Artigo revistapotencia Linkedin.com/revistapotencia www.hmnews.com.br Gestão de estoque A sogra, os paradigmas e as Necessidades e experiências do passado levam empresários a cometer erros na gestão do estoque. U m amigo próximo sempre foi pródigo em elogios à comida de sua sogra. Molhos, massas, carnes e tudo mais que viesse da cozinha italiana era descrito com riqueza de detalhes, deixando toda a turma com água na boca. Era possível sentir o gosto da comida sem experimentar. Do mesmo jeito que a comida impressionava o amigo, a confusão da casa também. A casa e a despensa se confundiam como se fossem um ambiente só. Havia molho de tomate armazenado no armarinho do banheiro, linguiça secando no varal e vasos de temperos por todo o quintal. Tudo, tudo mesmo, em quantidades suficientes para que a torcida do Palestra viesse almoçar e ainda levasse uma marmita para o jantar. O genro, que trabalhava em uma grande multinacional, tentava argumentar e trazer alguma racionalidade para o almoço dominical. Era sempre rebatido com argumentos que traziam a memória sentimental da Nona. Os dias de incerteza no passado forjaram alguns paradigmas relacionados ao consumo. Era a escassez da guerra, a inflação galopante dos anos 80, a amiga que imigrou junto ao Brasil e montou uma loja de conservas no Mercadão, enfim, o excesso de insumos era justificado por razões possíveis, mas muito pouco prováveis de ocorrerem novamente. A Nona estava presa aos paradigmas que foram construídos, por ela mesma, durante a sua vida, fruto das duras e das boas experiências. Descrevendo a situação da Nona, fica difícil imaginar que o mesmo repita-se no mundo corporativo. Repete-se e, pior de tudo, com uma frequência maior do que poderíamos imaginar. O excesso grassa, para a nossa desgraça. São as peças sobressalentes daquela máquina importada que foi aposentada há mais de cinco anos, são as correias de borracha que já racharam pelo tempo, as lâmpadas de filamento que consomem um monte de energia – já banidas na empresa, por sinal - e um monte de peças que ninguém sabe mais em quais máquinas serviriam. Difficulties in the past often lead businessmen to make mistakes in inventory management in the present. The result of these mistakes leads to wasting time and money, the loss of products that become obsolete and, of course, the reduction of market competitiveness. 44 potência Tudo vai sendo acumulado naquele galpão de lona alugado especialmente para este fim. Outras vezes, “para economizar”, as empresas vão guardando nos espaços que sobraram dentro da produção mesmo e, “de vez em sempre”, no transporte do produto acabado, ocorre uma riscadinha que obriga a um retrabalho na linha. Algumas vezes, os argumentos para se livrar de todo este custo são similares aos da Nona – inflação, dificuldade na importação, possibilidade eventual do uso. Outras vezes são pela disponibilidade de pessoal para organizar a bagunça, razões contábeis para não baixar aqueles valores do estoque ou o famoso “aqui sempre foi assim”. Todas estas razões foram construídas, pela organização mesma, através de suas experiências duras e boas durante a sua existência. É a Cultura Organizacional criando paradigmas. Igualzinho ao caso da Nona. Qualquer que seja a situação, o caldo fica cada vez mais caro do que o frango, tornando-se um dreno perpétuo de recursos. Ao entrarem nos estoques, os gestores deveriam visualizar pilhas de dinheiro rendendo juros, ao invés de peças sobressalentes. Ao entrarem na produção, os gestores deveriam visualizar a rapidez, flexibilidade, preços e qualidade de seus Las dificultades en el pasado a menudo llevan los empresarios a cometer errores en la gestión de inventarios en el presente. El resultado de estos errores conduce a la pérdida de tiempo y dinero, la pérdida de productos que se vuelven obsoletos y, por supuesto, la reducción del nivel de competitividad en el mercado. Ano XI Edição 111 Março’15 Opinião Artigos exclusivos escritos por reconhecidos especialistas do mercado. Opinion Exclusive articles written by recognized market experts. Opinión Artículos exclusivos escritos por reconocidos expertos del mercado. compras estratégicas tes sempre aplicam mais de uma ferramenta diferente, maximizando os benefícios de cada ferramenta às características específicas dos envolvidos. Não há receita pronta. As “blanket orders” são ideais para produtos com consumo recorrente. Há a emissão de apenas um pedido para um longo período de tempo, geralmente um ano, e com preço fixo. Esta modalidade traz várias vantagens para os dois lados: possibilita economia na emissão de vários pedidos mensais – reduzindo custos administrativos -, descontos maiores nos preços pelo incremento na quantidade, previsibilidade para o fornecedor, redução de tempo gasto em procurement – pelo comprador - e desenvolvimento da competência para gerir SLAs (Acordo de Nível de Serviços) em produtos recorrentes e com baixa probabilidade de conflitos entre fornecedor e comprador. Lembrando a importância e complexidade que os SLAs vêm adquirindo. Como nada é perfeito, as “blanket Os gestores devem visualizar a rapidez, flexibilidade, preços e qualidade de seus produtos, ao invés de manter estoques elevados. orders” apresentam algumas dificuldades contornáveis. As quantidades totais e parciais são estabelecidas com base no consumo médio do período anterior. Para a manutenção dos preços e descontos, os fornecedores podem exigir que dentro do prazo de entrega acordado, o comprador conclua pedidos entre 70 a 90% do que foi previsto originalmente. Outra questão é a dos possíveis aumentos ou diminuições na demanda. Ao invés de modificar as quantidades por entrega, as partes mantêm flexibilidade no período ENTRE as entregas. Aumentou o consumo, reduz-se o prazo de entrega. Diminuiu o consumo, aumenta-se o prazo de entrega. Note que não há necessidade de custos administrativos extras ou manutenção de estoques acima do nível de segurança no ponto de utilização. Qual a vantagem para o gestor de MRO? Ele poderá manter mais foco em desenvolver compras estratégicas, que são as que realmente geram valor e caixa para a organização. Usando o exemplo análogo ao da Nona, ao invés dela perder tanto tempo limpando e organizando as latas de molho de tomate, poderia desenvolver receitas novas. Apesar de serem deliciosos, até o Nono já estava enjoado do polpetone. Cristiano Faé Vallejo vice-presidente Latam da Consultoria em Supply Chain Americana ISCS, secretário-executivo do INRE – Instituto Nacional de Resíduos, e professor no INBRASC e na Universidade Corporativa FENABRAVE. Foto: Divulgação produtos, ao invés de ficarem obnubilados pela falsa segurança que um estoque elevado de insumos pode produzir. Em linhas bem gerais, este é o conceito “lean”, que remove todas as atividades que não agregam valor ao negócio, notadamente, as atividades que acabam confundindo-se no tempo com o custo de fazer negócios. No caso de MRO e indiretos: gerenciamento de inventários e estratégias de reabastecimento, por exemplo. Indo para o específico, quais são as ferramentas que o gestor da área pode utilizar? Há um leque cada vez maior de opções. Cada uma se adapta melhor para o conjunto: comprador, vendedor e produto. Temos VMI – Vendor Managed Inventory -, consignação, terceirização de compras de baixo valor, e-procurement, vendor machines, categorias em contrato, as lojas in house - para as empresas maiores-, e as “blanket orders”, os pedidos cobertor na tradução literal. As empresas mais eficien- potência 45