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Jornal do Comércio - Porto Alegre
Segunda-feira, 18 de maio de 2015
Petróleo
Petrobras poderá reduzir mais os investimentos
Estatal deve apresentar o
novo Plano de Negócios
para os próximos cinco
anos e expectativa é que
represente queda de
até 41% em relação ao
documento anterior
A promessa do pré-sal não
fará mais da Petrobras a principal locomotiva do crescimento
econômico do País nos próximos
anos. No novo Plano de Negócios
de 2015 a 2019, que, segundo fontes, deve ser divulgado no dia 10
de junho, a estatal vai pisar no
freio na tentativa de reduzir o nível de endividamento.
Os investimentos deverão oscilar de US$ 129 bilhões
(R$ 387 bilhões) a US$ 141 bilhões (R$ 423 bilhões), conforme dados da própria companhia. Esse será o menor nível de
aportes desde a crise global de
2008 e representará uma queda
de até 41% em relação ao plano anterior,de 2014 a 2018, de
US$ 220,6 bilhões (R$ 661,8 bilhões). O efeito, que será sentido
por toda a economia e em especial na cadeia de fornecedores,
vai afetar o nível de produção de
petróleo: mais uma vez a companhia não conseguirá atingir suas
metas, o que já vem ocorrendo
desde 2003, no início do governo
Luiz Inácio Lula da Silva.
O novo plano, que é aguardado com expectativa pelo mercado,
vai priorizar ainda mais a área de
Exploração e Produção (E&P), que
ficará com 80% dos recursos, contra os 70% do plano anterior. Esse
avanço vai na direção contrária ao
segmento de refino, já que a estatal adiou a conclusão das obras do
Complexo Petroquímico do Rio de
Janeiro (Comperj), em Itaboraí, e
da segunda unidade da Refinaria
Abreu e Lima, em Pernambuco.
Segundo fontes, somente a conclusão do Comperj custaria mais
R$ 5 bilhões, com a previsão de
nova licitação para concluir os 14%
restantes da obra, um processo
que levaria, no mínimo, dois anos.
Assim, sem perspectivas de ter
um aumento de caixa significativo, em razão dos preços dos combustíveis ou da venda de ativos,
o corte nos investimentos foi a saída para ter condições de cumprir
com suas obrigações contratuais
para os próximos anos. Até 2019,
STÉFERSON FARIA/PETROBRAS/DIVULGAÇÃO/JC
Nem mesmo os esforços
aplicados no pré-sal
devem ser suficientes
para mudar a situação
da companhia
a companhia terá que arcar com
R$ 643 bilhões de gastos com o pagamento de dívida e compromissos
como a compra de gás natural. O
cenário, influenciado pelos problemas de corrupção revelados na
Operação Lava Jato fez a estatal cair
do 30º para o 416º lugar no ranking
das melhores empresas de capital
aberto no mundo, segundo a Revista Forbes, em ranking que leva em
conta vendas, lucros, ativos e valor
de mercado das empresas.
Nymia Almeida, analista sênior da agência de classificação de
risco Moody’s, afirma que o Plano
de Negócios é essencial para entender a perspectiva da companhia a
médio prazo e como a empresa vai
se posicionar em relação à política
de preços dos combustíveis nos
próximos anos, já que os reajustes
são controlados pelo governo. “O
menor nível de investimento afetará a geração de caixa e a produção,
o que deve ocorrer a partir de 2017,
po são recursos de longo prazo.”
Diminuição de aportes tem como meta controlar endividamento
O endividamento da estatal, que já está
dois níveis abaixo do grau de investimento
pela Mood’y, com nota Ba2, também é visto
com preocupação. “O nível de alavancagem
pode chegar em 2016 a seis vezes, ou seja, a
estatal precisaria de seis anos para pagar a dívida com sua própria geração de caixa”, analisa Nymia Almeida, analista sênior da agência
de classificação de risco Moody’s. A estatal
fechou 2014 com um índice de 4,77 vezes e um
endividamento de líquido de R$ 282,1 bilhões.
No começo deste mês, em audiência na
Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do
Senado, Aldemir Bendine, presidente da Petrobras desde fevereiro, disse que a empresa
vai buscar um nível de alavancagem de 2,5
vezes. Para isso, terá que priorizar investimentos. “Temos previsão de US$ 25 bilhões
a US$ 29 bilhões por ano para investimento
nos ativos da companhia”, disse, na audiência. Para 2016, a estatal prevê produção de 2,8
milhões de barris de óleo equivalente por dia,
que pode variar 2% para cima ou para baixo.
“A Petrobras tem a maior alavancagem
do mundo, mas, por outro lado, a produção
estava crescendo. Por isso, os investidores
continuavam aplicando na companhia. Como
a empresa não vem entregando as suas projeções, é importante que a nova administração
entregue resultados”, completou Nymia.
Para Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), com menos investimentos, a produção de petróleo ficará
estável nos próximos cinco a 10 anos, sem o
crescimento previsto anteriormente. Segundo ele, se a estatal investir US$ 25 bilhões
por ano, US$ 20 bilhões em E&P não serão
suficientes para novos projetos.
“A Petrobras não será mais aquela grande locomotiva que iria puxar o crescimento
da economia, e o Rio de Janeiro será o estado mais prejudicado, por concentrar maior
parcela da produção de petróleo”, destacou
Pires. Para ele, se a Petrobras quiser reduzir
seu endividamento, só se houvesse um “tarifaço” nos preços dos combustíveis, o que
não vai acontecer, assim como a venda de
ativos também será insuficiente.
Recentemente, a diretora de E&P, Solange Gomes, disse que a empresa pode até
vender parte de seus ativos exploratórios do
pré-sal onde há “alto risco exploratório” com
a busca de parceiros. Atualmente, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo
(ANP), a Petrobras tem participação em 14
blocos de exploração no pré-sal, no regime
de concessão – dos quais está sozinha em
cinco. No regime de partilha – no qual a
União é dona do petróleo produzido – tem
apenas a área de Libra, na Bacia de Santos.
Para o especialista em óleo e gás Márcio
Balthazar da Silveira, da consultoria NatGas
Economics, o novo plano tem que ser realista e levar credibilidade ao mercado.
Forçada a reduzir em 2014 os investimentos em todos os segmentos, a Petrobras
pesou a mão dos cortes na área de exploração - a primeira no ciclo de produção de
petróleo, necessária para a reposição das reservas no futuro e fazer dobrar a produção
de óleo até 2020, como quer a empresa.
No ano passado, foram desembolsados
R$ 10,4 bilhões nas atividades de pesquisa
sísmica e perfuração de poços. O valor é 40%
menor em relação aos R$ 17,3 bilhões aplicados no ano anterior e 13,3% abaixo dos R$ 12
bilhões aportados em tais projetos em 2012.
A crise financeira da empresa, provocada por endividamento e perdas com a defasagem nos preços dos combustíveis, levou
a Petrobras a cortar seu investimento total
em 16,6% em 2014. Em relação a 2012, o total
de investimento, no ano passado, foi quase
4% maior. Contudo, o corte foi mais severo
na exploração. Assim, a área, que tinha participação de 17% do total dos investimentos
em 2013, e de 14,3% em 2012, caiu para 12%
- mesmo patamar de 2011.
Ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP),
o geólogo John Forman vê riscos ao ritmo de
reposição de reservas da empresa. Ele diz
que, ao adquirir uma área da União para
pesquisar petróleo até a conclusão do programa de exploração, são necessários aproximadamente 10 anos.
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