EM REV I ST A ANO I - 2ª EDIÇÃO OPINIÃO DE ANALISTA POLÍTICA SINDICAL PRETO NO BRANCO Estreia do novo articulista colaborador Edson Gil falando sobre Simples Nacional, simulação e evasão fiscal. Duas visões sobre o cenário atual e futuro dos servidores públicos federais e em especial do Analista Tributário Ouvimos a voz de quem está na linha de frente do atendimento da Receita Federal sobre conclusivida- de e dignidade do atendido EDITORES COLABORADORES RESUMO OapanhadordedesperdíManoeldeBarros cios Ussilêonciapal a vr a par a compormeus o s . Nãogos t o daspal a vr a s fDoumai atigadasdeis resnpfeiortmoar. àsquevi v emdebar r i g anoc h ão tEntipoáguapedr a s a po. e ndobemos o t a quedaságuas Dour e s p ei t o àscoi s a s deseaossimporeretsdes antesimportantes. PrPreezzoo iavel nsetoosmai s queavi õ es . ci d ade dast a r t a r u gasmai s queados míTenhoemmi s eis. m umatraso de nasEufcença.uiaparelhado parTenhoabundânci a gostardepasasadesrinhoserf.eliz por iMeuqui s o. ntalémaiordoqueo mundo. Souumapanhadordedes p er d í c i o s : Amoosr e s t o s comoasboasmos c as . Quer i a queami n havozt i v es s e um fPorormqatueeunãos o decantoo.udainformática: eusSóusoudai n venci o nát i c a. o apal a vr a par a compormeus silêncios O mundo pós-moderno consolida a imagem do homem independente de cujo entendimento emana a verdade. Verdade essa que não necessariamente é reflexo do mundo material, o que Baudrillard identifica como realidade profunda, mas que se prova simplesmente pela existência do símbolo, sem a necessidade do objeto, da substância. Nos primórdios do modernismo, o positivismo contrapôs-se ao jusnaturalismo, afirmando não mais ser necessária a observação do natural para produzir ou validar normas. Após isso, a completa abstração dos signos. A simulação por imagens rompe definitivamente o paradigma de a verdade ter que refletir ou mesmo mascarar a realidade. Hoje, temos símbolos sem lastro, amparados unicamente na confiança. Nesse novo e intrincado cenário cada vez mais virtual, as instituições buscam adequarse aos novos tipos de relações que se estabelecem. Na Receita Federal, novidades como teletrabalho, escrituração e notas fiscais eletrônicas parecem indicar o quanto já estamos inseridos nesse processo. Todavia, cruzamento de dados eletrônicos e a análise fria e artificial das verdades apresentadas por supermáquinas, podem configurar ambientes perfeitos para a simulação pura, onde grandes contribuintes podem produzir versões de fatos geradores, entre eles circularizada, distantes da realidade mas suficientes para se tornarem uma verdade virtual. Daí teremos o simulacro da arrecadação espontânea, convalidada pela vigilância eletrônica das informações. Indubitáveis são os ganhos auferidos com a informatização, ainda mais quando elimina procedimentos repetitivos que podem ser automatizados, devolvendo tempo de AnalistasTributários e Auditores-Fiscais. O que se afirma é a necessidade do aproveitamento da inteligência humana capacitada em ações complexas dentre a competências prinvativas da RFB. O ganho de tempo alcançado pela tecnologia, não raro, esvai-se em atividades meio priorizadas por gestores por elas atormentados, perdendo a oportunidade de formar equipes que cumpram o mister institucional. A Receita Federal do Brasil compreendeu que deve assumir o protagonismo na proposição de soluções em sua área de excelência. Mas diante dos quadros resumidos, como pode alcançar esse objetivo sem a ocupação dos servidores da Carreira Auditoria em atividades verdadeiramente complexas e finalísticas? Contentar-se com o simulacro da arrecadação em alta como indicativo de boa atuação, é fechar os olhos aos novos desafios e cuidados frente às elaboradas práticas de sonegação e elisão fiscal que alteram os resultados esperados. O Brasil anseia por esse protagonismo, o futuro da RFB dele depende. 3 7 3 12 5 15 19 17 27 28 4 25 Pergunte a qualquer servidor público porque ele escolheu o serviço público e dificilmente ouvirá, como resposta, que esse sempre foi seu sonho, ou que era sua vocação. A justificativa mais provável é a segurança oferecida por essa escolha, a dificuldade de construir uma carreira na iniciativa privada ou os salários razoáveis que algumas carreiras públicas oferecem. Somemos a essas razões permanentes, duas outras conjunturais - a mudança nos concursos públicos promovida pela Constituição de 1 988 e a profunda crise de emprego dos anos de 1 980 e 90 - e teremos um panorama do quadro de servidores atuais do serviço público no Brasil. As novas regras praticamente eliminaram as nomeações sem concurso. Foi o fim da era dos apadrinhados e compadres. A consequência foi uma ampla renovação de quadros, com a entrada de profissionais selecionados em provas que exigem alto grau de conhecimento em áreas variadas. Ao mesmo tempo, a crise de emprego levava jovens recém-formados a duas saídas: os aeroportos internacionais ou os concursos públicos. Um passeio por jornais da época, e é comum encontrar reportagens como a que mostra imensas filas de candidatos a uma vaga de gari. Muitos na fila tem formação superior. Basta ver a diversidade de formação que temos na Receita, para concluir que o concurso público foi opção para muitos, independente da área de graduação. Engenheiros, dentistas, médicos, historiadores, filósofos... Não se pode dizer que são exatamente áreas afins com 5 o trabalho tributário. O resultado disso, em resumo, é um quadro médio de servidores super qualificados em diferentes áreas. Muitas vezes com sua capacidade subaproveitada. “Em algumas carreiras, como as da Receita Federal, estão as joias da coroa”. A expressão foi usada por Sérgio Mendonça, responsável pelas negociações com servidores no Ministério do Planejamento, em seminário promovido no IDP, em dezembro de 201 3. Mendonça falava exatamente da gestão de recursos humanos no serviço público. Pois é... mas de que serve aos serviços públicos do país joias sem uso? Perguntado sobre isso, Mendonça calou. O que deve significar que não existe plano de gestão de pessoas no Estado brasileiro, que considere o aproveitamento dessas joias. A FGV, em sua Revista Conjuntura Econômica, Vol. 65, No 4, de 2011 , publica carta emblemática do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) sobre o tema. A carta conclui: “A complexidade quase absur- da do sistema tributário brasileiro não só custa dinheiro e tempo à sociedade e ao governo, como também consome inteligência e esforços que poderiam estar voltados para o aumento da produtividade, fundamental para acelerar o crescimento de longo prazo no país. Há pela frente uma ampla agenda de simplificação tributária, que seria extremamente útil neste momento.” Não é objetivo desse editorial tratar da complexidade do nosso sistema tributário. Inegável, aliás. Nossa intenção é chamar atenção para essa incongruência entre a qualificação dos quadros funcionais e a qualidade das soluções criadas pela RFB. A começar pela gestão de pessoas. E aqui se trata exatamente de gerir os recursos qualificados já existentes, de forma que sejam aproveitados nas soluções necessárias. O uso de ferramentas de gestão, como a identificação da cadeia de valor, a gestão por processos – ambos em andamento – são importantes, mas não terão utilidade se não forem compreendidos e incorporados pelas pessoas. Tentativas recentes de melhorar a comunicação interna, outro exemplo, tem grandes chances de fracassar, apesar de adotar boa solução técnica. Porque comunicação não se faz com meio (mídia) e sim com linguagem. De nada adi- 6 anta usar um suporte moderno para uma linguagem antiquada, desinteressante. É preciso inovar também na linguagem. Parece existir um problema que permeia todas essas questões de gestão de pessoas na RFB, a cultura organizacional. Temos uma cultura interna bastante arraigada. E ela é burocratizante, arcaica, atua contra a inovação, a criação, a simplificação de procedimentos. É avessa à colaboração. Identificar a cultura de uma organização e mudá-la são tarefas hercúleas, mas essa é a base de qualquer mudança de gestão. Dela, depene o sucesso de todas as outras. Voltaremos ao tema. Com o desaquecimento da economia, o aumento da inflação e o declínio do nível de emprego a sociedade retoma a discussão sobre as desigualdades sociais. Na esteira do tema se discute a carga tributária suportada pelo cidadão. A sombra do problema fiscal projeta anseios por aumento nos tributos. O trabalho da RFB, de natureza e previsão constitucional, em estreita relação com o contribuinte, compreende maximizar a eficiência da arrecadação dentro dos limites da legalidade. Em época de negócios e recursos declinantes deve desdobrar seus esforços para alcançar a receita tributária prevista no orçamento do Estado. O Fisco trabalha com os dois lados da equação: o Contribuinte, cada vez menos disposto a abrir mão de seus recursos declinantes, e o Estado, a depender desses recursos em sua missão de atender a sociedade. O debate político e a imprensa trazem à tona temas sensíveis como corrupção, desvio de recursos, uso inadequado do dinheiro público,questionamento de prioridades, falta de investimento em infraestrutura e má qualidade dos serviços prestados à população. É complexo sustentar a efetividade da arrecadação sem intensificar a presença do Fisco no orçamento do cidadão. Se minguantes os recursos, iniciativas devem ser buscadas para manter positivo o fluxo de caixa do Estado sem agravar a situação daqueles que já são tributados. Há que se investir em novas frentes, melhorar a eficiência da administração tributária, buscar fontes fora do radar fiscal. Muito se tem debatido a respeito do planejamento tributário e em como ele pode ser nocivo às finanças públicas. Dentro dos limites da legalida- 7 de e sem simulacros, não se observa ilicitude quando o contribuinte busca a menor carga tributária possível. No caso do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) a escolha entre o formulário simples e o completo na declaração anual de ajuste nos remete à figura desse planejamento. O que se deve atacar, entretanto, é o planejamento fiscal que se vale do simulacro objetivando a evasão. Nesse ponto é poder e dever da RFB investir esforços e recursos. Não se faz isso apenas com meritórias atividades educativas e conclamação às boas práticas éticas. Um dos tipos de planejamento que mais se tem disseminado é o da criação de Pessoa Jurídica (PJ) pelo cidadão objetivando a redução de tributos sobre seus rendimentos do trabalho, mais especificamente o IRPF e a contribuição para a Seguridade Social. Tal prática, tanto mais presente quanto maior o rendimento, é estimulada por empresas privadas, igualmente interessadas na menor tributação de sua força laboral. Trata-se de evasão fiscal planejada e praticada pelas duas pontas do negócio, ou seja, a “Pejotização”. Um dos regimes fiscais que mais incentivou o empreendedorismo no País também abriu a porta de acesso a esse tipo de planejamento tributário – trata-se do Simples Nacional – que continua a evoluir abrangendo maior número de atividades para adesão. O rendimento do trabalhador nesse regime obtém na prática a isenção do imposto de renda sobre seus “lucros”, assim como da contribuição previdenciária. Basta recolher mensalmente o valor estipulado pelo sistema, embolsar a diferença e apurar o “lucro anual”, isento de tributação. Muito distante, portanto, da maioria dos assalariados no mercado formal. Parte relevante da prolifera- ção de ME e EPP em prestação de serviços nos últimos anos não se deve a “novos” empreendimentos, mas sim à criação de empresas de uma só pessoa, a “famosa” PJ (ou Pessoa Jurídica), estimulada por uma estrutura tributária trabalhista anacrônica. Tanto sob o aspecto fazendário como sob o previdenciário essa prática compromete a arrecadação tributária e a capacidade de financiamento do Estado. É sob a perspectiva estratégica e não administrativa que o tema deve ser enfrentado. Desde o sucesso do Plano Real a economia brasileira tem festejado o aumento da renda e do emprego. Diante das novas políticas públicas em resposta às necessidades sociais, aumentou a carência de recursos para o financiamento do Estado, especialmente da Seguridade Social, o que causou a criação de novas contribuições sociais e a complexidade fiscal para as empresas. Com relação às pessoas físicas, entretanto, 8 apenas foi criada uma nova estratificação de faixas tributárias. A adesão ao regime do Simples Nacional pela “nova classe média” foi decorrência do acidentado terreno delimitado por um lado pela legislação trabalhista e por outro pela legislação tributária corporativa. No arranjo, os dois atores saem “ganhando” – o capital e o trabalho – à margem do Tesouro, ou do Estado. Desde o primeiro nível da administração da empresa, onde se tem o pagamento do pro labore, até os níveis gerenciais e de alta especialização, existe a possibilidade da remuneração através da prestação de serviços prestados por PJ. Há alguns anos existia o elevado risco de contratação através desse regime, posto que é naturalmente sujeito a contenciosos trabalhistas, mas com o tempo a prática, associada a uma rede de consultas prévias entre empresas tomadoras, reduziu as chances de causas trabalhistas indesejáveis. Basta uma referência negativa ou uma rápida consulta aos tribunais para desestimular uma contratação de risco. Quanto mais relevante o posto na hierarquia da empresa, menor a probabilidade do profissional querer “se queimar” no mercado. Na área de recrutamento e seleção de certas corporações a condição de remuneração através de PJ tem caráter eliminatório. Não se está a falar de contratações milionárias, mas de “salários” que a partir de certo valor se inserem no regime do Simples, compensados os custos de manutenção. Isso sem contar os trabalhadores com salários menores, pagos através da “compra de nota fiscal” de empresas que se especializam nisso ou de companheiros que “cooperativam” os custos em uma mesma PJ. Tais “empresas” obviamente não se formalizaram nas atividades impeditivas do regime, mas em atividades escolhidas a dedo na abertura da entida- de. Nesse campo a forma e a criatividade prevalecem sobre a essência. Não há razões para crer que nova legislação possa pôr freio à prática pois viria na contramão do que pretende a sociedade, ou seja, a desoneração pura e simples, sejam lá quais forem as consequências para o financiamento do Estado. Veja-se, por exemplo, a recente ampliação das atividades permitidas na área de prestação de serviços a partir de 201 5. É evidente que, a permanecer o oneroso arcabouço tributário atual e ampliando-se as possibilidades de acesso ao regime, haverá maior aderência e crescente fuga fiscal, tanto maior quanto maior for o rol das atividades de serviços permitidas. Trata-se de uma “reforma tributária” por adesão para a pessoa física. A queda na arrecadação da pessoa física causada pelos que migraram de regime deverá ser compensada. Os de- 9 mais contribuintes assalariados que não têm acesso nem escala de rendimentos para entrar no “sistema PJ” ver-se-ão desproporcionalmente onerados. Aqui encontramos o cerne do agravamento da desigualdade tributária. Com a migração dos trabalhadores de maior renda, não precisaremos ir muito longe para antever os graves riscos para o financiamento da seguridade social. Deve-se refletir sobre os efeitos e como enfrentar essa crescente assimetria. Em finanças públicas é fundamental o princípio da neutralidade fiscal, ou seja, a tributação não deve provocar desequilíbrio ou custo maior para alguns contribuintes do que para outros. Em tese, nenhum setor ou agente deveria ser favorecido ou desfavorecido e romper esse princípio é criar desigualdade. A tributação atual da pessoa física, que se utiliza de parâmetros de faixas de renda e de despesas dedutíveis, acarreta a eventual devolução de parte do valor arrecadado mensalmente na forma de restituição anual. Esse valor, se recorrente, pode ser considerado como uma espécie de financiamento para o Tesouro. Se por um momento considerarmos a hipótese de que a população com maior renda tributável tende a “se reduzir” devido à migração para regimes de benefício fiscal escapando do alcance do Fisco, o sistema atual de tributação do IRPF dificilmente poderá ser sustentável a longo prazo. Por quanto tempo seria razoável manter a estrutura atual de arrecadação da pessoa física se toda uma parte dessa mesma população está conseguindo escapar dele? Poderíamos perguntar-nos como fica o custeio da aposentadoria dessas pessoas? Basta acompanharmos os debates no Congresso Nacional atribuindo principalmente ao Fator Previdenciário o desencanto com a almejada aposentadoria e veremos que poucos contribuintes têm esperanças de manter seu padrão de vida na terceira idade, a depender do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Por outro lado, ao obterem a desoneração do IRPF e do INSS nos seus rendimentos através da PJ, estão a obter fontes de financiamento para seus próprios planos de previdência e saúde. Não haveria problema algum nessa privatização da aposentadoria se a população formal e economicamente ativa pudesse cobrir equilibrada- mente os custos da população beneficiada pelo Estado. Mas sabe-se que não é assim pois os PJ também almejam à aposentadoria do INSS. Para os profissionais PJ, o mercado criou um amplo e próspero leque de serviços como planos de saúde “em- ção da assimetria passaria pela ampliação dos benefícios para todos ou o enquadramento dos aproveitadores e seus caronas. A discussão não é ideológica pois não se trata de questionar o incentivo ao empreendedorismo, quando, por via presariais”, cartões de crédito “corporativos”, empréstimos bancários e investimentos “corporativos”, planos “empresariais” de previdência privada, financiamento de bens móveis e imóveis com taxas favorecidas, todos facilitando a transformação despesas pessoais em operacionais. Estamos claramente diante de um sistema que aumenta a desigualdade social pois permite às camadas de maior renda se beneficiarem da menor tributação através de regimes excepcionais, seja qual for o nome que se lhes dê, sobrecarregando as demais camadas sociais com a carga plena da legislação e, portanto, menor poder relativo de consumo e poupança. A corre- meritória, se reduz o “custo Brasil”, mas verificar se essa via pode provocar desigualdade social e deficit fiscal. É evidente que a entrada do cidadão na formalidade traz para o Estado maior capacidade de atuação e proteção social. O excesso de intervenção estatal, porém, motiva o movimento contrário – aquele que está na formalidade e, querendo afastar-se dela devido ao peso da exação fiscal, procura mascará-la sob novos rótulos, dentro da legalidade. A administração tributária pode combater essa tendência introduzindo elementos desestimuladores nesse terreno, próspero ao simulacro. À falta de uma legislação ideal, restritiva e punitiva, a RFB deve 10 se valer de seus pontos fortes – sua expertise tecnológica e a competência profissional do seu quadro. Os chamados big data, bancos massivos de dados, tratados com ferramentas e objetivos de inteligência, podem fornecer indícios e evidências sobre praticantes dessa via de “evasão legalizada”. A RFB tem os dados, mas precisa da informação. É simples de dizer, mas difícil de implementar. Com a Lei Complementar 1 47/201 4, a ampliação das atividades de serviços permitidas no regime do Simples Nacional tornou regra a exceção. Fazendo prevalecer a essência sobre a forma, convenhamos que a expressão “lucro isento” da PJ não se refere ao resultado anual apurado na declaração de ajuste como consequência dos seus negócios, mas em resultados mensais capturados na prática pela pessoa física. No final do ano apenas se formaliza essa captura monetária de maneira a seguir o rito da obrigação acessória. Seja praticada pelo sócio da empresa que simula seu pro labore, comissão ou participação através de uma PJ, ou pelo trabalhador de alta renda, que simula seu salário sob uma atividade permitida pelo regime, o mesmo permite e incentiva a adesão. Em visão prospectiva, não se pode esperar que nova legislação, como em épocas passadas, atenue a tendência de desoneração ou que volte 11 atrás. Com ou sem reforma tributária a desoneração fiscal já está acontecendo. A resposta para melhorar a eficiência da arrecadação na RFB sem aumentar a tributação passa por investir na captura de informações fora do radar buscando explorar os recursos disponíveis. Os “dados” existem na RFB, em sua grande parte dispersos e desconectados, mas o esforço institucional da entidade pode transformá-los em “informação”. Recordemos, por oportuno, a Missão da RFB: “Exercer a administração tributária e aduaneira com justiça fiscal e respeito ao cidadão, em benefício da sociedade.” De um sonho comum A última negociação salarial conduzida pelos sindicatos dos servidores públicos junto ao governo não resultou no que esperavam os servidores públicos. Vistos pela população como atores perversos, pior ficariam se mobilizassem suas fileiras de maneira mais contundente numa guerra salarial. No final ganhou o governo. Era a primeira negociação após o subsídio como modelo remuneratório para os Analistas e, por fim, fixou-se um percentual de cinco por cento ao ano em três anos, havendo reajustes diferenciados para categorias com menor ganho salarial. Nesses termos, o governo ofereceu pouco e ganhou a guerra de tal forma que alguns sindicalistas engoliram com gosto ruim o que saiu dali, qual seja, um acordo magro que não permitiria outra negociação para os sindicatos nos três anos seguintes. Do sonho das atribuições Entre os seus temas sindicais, os Analistas-Tributários vêm defendendo a fixação das suas atribuições em lei. Trata-se de uma luta antiga do sindicato, que tomou corpo com o tempo e finalmente se tornou um documento encaminhado à Presidente Dilma. No propósito de trazer felicidade para o Analista-Tributário, entretanto, parece-nos que essa é uma guerra perdida. Principalmente por ter nascido como uma tática para a bandeira de Unificação dos cargos da carreira Auditoria da RFB, no antigo Sinditten. Uma tática que faria aproximar o conteúdo atributivo dos cargos em lei, chegando a um limite em que os cargos de Analista e Auditor naturalmente se unificariam. Essa tática foi alçada a estratégia para o Sindireceita de forma específica depois, tor- 12 nando-se ela mesma a única bandeira sindical. Exatamente por se tratar de uma tática, não de uma estratégia, desde sempre ela peca da essência prima para o bom resultado de uma guerra, que a faria se manifestar. Segundo um antigo provérbio de Sun Tsu: “A estratégia sem tática é o caminho mais lento para a vitória. Tática sem estratégia é o ruído antes da derrota”. Porque a bandeira de atribuições seria apenas uma tática hoje sem estratégia? Ora, depois que ganharmos essa guerra e obtivermos as atribuições, teremos ganhado o quê, senão um caminho para lutar por outros sonhos? Bem, perdemos o foco, eis um dos problemas. Dos sonhos de cada um O que querem efetivamente os Analistas-Tributários como sonho final de alguma grande luta? Sim, o que queremos? Pois antes de qualquer deva- neio, essa haveria de ser a primeira pergunta para os Analistas, feita pelo seu sindicato, em considerando encontrar um caminho para o Analista-Tributário ser feliz. Particularmente olhamos para nossos bolsos como sensação primeira sobre essa pergunta – como para saber se algo vai bem, ou algo vai mal em casa – e, nesse caso, escolhemos a promoção entre os cargos de Analista-Tributário e de Auditor-Fiscal como nosso sonho número um, do qual já estamos em busca do direito no judiciário através da Anfaz, uma associação formada por Analistas-tributários com o propósito de fazer a discussão sobre carreira chegar ao STF. Quanto aos ventos favoráveis de uma tese administrativa nesse formato, uma que poderia ser defendida pelo sindicato, por exemplo, temos agora um cenário em que a presidente Dilma Rousseff confirmou sua reeleição no último 26/1 0, retomando o discurso e o espírito de mudanças que aludia no ano passado, quando das manifestações do povo nas ruas. Dos sonhos de governo Segundo Dilma Rousseff, num discurso proferido em cadeia nacional de TV em 21 /06/201 3: ... Sou a presidenta de todos os brasileiros, dos que se manifestam e dos que não se manifestam. A mensagem direta das ruas é pacífica e democrática. Ela reivindica um combate sistemático à corrupção e ao desvio de recursos públicos. Todos me conhecem. Disso eu não abro mão. Esta mensagem exige serviços públicos de mais quali- 13 dade. Ela quer escolas de qualidade; ela quer atendimento de saúde de qualidade; ela quer um transporte público melhor e a preço justo; ela quer mais segurança. Ela quer mais. E para dar mais, as instituições e os governos devem mudar. ... (destacamos) Vasculhando discursos ainda mais antigos da Presidente Dilma no sítio do planalto , vêse que, enquanto encaramos a promoção pelo calor dos nossos bolsos, a Presidente pode tranquilamente olhar para isso pelo viés da eficiência no Estado e, assim sendo, poderíamos nos aliar a esse discurso para alavancar nossos bolsos – por que não? –, se assim nos projetarmos para os exatos anseios de gestão de pessoas do governo Dilma. Dilma fala da profissionalização dos servidores públicos em seu discurso de eficiência, por exemplo, ao criar a Câmara de Política de Gestão, Desempenho e Competitividade, em 2011 , e essa relação entre eficiência institucional e desenvolvimento de pessoas é corroborada pela teoria de Desenvolvimento Organizacional, conforme nas faculdades de Administração, segundo a qual o desenvolvimento organizacional depende do desenvolvimento das pessoas da organização. Sob o sonho de eficiência Nesse sentido, o Estado haveria de investir na formação e aperfeiçoamento dos seus servidores, prepará-los melhor visando rapidez, presteza e satisfação no atendimento, ou então pensar na formação de talentos, e isso se liga diretamente ao tema “promoção” de servidores em suas carreiras em conta do que prevê a Constituição Federal sobre a formação e aperfeiçoamento dos servidores, como requisito constitucional para a promoção nas carreiras do Estado . Conforme o Regime Jurídico Único, vale fixar, a promoção é uma passagem entre dois cargos , ou seja, assim a Presidente já teria em mãos um ingrediente legislativo apropriado para, aplicando a restrita informação da lei hoje já existente, resolver a profissionalização através de promoções nas carreiras, como forma de incentivo para o servidor. Dentre as carreiras com reconhecida excelência de profissionalização e formação de talentos no Estado, há a Carreira de Diplomacia, profissionalizada pelo Instituto Rio Branco, assim como há a Esaf para resolver os dilemas de excelência na formação dos servidores da Carreira Auditoria. Sonhando um caminho juntos O que o sindicato poderia fazer de efetivo, assim, seria pensar no tipo de excelência organizacional que requereria o órgão em que atuamos, sob condições de alavancagem de eficiência, para então modelar uma formação adequada para essa necessidade, oferecendo como opção. Para um sindicato que possa optar entre vários sonhos – que podemos olhar como num barco a velas com ventos favoráveis para chegar –, parece sandice escolher um destino para onde o vento não ajuda alcançar, como nos parece o caso da nossa atual luta pelas atribuições, hoje na Presidência da República. Alguns sindicalistas falaram mal de Dilma nessa última campanha. Nós resolvemos acreditar em Dilma, em conta do seu discurso de mudanças. Ela ganhou a eleição e ganhamos os ventos favoráveis dos seus discursos, nos permitindo sonhar em como as mudanças para a população nos permitiriam também olhar para esses discursos como com um caminho para o Analista Tributário ser feliz. O que queremos nós, cada um por si primeiro? O que queremos todos, Analistas-Tributários? De todas as coisas a guerra é pai, de todas as coisas é senhor; a uns mostrou deuses, a outros, homens, de uns fez escravos, de outros, livres. – Heráclito Derrotar o inimigo em cem batalhas não é a excelência suprema; a excelência suprema consiste em vencer o inimigo sem ser preciso lutar – Sun Tsu 14 Aconteceu em Brasília, no período de 1 4 a 1 6 de novembro de 201 4, o Seminário Nacional dos Servidores Federais, que contou com a participação de 31 entidades, entre elas o Sindireceita, representantes dos trabalhadores do setor público, com cerca de 300 participantes, e que teve como foco principal buscar unificar algumas das pautas reivindicatórias dos servidores públicos federais para 201 5. O pano de fundo de todas as falas e dos debates iniciais e que se seguiram durante o evento foi no sentido da busca de um consenso que viabilizasse a construção da unidade na luta em defesa do serviço público, centrando esforços nas reivindicações comuns que unem os servidores e não nas questões que os divide. Nas avaliações de conjuntura, pode-se destacar três pontos bastante abordados: o recente processo eleitoral, com defe- sas passionais prós e contra a eleição de Dilma; O cenário político e econômico nacional e internacional, com a repercussão da crise econômica mundial e ponderações que passaram pelos movimentos populares ocorridos no Brasil em junho de 201 3, que buscavam mudanças estruturais e melhorias na qualidade de serviços públicos, pela Primavera Árabe e pelos conflitos no Oriente Médio e por último a busca de alternativas de lutas aos servidores públicos. Outro pontos importantes foram abordados nas discussões, como o "pacote da maldade", que são projetos e medidas que tramitam no Congresso Nacional e que retiram direitos dos trabalhadores do serviço público, como a regulamentação do direito de greve, redução dos gastos com o serviço público, perda da estabilidade, previdência, terceirizações e privatizações. Também foi consenso que es- 15 ta unificação pretendida das bandeiras de lutas, com grupos de características tão díspares, só terá chance de alcançar sucesso se esta indignação emergir com mais força das bases, com a participação mais ativa dos filados, abandonando-se a equivocada concepção de decisões impostas de cima para baixo pelas cúpulas de centrais e sindicatos. Reconheceu-se a necessidade do atrelamento das reivindicações salariais e outras mais corporativas à defesa intransigente do Estado e da qualidade dos serviços públicos, das necessárias reformas estruturais como a reforma política, previdenciária e a tributária, na busca de uma identificação e consequente apoio popular. Um documento foi produzido no último dia de seminário, mas só será divulgado após uma próxima reunião que deverá acontecer no dia 25/11 /201 4, contudo os princi- pais pontos são: a) Política salarial com correção das distorções – reposição das perdas inflacionárias; b) Data-base para o dia 01 de maio; c) Direito de negociação coletiva (convenção 1 51 da OIT); d) Paridade salarial entre ativos e aposentados; e) Retirada dos projetos do Congresso Nacional que atacam direitos dos servidores; f) Aprovação imediata dos projetos de interesse dos servidores e g) Isonomia dos benefícios (auxílio alimentação e plano de saúde). De fato o seminário foi muito produtivo e elencou um leque grande de lutas e reivindicações para os servidores públicos federais, com a formatação de um calendário que incluem atos públicos, plenárias e a construção de uma agenda de lutas, que começam ainda este ano, mas o principal produto foi o alicerce da união de esforços de todas as categorias presentes na preparação para o provável embate com o Governo Federal em 201 5 com uma grande mobilização e participação das bases. Não se espera uma negociação fácil para 201 5, pois o Governo Federal vem demonstrando ser pouco afeto às questões dos servidores públicos, mas dessa vez ele não enfrentará setores fragmentados do serviço público com lutas isoladas, mas servidores unidos e imbuídos na vontade de conquistar justos avanços salariais, bem como a manutenção e ampliação dos seus direitos, sem deixar de exigir a melhoria da qualidade no serviço público. 16 É com muito orgulho e prazer que ocupo este espaço com o qual fui agraciado para escrever ao OBSERVATÓRIO. Narrar experiências e aprendizagens é uma obrigação, assim penso. Então vamos ao nosso assunto de hoje: O controle do Comércio Exterior, exercido pela RFB, sempre encontra suas soluções e também os seus desafios. A Repressão encontra, dia-a-dia, soluções em sua incessante busca pelo corte de linhas de abastecimento ilegais. Ao passo que leva nossa área de Logística a encarar, diuturnamente, desafios para alcançar adequadas formas de encaminhamento aos estoques de Mercadorias Apreendidas, garantindo giro em depósitos e preservando o política e ecologicamente correto. Aí é que começa a montagem de um verdadeiro quebra-cabeças. Na Inspetoria de Porto Alegre, Unidade mais representativa da 1 0ª. RF em termos de Ge- renciamento de Mercadorias Apreendidas, devido ao volume de estoques, o primeiro grande desafio foi o que fazer com as máquinas caça-níqueis, milhares delas. Uma grande operação de destruição ocorreu no Cais do Porto, com um rolo compressor passando por cima delas. Resultados: 1 . Nenhuma geração de resíduo economicamente viável (atualmente, sob a égide da normatização vigente, notadamente da Portaria RFB 3.01 0/2011 , algo considerado essencial). 2. Puxão de orelhas de órgão de meio-ambiente, por risco de contaminação de solo e de lençol freático. Por sorte, um policial civil, cumprindo alguma função burocrática no local, apresentou a membros da Comissão de Destruição, ali presentes, o PROJETO ALQUIMIA – TRANSFORMANDO CAÇA NÍQUEIS EM INCLUSÃO DIGITAL, firmado pelo MPE/RS com o CESMAR – Centro So- 17 cial Marista, e participação das forças policiais no encaminhamento das MEPs (máquinas eletronicamente programáveis) ao citado Centro. Retiradas uma minúscula placa (contenedora dos jogos) e a ceduleira, todo restante é considerado resíduo, já que o conjunto todo fica inutilizado para seu uso original. Monitor, teclado, cooler, placamãe, processador, caixas de som, leads, botões, fiação, cabos, “móvel” de madeira, rodinhas ... Tudo aproveitável. Tanto para o Projeto Alquimia, quanto para a Robótica instalada no mesmo Centro Social. Trata-se de Escola em turno inverso para crianças e adolescentes de famílias em condição de vulnerabilidade social, recuperação de drogatixidade, voltado para capacitação funcional através de Oficinas diversas, onde os alunos desenvolvem tarefas, habilidades e criatividade. Trabalho fantástico, do qual nutrimos enorme orgulho de sermos partícipes. Conto a vocês uma passagem curiosa e emocionante: numa das idas ao CESMAR, duas meninas pedirão a mim e ao colega que estava junto, para fazer uma fotografia com elas. Só para se verem naquela telinha de 2,5 polegadas ! Um ônibus doado pela Inspetoria transformou-se em Lan House ambulante. Madeira das máquinas viraram prateleiras. Até as placas onde se via o nome do jogo de cada máquina foi aproveitado em Oficina de Artesanato. Bem ! Este foi apenas o começo da NOVA HISTÓRIA do Gerenciamento de Mercadorias Apreendidas, em que nossa IRF (Porto Alegre) acabou fornecendo know-how a todo estado do RS. Em próximas oportunidades falaremos sobre os leilões, incorporações, doações e as mais variadas formas de destruição por descaracterização, que são preferenciais, hoje em dia. Várias parcerias foram estabelecidas em função disto. Ganham os parceiros e ganhamos nós com a dedicação de mão-de-obra que estabelecem na empreitada. Meninas e Senhores, este é o primeiro artigo sobre uma longa trajetória percorrida em nossa Programação e Logística dentro da IRFB. Nas próximas edições do OBSERVATÓRIO continuaremos com este bate-papo. Falaremos sobre alguns eventos memoráveis, tais como o ocorrido durante o último Mutirão Nacional de Destruição de Mercadorias Apreendidas, que contou com a presença do Sr. Secretário na Capital de todos gaúchos e teve lugar no Centro Cultural da Usina do Gasômetro (um dos principais pontos turísticos de Porto Alegre). Falaremos muito mais sobre este assunto. Por enquanto agradeço a atenção de todos. 18 Projeto Alquimia, onde a Receita Federal doa máquinas Caça-Níqueis para que as peças sejam reaproveitadas Por Eduardo Schettino A sociedade brasileira tem passado por profundas transformações nas últimas duas décadas. A inclusão de boa parte da população no mercado consumidor, a melhoria da escolaridade e a melhor distribuição de renda se refletem numa sociedade mais dinâmica, atuante e ciente de seus direitos. Não por acaso, vimos recentemente a população sair às ruas a exigir uma melhor prestação de serviços públicos e vivemos eleições presidenciais as mais acirradas de toda história. Transparência, eficiência e respeito: estas são as palavras de ordem que ganham as ruas e que deveriam nortear a relação entre o Estado e seus cidadãos. A Receita Federal do Brasil (RFB) é uma das organizações mais dinâmicas da administração pública, reconhecida por sua capacidade de inovação e incorporação de novas tecnologias aos seus processos de trabalho. Contudo, tais Ricardo de Souza Almeida avanços devem estar alinhados aos anseios dos contribuintes e da sociedade organizada. Uma profunda mudança no atendimento ao público está em curso na RFB, concebida a partir da visão dos órgãos centrais da RFB e, ao que tudo indica, sem a participação dos servidores que lidam com o assunto na ponta: Agentes, Chefes de CAC e atendentes. Por sua amplitude e profundidade, tal mudança pode, num só passo, alterar completamente a relação entre o fisco e seus contribuintes, tornar os CACs em simples balcões de protocolo – passíveis, inclusive, de serem conveniados e terceirizados – e promover um grande remanejamento de servidores. O fato é que tudo isso só veio à tona pelo engajamento dos colegas Chefes de CAC e de Agências da 6ª Região Fiscal. Desde que tomaram conhecimento dos planos da COAEF, travaram um duro embate 19 com a Administração e conseguiram pautar o assunto. Mas essa discussão ainda não se alastrou por todo o país, e nem há, entre os Analistas-Tributários, a exata noção das consequências da implementação desse plano. Por isso, o Observatório do Analista buscou colher as impressões de Ricardo de Souza Almeida, Analista-Tributário da RFB, Chefe do CAC da DRF Sete Lagoas/MG e um dos principais articuladores do debate travado na 6ª RF, para tentarmos entender a questão, seus pressupostos, seu processo de construção e as consequências de sua implantação. A entrevista foi concedida ao OA em 1 2 de novembro de 201 4. OA – Ricardo, você poderia nos falar brevemente sobre sua formação, trajetória na RFB e experiência na área de atendimento? Ricardo – Sou formado em ciências contábeis. Cheguei à RFB através do concurso de ATRFB de 2006. Anteriormente, exerci o cargo de Analista Previdenciário. Trabalho com atendimento desde 2003. Fui Agente da ARF Paracatu/MG e Chefe de CAC em Sete Lagoas desde 2009. OA – Para entendermos o universo do atendimento ao público na RFB, gostaríamos que você traçasse um panorama da estrutura da área de atendimento, suas relações hierárquicas e consultivas, e sua adequação à realidade vivida na ponta. Ricardo – O atendimento na RFB, hoje em dia, não tem uma estrutura vertical bem definida. Não há uma relação direta e estrita de apoio entre os CAC e as DIVIC, e entre essas e a COAEF. Esse apoio é muito superficial e as questões técnicas não são resolvidas por este canal de informação. As consultas técnicas, por exemplo, dependem de outros canais de resolução, como o Suporteweb. Não há um filtro, ou uma sistematização da informação promovida pela estrutura hierárquica regimental. Outro problema de forte impacto é carência de mão de obra vocacionada e preparada para o atendimento. Não existe uma programação sistemática de seleção e formação dos atendentes, o que implica, na prática, na transferência dessas responsabilidades ao Chefe de CAC. OA – Qual o papel do SAGA nessa estrutura de atendimento e qual sua efetividade para retratar a realidade? Ricardo – O SAGA é uma ferramenta importante para o gerenciamento local, para o controle do fluxo cotidiano dos serviços do atendimento. Retrata a realidade local. Contudo, transformá-lo em ferramenta de controle estatístico gerencial nacional é um erro, e uma temeridade. Sua que a base de dados não pode ser tomada como um conjunto uniforme. Vou dar um exemplo: no estudo de mudança em curso, a lotação de servidores proposta é fortemente influenciada pela “demanda reprimida”. E o que vem a ser esta demanda reprimida? Bom, digamos que um determinado serviço tenha mais contribuintes o solicitando do que a capacidade do CAC em atender este serviço num determinado período de agendamento. As Unidades, então, têm duas opções – contabilizar esta demanda real, registrando todas as tentativas de agendamento frustradas, ou alargar o prazo de agendamento, abrindo sua grade para os próximos 1 5, 30 ou 60 dias. As duas soluções são lícitas e válidas, uma busca dimensionar o déficit real do atendimento enquanto a outra busca dar maior comodidade ao contribuinte. Ocorre que, se tomarmos os dados de Unidades que optem por estas soluções diversas como a mesma realidade, qualquer estudo apontará para uma enorme distorção, exatamente o que aconteceu com o projeto da COAEF. OA - Ainda sobre as questões estruturais, você percebe algum desencontro entre as atribuições dos diversos cargos da RFB, as portarias de perfis de acesso aos sistemas informatizados e o regimento interno? Poderia apontar alguma dessas incongruências? conformação permite, e até exige, que cada Unidade busque a configuração particular que melhor lhe atenda, que lhe permita atingir as metas colocadas e cumprir com suas obrigações, da melhor maneira possível. Qualquer estudo que tome por base os dados Ricardo – Claro. Na minha do SAGA tende a apontar uma opinião, a Administração Trisolução equivocada, uma vez butária somente poderia ser 20 exercida por servidores de Carreira, isso envolve inclusive a propriedade de se lidar com informações sigilosas. Mas o que enxergamos é que, na medida em que a administração julga conveniente, muitas funções são alcançadas por outros profissionais através de liberalidades contidas em portarias de perfis e outros atos infralegais. É um absurdo. Compromete a imagem da RFB e a qualidade dos serviços de orientação tributária prestados ao contribuinte. Nesse estudo atual em que se baseia o projeto da COAEF, por exemplo, ao único serviço reservado ao pessoal de carreira é o Redarf (retificação de documentos de arrecadação), todos os demais poderão ser atribuídos a qualquer funcionário. OA – Então, vamos falar agora do plano da COAEF. Como você tomou conhecimento desse plano de mudança do atendimento? Ricardo – Na 6ª Região Fiscal (MG) temos um grupo de chefes de CAC que acompanham e colaboram ativamente com a atuação da DIVIC. Num desses encontros, salvo engano ocorrido no final de 201 2, a coordenação da COAEF (Coordenação de Atendimento e Educação Fiscal) deixou escapar algo nesse sentido. Desde então, alertados para o problema, temos acompanhado a agenda de implantação do projeto, que só se tornou público agora, depois que denunciamos sua existência, apesar de reiteradas afirmações em contrário da Administração. OA – Em algum momento, até que o problema viesse à tona, houve convite para que o pessoal dos CACs, Agências ou das DIVICs participassem do processo de construção desse planejamento? Ricardo – Não tenho conhecimento de nenhuma participação da área de atendimento no processo de construção desse projeto. Até bem pouco tempo, todas as vezes em que abordávamos o assunto, o projeto era colocado como uma mera intenção da Administração, enquanto, na realidade ele já estava em curso e praticamente concluído. OA – Até onde vocês conhecem, no que consiste o plano da COAEF? Ricardo – Cabe ressaltar, em primeiro lugar, que o projeto da COAEF é, em linhas gerais, positivo. Consiste em tornar o atendimento mais célere, através de uma série de soluções tecnológicas e de alterações nos processos de trabalho, de modo a concluir apenas aqueles atendimentos que se encaixem no tempopadrão de 7'1 2”. Isso, por si só, não implica em qualquer dificuldade. Ocorre que, para todos os outros serviços que extrapolem este tempo-padrão – e que são os de maior importância e complexidade -, não há soluções indicadas. Não se sabe se haverá, por exemplo, um serviço de orientação tributária, onde poderão ser alocados os Analistas-Tributários, para um atendimento mais rigoroso e conclusivo, sobretudo aquele de investigação da vida fiscal do contribuinte, a conhecida “conta corrente”. Também em relação aos serviços que extrapolem o tempo-padrão e que sejam passíveis de processamento interno, não há solução apresentada para quem, onde, como e quando esses serviços serão processados, como será o impacto das formalizações que necessitarem de saneamento, ou como se dará a co- João Maurício Vital - Coordenador da COAEF (dir.) 21 tudo tão simples assim, se o atendimento superficial e protocolar fosse suficiente, poderíamos lançar mão apenas do call center da RFB, que oferece exatamente esta solução básica, rápida, superficial e, na maioria dos casos, insuficiente. Acho que as soluções expressas são válidas e necessárias, mas podem e devem conviver com essa presença fiscal mais apurada, rigorosamente mais técnica e que contribui para a contribuição espontânea, alimenta a cadeia do macroprocesso do crédito tributário. Essa é uma das mais graves deficiências do projeto da COAEF. municação do processamento ao contribuinte. É relevante, ainda, considerarmos que os serviços protocolizados não conclusivos serão multiplicados, uma vez que, em vista da redução do tempo de cada atendimento, será ampliado o número de atendimentos. Num quadro de servidores já reduzido, isso é, de nossa parte, motivo de grande preocupação até ser tratado de mesmo modo que - a consulta formal sobre legislação tributária. Já a orientação ao contribuinte, ou análise de conta corrente como comumente chamada, é a análise corriqueira da vida fiscal do contribuinte, no que tange às suas obrigações principais e acessórias, é a busca de soluções imediatas para o contribuinte que se dá cotidianamente no ambiente de atendimento, mas que requer acessos sigilosos e profundo conhecimento técnico para fazê-lo corretamente. OA – Quando a gente fala de orientação ao contribuinte, ou seja a análise de sua vida fiscal, no que isso difere do chamado “plantão fis- OA – Então, na sua opinião, cal”, hoje fora da estrutura não vamos na contramão da dos CACs? história? Quando deveríaRicardo – São coisas absolu- mos trazer para o atenditamente distintas. O plantão mento mais efetividade e fiscal, que hoje não funciona conclusividade, estamos casob nenhum aspecto, se refe- minhando para o protelare a orientação específica do mento dos problemas do fisco ao contribuinte sobre fa- contribuinte, eliminando seu zer ou deixar de fazer determi- canal de comunicação direta nada coisa em virtude da Lei. com a RFB? Está mais próximo - e deveria Ricardo – Exato. Se fosse 22 OA – Depois que vocês levantaram o problema na 6ª RF, houve algum espaço para que as considerações do grupo fossem acatadas? Ricardo – Tivemos pouquíssimas oportunidades para discutir o tema. Teremos outra chance em dezembro próximo, num evento promovido pela DIVIC/RF06 que reunirá os Chefes de CAC da RF06 e a Coordenação da COAEF. Apesar disso, entendo que pudemos pautar alguns pontos que implicaram em alguma evolução. O plano da COAEF é um plano bom, mas precisamos ainda melhorá-lo em alguns aspectos importantes. Não podemos nos afastar do papel institucional da RFB como agente de integração social e imposição estatal e nem excluir os colegas de outras regiões do brasil da discussão, já que cada um tem uma rica realidade, diversa das demais, que deve ser contemplada num plano nacional. OA – Porque, na sua opinião, essa discussão não ganhou corpo em todas as regiões fiscais? Ricardo – Nós não tivemos outros canais de comunicação além dos locais, cavados nessa luta conjunta de Chefes de CAC e DIVIC/RF06. Eu acho, inclusive, que as outras DIVICs passaram batidas, não estão entendo a evolução do atendimento ao contribuinte e, por isso, estão omissas em relação a esta drástica mudança ora em pauta. OA – Ricardo, se esse plano fosse implementado como se acena, quais seriam asa consequência imediatas para os servidores e para os contribuintes? Ricardo – Para os contribuintes, penso que perderiam o único canal de comunicação presencial de atendimento, mediante a prestação de serviço de profissional com gabarito técnico para efetuar este atendimento, mais amplo e rigoroso. Com relação aos servidores, eu não enxergo mais, a partir da implantação do projeto como ele está colocado, Analistas Tributários alocados no atendimento. A complexidade do atendimento que se pretende oferecer a partir desse projeto não é compatível com as atribuições ou com a remuneração do Analista-Tributário. Devemos ser realocados, então, no processamento interno dos serviços, na cobrança e na arrecadação ou na análise dos processos de compensação, restituição e isenção, funções típicas do cargo, até 23 mesmo em vista do grande incremento dos serviços internos proporcionado pela nova estrutura de atendimento. OA – Há, no seu modo de ver, alguma solução alternativa que não comprometa a implementação dos aspectos positivos do plano? Ricardo – Hoje, o atendimento funciona como uma válvula de controle dos serviços processados pela RFB. Controlamos a demanda de acordo com nossa capacidade de processamento, e isso se reflete também internamente. Não há capacidade instalada na RFB para suprir o atendimento apenas com servidores ATAs, Técnicos da Previdência e PGPE – muitos deles estão em vias de se aposentar, en- quanto outros têm grande rotatividade em vista da remuneração, que implica na baixa permanência do servidor no cargo. Também não há Analistas-Tributários em número suficiente para processar toda a demanda de serviços a serem protocolizados. Hoje já enfrentamos uma carência generalizada de Analistas, sobretudo nas Unidades decentralizadas. Esse é o primeiro problema. Também considero um erro grave tratar todo e qualquer atendimento sob o mesmo prisma. A solução, creio, passa pela discussão mais ampla do plano, por sua implementação gradual – hoje temos Unidades de pequeno e médio porte que atendem o contribuinte de modo muito satisfatório e que terão problemas com essa mudança -, pela distinção entre atendimento expresso, protocolar, e atendimento de orientação tributária, que deve permanecer como importante canal de presença fiscal. Também é preciso indicar os caminhos desse serviço internalizado, porque não podemos deixar de tratar a conclusividade no atendimento sem tratá-la internamente. Enfim, as questões são complexas e não há solução adequada sem a devida discussão. OA – Qual é o clima atual no ambiente de atendimento? Há motivação dos gerentes, há insegurança nos servidores, como estão as coisas, de modo geral? Ricardo – Os servidores já têm conhecimento das mudanças em curso e isso tem gerado insegurança, principalmente para os Analistas-Tributários, no sentido de não 24 saberem onde estarão alocados no futuro. Quanto à motivação pessoal como gerente de atendimento, fica complicado pra gente. Porque, como gerente local do setor, você teria que ter, pelo menos, conhecimento do assunto, nem falo em ser ouvido, em ser partícipe do projeto. O que me deixa desmotivado é não saber onde as pessoas querem chegar e não entender o processo como um todo. Fica a minha crítica à COAEF, que deveria ter sido mais clara, mais parceira dos servidores e dos gerentes que atuam no atendimento da Receita Federal. OA – Muito obrigado pela entrevista, Ricardo. Ricardo – Obrigado. Um abraço aos colegas. Renda-se. Entregue-se ao desconhecido Clarice Lispector O leva e traz e o preconceito linguístico Mari Lucia Zonta Tempos de novos preconceitos parecem se aproximar. A cada disputa vivida no país (eleições, futebol...) tem sido comum assistir a um rosário dos mais diversos preconceitos emergindo das sombras de nossa alma demasiadamente humana. Porque também é do humano o preconceito, infelizmente. E ele também se renova em modas e modos. O preconceito linguístico, por exemplo. No Brasil, com tantas nuances regionais de falares e de sotaques, ele tem prosperado. É comum percebê-lo em sites de discussão, quando debatedores abandonam as ideias e partem para o ataque à forma de escrita do outro, decretando quem é “culto” e quem é “idiota” em função do seu falar. Isso me faz lembrar Joana, a pequena comunidade onde nasci. Por lá, usávamos apenas o verbo levar para indicar o que era carregado. Tudo se levava, nada se trazia. Era assim: leva isso pra lá, leva pra cá, leva embora. E assim nos entendíamos muito bem, quase sempre... Até que fomos para a escola e a professora Salete nos disse que a partir daquele dia, nada de levar os livros para a escola e levar os livros para casa. Agora deveríamos trazer os livros para a escola e levá-los para casa. Voltamos com a novidade. "Mãe, a professora disse que vamos trazer os livros para a escola e levar para casa". "Não, não... agora você traz para casa e leva para a escola". Complicou. Até hoje confundo. A aldeia não sai do menino. Na universidade, recém migrada da aldeia para a metrópole, experimentei na 25 pele o tal preconceito linguístico. Muito mais tarde descobri a provável origem desse erro e de vários outros parecidos. Joana é uma colônia italiana. Nossos pais e avós falavam um dialeto da região de Vêneto. Nele, existe portare para traduzir carregar. Tudo o que é levado ou trazido é portato. É o complemento que define a direção: para lá, para cá... Traduziram o portare para levar e ficou tudo certo. Não poderiam desconfiar, esses antigos imigrantes, que 1 00 anos depois isso entraria para nossa longa lista de preconceitos. Linguistas como Marcos Bagno e Carlos Alberto Faraco, defendem que a língua é viva, construída cotidianamente pelos diferentes falares. Prova disso, é que hoje existe um português brasileiro, por exemplo, bastante diferente daquele falado em Portugal. Em 500 anos construímos nossa própria língua. E ela não surgiu das gramáticas acadêmicas, nasceu na rua, na oralidade, nos neologismos criados a partir de outras línguas, trazidas por imigrantes não portugueses, originárias de nossos índios, faladas por negros africanos. Só depois de nascida, foi registrada nas gramáticas onde recebe o pomposo nome de língua culta. E ai daqueles! que teimam em mantê-la viva. O preconceito nasce dessa diferenciação entre a língua culta e outra dita coloquial. Marcos Bagno diz que uma das razões desse preconceito vem do que ele chama de estética dos escravocratas. A escravidão foi a grande força propulsora da constituição da sociedade brasileira, e ela ainda está presente na ideologia e no discurso de muitos, diz ele. Daí a necessidade dessas pessoas de se diferenciar, inclusive pelo falar. Elas "defen- dem uma língua ilusória que elas mesmas desconhecem e que precisa, a todo custo, ser diferente da falada pela maioria". Linguistas como Bagno defendem o ensino da gramática nas escolas, mas acolhendo e respeitando o falar dos alunos. Dentro do conceito de língua viva não cabe a imposição de certo e errado, de língua culta ou inculta. Existem sim, diferentes falares, construídos cotidianamente pelos falantes. Assim, a língua não pode ser aprisionada em uma gramática, pois ela simplesmente quebrará as amarras e seguirá mudando com a sociedade. Das Veredas de Guimarães Rosa aos neologismos das redes sociais, nossa língua portuguesa incorporou tanto o falar do Sertão do desacorçoado Riobaldo Tatarana, quanto o formatar de Bill Gates. "A linguagem e a vida são uma coisa só. Quem não fizer do idioma o espelho de sua 26 personalidade não vive; e como a vida é uma corrente contínua, a linguagem também deve evoluir constantemente", diz Guimarães Rosa. "Vai vendo..." A língua, e a forma como a falamos, é pedra fundamental de nossa identidade cultural. Dizer que a língua que falamos está errada é dizer que SOMOS errados, é arrancar nossa identidade pela raiz. E esse é o sonho dourado de todos os colonizadores, tiranos e escravocratas. A ANFAZ é uma associação nacional formada por Analistas Tributários da Receita Federal do Brasil, que teve início com um grupo de colegas localizados em Varginha-MG que se mobiliza em torno do direito à promoção do cargo de Analista-Tributário para o de AuditorFiscal, ambos da Carreira Auditoria da Receita Federal do Brasil. Segundo a entidade, esse direito encontra respaldo na Constituição Federal, art. 39, § 2º, na Lei 8.11 2/90, art. 8º, II, em disposições das Leis 1 0.593/2002 e 11 .457/2007: “A promoção é direito do servidor Analista Tributário da Receita Federal do Brasil (ATRFB), uma vez que a carreira de Auditoria da Receita Federal do Brasil é única, composta por dois cargos, ATRFB e Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil (AFRFB). A realização de concurso público para o cargo de Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil viola o direito à promoção dos Analistas Tributários, pois realiza o ingresso de novos servidores no meio da carreira e não em seu início. ” Atualmente, a entidade conta com centenas de associados, que são por ela representados em ações judiciais, buscando a defesa do direito à promoção. Assunto ainda controvertido na categoria, a promoção é o instituto que diferencia um cargo organizado em carreira de outro conformado como cargo isolado. 27 Embora seja pacífico o entendimento que a promoção entre cargos é constitucional (promoção vertical), há divergências de entendimento sobre a necessidade de norma que explicitamente a preveja na Carreira Auditoria. A discussão da Carreira Auditoria, enquanto estrutura que define o espaço ocupado pelos cargos de Analista-Tributário e Auditor-Fiscal, deverá se dar em curto espaço de tempo como forma de solução do conflito que se perpetua a longa data. Decisões judiciais certamente colaborarão para a construção do entendimento necessário para o melhor aproveitamento da mão-de-obra qualificada disponível e o aumento da eficiência da RFB. Há uma abundância de observatórios em todo o mundo, mas o Jantar Mantar é considerado um dos maiores observatórios já construídos. Combinando religião, ciência e arte, o Jantar Mantar é o nome dado a uma série de cinco, magníficas estruturas construídas em Jaipur, Nova Deli, Ujjan, Varanasi e Mathura. Jaipur foi a sede do Maharaja Jai Singh II, durante a década de 1 720 e isso é quando esta magnífica estrutura foi construída aqui. O Jantar Mantar, em Jaipur é considerado o maior dos cinco observatórios e também abriga o maior relógio do mundo. O Universo e os Cosmos sempre foram de interesse para o homem, e foi esse interesse que compeliu o Maharaja a construir um observatório astronômico. O termo "Jantar Mantar" é derivado dos termos sânscritos "Yantra" e "Mantra", significando "instrumentos" e "fórmula", respectivamente. O termo "Yantra" foi substituído por "Jantar", que significa "mágico". O Jantar Mantar abriga vários instrumentos de arquitetura e astrológicos que chamaram os interesses dos astrônomos, historiadores e arquitetos de todo o mundo. Maharaja Jai Singh II, fundador da "cidade rosa", foi um grande estudioso e um astrólogo ávido. Estudou filosofia, astrologia, arquitetura e religião em várias escolas, e também foi bem versado com conceitos matemáticos universais como os de Euclides Clements, sintaxes de Ptolomeu e as obras mestras de Aryabhatta. No ano de 1 71 8, ele queria construir um observatório de renome. Para isso, ele estudou o tema da astronomia e, em seguida, construiu cinco observatórios diferentes no norte da Índia. Nesses locais, ele iria se sentar com outros astrônomos acadêmicos, tais como Pt. Kedarnath, para observações astronômicas. O "Jantar Mantar" em Jaipur, sendo o maior jardim de Inverno no país, foi renovado uma e outra vez e abriga vários instrumentos que oferecem medições precisas de tempo, o azimute, declinação do sol e as posições das constelações, juntamente com vários outros fenômenos astronômicos. O observatório Jaipur foi Samrat Yantra visto de ângulos diferentes funcional por apenas sete anos, vez que o marajá não foi muito bem sucedido na derivação de observações astronômicas precisas. O observatório astronômico é composto de quatorze principais dispositivos geométricos para medir o tempo, acompanhando as constelações e, ainda mesmo, para observar as órbitas em torno do sol. Estruturas mais populares dentro do Jantar Mantar são o "Samrat Yantra"(o maior relógio do mundo), o" Hindu Chhatri', o "Jaiprakash Yantra" e várias estruturas geométricas com dispositivos astronômicos para investigar o universo. Fonte: jaipur.org.uk 28