Controle da Dor : O Cuidado Farmacêutico Farmacêutica Flávia Ludimila Kavalec Introdução A Dor é a principal razão para que os pacientes procurem seus médicos É o sinal de alarme de que algum dano ou lesão está ocorrendo O papel do farmacêutico Entendendo a Dor... Definição: “Experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou relacionada a lesão real ou potencial dos tecidos.” Experiência subjetiva, variável na intensidade A descrição da dor do indivíduo é o indicador mais confiável IASP- International Association for the Study of Pain Evento Doloroso • Nocicepção detecção da lesão tecidual envolvendo a ação de estímulos físicos e químicos • Dor percepção do estímulo deflagrado por processos que envolvem estruturas da medula espinal e do encéfalo • Sofrimento processos cognitivos e afetivos podem determinar a interpretação do estímulo doloroso Classificação da Dor Aguda: DOR DOR causada por traumas prognóstico predizível Não maligna: severa e incapacitante Crônica: Maligna: progressiva, desfigurante e morte DOR DOR CRÔNICA SEVERA “É um estado de sofrimento total e tão difícil de imaginar para quem não está sofrendo que eles simplesmente não podem entender por que os que sofrem daquela dor algumas vezes preferem morrer a continuar vivendo sem alívio.” Rosenfeld A. The Truth About Chronic Pain. New York, NY: Basic Books; 2003. Prevalência de doenças associadas com dor significativa Prevalência E.U.A. (milhões) 60 54.6 50 43 40 40 30 20 25 16 15.7 Dor lombar Artrite Enxaqueca Osteoporose Osteoartrite Diabetes Artrite reumatóide Fibromialgia 10 2.5 2 0 AmericanPharmacists Association, 2004 IMPACTO DA DOR FÍSICA • Habilidade funcional • Fadiga/fraqueza • Sono e descanso • Náusea • Apetite • Constipação SOCIAL • Cuidador • Papel • Aparência • Função afetiva/sexual DOR TOTAL Adaptado de Ferrell et al. Oncol Nurs Forum. 1991;18:1303–9. PSICOLÓGICA • Ansiedade • Depressão • Lazer • Aflição • Felicidade • Dor • Atenção/Cognição ESPIRITUAL • Sofrimento • Significado da dor • Religiosidade DOR – O.M.S. PULSO PRESSÃO 5o. SINAL VITAL RESPIRAÇÃO TEMPERATURA DOR – como medir? 1. Escala Visual Analógica (EVA) 0 cm 10 cm 2. Escala Numérica 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 DOR – como medir? 3. Escala Descritiva Dor leve Sem dor Dor grave Dor moderada 4. Escala Faces Pior dor possível Dor muito grave Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations recomenda a avaliação da dor como rotina Direitos do paciente em tratamento da dor – Relato será acreditado – A resposta será rápida – Dor será avaliada e re-avalida sempre que necessária – Pacientes serão educados sobre o manejo da dor http://www.jointcommission.org/ DOR SUB-TRATADA Populações – Idosos, crianças Em todos os níveis de atendimento – Hospitais, dor pós-operatório, dor câncer, crônicas não-malignas DOR SUB-TRATADA FATORES DE RISCO Dores não relacionadas ao câncer “boa” performance status Idade > 70 anos Mulheres Cleeland et al. N Engl J Med. 1994;330:592–6. BARREIRAS NO TRATAMENTO Estrutura da saúde Pacientes Profissionais BARREIRAS NO TRATAMENTO: Sistemas de Saúde Baixa prioridade do manejo da dor Falta de padrões claros para fazer do alívio da dor prioridade Regulação restritiva Falha em distingüir claramente: - Uso apropridado do medicamento - Abuso Suporte financeiro inadequado Tratamento da dor não acessível PROGRAMA PARANÁ SEM DOR Padronização de Medicamentos (25) Capacitação de Prescritores Cadastro de Farmácias Dispensadoras Cadastro de Pacientes Dispensação Reposição mensal de acordo com mapa de consumo http://www.saude.pr.gov.br/ParanaSemDor/index.html BARREIRAS NO TRATAMENTO : Pacientes Relutância em relatar a dor – Acreditam que a dor é inevitável: “sofrer em silêncio” – Medo que a doença indique avanço da doença – Medo que o médico se distraia do tratamento primário da doença BARREIRAS NO TRATAMENTO : Pacientes Relutância em tomar os medicamentos: Não-adesão – Medo do vício – Medo de parecer fraco – Barreiras culturais e padrões religiosos – Desconforto com a via de administração – Medo das RAM não controláveis OMS, 2003 BARREIRAS NO TRATAMENTO : Profissionais da Saúde Não treinados no manejo da dor, falta de conhecimento sobre as terapias atuais Medo dos esquemas terapêuticos com medicamentos Medo de adição Medo de tolerância aos analgésicos e efeitos adversos BARREIRAS NO TRATAMENTO : Profissionais da Saúde Fragmentação do cuidado do paciente Falta de mecanismos sistemáticos de avaliação e seguimento da dor Falta de relatos de prática no tratamento BARREIRAS NO TRATAMENTO : Farmacêuticos Falta de educação – 33% acreditam que o pacte se tornará dependente se opióides forem tomados diariamente por 1 mês – 42% disseram que adição era uma dependência física e tolerância – 47.2% pensavam que a prescrição de opióides por mais que alguns meses para dor nãomaligna deveria ser desencorajada Medo – 17% relataram moderada a completa relutância em armazenar opióides devido a investigações federais Greenwald BD et al. J Pain Symptom Manage. 1999;17:369–75. Entendendo a terminologia... DEPENDÊNCIA FÍSICA: Neuroadaptação do organismo à presença de um opiáceo, caracterizandose pelo quadro de abstinência, se o opiáceo é suspenso, a dose é reduzida rapidamente ou administrado um antagonista Normal, não indica adição O alívio da dor no câncer, 2003 Entendendo a terminologia... TOLERÂNCIA: - Estado de adaptação na qual a exposição a um medicamento induz a mudanças que resultam na diminuição de um ou mais efeitos ao longo do tempo - Reação normal O alívio da dor no câncer, 2003 Entendendo a terminologia... ADIÇÃO - Dependência Psicológica: comportamento caracterizado pelo desejo intenso de experimentar os efeitos da droga e uma obsessão irresistível em obtê-la e usá-la. - Características: uso compulsivo, descontrolado O alívio da dor no câncer, 2003 Entendendo a terminologia... COMPORTAMENTOS QUE SUGEREM ADIÇÃO: – Administração de múltiplas doses juntas – Falta de adesão com outros medicamentos – Relatos de perdas e roubos – Isolamento de familiares e amigos Definitions related to the use of opioids for the treatment of pain. AAPM, APS, ASAM, 2001. Entendendo a terminologia... PSEUDOADIÇÃO: - Descreve paciente com comportamentos para obtenção de medicamentos, quando doses ou intervalos são inadequados - Comportamento cessa quando a dosagem é adequada - Não confundir com adição. Definitions related to the use of opioids for the treatment of pain. AAPM, APS, ASAM, 2001. Manejo Farmacológico da Dor Crônica Manejo Farmacológico da Dor Crônica Objetivos : Controle da dor Melhorar as funções do paciente Estabilizar as relações familiares Buscar uma vida ativa Otimizar os recursos financeiros Belgrade MJ. Postgrad Med. 1999;106:115–6, 119–24. Marcus DA. Am Fam Phys. 2000;61(5):1331–8, 1345–6. Manejo Farmacológico da dor no Câncer 24,6 milhões de pessoas vivem com câncer Sintoma + freqüente Depende do estadiamento e da localização do tumor 75% é da própria enfermidade 20% secundária ao tratamento 5% outros Incidência da dor aumenta com a progressão da doença Tratamento do Câncer Alívio da dor oncológica e cuidados paliativos Tratamento do Câncer Alívio da dor oncológica e cuidados paliativos Tratamento do Câncer Alívio da dor oncológica e cuidados paliativos Manejo Farmacológico da dor no Câncer ● ● ● ● ● Pela boca Pelo relógio Pelo paciente Pela equipe Pela escada World Health Organization (1986) Cancer Pain Relief. Geneve Manejo Farmacológico da dor no Cancer Escada terapêutica OMS Manejo Farmacológico da dor no Câncer MEDICAMENTO DOSE DOSE máx.dia Paracetamol 500-1000 mg 4-6 h 4 000 mg Diclofenaco 50 mg 8-8 h 150 mg Codeína 30-60 mg 4-6h 360 mg Tramadol 50-100 mg 6-8 h 400 mg A partir de 10 mg 4-4 h Não há A partir de 30 mg 12-12 h Não há A partir de 5 mg 8-12 h Não há Morfina (imediata) Morfina (cronometrada) Metadona Não Opióides Paracetamol ● Ação a nível central ● Compatível com AINH ● Precaução na Insuficiência Hepática ● Dose recomendada = até 4 gr diárias ● Tolerado por pacientes com antecedentes de gastrite e úlcera Antiinflamatórios não hormonais ● Particularmente úteis na dor associada a inflamação e metástases ósseas; ● Tendência ao uso dos inibidores da COX-2; ● Todos têm “efeito teto”. Opióides: ● Medicamentos analgésicos derivados naturais ou sintéticos do ópio. Fracos: Tramadol CLASSIFICADOS EM: Codeína Fortes: Morfina Fentanil Metadona Oxicodona Opióides Fracos Tramadol: ● ● ● ● ● Versatillidade no uso parenteral; Variedade de apresentações uso oral; Associação com paracetamol diminui os efeitos colaterais porque permite dose menor do tramadol, com efeito analgésico potencializado. O uso do tramadol oral em doses até 50mg é economicamente aceitável. Tramadol de 100 mg cada 6 horas: opção de tratamento mais onerosa entre os eqüipotentes. Codeína: ● Potente antitussígeno; poderoso obstipante. ● Uso oral a cada 4 horas; ● ● Associação com Diclofenaco = inviabiliza o uso regular e recomendado da codeína, a cada 4 horas. Habitualmente bem tolerado. Opióides Fortes Morfina ação rápida: ● ● ● ● Primeira escolha no uso de opióides fortes para titulação de doses; Excelente perfil de segurança por via oral em dose inicial de 5 a 10 mg cada 4 horas. Versatilidade para uso parenteral; Segurança no uso por via SC ou infusão contínua. Morfina ação rápida: –+ de 3 doses de resgate aumentar dose –Reações adversas: Laxantes, náuseas, sedação, secura da boca, prurido, depressão respiratória Morfina de Liberação Cronometrada: ● Opção no tratamento contínuo; ● Não pode ser usada por sondas; ● Não deve ser diluída em meio líquido; ● ● Bom para paciente com habilidade para deglutir; Vantagem do uso em duas doses diárias. Oxicodona: ● ● ● ● Opióide sintético; Mais potente que a morfina por maior biodisponibilidade; Sistema bifásico de liberação; O comprimido não pode ser quebrado ou amassado; nem usado por sondas. Metadona: ● ● ● ● Opióde forte, sintético; Opção de menor custo entre os opióides; Restrições ao uso por via SC, com relatos de celulites de repetição. Meia vida prolongada requer vigilância médica contínua e habilidade no manejo de doses e titulação. Fentanil Transdérmico: ● ● ● Perfil de ação semelhante à morfina; Deve ser usado após titulação de doses; Troca do adesivo a cada 72 horas; Conforto terapêutico; Praticidade; Facilidade com o cuidador. Excelente adesão ao tratamento. COADJUVANTES ANTIDEPRESSIVOS Amitriptilina ANTICONVULSIVANTES Carbamazepina, Fenitoína, Gabapentina CORTICOSTERÓIDE Dexametasona HAJA INTERAÇÃO ! ! ! Equipe Interdisciplinar do Manejo da Dor Farmacêutico Médico Paciente/Família Enfermeiro Atenção Farmacêutica Educação ao Paciente Programas de prevenção e saúde - Diminuição de reações adversas – Diminuição de custos Farmácia: Hospital – Melhorar resultados da terapia American Society of Hospital Pharmacists. ASHP statement on pharmaceutical care. Am J Hosp Pharm. 1993;50:1720–3. Oportunidades Identificar,resolver e prevenir PRM – Falhas nas indicações – Seleção de medicamentos inadequada – Dosagem subterapêutica – Falha em receber a medicação Oportunidades - Atividades • • • • Avaliação da prescrição médica Garantir medicamentos sem demoras Identificar possíveis interações Conselho e educação de outros profissionais da saúde sobre medicamentos pra dor • Estar disponível para consultas e suporte dos médicos prescritores Oportunidades - Atividades • Educar o paciente sobre a medicação Benefícios esperados, RAM potencias e manejo Importância da adesão • Explicar as regras de substâncias controladas desfazer desentendimentos Oportunidades - Atividades • Prover empatia e compaixão – Pacientes frustrados e nervosos • Recomendar ajustes terapêuticos custoefetividade • Participar de discussões sobre a regulação de medicamentos controlados • Estar atento às novidades FARMACOGENÉTICA & DOR Oportunidades - Atividades •Desenvolver protocolos do manejo da dor – Materiais de educação ao paciente –Formulários de documentação Oportunidades - Atividades •TABELA GISTO Definir Objetivos • Econômicos – Custos totais de medicamentos, visitas médicas ou ao PS, duração de hospitalizações – Avaliação da dor, status funcional, satisfação • Relacionados ao Medicamento – Identificar problemas, recomendações aceitas, adesão do paciente – Reforçar treinamentos para novos – Taxas Farmácia Comunitária • Implementação de programa de manejo da dor • Mudanças no atendimento • Plano para cada paciente – Contato com médico se necessário – Ajudar o paciente a se comunicar com o médico Farmácia Hospitalar • Estabelecer programas de acreditação hospitalar para manejo da dor (JCAHO) • Ajudar médicos e enfermeiras na identificação de pacientes que necessitam • Consulta farmacêutica, avaliação, recomendações de tratamento, determinar respostas • Desenvolver programas informatizados Farmácia Hospitalar • Farmacêutico tem papel ativo na seleção de medicamentos, caixa para visita domiciliar, educação de outros profissionais, determinações de farmacoeconomia • Ensino de novos residentes, enfermeiras • Desenvolver novos protocolos [email protected]