Fundamentos Disciplina: Gramática – diurno Prof.ª Beatriz Garcia Cultura, Linguagem e Língua Cultura: – Práticas; – Técnicas; – Símbolos; – Valores que se devem transmitir coexistência social. • de Não é apenas um acervo comportamento e de crenças; um de estado de padrões de • complexo de atividades e saberes associados tanto a esfera da criação, quanto da difusão. Linguagem Linguagem: faculdade humana que permite a transmissão de mensagens entre emissores e receptores por meio de signos convencionados e partilhados pelos usuários de uma dada cultura. - Sem linguagem não há vida em sociedade nem cultura. - Modalidades: verbal e não-verbal Linguagem não-verbal Linguagem verbal e não-verbal: linguagem mista Língua: • é a maneira social e historicamente determinada de exercer a linguagem; • é um sistema de representação constituído de palavras, expressões, e um conjunto de regras que as combinam em enunciados; “Uma língua é muito mais do que uma lista de nomes para as coisas – é, de certa forma, um sistema de organização do mundo [...] Estudar em profundidade a estrutura de uma língua é observar uma das maneiras que a mente criou de recortar e organizar a realidade, a fim de compreendê-la.” (PERINI, 2001) Modalidades da Língua Falada Presença dos interlocutores; mesmo contexto situacional; prosódia (entonação, pausa, acento e velocidade); gestos; elementos coesivos próprios (néh, tá, aí, daí, tipo assim, etc.); fluidez. Escrita • ausência dos interlocutores; •contexto situacional diferente; •ausência da prosódia (por isso usa-se a pontuação); • ausência de gestos; • elementos coesivos (conjunções); •pode ser gravada A língua é sobretudo Fala Fala: exercício da linguagem segundo as convenções de uma língua. Língua Falada e Gramática • Gramática Normativa: é um conjunto de regras que devem ser seguidas. – todas as construções que fogem à regra prevista são consideradas erros. – Assume-se uma única variedade da língua como a correta, e as demais apresentam valoração negativa. • Gramática Funcional: conjunto de regras que o falante da língua domina. – Considera a língua em uso. – Só são consideradas agramaticais as construções que não se encaixam em nenhuma variedade da língua ou que não são reconhecidas pelos falantes. Fatos sobre a língua: • As línguas não existem em si; • Elas variam, isto é, não são uniformes num tempo dado; • Elas mudam, isto é, não são iguais em dois tempos diferentes; • Em certas sociedades, há uma variedade que recebe tanta atenção que todos acabam por concordar que esta variedade é a língua. COMIGO ME DESAUYM Comigo me desauym, vejo-m’ em em grande peryguo; Nam posso vyuer comyguo Nem posso fogir de mym. COMIGO ME DESAVIM Comigo me desavim, Sou posto em todo perigo; Não posso viver comigo Nem posso fugir de mim. Antes qu’ este mal teuesse, Com dor, da gente fugia, Antes que esta assim crescesse: da outra fugya, Agora já fugiria Aguora já fugyrya De mim, se de mim pudesse. De mym, se de mym podesse. Que cabo espero ou que fym Que meio espero ou que fim Deste cuydado que syguo, Do vão trabalho que sigo, Pois traguo a mym comyguo Pois que trago a mim comigo Tamanho imiguo de mym? Tamanho inimigo de mim? Sá de Miranda Variação Linguística e Norma Culta • A língua não é usada de homogêneo por todos os falantes; modo • Um mesmo usuário se comunica de forma heterogênea conforme o contexto em que a comunicação ocorre (formal ou informal) Variação linguística • Plano fônico: “pastéis” falada por um paulista e por um carioca. • Plano lexical: “menina” (SP) e “guria” (RS) • Plano morfológico: “vim” ou “vir” por “vier”; “menas pessoas” • Plano sintático: “Os menino bonzinho subiu nas árvore” Causas: geográficas, etárias, sexuais, contextuais e sociais. Língua Padrão ou norma culta • é o conjunto de formas consideradas como o modo correto, socialmente aceitável, de falar ou escrever. • Surge de um processo histórico seletivo sempre ligado aos grupos sociais hegemônicos. • É a variedade linguística usada pelo poder político, econômico e social. • Apresenta prestígio social. “Vi na televisão que as lojas bacanas estavam vendendo adoidado roupas ricas para as madames vestirem no reveillon. Vi também que as casas de artigos finos para comer e beber tinham vendido todo o estoque. Pereba, vou ter que esperar o dia raiar e apanhar cachaça, galinha morta e farofa dos macumbeiros. Pereba entrou no banheiro e disse, que fedor. Vai mijar noutro lugar, tô sem água. Pereba saiu e foi mijar na escada. Onde você afanou a TV, Pereba perguntou. Afanei, porra nenhuma. Comprei. O recibo está bem em cima dela. Ô Pereba! você pensa que eu sou algum babaquara para ter coisa estarrada no meu cafofo? Tô morrendo de fome, disse Pereba. De manhã a gente enche a barriga com os despachos dos babalaôs, eu disse, só de sacanagem. Não conte comigo, disse Pereba. Lembra-se do Crispim? Deu um bico numa macumba aqui na Borges de Medeiros, a perna ficou preta, cortaram no Miguel Couto e tá ele aí, fudidão, andando de muleta. Pereba sempre foi supersticioso. Eu não. Tenho ginásio, sei ler, escrever e fazer raiz quadrada. Chuto a macumba que quiser.” (Rubem Fonseca, Feliz Ano Novo) JARGÃO e GÍRIA • Jargão: variantes profissionais e ocupacionais. É a linguagem típica de certas atividades intelectuais e profissionais. "Em relação à dona Fabiana, o prognóstico é favorável no caso de pronta-suspensão do remédio." (utilizado pelos médicos) Gíria: tem a função de agregar e identificar pequenos grupos, isto é, o papel de reconhecimento, proteção e preservação desses agrupamentos. • Mano não briga: arranja treta. • Mano não cai: capota. • Mano não entende: se liga. • Mano não passeia: dá um rolê. • Mano não come: ranga. • Mano não fala: troca ideia • Mano não ouve música: curte um som. Preconceito Linguístico • Refere-se a todo tipo de estigma ou julgamento de valor associado às variedades não padrão, consideradas inferiores ou erradas pela gramática normativa. • “Enquanto a escola serviu apenas às classes favorecidas [...] não se discutiam esses problemas porque a escola só recebia alunos que dominavam a variedade linguística que a ela interessa. [...] Não há um único português, como não há um português correto e todos os demais são errados, mas que há variedades linguísticas. [...] • Há quem defenda que não é necessário ensinar [o dialeto padrão]. Há uma segunda linha dos que defendem a necessidade de ensinar o dialeto padrão para que o menino possa se adaptar à sociedade, que existem momentos em que é necessário usar a norma padrão. [...] • Eu já não acho que essa é a melhor posição. [...] A escola deve ensinar essa norma padrão mas com uma atitude diferente, uma atitude de estar ensinado um instrumento de luta contra a discriminação social, um instrumento que permita ao indivíduo a participação política.[...]” • (Magda B. Soares, O povo não fala errado)