Congresso Paulista de Medicina do Trabalho Navio Zenith – 21 a 25/01/2012 Cardiologia e Trabalho Condutas do médico do trabalho em relação a hipertensão arterial sistêmica José Carlos Dias Carneiro Especialista em Cardiologia e Medicina do Trabalho pela SBC e ANAMT - AMB 1 Epidemiologia das DCV HAS = 57% dos casos de AVC e 47% de DAC USA > 70 milhões de hipertensos Brasil > 30 milhões – Principal causa de morte – Cerca de 30% dos óbitos são relacionados às DCV – Excluindo-se os óbitos por causas mal definidas e por violência ≈ 40% – DCV é 8 vezes mais freqüente que CA mama – Há estimativa de quase 1 bilhão de hipertensos no mundo 2 Epidemiologia das DCV HAS = 57% dos casos de AVC e 47% de DAC USA > 70 milhões de hipertensos Brasil > 30 milhões – Principal causa de morte – Cerca de 30% dos óbitos são relacionados às DCV – Excluindo-se os óbitos por causas mal definidas e por violência ≈ 40% – DCV é 8 vezes mais freqüente que CA mama – Há estimativa de quase 1 bilhão de hipertensos no mundo 3 Cardiovascular diseases, cancer, chronic respiratory diseases and diabetes mellitus are the major chronic diseases in the world Source: WHO - Preventing chronic disease, a vital investment. WHO global report, Geneva, 2005. AIDS Tuberc Malaria CVD Cancer Resp Others Number and causes of death worldwide, 2005 4 5 45% 44% 43% HIPERTENSÃO 40% 33% 35% 32% 30% 25% 26% 22% 20% 15% 10% 5% 0% Araraquara São Paulo Piracicaba 1990 1990 1991 P. Alegre 1994 Cotia 1997 Catanduva 2001 6 TRANSIÇÃO URBANA MODIFICAÇÃO PERFIL DOS RISCOS RESPOSTAS METABÓLICAS DCV •↓ Mortalidade por • Obesidade •↑ Tabagismo doenças infecciosas • ↓ Ativdade física • ↑ Diagnóstico e Tratamento • ↑ Expectativa de vida • Dislipidemia • Mudanças dieta a (↑gorduras saturadas e ↑ calorias) • ↑ Estresse • Hipertensão • Diabetes Ôunpuu, S; Anand,S; Yusuf, S. EHJ, 2000; 21: 880-883 7 Avezum,A.; Piegas, L.S. Arq Bras Card, 2005; 84:206-213 8 Estima-se que em 2040 o Brasil seja o país com maior número de casos de morte por DCV no mundo 300 250 200 % 150 100 50 0 EUA Portugal Rússia África do Sul Índia China Leeder S et al – A race against time: The challenge of cardiovascular disease in developing economies. Earth Institute at Columbia University - 2004 Brasil 9 Estudo de Framingham - Coorte iniciada em 1948, 5209 ptes de 30-60 anos e reavaliados a cada 2-4 anos e seguidos desde então - Tabagismo; - elevação da PA; - níveis elevados de LDL; - níveis baixos de HDL; - diabete melito; - história familiar; - obesidade; - Obesidade central; - Sedentarismo; - sindrome metabólica... 10 Fundamentos da Prevenção das DCV Estudo INTERHEART – DAC 52 paises ≠ etnia; ≈ 80% paises renda • 9 FR globalmente associados ao IAM - simples de detectar e modificáveis (HAS, Diabetes, Dislip, Tabag, Obesidade, Fatores Psicossociais, Aliment frutas/verd, Consumo discreto de álcool e Atividade física regular) • Alterações lípides e tabagismo são os FR mais relevantes (dieta saudável, atividade física e cessar tabagismo são cruciais para prevenção da DCV) Estudo AFIRMAR (IDPC) – 3500 ind, 51 cidades, 22 estados • FR : tabagismo, obesidade abd, glicemia>125, HAS, hist fam DAC Yusuf S Eur Heart J, 2004 Avezum e cols. Arq Bras Card, 2005 11 INTERHEART FR e Risco Relativo dislipidemia ↑ 3.25 vezes Tabagismo ↑ 2.87 “ Diabete melittus ↑ 2.37 “ Hypertensão ↑ 1.91 “ Obesidade ↑ 1.62 “ Estresse e depressão - ↑ 2.67 12 HIPERTENSÃO Pressão Sistólica → Risco Relativo de AVC • 130 a 139 mmHg → 2,98 • 140 a 149 mmHg → 4,16 • 150 a 159 mmHg → 6,50 • 160 a 169 mmHg → 7,40 • 170 a 179 mmHg → 12,09 • ≥ 180 mmHg → 20,00 *Framingham 13 HAS - Diagnóstico e Tratamento segundo as metas • Prevalência de 22.3% a 43.9% na população adulta – 51% sabem ter a doença * (USA 70%) – 40% tratam * (USA 59%) – 10% sob controle *(USA 34%) Fonte: NHANES IV (1999-2000), CDC, USA 14 About 70% of patients in Europe do not reach the desired target blood pressure* 100 60 79 70 81 72 England Sweden Germany Spain Italy Pacients (%) 80 60 40 20 0 BP controlled BP uncontrolled 15 *PA < 140/90 mmHg Hypertension 2004;43:10–17 HYPERTENSION Percentual decline in rates of age-adjusted mortality for stroke, by gender and race: USA, 1972-94 0 DECLÍNIO HOM EM B R A N C O M ULH E R B R A N C A HOM EM N EGR O M ULH E R N E G R A -10 -20 -30 -40 -50 -60 -70 1971 1975 1980 1985 1990 1994 ANO 16 HYPERTENSION Percentual decline in rates of age-adjusted mortality for coronary heart disease, by gender and race: USA, 1972-94 0 DECLÍNIO HOM EM B R A N C O M ULH E R B R A N C A HOM EM N EGR O M ULH E R N E G R A -10 -20 -30 -40 -50 -60 -70 1971 1975 1980 1985 1990 1994 ANO 17 Fonte: VI Diretrizes da HAS 18 Fatores de risco cardiovascular adicionais aos pacientes com HAS Idade do paciente (homem > 55 e mulheres > 65 anos) História familiar prematura de doença cardiovascular: - homens < 55 anos e mulheres < 65 anos Tabagismo Dislipidemias: - LDL colesterol > 100 mg/dl; - HDL < 40 mg/dl; - triglicérides ≥ 150 mg/dl; Diabetes melito 19 Identificação de lesões subclínicas de órgãos-alvo ECG com HVE ECO com HVE Espessura médio-intimal de carótida > 0,9 mm ou presença de placa de ateroma Índice tornozelo braquial < 0,9 Depuração de creatinina estimada < 60 ml/min/1,72 m2 Baixo ritmo de filtração glomerular ou clearance de creatinina (< 60 ml/min) Microalbuminúria 30 – 300 mg/ 24h ou albumina/creatinina > 30 mg/g 20 Condições clínicas associadas a hipertensão Doença cerebrovascular (AVE: AVEI/AVEH; alteração da função cognitiva) Doença cardíaca (infarto, angina, revascularização coronária, insuficiência cardíaca) Doença renal: nefropatia diabética, déficit de função (clearance < 60 ml/min) Retinopatia avançada: hemorragias ou exsudatos, papiledema Doença arterial periférica 21 Estratificação do risco cardiovascular global: risco adicional atribuído à classificação de HAS de acordo com fatores de risco, lesões de órgãosalvo e condições clínicas associadas 22 Fonte: VI Diretrizes23 da HAS Epidemiologia do Diabetes melito Segundo dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a epidemia de diabetes é uma realidade. Em 2000, havia 171 milhões de pessoas no mundo com DM. Nas projeções da ADA (Associação Americana de Diabetes), a população diabética será de 366 milhões de pessoas em 2030. A estimativa, no Brasil, é que metade das pessoas desconhece a doença. Na maior parte dos casos, as pessoas só descobrem que têm a enfermidade quando as complicações estão instaladas (vasculares, renais, etc). 24 Diagnóstico e seguimento de DM Glicemia de jejum >126 (2 x) Glicemia casual (>200 ) TOTG (> 200, 75 g) HbA1c (ADA, ≥6,5%) 25 Variáveis a serem consideradas no exame ocupacional: Avaliar as funções, algumas especiais: Motoristas, Op. de equiptos móveis,... Características da Atividade (esforço físico intenso, levto/transp pesos, posturas,...) Produtos químicos Ruído, vibração, radiações não-ionizantes… Trabalho em altura, noturno, … Espaços confinados Estresse (tempo-prazos, jornadas, tarefas..) Terceirização (e precarização) de MO Avaliação de possíveis doenças que coloquem em risco a integridade física própria e/ou dos demais (ex: HAS, DM, neurológicas, aspectos nutricionais,...) Não basta observar anexos da legislação e os LT’s Aptidão ao trabalho envolve a análise criteriosa da função Boa gestão em SST = boa qualidade de exame médico ocupacional 26 Desgraça pouca é bobagem... Solventes • Ação arritmogênica • Ação depressora do miocárdio • Exposição em baixas doses ou em altas doses • Volatilidade Monóxido de Carbono • curva dissociação do O2 • cefaléia, dispnéia, taquicardia, síncope até PCR. • mecânicos, motoristas, soldadores em tanques,etc. Outros agentes: Ruído, Stress, Frio, Calor,... 27 Exame Físico Ocupacional - História clínica e anamnese ocupacional - Exame Clínico boa qualidade - Os exames são complementares ao exame clínico - Analisar custo/efetividade dos exames 28 RISCOS ESPECÍFICOS “Funções Especiais”: Motoristas/Operadores de Equipamentos Móveis; Trabalho em Altura; Espaços Confinados Físicos (ruído, vibração CI ou VL, RNI) Ergonômicos Acidentes Químicos (gases, particulados, …) - Exames para perfil de saúde cardiometabólico - Exames para Avaliação Neurológica 29 Legislação para CNH PEQUENO RISCO Cat A CNH – 2 ou 3 rodas, motor de propulsão Ex Clínico e ECG ” SN”, Avaliação Cardiológica “SN” MÉDIO RISCO A2 do DER – trator, etc, desde que não conduzidos em via pública e Cat B CNH – até 3,5 ton e < 8 pass Ex Clínico e ECG ” SN”, Avaliação Cardiológica “SN” GRANDE RISCO Grupo I Cat C CNH – transporte de mercadorias até 3,5 ton e Cat D CNH – transporte > 8 pass (escolares, lotação) Ex Clínico e ECG todos, Teste Ergométrico se > 40 anos Avaliação Cardiológica “SN” GRANDE RISCO Grupo II Cat E CNH – veículos > 6 ton ou lotação >20 pass (caminhões, carretas, ônibus) Ex Clínico e ECG todos, Teste Ergométrico se > 40 anos Avaliação Cardiológica “SN” Confesp, Unimed Paulistana 30 EXAMES COMPLEMENTARES para “Funções Especiais” – antes de complementares: um BOM exame clínico, com bom histórico clínico e ocupacional e Acuidade Visual, precedido de avaliação psicológica – PRÉ-ADMISSIONAL (só devem ser encaminhados após teste de avaliação psicológica) Audiometria Glicemia de jejum Eletrocardiograma Teste Ergométrico (apenas > 40 anos, dependendo da carga/veículo) Eletroencefalograma (*) -PERIÓDICOS - Audiometria - Glicemia e ECG apenas se > 40 anos -DEMISSIONAL – Audiometria 31 ATENÇÃO COM ESTAS “FUNÇÕES ESPECIAIS”: Convulsões (epilepsia?) – EEG pode ser normal em cerca de 10% portadores Epilépticos – EEG 50% positivos e ↑ 90% se associado a métodos de ativação (fechamento ocular, fotoestimulação, sono, estímulos sonoros, etc.), mas tb pode ser falso positivo em 2 a 7% em não epilépticos DMID – não deve operar equiptos ou transportar de passageiros Etilismo HAS não controlada Arritmias Cardíacas DAC Miocardiopatias Doenças Valvulares Outras Doenças Crônicas Não-Transmissíveis 32 Quais os critérios na Avaliação de “Funções Especiais” USA, Califórnia – médico é obrigado a informar casos de perda de consciência Itália – Art.320, DPR nº 495/92 – impedimento em emitir ou confirmar habilitação a quem sofre de DCV incompatível com a segurança...(Grupo I e Grupo II - >3,5 Ton e Intermed – decisões delegadas ao Médico do Trabalho) ESC – Task Force para Driving and Syncope que tem sido usado por cardiologistas em pareceres e pelos Medicos do Trabalho (HD síncope: o que fazer?) Conduta: Avaliação metabólica, cardiológica e neurológica! 33 OPERADOR DE MÁQUINAS, TRABALHO EM ALTURA, ESPAÇOS CONFINADOS (há risco de síncope?) Avaliação Neurológica: Convulsões (epilepsia?) – EEG pode ser normal em + ou - 10% portadores, lembrando que nos Epilépticos o EEG é positivo em 50% e 90% se associado a métodos de ativação (fechamento ocular, fotoestimulação, sono, estímulos sonoros, etc) Avaliação Metabólica: DMNID (apto e controle) DMID (inapto) Etilismo? Avaliação Cardiológica: HAS não controlada Arritmias Cardíacas Doença Coronariana e outras doenças cardíacas 34 Qual a conduta se há risco de síncope? Avaliação Cardiológica: HAS – controlar antes de liberar (VI Diretrizes HAS) ECG alterado – hipertrofias, arritmias, bloqueios de ramo, BAV, devem ser sempre investigados e solicitado relatório do Cardiologista informando se está liberado para operar equipamentos móveis, trabalhar em altura, etc... Teste Ergométrico – idem 35 Avaliação Metabólica DMNID – ajustar glicemia antes de liberar DMID – Inapto para direção de alguns equipamentos móveis (operador de grua, transporte de cargas, transporte de passageiros,...) Dislipidemias – introduzir MEV + tratamento medicamentoso (SN) 36 MOTORISTA VEÍCULOS PESADOS, PASSAGEIROS, OPERADOR DE MÁQUINAS, TRABALHO EM ALTURA, ESPAÇOS CONFINADOS Qual a conduta se há risco de síncope? EEG - lembrar que 5% dos adultos já teve algum episódio convulsivo, não necessariamente epiléptico e que até 10% dos exames EEG são normais em portadores de epilepsia e que pode ser falso positivo entre 2 a 7% daqueles sem epilepsia. O exame clínico pode suspeitar pelas cicatrizes sugestivas. Alguns países restringem o tipo de habilitação, mas no Brasil a legislação é omissa. Suspeita: solicitar avaliação do Neurologista especificando as atividades que serão desempenhadas, condições e o local de trabalho. 37 Aspectos Práticos no PCMSO: Solventes Ação arritmogênica: ↓ limiar p/ efeitos catecolaminas → depressão automatismo → focos ectópicos Ação depressora do miocárdio: ↓ contratilidade → miocardiopatia Exposição em baixas doses – “sensibiliza” para arritmias por provável depressão do automatismo Exposição em altas doses – depressão NSA com bradicardia e até PC ou bloqueios por depressão do NAV Voláteis – as arritmias, por vezes, são detectadas no ambiente de trabalho 38 Aspectos Práticos no PCMSO Monóxido de Carbono - > afinidade lig Hb; ↓O2 na Hb; altera curva de dissociação do O2 - necroses focais → arritmias - cefaléia, tonturas, confusão mental, náuseas, dispnéia, taquicardia, síncope até PCR - Em espaços confinados pode haver associação com outros agentes químicos, além de ruído, estresse, calor,... 39 “ A utopia não tem obrigação de apresentar resultados. Sua única função é permitir a condenação do que existe em nome daquilo que não existe.” Jean François Revel Será a generalização da boa gestão em SST uma UTOPIA? 40 CNAE (X) CID = NTEP → FAP A15 – 19 (Tuberculose) E10 – 14 (Diabetes) F10 – 19 (Transtornos Mentais – Drogas Lícitas e Ilícitas) F20 – 29 (Esquizofrenia e Transtornos Psicóticos) G40 – 47 (Epilepsia – Enxaqueca) H53 – 54 (Transtornos Visuais) I20 – 25 (Doença Coronariana) I30 – 52 (Miocardiopatias, Pericardiopatias, Arritmias…) I60 – 69 (Doença Cerebro-Vascular) J40 – 47 (Bronquite, DPOC,…) K40 – 46 (Hérnias) M00 – 25 (Artrite, Artropatias, Artroses,…) M40 – 54 (Cifose, Lordose, Dorsopatias) S00 – 99 (Traumas em todas as partes do corpo) T90 – 98 (Sequelas de traumatismos) 41 www.icohweb.org Obrigado! [email protected] 42