ESTUDO COMPARATIVO DA HEPATOTOXICIDADE EM Cannis familiaris SUBMETIDOS À ANESTESIA GERAL COM HALOTANO, TIOPENTAL SÓDICO E PROPOFOL. THAÍS DUARTE FONTANA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ DEZEMBRO – 2005 ESTUDO COMPARATIVO DA HEPATOTOXICIDADE EM Cannis familiaris SUBMETIDOS À ANESTESIA GERAL COM HALOTANO, TIOPENTAL SÓDICO E PROPOFOL. THAIS DUARTE FONTANA Tese apresentada ao Centro de ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Animal. Orientador: Prof. Ghendy Cardoso CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ DEZEMBRO– 2005 ESTUDO COMPARATIVO DA HEPATOTOXICIDADE EM Cannis familiaris SUBMETIDOS À ANESTESIA GERAL COM HALOTANO, TIOPENTAL SÓDICO E PROPOFOL. THAIS DUARTE FONTANA Tese apresentada ao Centro de ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Animal. Aprovada em 19 de dezembro de 2005 Comissão Examinadora: Prof ª. Silvia Regina Ferreira Gonçalves Pereira (Doutora,Microbiologia / virologia) – UENF Prof ª. Maria Angélica Vieira da Costa Pereira (Doutora, Parasitologia) - UENF ___________________________________________________________________ Prof. Marcelo Alves Pinto (Doutor, Biologia Parasitária ) - FIOCRUZ Prof. Ghendy Cardoso (Ph.D., Patologia e Clinica Geral) – UENF (Orientador) Á minha mãe, Laurentina Duarte Fontana, a quem devo tudo que sou. Ao meu pai Frederico Fontana Netto que, é o meu exemplo de vida. Aos meus sobrinhos, Frederico, Isabel e Mariana, que são a razão da minha força e alegria. As minhas irmãs,ao meu cunhado José Marcos,ao meu amor Marlon Boechat e amigos que sempre me apoiaram e auxiliaram. Dedico. ii AGRADECIMENTOS Primeiramente, a Deus, razão maior da vida, que permitiu completar mais esta etapa. Ao meu Orientador, Professor Ghendy Cardoso, por seus ensinamentos. Ao Professor Marcelo Alves Pinto, por todo incentivo, apoio constante e amizade que se construiu. Ao professor Eulógio Carlos Queiroz de Carvalho, por todo apoio, incentivo e exemplo profissional. Aos técnicos e médicos veterinários do laboratório de sanidade animal / setor de patologia clínica, como Josias Alves Machado, Orlando, Luciana e Luciano, pela colaboração no preparo das amostras e análise das mesmas. As amigas da secretaria do programo de pós-graduação, Jovana Ferraz Campos e Etiene Marques Gomes, pelo apoio constante. As professoras, Maria Angélica Vieira da Costa Pereira e Silvia Regina Ferreira Gonçalves Pereira, por terem aceito o convite para fazer parte da comissão examinadora da tese. Aos amigos, Denia Fábia, Andréia, Patrícia e Flávio, Pela ajuda, incentivo e apoio constante. Ao meu grande amor, Marlon, que se fez presente em todos os momentos, pela paciência, apoio e incentivo durante a realização deste trabalho. A UENF, Pelo apoio financeiro e oportunidade concedida. iii BIOGRAFIA THAIS DUARTE FONTANA, filha de Frederico Fontana Netto e Laurentina Duarte Fontana, nasceu em 03 de novembro de 1976, na cidade de Vitória – ES. Foi admitida em março de 2003 no Curso de Pós-Graduação em Produção Animal, Mestrado, Sanidade Animal, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), em Campos dos Goytacazes - RJ, submetendo-se a defesa de tese para conclusão do Curso em dezembro de 2005. iv CONTEÚDO LISTA DE TABELAS......................................................................................................v LISTA DE FIGURAS.....................................................................................................vii RESUMO.....................................................................................................................viii ABSTRACT....................................................................................................................x 1. INTRODUÇÃO...............................................................................................................1 2. REVISÃO DE LITERATURA.........................................................................................3 2.1. História da anestesia..................................................................................................3 2.2. Anestesia....................................................................................................................4 2.2.1. Medicação pré-anestésica.......................................................................................4 2.2.1.1. Fármacos tranquilizantes (Fenotiazínicos – Acepromazina)................................5 2.2.1.2. Fármacos benzodiazepínicos (ansiolíticos – Midazolam)....................................7 2.2.2. Anestesia geral........................................................................................................8 2.2.2.1. Anestésico barbitúrico (Tiopental sódico).............................................................9 2.2.2.2. Anestésico não – barbitúrico (Propofol)..............................................................13 2.2.3. Anestesia inalatória................................................................................................15 2.2.3.1. Halotano..............................................................................................................17 2.3. Hepatotoxicidade medicamentosa............................................................................19 2.3.1. Hepatotoxicidade em humanos.............................................................................22 2.3.2.Hepatotoxicidade em Cannis familiaris...................................................................25 3. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................................28 3.1. Animais.....................................................................................................................28 3.2. Protocolos anestésicos.............................................................................................28 3.3. Colheita de sangue...................................................................................................30 3.4. Estudo estatístico......................................................................................................30 v 3.5. Avaliação bioquímica sorológica...............................................................................31 3.6. Coleta de fragmento hepático...................................................................................33 3.7. Avaliação histopatológica.........................................................................................33 4. RESULTADOS............................................................................................................35 4.1. Comportamento clinico dos animais após os protocolos anestésicos......................35 4.2. Avaliação bioquímica sorológica...............................................................................35 4.2.1. Função hepática....................................................................................................35 4.2.2. Função renal..........................................................................................................42 4.3. Avaliação histopatológica.........................................................................................48 5. DISCUSSÃO................................................................................................................51 6. CONLUSÕES..............................................................................................................56 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................58 APÊNDICE.....................................................................................................................62 vi LISTA DE TABELAS Tabela 1. Características farmacológicas do tiopental..............................................13 Tabela 2. Características de preparo do tiopental.....................................................13 Tabela 3. Resumo das propriedades físico-químicas do halotano............................19 Tabela 4. Protocolos anestésicos..............................................................................29 Tabela 5 A. Níveis séricos de AST em animais submetidos ao protocolo A.............36 Tabela 5 B. Níveis séricos de ALT em animais submetidos ao protocolo A..............36 Tabela 5 C. Níveis séricos de FA em animais submetidos ao protocolo A................37 Tabela 6 A. Níveis séricos de AST em animais submetidos ao protocolo B ............37 Tabela 6 B. Níveis séricos de ALT em animais submetidos ao protocolo B ............38 Tabela 6 C. Níveis séricos de FA em animais submetidos ao protocolo B ..............38 Tabela 7 A. Níveis séricos de AST em animais submetidos ao protocolo C.............39 Tabela 7 B. Níveis séricos de ALT em animais submetidos ao protocolo C.............39 Tabela 7 C. Níveis séricos de FA em animais submetidos ao protocolo C...............40 Tabela 8 A. Níveis séricos de AST em animais submetidos ao protocolo D.............40 Tabela 8 B. Níveis séricos de ALT em animais submetidos ao protocolo D ............41 Tabela 8 C. Níveis séricos de FA em animais submetidos ao protocolo D ..............41 Tabela 9 A. Níveis séricos de AST em animais submetidos ao protocolo E.............42 Tabela 9 B. Níveis séricos de ALT em animais submetidos ao protocolo E .............42 Tabela 9 C. Níveis séricos de FA em animais submetidos ao protocolo E................43 Tabela 10 A. Níveis séricos de uréia em animais submetidos ao protocolo A .........43 Tabela 10 B. Níveis séricos de creatinina em animais submetidos ao protocolo A ..44 Tabela 11 A. Níveis séricos de uréia em animais submetidos ao protocolo B .........44 vii Tabela 11 B. Níveis séricos de creatinina em animais submetidos ao protocolo B...45 Tabela 12 A. Níveis séricos de uréia em animais submetidos ao protocolo C..........45 Tabela 12 B. Níveis séricos de creatinina em animais submetidos ao protocolo C..46 Tabela 13 A. Níveis séricos de uréia em animais submetidos ao protocolo D..........46 Tabela 13 B. Níveis séricos de creatinina em animais submetidos ao protocolo D..47 Tabela 14 A. Níveis séricos de uréia em animais submetidos ao protocolo E .........47 Tabela 14 B. Níveis séricos de creatinina em animais submetidos ao protocolo E...48 viii LISTA DE FIGURAS Figura 1. Canino. Fígado. Hepatócito tumefeito. Obj. 40 x, H&E............................49 Figura 2. Canino. Fígado. Hepatócito tumefeito. Obj. 40 x, H&E ...........................50 Figura 3. Colisão de tumefação turva e degeneração gordurosa. Obj. 40 x, H&E..50 ix RESUMO FONTANA, Thais, M.S., Universidade Estadual do Norte Fluminense; dezembro de 2005; Estudo comparativo da hepatotoxicidade em Cannis familiaris, submetidos à anestesia geral com halotano, tiopental sódico e propofol; Professor Orientador: Prof. Ghendy Cardoso. Professor Conselheiro: Prof. Marcelo Alves Pinto. A hepatotoxicidade induzida pelo agente anestésico halogenado, halotano, é descrita no homem como provocada por metabólitos produtos da sua biotransformação por oxidases de função mista presentes no citocromo P450. Dentre vários o ácido trifluoroacético é o mais relacionado a hepatotoxicidade no homem, pois se liga a proteínas da membrana do hepatócito ou mesmo a albumina sérica (hapteno), induzindo a imunoreatividade contra o parênquima hepático o que leva a um quadro de hepatite imunomediada, que pode evoluir para a total falência do órgão (necrose hepática). No cão, a descrição desta forma de hepatite não está bem clara na literatura, faltando esclarecimentos sobre a segurança da droga e seu possível mecanismo de toxicidade. Em cães, o halotano, inalado é biotransformado em torno de 15 a 20%, pelo sistema microssomal hepático (P450), envolvendo reações de oxidação e redução. Nesta espécie, seus metabólitos podem gerar lesões hepáticas suaves, diagnosticáveis pela elevação das enzimas hepáticas, ou mesmo surgimento de lesões hepáticas graves com necrose de grande parte do órgão. No presente estudo empregamos 20 animais, clinicamente sadios, divididos em 5 grupos de 4 animais. Os animais eram adultos (com idade entre 03 a 05 anos), sem raça definida, com peso entre 05 a 30 Kg e de ambos os sexos. Os animais foram agrupados segundo os cinco diferentes protocolos anestésicos: Todos os x procedimentos foram repetidos 3 vezes, durante 3 dias consecutivos. Para a avaliação da toxicidade foram colhidas amostras de sangue, para análise quantitativa de marcadores de função hepática (fosfatase alcalina, alanina aminotransferase e aspartato aminotransferase) e renal (uréia e creatinina). Fragmentos de tecido hepático foram empregados para avaliação histopatológica. Os resultados demonstraram que a espécie Cannis familiaris, quando submetida a exposições repetidas ao halotano, apresentou alterações hepatocelulares compatíveis com as alterações dos valores bioquímicos sorológicos. Palavras-chaves: biotransformação, metabólitos, hepatite, imunomediada. xi ABSTRACT FONTANA, Thais, M.S., Universidade Estadual do Norte Fluminense; december de 2005; Study of the hepatotoxicity in Cannis familiaris, submitted to general anesthesia with halothane, sodic thiopental and propofol; Adviser: Ghendy Cardoso. Counselors: Marcelo Alves Pinto. xii 1 1. INTRODUÇÃO A anestesia determina para o animal alterações na fisiologia do organismo, que são acompanhadas de risco de vida, colocando o médico veterinário a uma tarefa nem sempre fácil. É de grande utilidade o conhecimento das alterações fisiológicas orgânicas e dos mecanismos de ação envolvidos na anestesia. Desse modo é contínuo o esforço no aperfeiçoamento das técnicas anestésicas por meio de uma melhor compreensão do comportamento dos fármacos a fim de reduzir os riscos. Algumas drogas utilizadas em medicina veterinária podem provocar alterações hepáticas. Os mecanismos de ação se englobam basicamente em toxicidade intrínseca da droga ou toxicidade idiossincrática que depende da susceptibilidade individual. Para que um determinado fármaco provoque lesão, dependerá da dose, de sua forma estrutural e dos mecanismos que o organismo utilize para conferir-lhe polaridade e facilitar sua excreção. Segundo RAPOSO (2002), o fígado executa um grande número de funções, dentre elas, o armazenamento e a biotransformação das substâncias oriundas da corrente sanguínea e do sistema portal. Para realizar tais funções, o fígado conta com um repertório enzimático denominado oxidases de função mista, localizado no retículo endoplasmático e representado denominado de sistema microssomal hepático. pelo sistema P-450, comumente 2 Ao conjunto de caminhos metabólicos, nos quais os tecidos aumentam a polaridade de uma substância tóxica chama-se biotransformação. Podemos dizer que a biotransformação de um tóxico consiste fundamentalmente, em converter um xenobiótico (qualquer substância que não tenha sido produzida pelo organismo, como drogas terapêuticas) não polar (lipossolúvel) em um composto solúvel em água (RAPOSO, 2002). A hepatotoxicidade induzida por agentes anestésicos halogenados é bem descrita no homem, provocada por metabólitos, produtos da biotransformação por oxidases de função mista hepática. Estes metabólitos se ligam a proteínas corporais tornando-se imuno-reconhecidos, determinando um tipo de hepatite imunomediada. Nos animais domésticos esse processo ainda não está bem descrito na literatura, havendo a necessidade de maiores esclarecimentos quanto à etiologia e ao mecanismo de hepatotoxicidade determinado pelo halotano. O fígado é o órgão predominante no metabolismo de xenobióticos devido a sua localização entre as circulações porta e sistêmica e à expressão de uma vasta gama de enzimas metabolizadoras de xenobióticos, as quais muitas vezes podem produzir metabólitos hepatotóxicos (LIDDLE e GOODWIN, 2002). A lesão hepática causada por anestésicos é clinicamente indiferenciável de outras causas de lesão hepática, durante o período pré-operatório, o que dificulta o diagnóstico preciso da hepatotoxicidade medicamentosa. Assim, faz-se necessário identificar o potencial hepatotóxico do anestésico em questão (halotano) nos animais que sofrerem múltiplas exposições. O estudo teve como objetivos estabelecer o cão como animal modelo para estudo da hepatotoxicidade pelo halotano, estabelecer um cronograma de aparecimento de lesões hepáticas de acordo com o protocolo anestésico, estabelecer o padrão de lesão hepatocelular provocada pelo halotano na espécie Cannis familiaris e correlacionar a intensidade das lesões hepáticas com os valores bioquímicos sorológicos. 3 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. História da anestesia As primeiras tentativas de abolir a dor por meio de anestesia foram realizadas no homem. Aparentemente as vantagens da anestesia em animais não foram, a princípio, consideradas relevantes. Na tentativa de se produzir a anestesia, diversos métodos foram utilizados desde a Antigüidade, todos, porém, pouco eficazes, como asfixia, álcool, narcóticos, compressão das artérias carótidas, etc (AGUIAR, 2002). Segundo o autor citado anteriormente, em 1540, o médico e alquimista suíço Paracelsus produziu o éter, relatando seus efeitos “soporíferos” em galinhas. Em 1824, Henry Hill Hickman, demonstrou em seus experimentos com animais, que a dor produzida em procedimento cirúrgico poderia ser aliviada pela inalação de dióxido de carbono. Esse pesquisador utilizara um agente que, de forma isolada, não teria futuro (AGUIAR, 2002). Em 1845 (Harvard/USA), Horace Wells, dentista, extraiu um dente molar de um estudante, como retirou o equipamento de inalação (óxido nitroso) muito cedo, o paciente começou a apresentar sinais de excitação, entendidos por muitos como sinais claros de dor. Wells foi desacreditado (AGUIAR, 2002). Em 1846 (USA), Willian Thomas Green Morton (dentista/médico) administrou éter a um jovem do qual foi extraída uma pequena neoplasia da região do pescoço. 4 Estava realmente descoberta a anestesia ou eterização, como ficou conhecida no início (AGUIAR, 2002). De acordo com AGUIAR (2002), em veterinária o primeiro relato foi feito por Edward Mayhew, em 1847, Estados Unidos da América, no qual o autor descreve seus experimentos em cães e gatos com a inalação de éter. Em 1852, George H. Dadd, foi o primeiro médico veterinário a utilizar o éter e clorofórmio em procedimentos cirúrgicos de forma rotineira. AGUIAR (2002) comenta que os primeiros relatos sobre anestesiologia veterinária em nosso país datam da década de 1940. 2.2 . Anestesia A anestesia tem sido motivo de preocupação para profissionais nos campos biomédicos, médico e veterinário, no que tange à pesquisa ou no dia-a-dia do atendimento (MASSONE, 1999). A arte e a prática da anestesia são fundamentadas no entendimento geral dos termos que descrevem os efeitos dos anestésicos em animais, da farmacologia dos anestésicos e de seus antagonistas, do método correto de administração dos agentes anestésicos e do tratamento correto das complicações e emergências relacionados aos mesmos (MUIR et al., 2001). De acordo com MUIR et.al, (2001), o propósito da anestesia (processo reversível) é o de produzir uma contenção química conveniente, segura, eficaz, e econômica de modo a permitir o procedimento clinico ou cirúrgico com o mínimo de estresse, dor, desconforto e efeitos adversos ao paciente e ao anestesista. A anestesia esta dividida, de acordo com as técnicas e vias de administração, em medicação pré-anestésica e anestesia geral. 2.2.1. Medicação pré-anestésica Os agentes empregados na medicação pré-anestésica são úteis para preparar o paciente para a anestesia, promovendo sedação, analgesia, menor 5 incidência de efeitos adversos, tornando o ato anestésico o mais agradável possível para o animal e também assegurando condições mais favoráveis para o trabalho do anestesista (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Diversos fármacos são empregados na medicação pré-anestésica. A escolha do agente dependerá de diferentes fatores, como tipo de procedimento, presença da dor pré-operatória, espécie do animal, temperamento, doenças intercorrentes, estado geral do paciente e grau de sedação requerido (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Segundo FANTONI e CORTOPASSI (2002), os objetivos gerais da medicação pré-anestésica são de promover sedação, analgesia e relaxamento muscular; diminuir a salivação; diminuir reflexos autonômicos, seja de origem simpática ou parassimpático; potencializar a ação dos anestésicos; coibir o segundo estagio da anestesia (Excitação involuntária ou delírio); suprir ou prevenir o vomito e a regurgitação; diminuir a secreção e a acidez gástrica; promover indução e recuperação suaves da anestesia; reduzir o estresse; minimizar efeitos potencialmente tóxicos e adversos de drogas administradas conjuntamente e drogas utilizadas para produzir anestesia geral. A medicação pré-anestésica de rotina é classificada em cinco categorias: Tranquilizantes, benzodiazepinicos, anticolinergicos, agonistas de receptores ∝-2 e opióides. 2.2.1.1. Fármacos tranqüilizantes (Fenotiazínicos-Acepromazina) Os fenotiazínicos são agentes capazes de diminuir a ansiedade sem promover estado de sedação mas obtendo um estado de tranquilização por ação principalmente subcortical. Diminui a ansiedade sem causar perda ou redução da consciência (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). O incremento nas doses não aumenta o grau de tranquilização, apenas os efeitos adversos. Portanto, quando se almeja tranquilização mais intensa, deve-se associar os agentes fenotiazínicos a outra classe de agentes anestésicos (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Os fenotiazínicos promovem seus efeitos calmantes e neurológicos por bloquearem, no sistema nervoso central, importante gama de neurotransmissores 6 como serotonina e dopamina, bem como por depressão do sistema reticular (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). O órgão primário de biotransformação é o fígado, devendo ser evitado em pacientes com doença hepática leve ou acentuada (MASSONE, 1999). Seu principal efeito hemodinâmico é a hipotensão arterial, que é resultante de bloqueio de receptores -1-adrenérgicos periféricos. Doses clinicamente recomendadas podem provocar redução da pressão arterial em 15 a 20 mmHg em relação aos valores basais. Essa redução da pressão arterial é dose-dependente, podendo acarretar taquicardia reflexa e aumento da concentração de catecolaminas circulantes (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Em relação ao sistema respiratório os fenotiazínicos promovem pouca depressão, mas podem potencializar a ação depressora de outros agentes, principalmente dos anestésicos gerais. Diminuem a sensibilidade dos quimioreceptores ao dióxido de carbono, podendo diminuir também, a freqüência respiratória e o volume-minuto (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). As fenotiazinas mais usadas são: Levomepromazina, clorpromazina, prometazina, propiopromazina, promazina, triflupromazina e acepromazina. A acepromazina, ( Acepran 0,2% e 1% ,Univet S.A. Industria Veterinária, São Paulo, SP. ), também é conhecida com acetilpromazina, pode ser associada a outros fármacos hidrossolúveis e é apresentada sob a forma de maleato. Sua fórmula molecular é C23H26N2O5S, seu peso molecular é de 442,5, seu ponto de fusão situa-se entre 220ºC e 240ºC e seu pH a 0,1% é de 5,2, com Dose letal - DL50 via IV em ratos de 70mg/kg (MASSONE, 1999). Outros efeitos encontrados com a administração da acepromazina são depressão miocárdica, diminuição da temperatura corporal, aumento da perfusão cutânea e viceral, ação anti-arrítimica, diminuição da concentração da hemoglobina, vasodilatação esplênica, diminuição do limiar convulsivo, embora esse fato não seja de ampla aceitação pela literatura, possui também ação antiemética (inibindo a dopamina na zona gatilho do vômito no bulbo) e anti-histamínico (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Em pequenos animais a dose de acepromazina normalmente empregada varia de 0,05 a 0,1mg/kg pela via intravenosa (IV) e até 0,2mg/kg pela via intramuscular (IM). Em cães e gatos não se deve ultrapassar o total de 3mg (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). 7 2.2.1.2. Fármacos benzodiazepínicos (ansiolítico-Midazolam) Entende-se por tal designação todo fármaco capaz de causar ação ansiolítica, reduzir a agressividade (efeito calmante: deprime o sistema límbico, o tálamo e o hipotálamo, reduzindo assim o débito simpático), ser anticonvulsivante (aumenta o limiar para convulsões), estimular o apetite, ser miorrelaxante de ação central (reduz a atividade reflexa polissináptica), ser hipnótico, não ter praticamente nenhuma ação analgésica e ter efeito amnésico sem acentuada depressão do sistema nervoso central (MUIR et al., 2001). Os fármacos benzodiazipinicos possuem ação facilitadora específica na neurotransmissão das sinapses GABAérgicas, além de promoverem abertura de canais de cloro, hiperpolarizando as membranas.Também produzem seu efeito interagindo-se com receptores benzodiazepinicos no SNC (BZ1,BZ2). Os efeitos podem ser revertidos pelo antagonista benzodiazepinico, flumazenil (0,01 a 0,02 mg/Kg, IV) (MUIR et al., 2001). As benzodiazepinas apresentam outra vantagem, pois, quando associados a tranqüilizantes, causam prostração a tal ponto vantajosa que permitem, inclusive, a indução direta de anestesia volátil por máscara, vantagem esta que evita a aplicação de agentes indutores (barbitúricos), muitas vezes contra-indicados em pacientes de alto risco (MASSONE, 1999). Entretanto, um grande cuidado a ser tomado nessas associações é o de não se excederem às doses específicas de cada benzodizepina, para que não se obtenham, especialmente em cães, os fenômenos paradoxais (agitação e até excitação), onde se notarão tremores e até convulsões tipo “pequeno mal” (MUIR et al., 2001). A biotransformação ocorre principalmente por ação dos microssomos hepáticos, isoenzimas benzodiazepinicos pertencentes utilizados em ao sistema anestesia, do citocromo P-450. Os midazolam e diazepam, são biotransformados por reações oxidativas, as quais promovem o aparecimento de metabólitos ativos (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Os benzodiazipinicos não promovem efeitos periféricos importantes, o que os torna agentes amplamente empregados, sobretudo como coadjuvantes da indução anestésica, pelo fato de possuírem intensa ação hipnótica (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). 8 Dentre os benzodiazepinicos sintetizados e conhecidos, temos: Bromazepam, Clorazepato, Cloxazolam, Clordiazepóxido, Clonazepam , Diazepam Flunitrazepam, Flurazepam, Lorazepam, Medazepam, Nitrazepam, Oxazepam, Oxazolazepam e Midazolam (MASSONE, 1999). O midazolam (Varsed, Roche Laboratories,Inc, Nutley,N.J e Dormonid, Produtos Roche Química e Farmacologia S.A., São Paulo, S.P) é hidrossolúvel, com meia-vida de 1,3 a 2,2 horas. Possui efeito hipnótico cerca de 20 vezes maior que o tiopental nos humanos. Seu período de latência é de 90 segundos quando administrada pela via intravenosa (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Sob a forma de maleato, sua fórmula molécular é C22H17CIFN3O4 , seu peso molecular é de 393,58 , seu ponto de fusão é de 114 a 117°C e a DL50 via IV em camundongos é de 86mg/Kg. Não altera significativamente a freqüência cardíaca e a temperatura retal, elevando discretamente a freqüência respiratória, sem nenhum significado biológico nos primeiros 15 minutos (MASSONE, 1999). A pressão arterial média e a pressão venosa também se mantêm dentro dos limites fisiológicos após a administração do fármaco por via subcutânea no cão. O midazolam normalmente é empregado na dose de 0,2 a 0,5 mg/kg em cães e gatos (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). 2.2.2. Anestesia geral Fármacos anestésicos intravenosos e intramusculares podem ser usados para obter contenção química e anestesia geral. Sua principal desvantagem é que, uma vez administrados, não podem ser controlados e não são imediatamente eliminados. Muitos fármacos injetáveis têm efeitos de duração muito curta. Podem provocar graus progressivos de depressão do sistema nervoso central, desde sonolência e sedação moderada até anestesia e coma (MUIR et al., 2001). 9 2.2.2.1. Anestésico barbitúrico (tiopental sódico) Anestesia geral barbitúrica é toda aplicação de um derivado barbitúrico, por via oral ou parenteral, capaz de produzir um estado anestésico seguro e reversível (MASSONE, 1999). Para que esses anestésicos possam ser aplicados adequadamente, é necessário que se examine as vantagens e desvantagens, tornando-os úteis de acordo com a necessidade, e não de maneira indiscriminada, alertando o usuário ainda sobre o estado do animal, o tempo cirúrgico requerido e os recursos à disposição do profissional (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). As principais vantagens são: obtenção de bons planos anestésicos, praticidade de aplicação, preço razoável, tratamento das intoxicações por anestésicos locais (sobredoses), tratamento das intoxicações estricnicas (os barbitúricos elevam o limiar dos reflexos medulares, o qual a estricnina diminui), não são inflamáveis ou explosivos e dispensam aparelhagem específica (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Como principais desvantagens, citam-se: inviabilidade em pacientes cardiopatas, hepatopatas, nefropatas ou chocados, desaconselhável em pacientes idosos, metabolização lenta, riscos de delírio ou excitação durante a indução, recuperação tardia quando utilizados sem medicação pré-anestésica, lesões extravasculares, não proporcionam bom relaxamento muscular, a via de administração é apenas a intravenosa (tiopental), carência de tratamentos (intoxicação) específicos e eficazes, depressão cardiorespiratória acentuada e são contra-indicados em cesarianas (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Segundo FANTONI e CORTOPASSI (2002), os barbitúricos cruzam rapidamente a barreira hematoencefálica e placentária, atingindo altas concentrações no líquido cefalorraquidiano e no feto. Nos tiobarbituratos quanto maior for a dose inicial, maior será a concentração cerebral, fenômeno conhecido como tolerância aguda. Eles se conjugam com albumina plasmática, dependendo fundamentalmente de sua lipossolubilidade; fator que se reveste de certos cuidados ao se anestesiarem animais adiposos ou caquéticos. A absorção máxima se dá em trinta segundos, momento em que se estabelece o sono (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). 10 De acordo com FANTONI e CORTOPASSI (2002), a redistribuição pelos órgãos bem vascularizados como rins, fígado e naqueles em que ocorra um equilíbrio, torna esses anestésicos de duração ultracurta. A lipossolubilidade extrema desses anestésicos também contribui para sua duração ultracurta. Quando se efetua aplicação de forma rápida, o paciente também se recupera rapidamente, fenômeno este conhecido como dose ou injeção maciça. Quando são dadas doses complementares, um fenômeno denominado efeito cumulativo, que é prático para o profissional, mas incômodo e arriscado para o paciente, retarda a recuperação anestésica com todas as características indesejáveis como hipotermia, movimentos de pedalar, excitação e ganidos (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Os barbitúricos causam depressão progressiva no sistema nervoso central, cuja ação pode provocar desde sedação bulbar até excitação, delírio, euforia e confusão mental (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). A ação hipnótica dos barbitúricos pode estar relacionada, pelo menos em parte, ao prolongamento dos processos inibitórios centrais que, como se sabe, podem ser mediados pelo GABA. Os barbitúricos são denominados GABAmiméticos, isto é, interagem com os receptores do GABA para produzir um aumento na condutância neuronal do cloreto (BOOTH et al., 1992). Na dose maciça por tiobarbituratos, pode ocorrer apnéia transitória, mas um estímulo doloroso reverterá este efeito, desencadeando a resposta respiratória (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Em doses que provocam planos profundos, os barbitúricos apresentam ação parassimpatomimética, os quais produz respostas semelhantes à estimulação do sistema nervoso autônomo parassimpático (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). FANTONI e CORTOPASSI (2002) comentam que, em relação ao aparelho respiratório ocorre depressão direta do centro bulbar ocasionando diminuição da amplitude e da freqüência o que acarreta a queda do volume-minuto. Quando aplicados lentamente, provocam respirações profundas antes da perda da consciência com apnéia fulgás por ação sobre o centro respiratório, coincidindo com o baixo teor de CO2 causado pelas respirações profundas anteriores. Tosses, espirros, soluços e laringoespasmos ocorrem freqüentemente; esses são causados por secreção salivar excessiva e minimizadas pela medicação pré-anestésica (MUIR et al., 2001). 11 A concentração sanguínea que inibe o centro respiratório é consideravelmente menor em relação à necessária para deprimir o coração. Portanto quando ocorre parada respiratória durante a anestesia a atenção deve ser dedicada primeiro ao restabelecimento da respiração, uma vez que o coração continua a funcionar por um breve período (BOOTH et al.,1992). A anestesia superficial causa vasodilatação por aumento do fluxo periférico, o que é compensado pela constrição dos vasos sanguíneos esplêncnicos e renais, para que pressão arterial e o débito cardíaco não se alterem muito, apesar do bloqueio vagal causado (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Intra-arterialmente os barbitúricos produzem espasmos da parede arterial até que ocorra gangrena maciça. As injeções subcutâneas causam necrose de tecidos (devido ao pH alcalino da solução aquosa do tiopental), que pode ser minimizada pela infiltração de solução fisiológica e a dor pela injeção de lidocaína 2 % (MUIR et al., 2001). Todos os barbitúrios deprimem a motilidade intestinal, incluindo o tônus e a amplitude por sua ação sobre a musculatura lisa. Este aspecto é importante, pois na recuperação anestésica deve-se observar o retorno da motilidade gastro-intestinal, para não ser confundida com íleo paralítico observado nas primeiras 48 horas após as intervenções abdominais com tração exagerada das víceras (MUIR et al., 2001). Provocam diminuição do fluxo plasmático renal e da filtração glomerular devido à hipotensão arterial e vasoconstrição renal, ocasionando redução do volume urinário, graças à maior reabsorção tubular da água causada pela maior liberação de ADH (MUIR et al., 2001). Os barbitúricos são eliminados por excreção renal na urina e/ou degradados pela atividade oxidativa dos tecidos hepático e extra-hepático. Pequenas quantidades podem ser excretadas no leite. A quantidade de fármaco ativo (não ionizado, não ligado à proteína plasmática) aumenta na acidose potencializando seu efeito; a alcalinização da urina acelera a excreção do fármaco (MUIR et al., 2001). Doses que produzem anestesia cirúrgica deprimem o metabolismo basal de tal forma que é produzido menos calor corpóreo durante a anestesia, concomitante com perda excessiva de calor resultante da vasodilatação, logo a temperatura de um animal anestesiado é menor em relação ao do ambiente que o rodeia (BOOTH et al.,1992). 12 A duração das ações depressoras dos barbitúricos apresenta variações individuais não apenas por causa da idade, sexo, peso, estado nutricional, mas também com respeito ao grau de indução enzimática microssômica, que também pode estar afetado; isto pode variar qualitativa e quantitativamente entre indivíduos, tanto quanto entre as espécies (BOOTH et al., 1992). A ação anestésica dos barbitúricos pode ser potencializada pela injeção intraperitoneal ou intravenosa de glicose, frutose, metabólitos intermediários como lactato, piruvato e o glutamato e poucas outras substâncias de natureza diversa (agentes adrenérgicos, altas doses de aspirina e fenilbutazona, sulfonamidas, salicilato de sódio, ácido salissílico e doxiciclina) (BOOTH et al., 1992). Deve-se tomar cuidado durante a administração dos barbitúricos em animais com grandes perdas sanguíneas. A dose de indução anestésica pode diminuir de 28 a 38% após hemorragia grave (BOOTH et al., 1992). Em anestesia clínica, uma pequena dose de tiopental tem breve duração de ação em função da sua rápida distribuição a partir do plasma para os tecidos adiposos. Realmente, a conversão metabólica do tiopental é lenta (10 a 15% / hora). Como a gordura é capaz de reter o tiopental, a concentração plasmática de anestésico está abaixo do necessário para manter a anestesia e o animal se recupera logo após a injeção. Após doses grandes ou repetidas, a concentração plasmática permanece próximo daquele da gordura e dos tecidos e a anestesia persiste por um período maior, por causa do lento metabolismo do anestésico (BOOTH et al., 1992). As concentrações plasmáticas podem ser reduzidos a uma taxa mais rápida mediante indução enzimática, que deve ser considerada enquanto se tratam animais domésticos, porque são freqüentemente expostos a indutores potentes das enzimas microssômicas como os pesticidas halogenados e outros compostos (BOOTH et al., 1992). Quantidades excessivas de tiopental (Thionembutal , Abbott Laboratórios do Brasil Ltda,São Paulo, S.P. e Pentotal, Abbott Laboratories North Chicago, III), produzem depressão respiratória grave. A administração contínua de oxigênio é mais benéfica do que qualquer outra medida terapêutica (BOOTH et al., 1992). Pode-se usar também drogas analépticas respiratórias como o cloridrato de doxapran (0,1 a 0,4 mg/kg, IV) (MUIR et al., 2001). 13 Tabela 1. Características farmacológicas do Tiopental (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Barbitúrico Peso Molecular PH Bloqueio Vagal Tiopental 264,33 10,5 Acentuado Tabela 2. Características de preparo do Tiopental (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Barbitúrico Concentração em % Tiopental 2.2.2.2. 2,5 Diluição Doses - mg Classificação (duração) Duração (minutos) 40ml/1g 12,5 a 25 Ultracurta 15 a 30 Anestésico não-barbitúrico (propofol) Há poucos fármacos que não fazem parte do grupo dos barbitúricos. Os principais fármacos que encabeçavam este tópico eram: alfaxolona e a alfadolona, substituídos atualmente pelo propofol (agente alquilfenol de curta duração). O propofol (Rapinovet, Shering Plough Animal Health,Liberty Corner, N.J ; Diprivon, Zeneca Farmacêutica do Brasil Ltda, Cotia, S.P e Propoflo, Abbott Laboratories North Chicago, III), ou 2,6-diisopropilfenol, possui um peso molecular de 178, ph de 6 a 8,5 e fórmula estrutural C6H15O (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). A recuperação do animal é isenta de excitações ou efeitos colaterais, não se observando efeito cumulativo na repetição de doses subseqüentes (MASSONE, 1999). O propofol é levemente solúvel em água e se caracteriza pela forma de emulsão que contém 10 mg de propofol, 100 mg de óleo de soja, 22,5 mg de glicerol e 12 mg de lecitina de ovo por ml. Uma de suas apresentações é em forma de ampolas de 20 ml que uma vez aberta deve ser consumida no máximo em 12 horas pois facilmente se contamina com o crescimento bacteriano e 14 endotoxicinas. Induz depressão no sistema nervoso central por aumentar os efeitos inibitórios sobre o neurotransmissor GABA e por diminuir a atividade cerebral. Diminui a pressão de perfusão tanto intracerebral como intracraniana. Produz depressão dose dependente do córtex cerebral e dos reflexos polissináptico do sistema nervoso central. Possui propriedades anticonvulsivantes semelhantes aos dos barbitúricos (MUIR et al., 2001). No sistema cardiovascular produz poucas alterações na freqüência cardíaca enquanto no sistema respiratório provoca depressão respiratória dose dependente e períodos iniciais de apnéia (MUIR et al., 2001). A biotransformação hepática é relativamente rápida e completa. Produz metabólitos inativos que são eliminados por filtração glomerular. O relaxamento muscular proporcionado é de bom a excelente (MUIR et al., 2001). Este fármaco tem rápido início de ação, pois atinge rapidamente concentrações elevadas no sistema nervoso central. O curto período de ação resulta da rápida distribuição do cérebro para os outros tecidos e é eficientemente eliminado do plasma por metabolismo (MUIR et al., 2001). A dose de indução da anestesia para cão sem medicação pré-anestésica varia de 6 a 8 mg /kg intravenoso e para animais com medicação pré-anestésica a dose varia de 2 a 4 mg/kg intravenoso. Também pode ser utilizado por infusão contínua na dose de 0,15 a 0,4 mg/kg/minuto. Pode ocorrer apnéia logo após a aplicação do propofol e algumas vezes pode ocorrer hipercapnia (o qual pode gerar acidose respiratória) em animais mantidos em respiração espontânea. O propofol é excretado primariamente pelos rins. A injeção de propofol extravascular não produz danos aos tecidos. O que vale ressaltar é que, apesar do propofol ter sido evitado alegando-se um custo um pouco maior, esse fármaco apresenta qualidade anestésica melhor do que a barbitúrica pois, além de ser empregado em pacientes de alto risco com uma margem de segurança superior aos demais agentes indutores , permite uma recuperação isenta de reações adversas (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Em estudo comparativo da anestesia com o propofol ou tionembutal em cães, foi constatado que o propofol foi a droga mais segura quando comparada com a tiopental, onde as complicações mais freqüentes foram tremor e apnéia, nos dois grupos analisados, sendo maiores no grupo anestesiado com tiopental. 15 O propofol tem capacidade em limitar lesões oxidativas, ou seja, altas dosagens (2000mcg/Kg/minuto aplicados em ratos Wistar) de propofol melhoram significativamente a capacidade antioxidante dos tecidos e de células vermelhas do sangue que pode servir como medida funcional da atividade tecidual, in vivo. Isto pode ter aplicação futura na limitação da disfunção dos órgãos após períodos de isquemia tecidual (RUNZER et al., 2002). O propofol é um anestésico intravenoso altamente usado para indução e manutenção de anestesia geral e sedação, e diminui, de maneira dose dependente, a contratilidade do diafragma fadigado em cães (FUJII et al., 2001). 2.2.3. Anestesia inalatória Os fármacos anestésicos farmacologicamente ativas que inalatórios são substâncias causam inconsciência, químicas graus variáveis de relaxamento muscular e analgesia, além de mudanças funcionais nos sistemas orgânicos (MUIR et al., 2001). A anestesia inalatória é obtida por meio da absorção de um princípio ativo pela via respiratória, passando para a corrente circulatória e atingindo o sistema nervoso central, produzindo anestesia geral. Permite maior controle do plano anestésico por parte do anestesista, que aprofunda ou superficializa a anestesia conforme a necessidade da situação apresentada, em uma velocidade que depende diretamente das características do agente que está sendo utilizado. De maneira geral, a recuperação da anestesia é mais rápida quando comparada às técnicas de anestesia intravenosa total, mas a velocidade é diretamente proporcional ao tempo de manutenção anestésica e ao tipo de indução anestésica realizada. A metabolização e a eliminação do agente são rápidas, sendo sua eliminação na forma intacta em grande parte realizada por via respiratória, um fator importante que determina essa rapidez. Além disso, o consumo do anestésico em sistemas circulares é baixo, resultando em uma anestesia econômica (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Por outro lado, a realização da anestesia inalatória requer aquisição de aparelhagem específica e de treinamento dos profissionais que deverão executá-la. É importante, ainda, que haja monitoração contínua e atenta, evitando-se erros na 16 profundidade do plano anestésico e identificando-se defeitos na aparelhagem que possam causar riscos para o paciente (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). O mecanismo de ação dos anestésicos inalatórios não estão completamente elucidado, no entanto esses fármacos atingem não somente o sistema reticular de ativação, mas também o hipotálamo e o córtex, bem como a medula espinhal, alterando a transmissão axional e sináptica, podendo produzir efeitos pré ou pós sinápticos. Essas ações resultam em alterações na produção, liberação e capitação de vários neurotransmissores, assim como alteração nas concentrações de acetilcolina, noradrenalina, dopamina, serotonina e adenosina, ácido -aminobutírico (GABA), aminoácidos como o glutamato e o aspartato, nucleotídeos, cálcio, opióides endógenos e óxido nítrico (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). O conhecimento completo da interferência dessas substâncias em cada um das estruturas nervosas é, ainda, um grande desafio e tem sido um dos temas centrais do estudo da neurofisiologia (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Dentre os fatores que alteram a captação dos anestésicos inalatórios podemos citar a concentração inspirada, que é influenciada pela pressão de vapor do agente (a pressão que as moléculas de vapor exercem em mmHg, no estado de equilíbrio. Quanto maior a pressão de vapor maior a capacidade de vaporização e vive-versa); pelo circuito de anestesia (com ou sem re-inalação/volume do circuito) e pelo fluxo gás diluente (O2). A ventilação alveolar também é um outro fator que altera a captação dos anestésicos inalatórios, este por sua vez é influenciado pela alteração da ventilação, ventilação/profundidade da anestesia, ventilação mecânica, espaço morto (sonda traqueal grande ou uso de extensor) e efeito do segundo gás (o óxido nitroso aumenta a captação do anestésico) (MUIR et al., 2001). O fluxo de sangue no pulmão é o fator que altera a distribuição dos anestésicos inalatórios, pois está relacionados com o coeficiente de partição sangue/gás, com o fluxo de sangue aos tecidos (individualmente), com o coeficiente de partição cérebro/sangue e com a relação entre a pressão parcial no sangue arterial e venoso misto (MUIR et al., 2001). O coeficiente de solubilidade de um anestésico é a relação entre as quantidades de um anestésico dissolvido em dois meios diferentes quando há equilíbrio entre eles (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Fatores que governam a captação de anestésicos no cérebro e tecidos são os mesmos que determinam a captação a partir do pulmão. A captação pelo tecido é 17 dependente da captação anestésica, fluxo sanguíneo e da densidade capilar do tecido. O coeficiente de partição cérebro/sangue varia muito pouco em comparação com o sangue/gás (exceto para o tecido adiposo) (MUIR et al., 2001). FANTONI e CORTOPASSI (2002) comentam, que Quanto maior o coeficiente de partição sangue/gás (potência do fármaco em determinar a velocidade de estabelecimento do efeito anestésico) maior será a solubilidade do anestésico no sangue, logo fármacos muito solúveis têm um longo período de indução e recuperação, pois grandes quantidades do anestésico precisam ser captadas no sangue antes que a tensão ou a pressão parcial do anestésico aumente de forma suficiente para produzir anestesia. A ventilação alveolar, o fluxo sanguíneo, a solubilidade no sangue e tecidos do agente anestésico e o seu metabolismo são fatores que alteram a eliminação dos anestésicos inalatórios, pois estes são eliminados principalmente pelo pulmão. Outras vias pelas quais os anestésicos podem ser excretados em pequenas quantidades são, a pele, o leite, as membranas mucosas e a urina (MUIR et al., 2001). O metabolismo geralmente é realizado pelas enzimas do sistema microssomal hepático, onde vários metabólitos intermediários são formados, os quais podem ser responsáveis por certos efeitos tóxicos ou pós-efeitos (MUIR et al., 2001). A potência anestésica pode ser expressa de diferentes formas, uma delas constitui-se na concentração alveolar mínima (CAM), que é definida como a concentração de um anestésico em 1 atmosfera, necessária para abolir movimentos em resposta a um estímulo doloroso em metade dos pacientes testados (MUIR et al., 2001). 2.2.3.1. Halotano É um etano multi-halogenado, líquido incolor, volátil, não inflamável ou explosivo, de rápida indução/recuperação, instável, pois se decompõe em contato com a luz, sendo então, comercializado em frasco escuro e adicionado a um estabilizante, o timol. Seu baixo custo em relação aos demais agentes inalatórios 18 tem contribuído para sua grande utilização em anestesia veterinária(FANTONI e CORTOPASSI, 2002). No sistema cardiovascular é capaz de provocar hipotensão arterial acentuada em animais, a qual está estreitamente relacionada à profundidade da anestesia (BOOTH et al., 1992). Deprime diretamente a musculatura vascular lisa causando vaso-dilatação e diminui a resistência periférica total (MUIR et al., 2001). Promove depressão diretamente sobre o miocárdio diminuindo o débito cardíaco, o volume sistólico e a contratilidade cardíaca (MUIR et al., 2001). Sensibiliza o miocárdio às catecolaminas, aumentando as possibilidades de arritmias e risco de fibrilação, daí ser desaconselhado o uso de adrenalina ou noradrelanina para corrigir eventuais quedas de pressão (MUIR et al., 2001). A freqüência cardíaca é pouco afetada, mas normalmente diminui nos planos profundos de anestesia (MUIR et al., 2001). A queda da pressão arterial pode levar à redução dos fluxos sanguíneos, hepático e renal, comprometendo a função desses órgãos levando ao aumento dos índices de enzimas hepáticas e da uréia plasmática (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Sobre o sistema nervoso central, o halotano (Fluothane, Zeneca farmacêutica do Brasil Ltda, Cotia, S.P; Halotano Hoechst do Brasil Química e farmacêutica S.A., Suzano, S.P e Halothane, Halocarbon Laboratories River Edge, N.Y.) causa depressão reversível e generalizada que caracteriza a profundidade anestésica. Provoca vasodilatação cerebral, diminuindo a resistência vascular e elevando a pressão intracraniana,o qual pode ser prevenido pela utilização de hiperventilação prévia ao uso do halotano (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Os movimentos respiratórios são deprimidos em todos os níveis de anestesia pelo halotano (MUIR et al., 2001). Durante a anestesia superficial, o relaxamento muscular é somente moderado, podendo ser necessária a utilização de relaxantes musculares periféricos. O halotano potencializa a ação de relaxantes musculares não despolarizantes (MUIR et al., 2001). Grande parte do halotano é eliminada na forma intacta pela própria via respiratória. O restante, cerca de 20%, é biotransformado pelo sistema P-450 19 hepático, produzindo o acido trifluoroacético, bromo e íons cloreto, dos quais o primeiro é o mais importante (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Em relação ao sistema gastro-intestinal ele diminui a motilidade, o tônus e a atividade peristáltica (MUIR et al., 2001). Tabela 3. Resumo das propriedades físico-químicas do Halotano (agente inalatório) (MUIR et al., 2001). Propriedades Halotano Fórmula Química C2HBrClF3 Peso Molecular 197,4 Ponto de Ebulição (a 760mmHg ou 1 atm) 50ºC Gravidade Específica (g/ml) 1,87 Pressão de Vapor (mmHg a 20ºC) 243 Odor Adocicado, agradável. Conservante Timol Estabilidade Ametal Pode reagir Álcalis Leve decomposição Risco de Explosão Nenhum Apresentação na Temperatura Ambiental Líquido incolor CAM (cães) 0,87 Coeficiente de Partição sangue/gás 2,36 Coeficiente de Partição lipídeo/sangue 65 2.3. Hepatotoxicidade medicamentosa O fígado é vulnerável a lesões tóxicas, devido à sua localização estratégica e ao seu papel central na biotransformação das drogas (SILVA,19997). A maioria de medicamentos e toxinas (xenobióticos) pode levar à lesão hepática aguda ou crônica, fenômeno denominado de doença hepática tóxica; em alguns casos à lesão é acompanhada por inflamação, sendo denominada de hepatite tóxica. A maioria dos xenobióticos é lipossolúvel, característica que permite sua absorção por difusão passiva pela membrana apical lipídica dos enterócitos. Depois de absorvidos, percorrem o organismo aclopadas a proteínas plasmáticas, 20 basicamente a albumina, ou se ligam ao tecido adiposo. Os sistemas de desintoxicação preferencialmente hepáticos, servem para dar maior polaridade e torná-los hidrossolúveis, as quais podem voltar ao plasma e serem eliminadas pela urina, ou passar para a bile e serem eliminadas com as deposições. Desta forma, a eficiência da eliminação de substâncias lipofílicas, depende de sua conversão a substâncias polares e hidrossolúveis, fenômeno que é habitualmente, o fator limitante na eliminação das drogas do organismo (RAPOSO, 2002). Dois mecanismos gerais são utilizados para prevenir o acúmulo de compostos lipofílicos tóxicos: biotransformação e transporte. Para produzir uma defesa eficiente, estes sistemas devem, necessariamente, ser amplos em termos de especificidade de substratos e de preferência adaptáveis, para que um organismo possa sobreviver a uma gama de ambientes químicos adversos. Receptores nucleares são capazes de detectar uma faixa de compostos lipofílicos, inclusive drogas terapêuticas, e que funcionam como reguladores transcricionais para induzir vários genes metabolizadores e transportadores de drogas (LIDDLE e GOODWIN, 2002). O estudo das reações que constituem a biotransformação, ocorre principalmente no reticulo endoplasmático dos hepatócitos, é de grande importância, porque permitem entender os mecanismos pelos quais os tecidos se defendem dos tóxicos, e também como em algumas ocasiões ocorre o contrário, aumentando a toxidade no interior do organismo. Esse mecanismo de biotransformação pode dividir–se em duas fases, que dependem de distintos processos bioquímicos: fase I e fase II. A fase I biotransforma os xenobióticos convertendo-os em substrato das enzimas da fase II, ao mesmo tempo em que os tornam mais hidrófilos. A fase II compreende reações de conjugação, nas quais um metabólito com ligação de alta energia cede um grupo funcional polar ao xenobiótico, ou seu produto de transformação pela fase I. A biotransformação de fase I é caracterizada por um conjunto de reações de oxidação que preparam os tóxicos para serem transformados pelas reações da fase II. Ocorre a transformação dos grupos funcionais do xenobiótico em sítios que podem levar a reações da fase II ou introdução de grupos novos que lhe dêem está característica. Para fazer este trabalho as células utilizam os sistemas de enzimas, que tenham a função de introduzir no substrato um átomo de oxigênio proveniente 21 do oxigênio molecular (oxigenases de função mista). Um desses sistemas e os citocromos P-450, que estão formados por duas proteínas, uma tem função de redutase e a outra é uma hemoproteína com atividade de oxigenase. A oxigenase em estado reduzido e monoxicarbonada, que apresenta um pico de absorção a 450nm (denominação a esta família). O mecanismo da reação de oxidação do xenobiótico catalisada pelo citocromo P-450, em termos gerais é o seguinte: o xenobiótico entra em seu sitio ativo que se encontra na oxigenase; a redutase transfere um elétron ao ferro hemático reduzindo–lo de nível III a II; a redução abre o sitio ativo do oxigênio molecular e o oxigenio molecular entra no seu sitio ativo e oxida ao xenobiotico que está na surpeficie da enzima transferindo-lhe um átomo dos átomos de oxigênio. Portanto, a biotransformação de fase I é catalisada pelos sistemas de citocromo P-450 e afins, levam a formação de metabólitos intermediários mediante reações metabólicas redutivas e oxidativas. Estes permitem posteriormente a conjugação dos metabólito intermediários formados, aumentando assim sua polaridade, na chamada fase I. As reações adversas se relacionam com a presença de metabólitos intermediários na fase I. A biotransformação de fase II, consiste em reações de conjugação, catalisadas por um conjunto de enzimas de tamanho relativamente grande aos produtos das reações da fase I ou aos xenobióticos originais que contem os grupos funcionais apropriados para serem substratos das reações de conjugação. Os doadores dos grupos polares devem ter alta energia, já que as reações de conjugação não são termodinamicamente favoráveis. O resultado que se busca com estas reações é aumentar a solubilidade do xenobiótico em água. Uma das reações de conjugação é a glutatinização, que consiste na adição de glutathione (GSH), através de seu grupo sulfidrílico (nucleofílico), com um carbono eletrofílico do xenobiótico. A reação é catalisada pela glutathione-Stransferase e a glutathione é o cofator de alta energia (RAPOSO, 2002). Através de relatos pode-se verificar que com a inibição da enzima glutathione sintetase hepática (pela administração da buthionine sulfoxime 2mmol/kg EV), juntamente com a indução seletiva das enzimas P450 houve evidencia de um possível aumento da hepatotoxidade, em coelhos, causada pelos metabólitos de acetominofeno em HODGSON, 2002). excesso (N-acetil-p-benzoquinoneimina) (RAHMAN e 22 A bioativação é o conjunto de reações metabólicas que aumentam a toxidade dos xenobióticos, ou seja que os metabólitos resultantes da biotransformação da substância absorvida sejam mais tóxicos que o composto original. Xenobióticos quimicamente estáveis ativam intermediários reativos durante a biotransformação. Freqüentemente estes são transitórios e não podem ser isolados. A formação deles geralmente é inferida pela habilidade do fígado em alquilar ou arilar macromoléculas endógenas. Essas reações formam uma ligação covalente entre o intermediário eletrofílico e o sítio neutrofílico em macromoléculas endógenas. O aumento na ligação covalente se correlaciona com a gravidade da lesão hepática, mas somente poucos intermediários reativos provavelmente se tornam ligados de forma covalente (RAPOSO, 2002). A bioativação é medida pela formação de metabólitos específicos ou pela presença de mudanças estruturais (RAPOSO, 2002). Geralmente as bioativações são produzidas pelas enzimas da fase I, ainda que algumas das enzimas da fase II também possam bioativar alguns xenobióticos. Este efeito colateral indesejável da biotransformação ocorre quando se produzem espécies químicas muito reativas, usualmente compostos eletrofílicos com grande afinidade pelos nucleófilos (DNA, proteínas, lipídeos) (RAPOSO, 2002). Uma das rotas de bioativação é quando o tecido alvo (fígado) contém as enzimas (sistema citocromo P450) para bioativar o xenobióticos e é sitio ativo para a espécie tóxica (RAPOSO, 2002). 2.3.1. Hepatotoxicidade em humanos Os anestésicos inalatório halogenado halotano pode produzir dano hepatocelular metabólico em humanos a uma extensão variável. Durante o metabolismo deste anestésico, ocorre acetilação devido à formação de intermediários reativos. Proteínas modificadas por acetilação podem constituir neoantigenos com potencial de provocar uma resposta imune anticorpo mediada. A probalidade de sofrer hepatite imune pós – operatória depende da quantidade de anestésico metabolizado (REICHLE et al., 2003). Em seres humanos, o registro de segurança global do halotano para anestesia é excelente. Entretanto, ocorre uma icterícia global (aproximadamente 23 1:7000 a 1:10000 administrações), com mortalidade de até 95% após mais de uma administração do anestésico. Assim, o halotano foi implicado como agente hepatotóxico que induz a condição ictérica freqüentemente referida como hepatite pelo halotano. Ao exame Histológico do tecido hepático verifica-se necrose centrolobular (BOOTH et al., 1992). Como grande parte do halotano inalado é eliminada na forma intacta pela via respiratória; o restante é biotransformado (15 a 20%) pelo sistema P450 hepático (formados por duas proteínas, uma tem função de redutase e a outra é uma hemoproteína, com atividade de oxigenase, de membrana ativa no metabolismo de uma ampla gama de substratos e substâncias lipofílicos), por processos oxidativos, produzindo ácido trifluoroacético (o mais importante), bromo e íons cloreto. Além da oxidação, o halotano também sofre redução, havendo formação de 2-cloro-1,1,1trifluoroetano, o 2-cloro-1,1-difluoroetileno, dois metabólito voláteis e o íon fluoreto (SPINOSA, 1999). A via de metabolização oxidativa é responsável pela biotransformação de 18 a 40 % do anestésico metabolizado e a via redutiva é responsável por biotransformar 0.1 % do halotano metabolizado (DÍAZ, 2000). Lesão hepática idiossincrática e definida como uma lesão provocada por droga que ocorre imprevisivelmente em uma pequena porcentagem dos pacientes, usualmente apenas após exposição prolongada ou repetida, como expressão de suscetibilidade individual incomum e não por toxidade intrínseca do agente (GONÇALVES, 2001). Segundo CARLTON e MCGAVIN (1998), a patogenia da lesão hepática idiossincrática não é bem entendida e é bem difícil estabelecer uma prova do efeito tóxico dessas substancias químicas. O dano hepático pode ser atribuído à hipersensibilidade quando é acompanhada de quadro clínico (febre e eosinofilia) e histológico (inflamação granulomatosa ou eosinofílica) compatível. Essas características, somadas à pronta recidiva da síndrome após resposta a um teste de desafio, permitem a inferência de que houve alergia à droga ou que esta ou um de seus metabólicos agiu como um hapteno. O período de sensibilidade varia de 1 a 5 semanas (GONÇALVES, 2001). Há diferentes tipos de lesões hepáticas tóxicas relacionadas ao uso de halotano; uma delas se trata de uma lesão suave, onde se observa apenas uma elevação das enzimas hepáticas (no homem TGO e TGP, no animal AST e ALT), o 24 qual geralmente não é detectado e é reversível em humanos. O outro tipo de lesão é as entidades clínicas de hepatotoxidade, que se manifesta por uma necrose hepática com alta mortalidade, conhecida como hepatite por halotano (DÍAZ, 2000). Existe indícios que essa mesma é devido a metabólitos oxidativos que produzem uma resposta alérgica. Esta hipótese alérgica propõe que a biotransformação do halotano a acido trifluoroacético, principal metabólico do halotano, e seguida de uma união deste metabólito a uma molécula protéica formando um complexo imunologicamente ativo, onde o acido trifluoroacético atua como um hapteno (o acido trifluoroacético é denominado de antígeno parcial, pois precisa se ligar covalentemente a outra substância-proteínas ou lipoproteínas, para ocorrer à reação autoimune das células hepáticas.) e a molécula como um carreador, sendo este composto capaz de estimular o aparecimento de uma resposta alérgica contra o fígado. Estudos em pacientes que apresentaram icterícia depois da exposição ao halotano, mostraram a presença de anticorpos que reagiam com o acido trifluoroacético-proteina (complexo) (DÍAZ, 2000). Uma outra forma de hepatite está relacionada com a produção de metabólitos, realizados por processo de redução durante os períodos de hipóxia hepática, com grande acúmulo de metabólitos tóxicos capazes de exercer uma ação tóxica direta e levar a necrose hepática, se sabe que esse processo de metabolismo redutivo acontece em baixas condições de hipóxia hepática, onde ocorre uma redução anaeróbia por ação do citocromo P450, produzindo como metabólitos dois radicais intermediários voláteis; os quais têm capacidade de produzir lipoperoxidação e necrose hepática (DÍAZ, 2000). Anestesia com halotano deuterado, o qual é resistente a biotransformação por via oxidativa, diminuiu significativamente as concentrações de ácido trifluoroacético no plasma e reduziu a ligação do trifluoroacetila às proteínas hepáticas em cobaias em 30-60%. Além disso, a atividade da alanina transferase (ALT) plasmática permaneceu menor no mesmo modelo animal e não foi detectada necrose centrolobular que foram feitas comparações com halotano normal. Uma intensificação da via redutiva do metabolismo do halotano pela diminuição da fração de oxigênio inspirada foi associada com aumento do fluoreto inorgânico ligado à proteína hepática, mas, novamente, não resultou em necrose centrolobular. Estes resultados sugerem que a biotransformação do halotano pela via oxidativa é a principal causa de hepatotoxidade grave (REICHLE et al., 2003). 25 2.3.2. Hepatotoxicidade em Cannis familiaris Quando a lesão hepática acomete uma minoria de indivíduos e varia de forma imprevisível entre os animais denominamos as toxinas e/ou medicamentos causadores dessa lesão em toxinas imprevisíveis ou idiossincráticas (halotano). A idiossincrasia pode ser imunológica (hipersensibilidade) ou metabólica. A ultima reflete um metabolismo aberrante da droga no paciente susceptível. De acordo com CARLTON e MCGAVIN (1998), a morfologia da lesão hepática induzida por toxinas varia consideravelmente com o tipo, a dose e a duração da exposição à toxina. Reações do hepatócito à agressão tóxica aguda incluem tumefação celular e degeneração gordurosa ou esteatose, acompanhada ou não de colestase, que pode progredir para necrose se a intoxicação for suficientemente grave. O anestésico inalatório halotano que é um exemplo de toxina idiossincrática, foi incriminado como causador de icterícia e necrose hepática aguda em cães devido múltiplas exposições ou exposições prolongadas (SANTOS et al., 1999). Até aproximadamente 80% do halotano administrado é excretado através dos pulmões, sendo menores quantidades excretadas também por esta via durante vários dias. Este fato está relacionado com a elevada solubilidade do halotano no tecido adiposo. O seu coeficiente de partição tecido adiposo/sangue é mais alto do que a maioria dos anestésicos voláteis. Para além daquele que é excretado pelos pulmões, é também eliminado halotano não metabolizado através da bílis (SANTOS et al., 1999). No organismo dos cães, é metabolizado cerca de 15-20% do halotano administrado, sendo que essa metabolização, que ocorre principalmente no fígado, é tanto mais ativa quanto menor for a concentração do anestésico. Isto resulta do fato de os produtos dessa degradação inibirem as enzimas responsáveis pela sua produção. Um dos principais produtos da degradação do halotano é o ácido trifluoroacético que tem um papel determinante no surgimento da hepatite induzida pelo halotano (SANTOS et al.,1999). O ácido trifluoroacético pode formar ligações covalentes com proteínas alvo específicas recentemente identificadas. Em pacientes susceptíveis, o halotano pode causar lesão hepática grave através de uma resposta imunomediada direcionada contra esse metabólito anestésico reativo ligado covalentemente a proteínas 26 hepáticas. A formação desse metabólito é conseqüência da bioativação do halotano pelo citocromo P450 presente nas células hepáticas, levando à formação de cloreto trifluoracetil (que hidrolisado transforma-se em um metabólito estável, o ácido trilfuoroacético), o qual pode prontamente acetilar proteínas hepáticas. Esta ligação covalente entre a porção ácido trifluoroacético e a proteína pode resultar na formação de um hapteno, levando à indução de uma resposta imunomediada e, conseqüentemente, à hepatite induzida pelo halotano. O balanço entre a bioativação do halotano (com formação de proteínas hepáticas trifluoracetiladas) e a desintoxicação de metabólito reativos, promovida por mecanismos de proteção celulares, determina o surgimento da hepatite. Histopatologicamente, essa hepatite resulta em necrose centrolobular (SANTOS et al., 1999). Efeitos patológicos mínimos foram descritos no fígado e rins de cães anestesiados por longos períodos com halotano, na presença de hipóxia e em certas doenças (SANTOS et al., 1999). O halotano pode ser degradado por diferentes vias redutoras, em presença de tensões baixas de oxigênio, com a produção de metabólitos tóxicos que podem produzir danos hepáticos, como necrose hepática (SANTOS et al., 1999). A biotransformação do halotano é efetuada principalmente pela oxidase presente no retículo endoplasmático dos hepatócitos. Os níveis dos íons resultantes da metabolização do halotano sobem significativamente durante a anestesia e até duas horas após o seu término, mantendo-se elevados no sangue durante aproximadamente dez dias após a anestesia. Os íons cloreto e brometo são prontamente removidos do halotano pela oxidase, a ação desta enzima requer a participação do NADPH, ocorrendo a degradação do halotano através de um mecanismo oxidativo, mas a energia da ligação covalente entre os íons flúor e carbono é maior e, então, esta ligação é mais dificilmente quebrável. Assim, as quantidades de íon fluoreto produzidas estão bastante abaixo das necessárias para causarem nefrotoxicidade (SANTOS et al.,1999). Se as enzimas microssomais forem induzidas pela exposição repetida ao halotano a proporção entre o halotano administrado e aquele que é metabolizado vai estar aumentada. Este mecanismo de indução das enzimas é particularmente evidente nos anestesistas, que podem metabolizar o halotano em maior quantidade que outras pessoas, o que é comprovado pelo fato de eles excretarem mais produtos da degradação do halotano na urina (SANTOS et al., 1999). 27 Swerczek e Prickett (1971) estabeleceram que o uso repetido do halotano em eqüinos também pode produzir lesão hepática similar à registrada em seres humanos (BOOTH et al., 1992). Embora não totalmente comprovado, suspeita-se que a lesão hepatotóxica após exposição ao halotano pode estar diretamente relacionada além da exposição múltipla, também ao sexo, idade, obesidade e reação imuno-mediada (DUQUE, 2001). Algumas enzimas do sistema P450 envolvidas no metabolismo de xenobiótico são notáveis por seus padrões de excreção altamente induzíveis. Freqüentemente, o indutor é um substrato para enzima indusível e, como tal, intensifica seu próprio metabolismo. Expressão elevada da enzima detoxificante persiste apenas enquanto o indutor/substrato permanecer no organismo. A indução de enzimas que metabolizam drogas formam a base de muitas interações de drogas reportadas e é de considerável importância para pacientes sujeitos a terapia de drogas combinadas (LIDDLE e GOODWIN, 2002). Há evidência que um agente indutor de enzima microssômica, como fenobarbital ou outro indutor, é uma condição aparentemente importante no desenvolvimento da hepatite pelo halotano, além da já existência de um estado hepatotóxicico durante anestesia pelo halotano. Os fármacos que produzem indução enzimática podem, portanto interferir na biotransformação hepática do halotano (BOOTH et al., 1992). 28 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. Animais No presente trabalho foram empregados 20 cães de posse irresponsável (¨cão-de-rua¨), clinicamente sadios, que foram doados para o hospital veterinário da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro / UENF, divididos em 5 (cinco) grupos de 4 (quatro) animais. Os animais eram adultos (com idade entre 03 a 05 anos), sem raça definida, com peso entre 05 e 30 Kg, e de ambos os sexos. Cada grupo foi submetido a um dos cinco protocolos anestésicos. As repetições eram feitas em um mesmo intervalo de tempo para todos os animais de todos os grupos, ou seja, um a cada 24 horas, durante 03 dias consecutivos. O período de anestesia foi de 60 minutos para todos os animais. O projeto foi aprovado pela comissão de ética da UENF, registro em anexo. 3.2. Protocolos anestésicos Todos os animais submetidos aos 05 protocolos, receberam pela via intramuscular (IM) no membro posterior direito a medicação pré-anestésica, que consistiu em midazolam (0,5 mg / kg) associado a maleato de acepromazina (0,1 mg / kg) na mesma seringa. Após 15 a 20 minutos da administração, todos os animais dos protocolos receberam pelo cateter intra-venoso instalado no seu membro anterior direito fluidoterapia com solução de cloreto de sódio 0,9%. Em seguida 29 administrou-se medicação para indução anestésica pelo cateter de nº 24, instalado na veia cefálica no membro anterior direito. As doses e drogas empregadas como medicação para indução e manutenção de plano anestésico em cada grupo, foram descritas conforme a tabela 4. Tabela 4. Protocolos anestésicos Protocolo Pré-anestésico A *1 B *1 Indução Tiopental Sódico 2,5% (12,5mg/kg) IV Dose única Propofol (4,0mg/kg) IV Dose única Tiopental Sódico 2,5% (12,5mg/kg) IV Dose única Manutenção Halotano 2% Halotano 2% Tiopental Sódico 2,5% *1 (12,5mg/kg) C IV Dose única Propofol (0,4mg/kg / Propofol minuto) (4,0mg/kg) *1 D IV IV Infusão Dose Única Contínua *1 E *1 : Midazolam (0,5mg/kg) + Acepromazina (0,1mg/kg) IM, na mesma seringa. Para a manutenção da anestesia nos protocolos em que ocorreu a manutenção anestésica com halotanlo 2%, os animais foram submetidos a entubação endotraqueal com cânula. Então estes foram colocados em decúbito esternal e com auxílio de um abre-boca e compressa de algodão, delicadamente tracionou-se a língua lateralmente para exposição da entrada da laringe e suave introdução da cânula traqueal com auxílio de um laringoscópio de lâmina reta. Em seguida inflou-se o manguito ou balonete até começar fazer resistência, para fornecimento de oxigênio e halotano 2%. Os animais pertencentes aos protocolos C e D receberam a manutenção anestésica pelo cateter intra-venoso instalado no seu membro anterior direito, respectivamente tiopental sódico e propofol. Permanecendo infundidos com solução de cloreto de sódio 0,9% durante 60 minutos. 30 Os animais controle pertenceram ao protocolo E, estes receberam apenas a medicação pré-anestésica, midazolam (0,5 mg / kg) associado a maleato de acepromazina (0,1 mg / kg) na mesma seringa pela via intramuscular, no membro posterior direito, e infundidos com solução de cloreto de sódio 0,9% durante 60 minutos. 3.3. Colheita de sangue Todos os animais foram mantidos em jejum por 12 horas e em seguida receberam fluidoterapia com solução de cloreto de sódio 0,9%; Para isso foi cateterizado a veia cefálica direita, utilizando cateter (jelco nº 24). A via de acesso venoso permitiu a coleta de 1 ml de sangue, utilizando agulha (0.70 mm x 25 mm) e seringa de 3ml. O mesmo foi feito 30 minutos antes e depois de cada anestesia. As amostras de sangue, já colocadas nos tubos com gel, foram devidamente identificadas, acondicionadas em isopor com gelo e encaminhadas ao laboratório de patologia clínica (Laboratório de Sanidade Animal-LSA/CCTA/UENF) para serem centrifugadas a 3200 rpm durante 5 minutos (centrifuga LS – 3 plus), obtendo assim o soro. Os soros bioquímica foram estocados em freezer, até a realização da sorológica (mensuração das enzimas hepáticas: análise Alanina aminotransferase / ALT, aspartato aminotransferase / AST e fosfatase alcalina / FA e prova de função renal: uréia e creatinina). 3.4. Estudo estatístico As médias dos valores bioquímicos de cada grupo foram comparadas empregando o teste T student considerando valores significativos quando p< 0,05. 31 3.5. Avaliação bioquímica sorológica Para análise bioquímica das amostras de soro, empregamos a metodologia cinética para determinar a atividade da fosfatase alcalina (FA) e creatinina, a metodologia cinética em ultravioleta para determinar a atividade da alanina aminotransferase (ALT) e da aspartato aminotransferase (AST) e a metodologia colorimétrica em ultravioleta para determinar a atividade da uréia. Para todas as metodologias foi utilizado o analisador para espectrofotometria semi – automático (MICROLAB / 200 MERCK). Em todas as mensurações (FA, ALT, AST, uréia e creatinina) foi feito o controle, usando o qualitol 1 e 2 (LABTEST). O qualitol 1 e 2 é uma preparação liofilizada,em matriz protéica humana, contendo vários analitos e se destina ao controle interno da qualidade em ensaios de química clínica, imunologia, hormônios e drogas terapêuticas. Na analise da fosfatase alcalina (FA), utilizamos 20 µL (microlitros) do soro misturados a 1 ml do reativo de trabalho (reagente), inseridos no analisador para espectrofotometria semiautomático (MICROLAB / 200 MERCK) para fazer a leitura. Este reativo de trabalho, que determina a atividade da FA no soro, e composto de 100 ml de tampão (pH 10.4 de 2-amino-2-metil-1-propanol (AMP) 350mmol/L, acetato de magnésio 2 mmol/L, sulfato de zinco 1 mmol/L e ácido nhidroxietilenodiaminotriacético 2 mmol/L.) e o conteúdo de um frasco de substrato ( dissolvido contém 4-nitrofenilfosfato 12mmol/L.). Somente para uso diagnóstico in vitro e fica estável por 2 meses entre 2 – 8 ºC. Na analise da alanina aminotransferase (ALT), utilizamos 400 µL( microlitros) do reativo de trabalho 1(reagente) misturados com 100 µL (microlitros) do reativo de trabalho 2 (reagente) e 25 µL (microlitros) do soro, inseridos no analisador para espectrofotometria semi – automático (MICROLAB / 200 MERCK) para fazer a leitura. O reativo de trabalho 1 é denominado de tampão (contém tampão Tris 150 mmol/L pH 7.3, L-alanina 750 mmol/L e LDH >1350 U/L.) e o reativo de trabalho 2 de Coezima (contém 2-cetoglutarato 75 mmol/L e NADH 1,3 mmol/L.). Esses reagentes determinam quantitativamente a atividade da ALT no soro, somente para uso diagnóstico in vitro e fica estável por 2 meses entre 2 – 8 ºC. Na analise da aspartato aminotransferase (AST), utilizamos 400 µL (microlitros do reativo de trabalho 1 (reagente) misturados com 100 µL (microlitros) do reativo de trabalho 2 (reagente) e 25 µL (microlitros) do soro, inseridos no 32 analisador para espectrofotometria semi – automático (MICROLAB / 200 MERCK) para fazer a leitura. O reativo de trabalho 1 é denominado de tampão (contém Tris 121 mmol/L pH 7.8, L-aspartato 362 mmol/L, MDH> 460 e LDH > 660 U/L.) e o reativo de trabalho 2 de coezima ( contém 2-cetoglutarato 75 mmol/L e NADH 1,3 mmol/L.). Esses reagentes determinam quantitativamente a atividade da AST no soro, somente para uso diagnóstico in vitro e fica estável por 2 meses entre 2 – 8 ºC. Na analise da creatinina, utilizamos 500µL (microlitros) do reativo de trabalho (reagentes:Ácido Pícrico e Tampão) misturados com 50 µL (microlitros) de soro e 500 µL (microlitros) do reativo de trabalho (reagentes: Ácido Pícrico e Tampão ) com 50 µL (microlitros) do padrão (reagente). O reativo de trabalho é composto da mistura de volumes iguais de ácido pícrico (25 mmol/L) e tampão (Hidróxido de sódio 400 mmol/L e Brij 35 1 g/L.) e o reagente padrão de creatinina 2 mg/dL. Esses reagentes determinam quantitativamente a atividade da creatinina no soro, somente para uso diagnóstico in vitro e fica estável por 1 mês entre 2 – 8 ºC. Na analise da uréia, utilizamos 1 ml do reativo de trabalho 1 (reagente), sozinho em um tubo de ensaio, que será denominado tubo branco, 1 ml do reativo de trabalho 1 misturado com 10 µL do padrão (reagente) que será denominado de tubo padrão e 1 ml do reativo de trabalho 1 misturado com 10 µL do soro que será denominado de tubo teste. Esses tubos de ensaio são colocados em banho – Maria (37ºC) por 5 minutos e posteriormente é colocado 1 ml do reativo de trabalho 2 (reagente) em todos os tubos. Em seguida são inseridos no analisador para espectrofotometria semi – automático (MICROLAB / 200 MERCK) para fazer a leitura. O reagente padrão deve ser armazenado entre 2 – 8 ºC, bem vedado para evitar evaporação e contém azida sódica 7,7 mmol/L. O reativo de trabalho 1 contém tampão 10 mmol/L, pH9.5; 2-cetoglutarato 16 mmol/L; NADH 300 µmol/L; azida sódica 15 mmol/L e sufactante e o reagente de trabalho 2 contém tampão 380 mmol/L, pH 8.0; ADP 4 mmol/L; urease 15 mmol/L e sufactante. 17700 U/L; GLDH 2000 U/L; azida sódica 33 3.6. Coleta de fragmento hepático Após término dos protocolos anestésicos, todos os animais foram submetidos à anestesia profunda, para isso cada animal recebeu novamente seu protocolo anestésico , para então serem posicionados em decúbito lateral direito e em seguida submetido à punção cardíaca intra-ventricular esquerda para serem eutanasiados por exanguinação. Cada animal foi então colocado em decúbito lateral esquerdo, com uma pequena elevação toraco-lombar para facilitar abordagem hepática e coleta dos fragmentos. 3.7. Avaliação histopatológica As amostras de fígado eram fixadas imediatamente em formalina tamponada a 10%, na proporção de 10:1 de fixador para o tecido, e encaminhadas ao Laboratório de Sanidade Animal / setor de Morfologia e Anatomia Patológica (LSA/CCTA/UENF), para serem processadas. Para a inclusão das amostras em parafina, foi utilizado o processador automático de tecidos (“Leica – TP1020”), no qual realizavam-se as etapas de desidratação com álcool etílico, diafanização com xilol e infiltração com parafina a uma temperatura próxima do seu ponto de fusão (60ºC). O tratamento com álcool etílico foi realizado com uma bateria de álcool a 70% (1 hora), 90% (1 hora) e 100% (5 etapas de 1 hora), com o objetivo de retirar toda a água dos tecidos de fígado, facilitando a infiltração da parafina, uma vez que água e parafina não se misturam; a diafanização pelo xilol (2 etapas de 1 hora) proporcionou a total remoção da água e do álcool. A infiltração das amostras com parafina (2 etapas de 30 minutos) eliminou completamente o xilol contido nas amostras e permitiu a total penetração da parafina nos espaços vazios deixados pela água e gordura, além de proporcionar uma consistência adequada para a realização dos cortes histológicos. Logo depois foi realizado o emblocamento manual das amostras em parafina (PROPHET, 1994 modificado). Em seguida as amostras foram cortadas em micrótomo semiautomático (“Leica – RM2145”), obtendo cortes histológicos de 5 µm de espessura, os quais eram aderidos a lâminas de vidro e coradas pelo método de H & E, que 34 emprega um corante básico (hematoxilina) e um corante ácido (eosina), para serem então analisadas em microscópio óptico (PROPHET, 1994 modificado). Os cortes posteriormente corados em lâminas, montados em bálsamo e cobertos com lamínulas, eram analisados em microscópio óptico (“Nikon Eclipse E400”) com câmera digital (“Nikon Coolpix 995”). 35 4. RESULTADOS 4.1. Comportamento clínico dos animais após os protocolos anestésicos Todos os animais submetidos aos diferentes protocolos apresentaram-se estáveis clinicamente durante e depois dos procedimentos anestésicos, não ocorrendo nenhum óbito durante o experimento. 4.2. 4.2.1. Avaliação bioquímica sorológica Função hepática Os níveis séricos de AST dos animais submetidos ao protocolo A mantiveramse semelhantes aos níveis anteriores ao experimento conforme descrito na tabela 5 A, contudo os valores de ALT e FA mostraram-se alterados quando comparamos as médias, de acordo com as tabelas 5 B e 5 C. 36 Tabela 5A Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de AST em animais submetidos ao protocolo A: Acepromazina associada ao midazolam com indução com tiopental sódico e manutenção com halotano. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Animais 1. Cocker 2. Marrom G. Velho 3. Negona 4. Grisalha Média Desvio padrão Tabela 5B Animais Antes (A1) 72 32 Dia 1 Depois (D1) 69 21 40 46 47,50 17,3109 35 28 38,25 21,2818 AST / (UI/L) Dia 2 Antes Depois (A2) (D2) 48 40 38 30 65 79 57,50 18,5767 105 49 56,00 33,5758 Dia 3 Antes Depois (A3) (D3) 36 51 40 32 63 32 42,75 13,8894 48 45 44,00 8,3666 Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de ALT em animais submetidos ao protocolo A: Acepromazina associada ao midazolam com indução com tiopental sódico e manutenção com halotano. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Dia 1 Antes Depois (A1) (D1) 26 32 20 19 1. Cocker 2. Marrom G. Velho 3. Negona 43 4. Grisalha 30 Média 29,75 Desvio Padrão 9,7425 ♣P= 0,0161, ♠p= 0,0372 ALT / (UI/L) Dia 2 Antes Depois (A2) (D2) 50 40 27 34 Dia 3 Antes Depois (A3) (D3) 17 25 20 17 36 45 95 69 70 20 30 38 33 57 42,25 26,75♣ 38,00♣ 51,75♠ 34,75♠ 8,5391 11,2250 28,9410 23,865 25,3163 37 Tabela 5C Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de FA em animais submetidos ao protocolo A: Acepromazina associada ao midazolam com indução com tiopental sódico e manutenção com halotano. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Animais Dia 1 Antes Depois (A1) (D1) 159 83 77 84 FA / (UI/L) Dia 2 Antes Depois (A2) (D2) 127 128 103 87 Dia 3 Antes Depois (A3) (D3) 119 133 85 95 1. Cocker 2. Marrom G. Velho 3. Negona 74 78 103 70 66 72 4. Grisalha 173 189 255 222 222 176 Média 120,75 108,50♣ 147,00♣♠ 126,75 123,00♠ 119,00 Desvio 52,5761 53,7308 72,8835 68,0067 69,5461 45,5705 Padrão ♣P=0,0360, ♠P=0,0375 Os níveis séricos de ALT dos animais submetidos ao protocolo B mantiveramse semelhantes aos níveis anteriores ao experimento conforme descrito na tabela 6 B, contudo os valores de AST e FA mostraram-se alterados quando comparamos as médias, de acordo com as tabelas 6 A e 6 C. Tabela 6A Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de AST em animais submetidos ao B: Acepromazina associada ao midazolam com indução com propofol e manutenção com halotano. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Animais 1. Preto 2. Focinho 3. Pretinha 4. Poodle Preta Média Desvio Padrão ♣p= 0,0386 AST / (UI/L) Dia 1 Dia 2 Dia 3 Antes Depois Antes Depois Antes Depois (A1) (D1) (A2) (D2) (A3) (D3) 57 48 139 110 55 50 34 33 142 62 41 39 49 39 86 61 70 89 85 26 40 48 54 81 56,25 55,00 64,75 36,50♣ 101,75 70,25♣ 21,4068 9,3274 48,5412 27,2565 11,8603 24,0330 38 Tabela 6B Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de ALT em animais submetidos ao B: Acepromazina associada ao midazolam com indução com propofol e manutenção com halotano. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Animais 1. Preto 2. Focinho 3. Pretinha 4. Poodle Preta Média Desvio padrão Dia 1 Antes Depois (A1) (D1) 23 24 26 29 24 19 28 20 25,25 23,00 2,2174 4,5461 ALT / (UI/L) Dia 2 Antes Depois (A2) (D2) 42 38 64 25 25 21 26 25 39,25 27,25 18,2460 7,4106 Dia 3 Antes Depois (A3) (D3) 30 54 71 30 31 39 31 84 40,75 51,75 20,1722 23,6696 Tabela 6C Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de FA em animais submetidos ao B: Acepromazina associada ao midazolam com indução com propofol e manutenção com halotano. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. FA / (UI/L) Animais 1. Preto 2. Focinho 3. Pretinha 4. Poodle Preta Média Desvio Padrão ♣p= 0,0315 FA / (UI/L) Dia 1 Dia 2 Dia 3 Antes Depois Antes Depois Antes Depois (A1) (D1) (A2) (D2) (A3) (D3) 131 83 97 98 173 124 45 46 36 56 56 104 143 64 111 153 226 143 67 95 58 128 215 84 96,50 72,00 108,75 167,50 75,50♣ 103,75♣ 47,8714 21,5252 34,5881 41,7403 77,7625 25,4346 Os níveis séricos de AST, ALT e FA dos animais submetidos ao protocolo C mantiveram-se semelhantes aos níveis anteriores ao experimento conforme descrito nas tabelas 7 A, 7 B e 7 C. 39 Tabela 7A Modelo de hepatoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de AST em animais submetidos ao protocolo C: Acepromazina associada ao midazolam com indução e manutenção com tiopental. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Animais 1. Labrador 2. Amiga V. P. 3. Vovô 4. Rotweiller Média Desvio padrão Dia 1 Antes Depois (A1) (D1) 43 36 123 51 36 46 69 30 67,75 40,75 39,4747 9,5000 AST / (UI/L) Dia 2 Antes Depois (A2) (D2) 54 43 122 50 59 41 46 42 70,25 44,00 34,9130 4,0825 Dia 3 Antes Depois (A3) (D3) 30 54 64 35 38 31 45 35 44,25 38,75 14,5230 10,3401 Tabela 7B Modelo de hepatoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de ALT em animais submetidos ao protocolo C: Acepromazina associada ao midazolam com indução e manutenção com tiopental. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Animais 1. Labrador 2. Amiga V. P. 3. Vovô 4. Rotweiller Média Desvio padrão Dia 1 Antes Depois (A1) (D1) 21 14 45 23 34 25 60 22 40,00 21,00 16,5529 4,8305 ALT / (UI/L) Dia 2 Antes Depois (A2) (D2) 24 21 52 21 27 20 29 20 33,00 20,50 12,8323 0,5774 Dia 3 Antes Depois (A3) (D3) 21 35 28 24 23 22 25 19 24,25 25,00 2,9861 6,9761 40 Tabela 7C Modelo de hepatoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de FA em animais submetidos ao protocolo C: Acepromazina associada ao midazolam com indução e manutenção com tiopental. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Animais 1. Labrador 2. Amiga V. P. 3. Vovô 4. Rotweiller Média Desvio padrão Dia 1 Antes Depois (A1) (D1) 10 33 21 20 33 22 64 70 32,00 36,25 23,3095 23,2146 Os níveis séricos de ALT e FA FA / (UI/L) Dia 2 Antes Depois (A2) (D2) 79 14 70 68 43 60 59 24 62,75 41,50 15,5000 26,5016 Dia 3 Antes Depois (A3) (D3) 37 19 59 95 92 46 65 103 63,25 65,75 22,6329 40,0780 dos animais submetidos ao protocolo D mantiveram-se semelhantes aos níveis anteriores ao experimento conforme descrito nas tabelas 8 B, 8 C, contudo os valores de AST mostraram-se alterados quando comparamos as médias, de acordo com a tabela 8 A. Tabela 8A Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de AST em animais submetidos ao protocolo D: acepromazina associada ao midazolam com indução e manutenção com propofol. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. AST / (UI/L) Dia 1 Dia 2 Dia 3 Animais Antes Depois Antes Depois Antes Depois (A1) (D1) (A2) (D2) (A3) (D3) 1. Adestrado 63 57 66 31 84 39 2. Botafogo 67 31 72 102 46 46 3. Vira lata 52 66 110 77 74 299 4. Lesse 48 36 89 63 57 57 Média 57,50 47,50♣♠ 84,25♠ 68,25 110,25 65,25♣ Desvio Padrão 8,9629 16,7033 19,7379 29,6128 16,9975 126,0512 ♣p= 0,0223; ♠p= 0,0314 41 Tabela 8B Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de ALT em animais submetidos ao protocolo D: acepromazina associada ao midazolam com indução e manutenção com propofol. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Animais 1. Adestrado 2. Botafogo 3. Vira lata 4. Lesse Média Desvio padrão Dia 1 Antes Depois (A1) (D1) 36 23 21 10 57 92 23 18 34,25 35,75 16,5605 37,8803 ALT / (UI/L) Dia 2 Antes Depois (A2) (D2) 25 33 18 18 54 48 91 27 47,00 31,50 33,2165 12,6095 Dia 3 Antes Depois (A3) (D3) 27 23 15 13 57 235 33 32 33,00 75,50 17,6635 106,6161 Tabela 8C Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de FA em animais submetidos ao protocolo D: acepromazina associada ao midazolam com indução e manutenção com propofol. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Animais 1. Adestrado 2. Botafogo 3. Vira lata 4. Lesse Média Desvio padrão Dia 1 Antes Depois (A1) (D1) 87 58 120 88 87 143 48 72 85,50 90,25 29,4449 37,2413 FA / (UI/L) Dia 2 Antes Depois (A2) (D2) 77 175 132 89 88 38 68 38 91,25 85,00 28,3711 64,6375 Dia 3 Antes Depois (A3) (D3) 103 75 180 148 115 90 49 105 111,75 104,50 53,7982 31,4802 Os níveis séricos de AST, ALT e FA dos animais submetidos ao protocolo E mantiveram-se semelhantes aos níveis anteriores ao experimento conforme descrito nas tabelas 9 A, 9 B e 9 C. 42 Tabela 9A Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de AST em animais submetidos ao protocolo E: Acepromazina associada ao midazolam. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Animais 1. Marrom Grande 2. Branca 3. Maria 4. Bernadete Média Desvio padrão Tabela 9B Dia 1 Antes Depois (A1) (D1) 66 36 57 79 47 42 50 44 55,00 50,25 8,4459 19,4658 AST (UI/L) Dia 2 Antes Depois (A2) (D2) 52 24 38 32 55 48 86 42 57,75 36,50 20,2382 10,6301 Dia 3 Antes Depois (A3) (D3) 48 65 91 33 38 35 54 46 57,75 44,75 23,1283 14,6600 Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de ALT em animais submetidos ao protocolo E: Acepromazina associada ao midazolam. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Animais 1. Marrom Grande 2. Branca 3. Maria 4. Bernadete Média Desvio padrão Dia 1 Antes Depois (A1) (D1) 80 65 72 72 23 25 37 44 53,00 51,50 27,3618 21,2995 ALT (UI/L) Dia 2 Antes Depois (A2) (D2) 62 58 44 42 29 38 59 43 48,50 45,25 15,1987 8,7702 Dia 3 Antes Depois (A3) (D3) 64 65 108 62 20 19 44 33 59,00 44,75 37,2916 22,4258 43 Tabela 9C Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de FA em animais submetidos ao protocolo E: Acepromazina associada ao midazolam. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Dia 1 Antes Depois (A1) (D1) 722 387 Animais 1. Marrom Grande 2. Branca 3. Maria 4. Bernadete Média Desvio padrão 4.2.2. FA (UI/L) Dia 2 Antes Depois (A2) (D2) 420 380 Dia 3 Antes Depois (A3) (D3) 258 317 429 192 347 395 406 654 34 51 59 109 92 65 380 386 354 294 302 420 391,25 254,00 295,00 294,50 264,50 364,00 282,0016 163,4687 160,7337 131,4293 130,6739 244,1625 Função renal Os níveis séricos de uréia e creatinina dos animais submetidos ao protocolo A mantiveram-se semelhantes aos níveis anteriores ao experimento conforme descrito nas tabelas 10 A e 10 B. Tabela 10A Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de uréia em animais submetidos ao protocolo A: acepromazina associada ao midazolam com indução com tiopental sódico e manutenção com halotano. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Animais 1. Cocker 2. Marrom G. Velho 3. Negona 4. Grisalha Média Desvio padrão Dia 1 Antes Depois (A1) (D1) 14 16 22 13 31 30 27 27 23,50 21,5 7,3258 8,2564 Uréia / (mg/dl) Dia 2 Antes Depois (A2) (D2) 13 17 15 23 24 16 27 26 19,75 20,50 6,8007 4,7958 Dia 3 Antes Depois (A3) (D3) 31 34 29 12 30 29 12 44 25,50 29,75 9,0370 13,3760 44 Tabela 10B Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de creatinina em animais submetidos ao protocolo A: Acepromazina associada ao midazolam com indução com tiopental sódico e manutenção com halotano. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Animais 1. Cocker 2. Marrom G. Velho 3. Negona 4. Grisalha Média Desvio padrão Dia 1 Antes Depois (A1) (D1) 0,51 0,47 1,20 0,84 0,80 0,40 0,82 0,90 0,8325 0,6525 0,2830 0,2540 Creatinina / (mg/dl) Dia 2 Antes Depois (A2) (D2) 0,56 1,03 0,78 1,00 1,20 1,26 0,65 0,53 0,7975 0,9550 0,2831 0,3062 Dia 3 Antes Depois (A3) (D3) 0,60 0,60 1,10 1,10 0,58 0,81 0,70 0,69 0,7450 0,8000 0,2424 0,2177 Os níveis séricos de uréia e creatinina dos animais submetidos ao protocolo B mantiveram-se semelhantes aos níveis anteriores ao experimento conforme descrito nas tabelas 11 A e 11 B. Tabela 11A Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de uréia em animais submetidos ao protocolo B: Acepromazina associada ao midazolam com indução com propofol e manutenção com halotano. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Animais 1. Preto 2. Focinho 3. Pretinha 4. Poodle Preta Média Desvio padrão Dia 1 Antes Depois (A1) (D1) 34 33 44 34 34 32 35 31 36,75 32,50 4,8563 1,2910 Uréia / (mg/dl) Dia 2 Antes Depois (A2) (D2) 37 47 24 24 23 39 16 30 25,00 35,00 8,7560 10,0995 Dia 3 Antes Depois (A3) (D3) 29 23 23 39 33 37 18 17 25,75 29,00 6,6018 10,7083 45 Tabela 11B Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de creatinina em animais submetidos ao protocolo B: Acepromazina associada ao midazolam com indução com propofol e manutenção com halotano. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Animais 1. Preto 2. Focinho 3. Pretinha 4. Poodle Preta Média Desvio padrão Dia 1 Antes Depois (A1) (D1) 0,90 0,86 1,10 1,21 0,71 0,69 0,43 0,60 0,7850 0,8400 0,2852 0,2692 Creatinina / (mg/dl) Dia 2 Antes Depois (A2) (D2) 1,04 0,85 0,57 1,20 0,57 0,80 0,48 0,67 0,6650 0,8800 0,2536 0,2264 Dia 3 Antes Depois (A3) (D3) 0,80 0,68 0,38 0,70 0,60 0,43 0,60 0,87 0,5950 0,6700 0,1716 0,1813 Os níveis séricos de uréia e creatinina dos animais submetidos ao protocolo C mostraram-se alterados quando comparamos as médias, conforme descrito nas tabelas 12 A e 12 B. Tabela 12A Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de uréia em animais submetidos ao protocolo C: Acepromazina associada ao midazolam com indução e manutenção com tiopental sódico. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Uréia / (mg/dl) Dia 1 Dia 2 Dia 3 Animais Antes Depois Antes Depois Antes Depois (A1) (D1) (A2) (D2) (A3) (D3) 1. Labrador 16 13 11 20 14 22 2. Amiga V. P. 09 10 12 21 19 15 3. Vovô 13 20 08 11 22 15 4. Rotweiller 19 25 16 26 12 25 Média 17,00 16,75 14,25♦ 19,25♦♠ 11,75♣♠ 19,50♣ Desvio Padrão 4,2720 6,7823 3,3040 6,2450 4,5735 5,0580 ♣p= 0,0168; ♦p=0,0154; ♠p=0,0219 46 Tabela 12B Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de creatinina em animais submetidos ao protocolo C: Acepromazina associada ao midazolam com indução e manutenção com tiopental sódico. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Creatinina / (mg/dl) Dia 1 Dia 2 Dia 3 Animais Antes Depois Antes Depois Antes Depois (A1) (D1) (A2) (D2) (A3) (D3) 1. Labrador 0,60 0,48 0,30 0,88 0,80 0,49 2. Amiga V. P. 0,31 0,37 0,04 0,70 0,72 1,10 3. Vovô 0,48 0,38 0,84 0,63 0,70 0,80 4. Rotweiller 0,61 0,90 0,88 0,26 0,70 0,90 Média 0,5000♣ 0,5325 0,5150 0,6175 0,7300♣ 0,8225 Desvio Padrão 0,1398 0,2500 0,4126 0,2606 0,0476 0,2543 ♣p= 0,0406; Valor ainda incluso na faixa da normalidade para cães (0,50 – 1,50 mg/dl) segundo MEYER et al.,1995. Os níveis séricos de creatinina dos animais submetidos ao protocolo D mostraram-se alterados quando comparamos as médias, conforme descrito na tabela 13 B, contudo os valores de uréia mantiveram-se semelhantes aos níveis anteriores ao experimento conforme descrito na tabela 13 A. Tabela 13A Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de uréia em animais submetidos ao protocolo D: Acepromazina associada ao midazolam com indução e manutenção com propofol. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Animais 1. Adestrado 2. Botafogo 3. Vira lata 4. Lesse Média Desvio padrão Dia 1 Antes Depois (A1) (D1) 20 16 25 16 28 15 26 25 24,75 18,00 3,4034 4,6904 Uréia / (mg/dl) Dia 2 Antes Depois (A2) (D2) 16 14 36 51 18 9 25 36 23,75 27,50 9,0323 19,5704 Dia 3 Antes Depois (A3) (D3) 32 8 27 32 11 17 28 14 24,50 17,75 9,2556 10,2103 47 Tabela 13B Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de creatinina em animais submetidos ao protocolo D: Acepromazina associada ao midazolam com indução e manutenção com propofol. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Creatinina / (mg/dl) Dia 1 Dia 2 Dia 3 Animais Antes Depois Antes Depois Antes Depois (A1) (D1) (A2) (D2) (A3) (D3) 1. Adestrado 0,63 0,77 1,00 1,30 0,56 0,60 2. Botafogo 0,49 0,68 0,64 0,49 0,61 0,69 3. Vira lata 0,70 0,86 1,06 0,10 0,84 0,36 4. Lesse 0,80 0,90 1,03 0,94 0,90 1,00 Média 0,6550♣♠ 0,8025♣ 0,9325♠ 0,7075 0,7275 0,6625 Desvio Padrão 0,1303 0,0981 0,1965 0,5233 0,1676 0,2646 ♣p= 0,0044; ♠p= 0,0137 Os níveis séricos de uréia dos animais submetidos ao protocolo E mostraramse alterados quando comparamos as médias, conforme descrito na tabela 14 A. Contudo os valores de creatinina mantiveram-se semelhantes aos níveis anteriores ao experimento conforme descrito na tabela 14 B. Tabela 14A Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de uréia em animais submetidos ao protocolo E: Acepromazina associada ao midazolam. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Uréia / (mg/dl) Dia 1 Dia 2 Dia 3 Animais Antes Depois Antes Depois Antes Depois (A1) (D1) (A2) (D2) (A3) (D3) 1. Marrom Grande 56 27 23 24 27 46 2. Branca 46 15 13 37 08 37 3. Maria 20 51 18 19 59 36 4. Bernadete 70 73 30 54 29 59 Média 48,00 41,50 33,50 30,75 21,00♣ 44,50♣ Desvio Padrão 21,1029 25,7876 7,2572 15,6312 21,0772 10,6615 ♣p= 0,0019 48 Tabela 14B Modelo de hepatotoxicidade aguda experimental pelo halotano: Níveis séricos de creatinina em animais submetidos ao protocolo E: Acepromazina associada ao midazolam. Realizada em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2004/2005. Animais 1. Marrom Grande 2. Branca 3. Maria 4. Bernadete Média Desvio padrão 4.3. Dia 1 Antes Depois (A1) (D1) 0,60 0,57 0,70 0,80 0,45 0,70 0,80 0,70 0,6375 0,6925 0,1493 0,0943 Creatinina / (mg/dl) Dia 2 Antes Depois (A2) (D2) 0,86 0,37 0,80 0,60 0,90 0,70 0,55 0,80 0,7775 0,6175 0,1571 0,1841 Dia 3 Antes Depois (A3) (D3) 0,81 0,60 0,73 0,60 0,90 0,60 0,66 0,70 0,7750 0,6250 0,1034 0,0500 Avaliação histopatológica Na analise macroscópica, o fígado apresentou-se normal, com coloração marrom / avermelhada, friável e com superfície capsular lisa, em todos os animais dos cinco protocolos. Na análise microscópica dos animais submetidos ao protocolo A, observamos a presença de tumefação turva bem pronunciada (figura 2), que são alterações morfológicas anormais da célula. A célula fica tumefeita, na qual o citoplasma apresenta uma aparência uniformemente inchada e turva ( tecidos não-corados). Houve, também, a presença de degeneração hidrópica, que é um estágio mais avançado da tumefação turva. Na avaliação histológica dos animais pertencentes ao protocolo B, que foi realizada em cortes de tecido hepático corados pelo método H&E, observamos microscopicamente a presença de tumefação turva (figura 1) e degeneração gordurosa (figura 3), que é o acumulo anormal de gordura no citoplasma das células parenquimatosas (lipidose hepática, fígado gordo ou degeneração gordurosa no fígado). 49 Nos animais submetidos ao protocolo C, D e E, na avaliação histopatológica, microscopicamente, observamos a presença de tumefação turva difusa. Figura 1.Canino. Fígado. Hepatócito tumefeito. Obj. 40 x, H&E. 50 Figura 2. Canino. Fígado. Hepatócito tumefeito. Obj. 40 X, H&E. Figura 3. Canino. Fígado. Colisão de tumefação turva e degeneração gordurosa. Obj. 40 x, H&E. 51 1 5. DISCUSSÃO As informações literárias que abordam o tema hepatotoxicidade pelo halotano, devida exposições repetidas, até o momento enfatizam que o organismo dos cães metabolizam o halotano administrado, produzindo metabólitos que têm papel determinante no surgimento de lesões hepáticas. A discussão a seguir visa a caracterizar as alterações observadas neste estudo valorizando os relatos direcionados exclusivamente para a hepatotoxicidade em Cannis familiaris submetidos à anestesia geral, onde o halotano foi utilizado para manutenção da anestesia. No protocolo A, na comparação entre as médias, pelo teste T student (p < 0,05), dos valores bioquímicos, de uréia, creatinina e da aspartato aminotransferase (AST) não houve diferença significativa, da alanina aminotransferase (ALT) houve diferença significativa do dia 01 depois (D1) com o dia 02 antes (A2) e do dia 02 depois (D2) com o dia 03 antes (A3) e da fosfatase alcalina (FA) houve diferença significativa do dia 01 depois (D1) com o dia 02 antes (A2) e do dia 02 antes (A2) com o dia 03 antes (A3), estando, assim, de acordo com o que relata DÍAZ (2000), que há diferentes tipos de lesões hepáticas tóxicas relacionadas ao uso de halotano; uma delas se trata de uma lesão suave, onde se observa apenas uma elevação das enzimas hepáticas, a qual geralmente não é detectada e é reversível em humanos. 52 De acordo com o que relatam COUSINS et al. (1987), aumentos significativos da alanina aminotransferase sérica foram vistos após cirurgia sob regime de plano anestésico com manutenção com halotano. Dois pacientes, após halotano, mostraram vários focos de necrose celular hepática aguda. Entretanto os achados histopatológicos deles diferenciam dos nossos. Na análise microscópica, observamos a presença de tumefação turva bem pronunciada e de degeneração hidrópica. No entanto, a biotransformação do halotano, segundo SANTOS (1999), efetuada principalmente pela oxidase presente no reticulo endoplasmático dos hepatócitos, produzindo metabololitos, os quais podem formar ligações covalentes com proteínas endógenas, levando à indução de uma resposta imunitária e, conseqüentemente à hepatite pelo halotano, que resulta em necrose centrolobular, não ocorreu no nosso estudo, somente efeitos patológicos mínimos. Conforme CARLTON e MAGAVIN (1998), nosso estudo informa que a morfologia da lesão hepática induzida por toxinas varia consideravelmente. Reações do hepatócito à agressão tóxica aguda incluem tumefação celular e degeneração gordurosa ou esteatose, acompanhada ou não de calestase, que pode progredir para necrose se a intoxicação for suficientemente grave. No protocolo B , a comparação entre as médias, pelo teste T student (p < 0,05), dos valores bioquímicos de uréia, creatinina e alanina aminotransferase (ALT) não houve diferença significativa, no decorrer dos dias de anestesia, da aspartato aminotransferase (AST) houve diferença significativa do dia 01 depois (D1) com o dia 02 depois (D2) e da fosfatase alcalina houve diferença significativa do dia 02 antes (A2) com o dia 03 depois (D3), no decorrer dos dias de anestesia. De acordo com REICHLE e CONZEN (2003), a forma branda de lesão hepática pode ser clinicamente detectada com elevações transitórias das enzimas do fígado. A avaliação histológica, que foi realizada em cortes de tecido hepático, corados pela H & E, observamos microscopicamente a presença de tumefação turva e degeneração gordurosa. SILVA (1997) comenta que, como a maioria das moléculas das drogas (halotano) são relativamente pequenas, não têm tendência a criar resposta imune; para se tornarem imunogénicas, ela ou os seus metabólitos têm que formar ligações 53 covalentes com macromoléculas (tais como proteínas endógenas). Esta ligação a macromoléculas (que atuam como hapteno) é mais a exceção do que a regra, mas pode acontecer, em certo grau, com algumas drogas. Também pode ocorrer, em casos de administração repetida da droga. Esta resposta imune não ocorreu em nosso estudo, pois os animais submetidos aos protocolos, nos quais a manutenção foi com halotano, não apresentaram hepatite imunomediada. Assim como comentado anteriormente, a hepatite pelo halotano ocorre porque os pacientes susceptíveis erguem respostas imunes aos antígenos de proteínas trifluoroacetiladas (hapteno), relatam ELIASSON et al. (1998). Nosso estudo, assim como os dos autores abaixo, afirma que o anestésico hepatotoxicico halotano, quando metabolizado oxidativamente pelo citocromo P450 do fígado, produz metabólitos tóxicos. O ácido trifluoroacético in vivo em ratos, de acordo com STIER (1964) e URBAN e DEKANT (1994), in vitro em microssomos hepáticos de ratos, de acordo com SATOH et al. (1985) e GODIN et al. (1993), e em humanos, in vivo, segundo REHNDER et al. (1967) e TANAKA et al. (1998). Conforme citado por SHENTON et al. (2003), as reações idiossincráticas a drogas representam um grande problema. Na maioria dos casos, os mecanismos destas reações são desconhecidos, mas as evidências circunstanciais indicam um envolvimento dos metabólitos reativos e as características das reações sugerem envolvimento do sistema imune. Reação idiossincrática à droga (hepatotoxicidade induzida por halotano) então designa reações que não ocorrem na maioria dos pacientes a qualquer dose e nas quais o mecanismo não envolve as propriedades farmacológicas conhecidas da droga. COUSINS et al. (1987) relatam que o metabolismo redutivo do halotano é comum em pacientes cirúrgicos sob condições normais. No protocolo C, na comparação entre as médias, pelo teste T student (p < 0,05), do valores bioquímicos da aspartato aminotransferase (AST), alanina aminotransferase (ALT) e fosfatase alcalina (FA), não houve diferença significativa, no decorrer dos dias de anestesia, da uréia houve diferença significativa do dia 01 antes (A1) com o dia 03 depois (D3), do dia 02 antes (A2) com o dia 02 depois (D2) e do dia 02 antes (A2) com o dia 03 depois (D3) e da creatinina houve diferença significativa do dia 01 antes (A1) 54 com o dia 03 antes (A3), no decorrer dos dias de anestesia. Desse modo, as alterações observadas nos valores bioquímicos sorológicos, uréia e cratinina demonstram alterações na prova de função renal, não tendo alteração nos valores bioquímicos que indicasse hepatotoxicidade. Na avaliação histopatológica, microscopicamente, observamos a presença de tumefação turva difusa demonstrando que a análise histopatológica (microscópica), revelou a presença de lesões inespecíficas, que associadas às alterações bioquímicas que ocorreram, apenas nos valores da uréia e creatinina (prova de função renal), não houve hepatotoxicidade, que o tiopental sódico utilizado para indução e manutenção da anestesia deste protocolo C e para indução no protocolo A não influencia no aparecimento de necrose hepática. No protocolo D, a comparação entre as médias, pelo teste T student (p < 0,05), dos valores bioquímicos da uréia, alanina aminotransferase (ALT) e fosfatase alcalina (FA) não houve diferença significativa, no decorrer dos dias de anestesia, da creatinina houve diferença significativa do dia 01 antes (A1) com o dia 01 depois (D1) e do dia 01 antes (A1) com o dia 02 antes (A2) e da aspartato aminotransferase houve diferença significativa do dia 01 depois (D1) com o dia 02 antes (A2) e do dia 01 depois (D1) com o dia 03 antes A3), no decorrer dos dias de anestesia. A análise histopatológica (microscópica) revelou a presença de lesões inespecíficas, que, associadas às alterações bioquímicas que ocorreram, na aspartato aminotransferase (AST), que não é hepatoespécifica para caninos, e na creatinina, demonstram que não houve hepatotoxicidade, que o propofol utilizado para indução e manutenção da anestesia deste protocolo e para indução no protocolo B não influencia no aparecimento de necrose hepática. No protocolo E a comparação entre as médias pelo teste T student (p < 0,05) dos valores bioquímicos da uréia, houve diferença significativa do dia 02 antes (A2) com o dia 03 depois (D3), da alanina aminotransferase (ALT), aspartato aninotransferase (AST), fosfatase alcalina (FA) e creatinina não houve diferença significativa, no decorrer dos dias de anestesia. A avaliação histopatológica (microscópica) revelou a presença de lesões inespecíficas, que, associadas às alterações bioquímicas que ocorreram, apenas 55 nos valores da uréia, demonstram que não houve hepatotoxicidade, que a medicação pré-anestésica, utilizada neste protocolo e em todos os outros protocolos (A, B, C e D), não influencia no aparecimento de necrose hepática. 56 6. CONCLUSÕES Os animais do protocolo E, nos quais apenas utilizamos a medicação préanestésica, acepromazina associada ao midazolam, não apresentaram alterações hepáticas significativas, demonstrando que esses medicamentos não influenciariam no aparecimento da hepatotoxicidade pelo halotano na espécie Cannis familiaris. Os animais do protocolo D, que receberam acepromazina associada ao midazolam, na mesma seringa, como medicação pré – anestésica e propofol para indução e manutenção da anestesia, também não apresentaram alterações que caracterizassem uma hepatotoxicidade pelo halotano ao exame histopatológico e análise bioquímico sorológica, estabelecendo, assim, que o propofol não está relacionado ao aparecimento de alterações hepáticas causadas pelo halotano em Cannis familiaris . Os animais do protocolo C receberam a mesma medicação pré – anestésica que todos os outros protocolos, já a indução e manutenção foi através do tiopental sódico, que não proporcionou nenhuma influencia significativa para o aparecimento de alterações hepáticas pelo halotano. Ao animais do protocolo B e A receberam para indução anestésica, respectivamente, propofol e tiopental sódico e para manutenção anestesia inalatória, halotano 2%. Esses animais, que receberam o agente anestésico alogenado, halotano, na manutenção da anestesia, apresentaram lesões hepáticas na análise histopatológica (microscopia) compatíveis com as alterações nos valores bioquímicos sorológicos, determinando um tipo de lesão hepática tóxica relacionada ao uso repetido de halotano, estabelecendo, assim, o cão como modelo para estudo 57 da hepatotoxicidade pelo halotano. O nosso estudo teve como padrão de alteração hepática, provocada pela múltipla exposição ao halotano, a associação de alterações histopatológicas (tumefação turva acentuada, degeneração hidrópica e gordurosa) com alterações significativas na avaliação quantitativa de marcadores de função hepática amiotransferase). (fosfatase alcalina, alanina aminotransferase e aspartato 58 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS AGUIAR, A.J. (2002) Historia da anestesia. In:FANTONI, D.T., CORTOPASSI, S.R. , Anestesia em cães e gatos. 1. ed. São Paulo: Roca Ltda, p.03 – 08. 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