhecer que as condições específicas de produção da modalidade escrita que se dão no âmbito escolar influenciam a manipulação dos processos de referenciação levada a efeito nos textos produzidos em situação de exame vestibular. Cabe esclarecer que não se procedeu nesta pesquisa a uma análise quantitativa de dados, uma vez que o objetivo principal consistiu em verificar, de modo geral, os modos como ocorrem os processos de referenciação nas redações. Optou-se por apresentar alguns exemplos, selecionados de acordo com as questões específicas que se decidiu examinar. Conclui-se, provisoriamente, que não há diferenças significativas entre os textos dos quatro grupos de redações estabelecidos para a análise. A grande maioria dos vestibulandos – sejam os egressos da escola pública, sejam os da escola particular manifesta as mesmas inadequações ao promoverem a referenciação em seus textos. 72 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. Pressupõe-se que eventuais quantificações levariam à conclusão de que raríssimos são os textos em que os procedimentos de referenciação e coerência textual ocorrem de modo razoavelmente adequado. Amostras da análise Para a análise dos procedimentos de remissão textual − considerados, aqui, os usos de expressões referenciais (anafóricas e catafóricas) nominais e pronominais −, parte-se do pressuposto de que, ao produzir o texto, o enunciador realiza atividades linguístico-cognitivas, que revelam o intuito de garantir a compreensão e estimular, facilitar ou causar a aceitação do que enuncia. Mostram-se abaixo exemplos dos diferentes modos de realizar essas atividades linguístico-cognitivas, observados nas redações e devidamente identificados de acordo com a idade do candidato e com a categoria de classificação. Um porto seguro, essa é a melhor palavra para se definir um amigo, Pode ser seu pai, mãe vizinho, colega de trabalho ou de estudos e pode ser também aquela pessoa que você terá filhos e viverá a vida inteira do lado dela, difícil de saber. [20 anos, cat. IV] A expressão “um porto seguro”, que se constitui num “rótulo” (FRANCIS, 2003)4, não tem, no trecho, o papel organizador que se estenderia ao período seguinte; também não tem o poder, conforme se esperaria, de orientar o interlocutor para determinadas conclusões. Percebe-se que não há compatibilidade entre as idéias dos dois períodos. O rótulo, nesse caso, não imprime, ao enunciado em que se insere, nem 4 Francis (2003: p. 191) define os rótulos, geralmente metafóricos, como “um dos principais meios pelos quais os grupos nominais são usados para conectar e organizar o discurso escrito”. 73 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. ao texto como um todo, uma orientação argumentativa compatível com a proposta enunciativa de seu produtor. A expressão não promove, portanto, a progressão textual. Observem-se estes outros exemplos: E, de novo, o sentimento de amizade volta, em meio às situações caóticas provocadas pela natureza ou pelo homem. É tema e fato nas rodas de pessoas que se sentem mais confortadas ao derramar as lágrimas nos braços de um amigo: o tesouro dos deuses. [26 anos, cat.I] Nota-se que a referenciação, nesse trecho de redação, um dos raros textos da amostra considerado razoavelmente adequado, o processo de nominalização (“um amigo: o tesouro dos deuses.”) marca-se por um forte grau de exageração (“derramar lágrimas nos braços de um amigo”), que contrasta com a necessária objetividade do texto dissertativo. O vestibulando revela o domínio da estruturação sintática, mas utiliza expressões esvaziadas de sentido, marcadas pelo lugar-comum. “Amigo: alguém que sabe tudo sobre nós e nos ama mesmo assim”. Essa frase, que circula na Internet, cartões e letras de música, não poderia ser mais verídica, no entanto, muitas vezes desejamos e procuramos algo diferente, que seria o amigo ideal. O amigo ideal é aquele que nunca vai nos deixar de lado ou nos prejudicar; vai rir e chorar conosco, nos apoiar nas horas difíceis e nos fazer sentir que não precisamos de nada além deles. Infelizmente, a vida mostra que não há pessoas perfeitas a esse ponto. [16 anos, cat. II] 74 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. A nominalização, nesse caso, já se processa no interior da citação que dá início ao trecho. O rótulo “amigo” estabelece-se numa construção apositiva. Ao proceder, em seguida, à remissão anafórica (“Essa frase...”), o candidato não consegue expressar exatamente o que pensa. Por um lado, o uso indevido do elemento coesivo sequencial “no entanto”, cuja função é estabelecer uma contraposição de idéias, causa certo estranhamento, pois não há oposição entre a afirmação anterior (“Essa frase ... não poderia se mais verídica”) e o desejo e a busca do amigo ideal. Por outro lado, o processo de nominalização, que ocorre na descrição do amigo ideal, situa-o no mesmo plano da descrição nominal que abre o primeiro parágrafo do trecho. Revela-se, portanto, um alto grau de incoerência na construção do sentido. Está difícil encontrar valores que ainda reinam em meio a tantas controvérsias. Mesmo assim, em contraste a esta realidade, existe algo que atravessou a linha dos tempos e até hoje encontramos sua presença nítida no ser humano: a amizade. [20 anos, cat. III] O processo de referenciação no texto acima se dá por meio da remissão anafórica e catafórica. O antecedente “valores” é substituído, na sequência, pelas expressões “algo” e “a amizade”. Esta, na verdade, é o que se quer definir. Cria-se uma espécie de orientação do argumento para uma conclusão. Esse procedimento alcançaria o efeito supostamente pretendido de realçar a amizade, caso a seleção lexical não fosse tão precária. Nota-se a fragilidade da argumentação tanto por meio das inadequações que se revelam na organização sintática – que se inicia com uma marca de oralidade (“Está difícil”), quanto pela seleção lexical precária – os próprios termos da 75 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. referenciação (“valores” e “algo”) e as respectivas nominalizações oracionais (“que ainda reinam” e “que atravessou a linha dos tempos”) são esvaziados de sentido. Observe-se o procedimento de nomeação no exemplo seguinte: Isto é amizade: aproveitar a oportunidade e não deixá-la escapar como uma pena em dia de tempestade. E se conseguir agarrá-la, está feito, não tem como escapar novamente. [20 anos, cat. IV] Esse tipo de construção apositiva é muito frequente nas redações. Cria-se um foco de referência (“Isto é amizade:”...) em relação ao aposto oracional que especifica o nome genérico mencionado anteriormente. Novamente, a referenciação é adequada, porém a argumentação é muito frágil em decorrência da seleção lexical precária e da influência de expressões próprias da oralidade (“conseguir agarrá-la; “está feito”; “não tem como escapar novamente”). Compare-se o procedimento de referenciação acima com o de outro trecho de uma redação considerada razoavelmente adequada: Ninguém vive sozinho, ou melhor, até vive, mas não pode gozar de alguns dos prazeres da vida tanto quanto os que podem compartilhar suas emoções com amigos sinceros e cultivam a amizade verdadeira. Entende-se por amizade verdadeira a que é alimentada por sentimentos positivos, como o companheirismo, que pode se fazer presente em bons e maus momentos. A segurança de que seremos amparados, confortados e aconselhados, diante de problemas difíceis da vida, assim como a sincera satisfação e alegria que amigos exprimem por nós em batalhas vencidas e desejos conquistados 76 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. somente existem nesse tipo de amizade, que é a menos comum. [21 anos, cat. IV] No exemplo acima, a retomada da expressão “amizade verdadeira” consiste na busca de dar um estatuto de referente ou de objeto de discurso à expressão, que, ao ser retomada, dá início, no trecho, a uma predicação secundária. Aproveita-se a expressão referencial para predicar diversas informações sobre o objeto que ele designa. Esse tipo de predicação adquire o valor, portanto, de um comentário, uma explicação; trata-se de um recurso para desenvolver a estruturação do texto. A mudança de parágrafo aponta para esse valor mais cognitivo do termo, para um ponto de vista prospectivo. É, portanto, uma referenciação adequada, porém um exame mais atento do trecho revela a fragilidade da argumentação. É bem interessante o modo como se dá a referenciação neste outro exemplo: A amizade é um alicerce universal para socorrer os momentos maquiavélicos da vida. O homem necessita de um verdadeiro amigo, para que este auxilie a encontrar o estopim da felicidade. A amizade influência a efêmera passagem da vida do homem. A privação disto resulta padecimento intrínseco do ser humano. A axiologia da felicidade é encontrada além do amor. A amizade tem poder de apreciar momentos excelsos, que nem um outro relacionamento possa alcançar. Os segredos e confissões que são divididas pelo amigo é o que supre a dor humana. [20 anos, cat. II] Percebe-se que o uso de certas palavras, incomuns ao vocabulário de um jovem de 20 anos, utilizadas na referenciação da amizade (“alicerce universal”, “axiologia da 77 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. felicidade”) e na construção de outros sintagmas nominais (“momentos maquiavélicos da vida”, “o estopim da felicidade”, “a efêmera passagem da vida do homem”, “padecimento intrínseco do ser humano”, “momentos excelsos”) revela a intenção de impressionar a banca e não a busca de causar a reflexão, de partilhar a construção de sentido com o interlocutor. Considere-se, ainda, este outro exemplo: A amizade realmente deve ser um presente da vida, não existe sentimento mais completo, nem o amor, pois a amizade te dá segurança, não aceita ciúmes, não vê condição social, física, nem cor de pele, nada. A amizade existe por ela só, é uma sensação de complementação, ela é atemporal. [37 anos, cat. I] O processo de nominalização levado a efeito em “A amizade... um presente da vida... sentimento mais completo... uma sensação de complementação... atemporal” não se configura como uma busca efetiva de exposição de argumentos para a defesa de um ponto de vista sobre a amizade. Não se opera o que Koch (2005, p. 37) denomina recategorização dos objetos de discurso, ou seja, não se dá a reconstrução adequada a atender propósitos bem definidos do falante/escritor. O elemento circunstancial de modo (realmente) que, em seu sentido denotativo, expressa certeza, não deveria ser usado para modificar a forma verbal “deve ser”, que indica incerteza. A expressão “realmente” parece marcar uma réplica aos trechos da proposta de redação. Também o uso inadequado do pronome pessoal “te” não se estabelece no trecho como elemento coesivo referencial de 2ª pessoa. O sujeito parece falar de si e consigo mesmo. Trata-se 78 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. de um elemento de indeterminação com funcionamento inclusivo em relação ao destinatário e ao remetente. Observe-se o exemplo a seguir. Amizade é ter com quem conversar nas horas e momentos mais inoportunos. Desabafar sem medo de ser censurado. Encontrar abrigo em um caloroso abraço. É não cansar de se ver, mesmo se for várias vezes ao dia. É chorar despreucupadamente pelas coisas mais tolas. É saber respeitar os defeitos e limitações do próximo. E acima de tudo, amizade é encontrar no olhar ao mesmo tempo respeito e cumplicidade. [20 anos, cat. IV] A referenciação nesse trecho consiste numa exposição desorganizada de visões e opiniões que não promovem a progressão textual, a construção de um todo significativo, coerente. O trecho revela uma acentuada distância do mundo da cognição, o qual, conforme Francis (2003, p. 209), é espelhado no modo do discurso, “e as visões e opiniões que defendemos são frequentemente vistas em termos do modo como são expressas”. Percebe-se que não há plano/estratégia de ação, ou seja, a necessária organização dos argumentos, que permitiria ao leitor proceder a uma construção compartilhada de sentido do texto. As ideias que se expõem em cada frase não se articulam devidamente para a expressão adequada do que se pretende dizer. Revela-se, no trecho acima e também no exemplo abaixo, um sujeito que fala para si, que não considera o momento da escrita do texto como uma ação social, determinada por regras sociais, em que a ação verbal deveria ser orientada para parceiros da comunicação. 79 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. Ter amigos sempre foi uma necessidade humana e talvez a maior prova disso seja a existência dos idiomas. Nossos idiomas existem porque fazemos amigos e queremos nos comunicar com eles, se assim não fosse qual o sentido de uma língua para quem vive solitário? Não podemos simplesmente nascer e começar a viver sozinhos, independentes, sem amigos. Desde o primeiro momento de vida já necessitamos de ajuda dos nossos primeiros amigos, os pais, e logo precisamos da ajuda de muitos outros. [21 anos, cat. I] Afirma-se, no início do trecho acima, que a existência dos idiomas é a prova de que o homem sempre precisou de amigos. No segundo parágrafo, amplia-se um pouco essa idéia, com o argumento de que os idiomas são usados na comunicação com os amigos. Sem discutir o equívoco subliminar dessa reflexão, o que mais chama a atenção é o fato de que, nos parágrafos seguintes, até o final do texto, essa idéia é totalmente esquecida, ou seja, foi utilizada sem nenhum objetivo, sem nenhum propósito de convencimento do interlocutor. O processo de nominalização presente em “Ter amigos sempre foi uma necessidade humana...” não se constitui numa realização lexical efetiva no contexto, nem demanda do interlocutor a capacidade de interpretação e troca de conhecimentos. É muito comum a indefinição do interlocutor em grande parte dos textos. Essa indefinição se manifesta por meio do uso de “você”, “a gente”, e de pronomes em primeira pessoa do singular ou do plural. São inúmeros os exemplos. Observem-se os dois que se seguem: 80 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. Amigo é aquele que te entende, que te aconselha, que te ouve, que te elogia mas que também dá bronca quando necessário, aquele que está disposto a ficar em casa com você em pleno sábado a noite simplesmente porque você sofreu uma desilusão amorosa e está precisando de um ombro para chorar, é aquele que conhece sua família e já se sente parte dela, uma pessoa assim realmente merece ser chamado amigo.(...) Amigo irmão, amigo de escola, amigo de trabalho, seja lá qual for a denominação desejada, o que importa é ser amigo. Amar e respeitar a outra pessoa como a nós mesmos, pois só com amizade e união conseguiremos levar o mundo para frente. [19 anos, cat. I] Enfim, amigo é um presente de Deus, um anjo enviado para nos proteger sempre. Se você possui um e é anjo de alguém, não deixe esses momentos acabarem nunca. [17 anos, cat. I] Além dos problemas já apontados nos outros exemplos (seleção lexical precária, apelos a lugares-comuns, usos inadequados dos pronomes) nota-se, nos exemplos acima, a irrefletida interlocução com o leitor, um tom de aconselhamento, distante da necessária objetividade que deve marcar o texto dissertativo. A falta de objetividade é também acentuada nos exemplos abaixo. Os candidatos usam indevidamente a primeira pessoa, muitas vezes num tom panfletário ou de aconselhamento, exprimindo desejos pessoais. Instaura-se o “outro”, com quem o sujeito, em determinado momento, passa a falar, mas essa presença do interlocutor 81 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. (“confie em seu amigo”; “tente aumentar a quantidade de amigos que tem”) não se caracteriza como uma chamada, de fato, à interação ou à troca de conhecimentos. ...por isso confie mais em seu amigo e tente aumentar a quantidade de amigos que tem, sem deixar de lado a qualidade que eles possuem. Espero, que isto mude, que as pessoas possam sentir a amizade em seus corpos, que transmitam isto para aqueles que não querem, que não gostam de ter amigos. [17 anos, cat. I] A amizade é um sentimento tão nobre que chega a ser superior ao amor, pois contenta-se em oferecer mesmo que nada em troca possa receber. Feliz é quem tem um amigo, um confidente com quem contar, para dividir as tristezas, as alegrias, as vitórias e as derrotas. [25 anos, cat. I] Percebe-se que os candidatos não sustentam minimamente uma ideia sobre a amizade. As frases são esvaziadas de sentido, a seleção lexical é marcada pelo lugarcomum e pelo tom panfletário (“Feliz é quem tem um amigo...”). O exemplo abaixo é extraído de um dos textos considerados razoavelmente adequados quanto à referenciação e à coerência: Numa sociedade tão egoísta e competitiva, na qual nossos colegas de escola são também nossos concorrentes a uma das tão disputadas vagas do vestibular; na qual nossos colegas de trabalho concorrem conosco por uma promoção para um cargo melhor, é difícil saber quem são os verdadeiros amigos. A dificuldade em identificar uma 82 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. amizade leal nos impede de ter a felicidade de possuir um grande amigo. (21 anos, cat. III] No trecho seguinte, pouco se revela também a noção adequada de realidade, ou seja, não se manifesta um sujeito capaz de interagir sociocognitivamente com o mundo. A amizade verdadeira é doce, é terna, é conscientemente um amor puro e inabalável, um sentimento com troca recíproca desse amor indelével que não tem denotação de um romance embora muitas vezes amigos descubram-se apaixonados. Nesse caso um sentimento tão grande como esse laço entre dois amigos tem que ser absolutamente mais forte para superar um não como resposta e até mesmo o fim do romance, deixando permanecer a amizade. [21 anos, cat. IV] Considerações finais Conforme já se afirmou, revela-se, em grande parte das redações analisadas, a incapacidade do candidato de proceder aos dois movimentos responsáveis pela estruturação do texto – o da retrospecção e o da prospecção. O uso indevido dos recursos coesivos é determinante no prejuízo da progressão referencial, pois não se dá a necessária reconstrução de objetos do discurso previamente introduzidos, que daria origem às cadeias referenciais e coesivas adequadas no texto. Em muitos casos, o aluno procura revelar certa imagem de desenvolvimento ordenado do texto; busca construí-lo segundo as exigências próprias de coesão e argumentação, mas o texto que produz denuncia a ausência de familiaridade com uma prática efetiva da escrita. 83 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. Os fracassos apontados têm origem, certamente, em uma falsa imagem das especificidades da escrita. Pressupõe-se que isso se deve, especificamente, aos limites das concepções da escrita que são consagrados na escola. Ali, escrever significa reproduzir uma atividade que existe exclusivamente em função do próprio ambiente escolar. Assim, o efeito mais evidente dos problemas aqui apresentados é a pronunciada distância que se estabelece entre o valor do desempenho escrito e o valor de uso da linguagem, da instauração de um processo significativo. O aluno, diante do papel em branco, não é capaz de compreender que ali se encontra uma chance de dizer, de mostrar, de esclarecer, de divertir ou divertir-se, de partilhar conhecimentos. As inadequações encontradas nas redações mostram que não se instauram nos textos sujeitos capazes de interagir socialmente; pelo contrário, manifesta-se, em grande parte dos textos, o aluno e sua responsabilidade escolar de empreender uma tarefa, uma “lição de casa”. Os textos produzidos pelos vestibulandos comprovam que a escola, tanto a pública quanto a particular, não tem cumprido seu papel, uma vez que esses alunos não revelam o domínio da concepção adequada de texto como instrumento ou estratégia da comunicação ou da interação social; ao contrário, revelam a ausência de orientação, de prática de texto. A escola, portanto, não forma alunos capazes de produzir textos adequados à comunicação ou à interação social. Não basta, conforme já se disse aqui, diagnosticar os problemas. É indispensável envolver, na busca de possíveis soluções, os próprios professores que atuam na sala de aula. Imprescindível também é o investimento na formação eficiente dos futuros 84 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 14 – Práticas escritas na escola: letramento e representação. profissionais, seja nos cursos de graduação, de pós-graduação e de especialização, seja na troca de ideias e de experiências em grupos de pesquisa e nos mais variados encontros científicos. Referências bibliográficas FRANCIS, G. (2003) Rotulação do discurso: Um aspecto da coesão lexical de grupos nominais. In CAVALCANTE, M.M.; RODRIGUES, B.B. & CIULLA, A. (orgs.) Referenciação. S.Paulo: Contexto, pp. 191-228. KOCH, I.G.V. (2006) Introdução à Lingüística Textual. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes. ____________ (2005) Referenciação e orientação argumentativa. In MORATO, E.M. & BENTES, A.C. (orgs.) Referenciação e discurso. S.Paulo: Contexto, pp. 33-52.3 85