História da Ciência A passagem do mito à filosofia e à ciência: a origem do universo Livro básico: Martins, R. M. O universo: teorias sobre sua origem e evolução. São Paulo: Editora Moderna, 1994. Capítulos 3 e 4 http://www.ifi.unicamp.br/~ghtc/Universo/ Mudanças na Grécia Entre séculos IX e VI antes de Cristo, o mundo grego passou por profundas mudanças Mudanças na Grécia contato comercial e cultural: variedade de idéias diferentes das tradicionais classe poderosa de comerciantes: enfraquecimentos da aristocracia, maior confiança no poder individual Críticas aos mitos Alguns pensadores da Grécia antiga criticaram a visão mitológica sobre os deuses. Xenófanes de Cólofon (576-480 a. C.): deuses mitológicos são imperfeitos Críticas aos mitos Xenófanes: deuses mitológicos possuem corpo, roupa, voz = homens injustos, vingativos, adúlteros, ciumentos incompatível com a idéia de um deus Sócrates e os pré-socráticos Filosofia grega antiga: dividida entre antes e depois de Sócrates (470399 a. C.) Os interesses principais de Sócrates eram política, ética, etc. e por isso não será estudado aqui. Linha do tempo Século VII a. C. Século VI a. C. Século V a. C. Século IV a. C. Tales de Mileto (640-560) Anaximandro (610-540) Pitágoras de Samos (580-500) Anaxágoras (floruit 456 a. C.) Empédocles (floruit 450 a. C.) Sócrates (470-399) Platão (427-347) Aristóteles (384-322) Mundo grego antigo Primeiro filósofos gregos conhecidos: Thales, Anaximandro, Anaxímenes de Mileto, na Jônia Fontes documentais As obras dos filósofos pré-socráticos não foram conservadas Aquilo que sabemos sobre eles é indireto: fragmentos - frases ou trechos originais doxografia informações indiretas (comentários de autores posteriores) Objetivo dos pré-socráticos Os pré-socráticos tentaram entender o mundo como o resultado de forças naturais, embora conservando alguns elementos mitológicos. Alguns deles procuraram determinar o processo de desenvolvimento do universo, baseando-se na constância de uma matéria fundamental (arché). Thales de Mileto Thales (640-560 a. C.) Poucas frases conhecidas: A água é o princípio (arché = arh) de todas as coisas A Terra flutua sobre a água Todas as coisas estão cheias de deuses [ímã, âmbar] Anaximandro Anaximandro de Mileto (610-540 a. C.) o princípio de tudo é o apeiron [apeiron] = “o indefinido” o apeiron não é água, nem ar, nem terra, nem nada conhecido é um tipo de “matéria prima”: todas as coisas provêm do apeiron e retornam a ele quando são destruídas Anaximandro Do apeiron surgem todos os opostos (luz e trevas, calor e frio, úmido e seco...) Inicialmente, a partir do apeiron, se separaram a origem do quente e do frio. Anaximandro A parte fria se concentrou no centro, formando a terra, envolvida pelo ar, tendo em volta uma esfera de fogo Anaximandro A casca de fogo se rompe e forma tubos, cujos orifícios são o Sol, a Lua e as estrelas Anaximandro A Terra seria um cilindro em equilíbrio no centro de tudo. Inicialmente toda a Terra era úmida, mas o calor do Sol secou uma parte. Anaximandro Na cosmogonia de Anaximandro: não há poderes sobrenaturais seqüência de etapas “razoáveis” analogia com fenômenos conhecidos tenta explicar a estrutura que era aceita para o universo elementos abstratos Empédocles Empédocles (aprox. 490-435 a. C.) quatro elementos básicos (as “raízes” de todas as coisas) terra, fogo, água, ar Empédocles Ouça primeiramente as quatro raízes de todas as coisas: o Zeus brilhante [fogo], Hera [ar], Aidoneus [terra] e Nestis [água] que com suas lágrimas molha as fontes mortais Empédocles A mistura das quatro “raízes” produziria todas as coisas conhecidas Os quatro elementos não são produzidos nem destruídos: apenas se unem e separam De uma mistura inicial, os 4 elementos iriam se separando e combinando; depois eles se uniriam, destruindo todo o universo Atomismo grego Os atomistas gregos desenvolveram uma teoria materialista do universo. Leucipo, de Mileto (séc. V a. C.), de Abdera (460-370 a. C.) Epicuro (341-270 a. C.) Lucretius (98-55 a. C.) Atomismo grego Só restaram fragmentos de Leucipo e Demócrito Textos mais importantes: cartas de Epicuro “De rerum natura”, de Lucretius Atomismo grego Idéias básicas: universo infinito, eterno só existem átomos e espaço vazio átomos indivisíveis, imutáveis, eternos os átomos não se atraem tudo se forma e desfaz ao acaso Atomismo grego Infinitos átomos, movendo-se sempre no espaço infinito, criam e dissolvem diferentes mundos Atomismo grego Pelo seu movimento, os átomos podem se aglomerar ao acaso em certos lugares do espaço Atomismo grego Os átomos semelhantes se juntam, separandose dos outros, como pedras separadas pelas ondas do mar Atomismo grego Os corpúsculos mais pesados vão para o centro e espremem para fora outros mais leves. Forma-se a Terra, cercada por ar e éter Atomismo grego Os átomos se movem sempre, e vão criando e destruindo mundos de todos os tipos e de todas as formas Hendrik Terbrugghen(1628, Rijksmuseum) Atomismo grego O objetivo do atomismo era libertar os homens do medo em relação aos deuses, que os levava até mesmo a sacrificar vidas humanas a eles Atomismo grego Visão totalmente materialista do universo: a alma é constituída de átomos e se desfaz na morte não há deuses a serem obedecidos não há finalidade nem sentido no mundo: tudo ocorre por acaso Antoine Coypel (1692), Louvre Linha do tempo Século VII a. C. Século VI a. C. Século V a. C. Século IV a. C. Tales de Mileto (640-560) Anaximandro (610-540) Pitágoras de Samos (580-500) Anaxágoras (floruit 456 a. C.) Empédocles (floruit 450 a. C.) Sócrates (470-399) Platão (427-347) Aristóteles (384-322) Platão Posteriormente, Platão (discípulo de Sócrates) propôs uma visão filosófica que retornava, em parte, aos mitos e à religião. Platão A principal obra de Platão que contém suas idéias sobre o universo é o “Timeu”, que é o nome de um personagem pitagórico da diálogo “Escola de Atenas”, Rafael Platão e o “Timeu” Na “Escola de Atenas” de Rafael (1511) Platão [rosto de Leonardo da Vinci] está segurando o “Timeu” e Aristóteles sua “Ética” Platão e o “Timeu” O “Timeu” descreve a origem e o desenvolvimento do universo - desde o princípio, até a formação do homem. A cosmogonia não é apresentada como “verdade”, mas como mito Platão e o “Timeu” Terá o universo existido sempre, sem início? Ou terá ele sido criado, e teve um início? Foi criado, eu respondo, pois é visível e tangível e tem um corpo, sendo portanto sensível. E todas as coisas sensíveis são apreendidas pela opinião e pelos sentidos e estão em um processo de transformação e são criadas. Platão e o “Timeu” Embora o “Timeu” conte um mito, trata-se de um “mito filosófico”, baseado no pensamento: não é invocada nenhuma revelação divina, ou certeza mística são dadas razões para acreditar que o universo não é eterno Platão e o “Timeu” Um deus criador planeja e constrói o universo existe um caos inicial “demiourgos” = artesão bondoso, sábio cria um “kosmos” = universo ordenado procura a perfeição Platão e o “Timeu” Só Deus pode ser perfeito, mas ele cria um mundo que seja o mais perfeito possível belo auto-suficiente forma esférica movimento circular Platão e o “Timeu” ... Um corpo liso e homogêneo, tendo uma superfície em todos os pontos eqüdistante do centro, um corpo completo e perfeito ... E ele fez o universo como um círculo se movendo em um círculo, único e solitário. Platão e o “Timeu” Platão incorporou no seu mito cosmogônico os conhecimentos que existiam sobre o universo, na sua época: Terra redonda, no centro de tudo movimento circular dos céus movimento oblíquo dos planetas Platão e o “Timeu” O universo era finito (terminado em uma superfície esférica) Os astros giravam em torno da Terra, a distâncias determinadas matematicamente Platão e o “Timeu” Platão procurou demonstrar que o universo TEM QUE TER quatro elementos. 1 O universo precisava ser “sensível” e portanto precisava ser visível e palpável. 2 Necessitava portanto conter fogo (luz, visão) e terra (solidez, tato) Platão e o “Timeu” 3 O fogo e a terra são extremos opostos, e para poderem se harmonizar precisariam de algum intermediário 4 Dois quadrados podem ser harmonizados por um único intermediário A² / AB = AB / B² Platão e o “Timeu” 5 No entanto, os corpos são sólidos e só podem ser harmonizados por dois intermediários A³ / A²B = A²B / AB² = AB² / B³ Platão e o “Timeu” 6 Por isso, além dos extremos (fogo e terra) é necessário que existam outros dois elementos intermediários, para que o universo seja harmonioso. Fogo / Ar = Ar / Água = Água / Terra Mito Filosófico “Timeu” descreve um mito: um ser sobrenatural que cria tudo No entanto, esse deus é racional, e por isso o universo é compreensível, obedecendo a leis geométricas e matemáticas Novo enfoque! • Discussões sobre a origem de todas as coisas • Busca daquilo que existe por trás dos fenômenos observáveis Tais objetivos não podem ser alcançados pela observação! Uso da razão Escola de Atenas, Rafael V a IV a.C – Atomistas, Platão, Aristóteles 0 1000 a. C 1000 d. C 1600 d. C 1800 d. C XX XXI Ciência Filosofia Religião Mitos cosmogônicos Ciência e filosofia gregas Cristianismo, Islã Geometria e Astronomia Medicina Anatomia MQ, TR Ciência Moderna O conhecimento filosófico Platão (427-347 a.C) Distinção entre opinião e conhecimento Conhecimento: • verdadeiro, seguro • captado pela razão • descreve coisas imutáveis • mundo das idéias Platão – Escola de Atenas O conhecimento filosófico Platão (427-347 a.C) Opinião: • mundo material Platão – Escola de Atenas • descreve coisas mutáveis • inseguro, provável • captado pelos sentidos Não pode existir um conhecimento seguro do mundo material O conhecimento filosófico Aristóteles (384-322 a.C) Pode haver um conhecimento seguro, imutável, sobre as coisas mutáveis • essências das coisas naturais (constantes em suas mudanças) • causas dos fenômenos (relações constantes) Aristóteles – Escola de Atenas Próximas aulas 05/04 – Discussão dos trechos “Conhecimento para Platão e Aristóteles” 12 e 19/04 - Alguns aspectos da física de Aristóteles Atividades sobre trechos de “Sobre os céus”