A Magia
Agir sobre a realidade
A Magia: abordagem teórica
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A magia deve ser entendida numa lógica de
controlo (natureza, eu, os outros, instituições).
Dois conceitos: NAM.TAR e ME.
O primeiro traduz os decretos divinos; o
segundo exprime uma ordem intemporal e
impessoal à qual o mundo e o seu equilíbrio
estão sujeitos. Os ME estão guardados em Eridu
pelo deus Enki/Ea.
A Magia: abordagem teórica
• Os ME não são criados mas fazem parte do
mundo.
• Constituem uma espécie de lei natural.
• Relação entre os ME e a lógica subjacente à
magia.
• Enki é o deus que patrocina a magia e o
deus que guarda os ME.
A Magia: abordagem teórica
• O que está em causa é a coexistência de uma visão teísta
com uma visão não-teísta.
• Os presságios são entendidos canonicamente como
mensagens dos deuses mas basicamente são substância
não-teísta.
• Evidenciam a relação e a interdependência entre o homem
e o meio.
• A reacção teísta é a oração e o sacrifício, entabulando a
comunicação com os deuses; a reacção não-teísta é a
magia.
• Em conclusão, embora enquadrada por uma lógica que não
dispensa os deuses, a magia reflecte uma visão não-teísta.
A Magia: abordagem teórica
• Os ME reflectem uma realidade não-moral
que precede o mundo organizado de forma
teísta, com a sua moral.
• Os textos reflectem uma certa tensão entre
Enki e Enlil e entre os ME e NAM.TAR.
• Fundo monoteizante nesta tensão.
Áreas tratadas pela magia
• A impotência: podia ser provocada pelos deuses
ou pelo homem.
• Misturas massa feita de trigo com barro do oleiro;
moldas figurinhas de um homem e de uma mulher e
colocas uma sobre a outra. Depois, deposita-as junto à
cabeça do doente e recitas o encantamento sete vezes.
Retira as figurinhas e coloca-as junto de um porco. Se o
porco se aproximar, isso significa mão de Ishtar; se o
porco não se aproximar isso significa que a magia atingiu
esse homem.
Áreas tratadas pela magia
(exemplos)
• Sentimento de rejeição (diagnóstico mão do
homem):
• «Se um homem ganhou um inimigo e o seu acusador o
cercou com ódio, injustiça (...), maldades – ele é
rejeitado pelo rei, pelo nobre e pelo príncipe. Cai
constantemente no medo, sente-se mal de noite e de
dia, sofre perdas financeiras frequentes, caluniam-no, as
suas palavras são alteradas, os seus proventos estagnam,
não é bem recebido no palácio, os seus sonhos são
confusos, vê nos seus sonhos defuntos, um dedo
maldoso aponta-o, atrás dele, um olho maldoso
persegue-o a toda a hora (...)».
Áreas tratadas pela magia
(exemplos)
• Terapias: 1. beber uma poção feita a partir
de plantas esmagadas em vinho.
• 2. Preparação de bolsas de couro a pendurar
à volta do pescoço.
Magia e ira divina
• Na Mesopotâmia, a magia e as suas consequência,
por um lado, e a ira divina, por outro lado, são
entendidas como realidades diferentes.
• Se um homem experimentou algo adverso e não sabe explicar o que
aconteceu; ele sofreu constantes perdas (...); ele dá constantemente
ordens mas estas não são cumpridas (...); ele não dorme de dia nem
à noite, vê frequentemente sonhos terríveis (...); o seu apetite por
pão e por cerveja diminuiu; esquece-se da palavra que proferiu. Esse
homem tem a ira de deus e/ou da deusa sobre ele; o seu deus e a
sua deusa estão zangados com ele.
Magia e ira divina
• Apesar das duas lógicas serem distintas,
elas tocam-se por vezes. Ocasionalmente, a
magia pode afectar o deus pessoal levandoo a abandonar o homem:
• Porque uma bruxa me embruxou,
Uma mulher enganadora acusou-me,
Levou a que o meu deus e a minha deusa me
abandonassem e eu adoeci (...); não sou capaz de
descansar nem de dia nem de noite.
Magia e pecado
• A magia e o pecado são as causas da ira divina. No
entanto, dificilmente estas duas causas se associam porque
as lógicas subjacentes são antagónicas.
• Quando essa associação se dá ela é artificial e frágil.
• O pecado realça o poder divino e a culpa, a
responsabilidade individual; a magia destaca a inocência e
a fragilidade humana.
• A possibilidade de através da magia se provocar a ira
divina envolve a desvalorização da lógica teísta: então o
deus pessoal não era capaz de assegurar a protecção do
crente?
Reacção contra o presságio
• O fatalismo mesopotâmico não chega ao
ponto de aceitar o cepticismo relativamente
às possibilidades de evitar um presságio.
• O presságio indica uma possibilidade.
• Os rituais namburbi existiam para evitar o
mal.
Rituais namburbi
• Conseguirá conter a ira dos deuses que
produziram o presságio.
• Deverá levar os deuses a rever a sua posição.
• A impureza adquirida pela vítima deve ser
anulada.
• A impureza da casa do indivíduo deve ser retirada.
• A pessoa deve poder regressar à sua vida normal.
• Deve obter uma protecção permanente contra
outras ameaças.
O ritual
• Durante a noite, antes do ritual, o exorcista
prepara a água consagrada de que precisará. Para
isso, lançará na água substâncias purificadoras
assim como pedras preciosas e metais. Depois
deixará a bacia com água durante a noite à luz das
estrelas.
• Ao nascer do dia, o exorcista erigirá pequenos
altares a Ea, Shamash e Asalluhi na margem do
rio, num sítio de difícil acesso. Previamente, terá
aspergido o lugar com água consagrada.
• Para convocar os deuses, prepara-lhes uma
refeição que inclui pão, carne, tâmaras, incenso,
água e várias qualidades de cerveja.
O ritual
• Depois, o exorcista pede aos deuses para
aceitarem a refeição, dando-lhes tempo para a
consumirem.
• Só então a vítima é autorizada a apresentar-se
perante os deuses pedindo que estes mudem o seu
destino.
• Os deuses, especialmente Shamash, deus da
justiça, retirariam o mal que pendia sobre a vítima.
• Os medos e as ameaças que pendiam sobre a
vítima eram representados por um cão uivante.
Esse cão tinha que ser apanhado antes do ritual ou
então era usada uma imagem de barro.
O ritual
• A vítima apresentava-se com o seu
oponente perante Shamash, submetendo-se
a um julgamento que reveja a sentença.
• A vítima ergue a imagem do cão que
representa a ameaça.
• Este acto representa a acusação perante o
juiz divino, presente também numa imagem.
O ritual
• Depois de garantir o favor divino, através da oração e do sacrifício, o
exorcista prossegue com a destruição da impureza.
• Em muitos ritos, o exorcista lança um recipiente em barro ao chão,
quebrando-o.
• Depois a vítima lava-se na água consagrada.
• A água suja é vertida sobre a figura do presságio.
• Demonstrações de libertação da ameaça: despir o casaco, cortar o
cabelo, unhas, etc.
• Outras vezes, a pessoa tinha descascar uma cebola, representando o
desaparecimento das dificuldades.
• Eliminação do presságio. Fazem-se oferendas ao rio (cerveja, farinha,
pão); fazem-se orações. O presságio é lançado ao rio, tendo sido
pedido que ela vá para o apsû.
• Uma vez que a imagem de barro se afundava, estava provada a sua
culpa e a ameaça desaparecia.
Código de Hammurabi
• Se um médico realiza uma incisão profunda
num homem, com um bisturi de bronze e
lhe salva a vida, ou se lhe abre a
sobrancelha com bisturi de bronze e lhe
salva o olho, receberá dez siclos de prata.
• Se for filho de um mushkenum, receberá
cinco siclos de prata.
• Se for o escravo de um homem, receberá
dois siclos de prata.
Código de Hammurabi
• Se um médico realiza uma incisão profunda
num homem, com bisturi de bronze, e lhe
provoca a morte ou se lhe abre a
sobrancelha, com bisturi de bronze, e lhe
provoca danos, que lhe cortem a mão.
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magia na Mesopotâmia