UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL MODALIDADE A DISTÂNCIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO INCLUSÃO DE ALUNOS SURDOS NA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL JOÃO MOREIRA SOARES Liliane Bezerra da Silva¹ Especialista em Gestão Pública Municipal - UFPB Orientadora Lucimeiry Batista da Silva² Professora do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais – UFCG, MSc Colaboradora do CGPM RESUMO Este artigo teve por objetivo investigar a inclusão dos alunos surdos na escola municipal de Ensino Fundamental João Moreira Soares. Inclusão investigada e interpretada à luz dos desafios colocados pela Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. O artigo caracterizou-se por uma pesquisa de campo e teve como instrumento de pesquisa a entrevista estruturada realizada com professores da 1ª Fase do Ensino Fundamental, pais de alunos surdos, gestor escolar e secretário de educação. O método adotado é de cunho qualitativo e a análise dos dados foi realizada por meio de análise de discurso. Os resultados indicam que os entrevistados têm pouco conhecimento sobre questões inerentes à inclusão de alunos surdos na sala regular de ensino. De acordo com os relatos foi possível perceber a insegurança e o despreparo do professor e da escola de modo geral para atender as necessidades educacionais dos alunos com surdez na sala de aula comum. Diante do cenário encontrado e o idealizado para atender as peculiaridades educacionais do aluno surdo na classe regular da instituição analisada o estudo poderá contribuir para implementação e ampliação de ações e projetos educacionais visando à acessibilidade de alunos surdos na escola investigada. PALAVRAS-CHAVE: Educação Inclusiva, Surdo, Acessibilidade, Docência. 1 INTRODUÇÃO Os desafios colocados para a educação dos alunos surdos no ensino regular são diversos e tem sido objeto de discussões, assim como de esforços, de diversos atores sociais, governo e sociedade civil organizada. As discussões em torno do processo de inclusão dos deficientes nos sistemas de ensino é secular, mas só passou a ser amplamente disseminado após o encontro das nações na Espanha (1994) que conclamava os países a adotarem o princípio da educação inclusiva, que 2 significa matricular todas as crianças em escolas regulares, nesse contexto encontra-se os deficientes auditivos (KONZEN et al., 2000). A partir da Declaração de Salamanca (1994), que em consonância com os princípios norteadores de justiça social, humanização, tolerância de forma a enriquecer a convivência de grupos sociais e a cooperação internacional proclamados pela Declaração Mundial sobre Educação para Todos, (1990) o mundo voltou-se com mais veemência para as causas dos excluídos, entre eles os alunos com surdez (KONZEN, et al 2000). Pressupõe-se que os debates em nível de Brasil e de mundo que envolve questões de inclusão social e educacional requerem visibilidade sobre a própria condição dos marginalizados, não apenas das pessoas deficientes, mas também sobre elas. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva preconiza uma educação em que todos aos alunos devem aprender em condições de igualdade, sem sofrer nem um tipo de preconceito e discriminação. E que a aprendizagem por eles desenvolvidas sejam significativas para sua formação pessoal enquanto seres dotados de potencialidades e habilidades (MEC/SEESP, 2007). Neste ponto surge a questão: será possível, fazer inclusão totalizadora nos sistemas de ensino de um país social e historicamente onde existem tantos segregados, como o Brasil? Ao se tratar da universalização do ensino, há que se levar em consideração os determinantes de um ensino de qualidade, nem sempre claros na lei; condições regionais, sociais, culturais e econômicas dos alunos, suas fragilidades e potencialidades, bem como as condições e fragilidades da instituição família e escola, devem ser considerados. Nesse contexto optou-se, então, por investigar nesse estudo sobre acessibilidade educacional dos alunos surdos na sala regular de ensino, especificamente, na escola municipal de ensino fundamental João Moreira Soares em função da realidade atual de educação inclusiva. O tema escolhido surgiu de observações e constatação, de que o aluno surdo se matricula na escola, mas tem poucas chances de aprendizagens, fazendo-se necessário investigar quais fatores contribuem para realidade observada. E a escolha se justifica pela relevância com que os teóricos discutem a temática e como suas teorias podem contribuir com a prática pedagógica do corpo docente visando a inclusão do aluno com surdez na escola analisada. Diante dos fatos observados surgiram alguns questionamentos tais como: seria a linguagem do aluno um empecilho para sua comunicação e aprendizagem no contexto escolar? Qual a importância de ter os pais como parceiros do processo ensino-aprendizagem? Quais os 3 maiores desafios a serem superados pela escola para o atendimento educacional do aluno surdo? Essas foram algumas questões instigantes que impulsionaram a realização dessa investigação dentro do propósito de uma educação de qualidade e equânime. A presente pesquisa tem como objetivo investigar não apenas o acesso e acessibilidade dos alunos surdos na sala regular de ensino, mas também em que condições os professores trabalham para atender as necessidades educacionais dos alunos surdos, de quais recursos dispõem, bem como, a disponibilidade de uma equipe de apoio especializada para subsidiar a sua prática docente. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A busca de base teórica para dar suporte aos temas envolvidos neste estudo baseou-se em alguns conceitos de temas fundamentais para a compreensão da temática. Desta forma, os tópicos foram divididos em: (i) Educação Escolar Inclusiva para Pessoas com Surdez; (ii) Participação da família no Contexto Escolar; (iii) Formação de Professores para o Atendimento de Alunos com Necessidades Educacionais Especiais e (iv) Tendências Subjacentes à Educação das Pessoas com Surdez. 2.1 Educação Escolar Inclusiva para Pessoas com Surdez No final do século XX e início do século XXI, diversos estudiosos apresentaram com suas teorias grandes contribuições à educação de surdos na escola comum, enaltecendo a valorização da diversidade no contexto social para o surdo e reconhecimento do potencial de cada um. Educar para diversidade advém de concepções de desenvolvimento que consideram as crianças nos seus contextos sociais, ambientais, culturais, nas interações e práticas sociais que lhe fornecem elementos relacionados às mais diversas linguagens e ao contato com os mais variados conhecimentos para construção de sua identidade e autonomia. Carvalho et al (1998, p.23). Segundo Pacheco et al (2007, p.14) um sistema educacional que fornece inclusão total baseia-se nas seguintes crenças e princípios: 4 todas as crianças conseguem aprender; todas as crianças freqüentam classes regulares adequadas à sua idade em escolas locais, [...] recebem programas educativos adequados, [...] recebem um currículo relevante às suas necessidades, [...] participam de atividades co-curriculares e extracurriculares, [e] beneficiam-se da cooperação e da colaboração entre seus lares, sua escola e sua comunidade. Entende-se que a aprendizagem só acontece à medida que a escola tem o aluno como centro de suas ações, acredita no seu potencial e valoriza a sua história de vida. É um espaço acolhedor, seguro e agradável, além de ter a capacidade de inovar nas suas práticas pedagógicas. Nesse sentido se concebe a escola como um lugar privilegiado para troca de experiências, informações, comunicação e interação da pessoa com surdez. Conforme Damázio (2007) a inclusão do aluno com surdez deve acontecer desde a educação infantil até a educação superior, garantindo-lhe, desde cedo, utilizar os recursos de que necessita para superar as barreiras no processo educacional e usufruir seus direitos escolares, exercendo sua cidadania, de acordo com os princípios constitucionais do nosso país. 2.2 Participação da família no Contexto Escolar A participação da família no processo de inclusão do aluno surdo é um fator essencial para interação, comunicação e aprendizagem escolar do aluno, visto que é no ambiente familiar que a pessoa com surdez desenvolve as diferentes formas de comunicação. A entrada da criança nas instituições de ensino é permeada de ansiedade expectativas tanto para criança quanto para os pais e professores podendo trazer graves problemas de interação, e comunicação quando as organizações não estão preparadas para receber o aluno deficiente auditivo (CARVALHO et al., 1998, p.79). Em relação à criança com surdez, os pais são parceiros privilegiados no processo ensino aprendizagem do aluno deficiente auditivo, podendo colaborar com a escola informando como ela se comunica e interage, bem como suas dificuldades nesse processo. A Declaração de Salamanca expressa que; aos pais deveria ser dado o direito de escolher, na medida do possível, o tipo de educação que almejam para seus filhos. E ainda propõe que a escola encoraje os pais a participarem em atividades educacionais no lar e na escola, onde eles poderiam observar técnicas efetivas e aprender como organizar atividades extracurriculares, bem como supervisionar e apoiar à aprendizagem de suas crianças. (MEC/Declaração de Salamanca, 1994). 5 Comumente as crianças enfrentam muitas barreiras ao ingressarem na escola em decorrência da perda de audição e da forma como a escola organiza sua proposta educacional, podendo prejudicá-los nas suas potencialidades cognitivas sócio afetivas, linguístico e político cultural e consequentemente no desenvolvimento da sua aprendizagem. Neste sentido, Mattos (2001) citado por Pereira e Marostega (2002), afirma: no contexto dessas dificuldades encontradas pelos surdos, considera relevante questionar como os surdos se encontram “incluídos” nas salas de aula no ensino regular. “Quase sempre, a prática nos mostra que esses alunos encontram sérias dificuldades de aprendizagem, alterações comportamentais, em abandono num canto da sala de aula, ou em tantas outras situações de dificuldades (MATTOS, 2001 apud PEREIRA; MAROSTEGA, 2002, p. 16). No sentido de encorajar os pais a participarem mais da educação dos seus filhos, a escola produz mudanças significativas no processo de inclusão da criança surda, revertendo sua prática segregadora em inclusiva quando promove por meio do seu Projeto Político Pedagógico a participação ativa e regular das famílias (OLIVEIRA, 2006). A luta por edificar uma sociedade inclusiva é um processo que começa na família e se constitui como um dos maiores desafios da educação na atualidade. Compreende-se que as relações estabelecidas entre professores, dirigentes, alunos e pais, e a dinâmica das manifestações em sala de aula, os aspectos afetivos e emocionais fazem parte das condições organizativas do trabalho docente, implicando na qualidade do processo ensino-aprendizagem. As tomadas de decisão em conjunto se constituem em atitudes positivas para o processo ensino aprendizagem do aluno surdo, visto que a família é a primeira instituição social a qual a criança pertence e nela desenvolve as mais diversificadas formas de comunicação. Ressalta-se aqui a importância de se conhecer a historicidade de vida da criança surda para que juntos; pais e escola possam traçar estratégias de ensino que melhor se aplique as necessidades educacionais da criança deficiente auditiva, bem como buscar apoio de serviços especializados com objetivo de melhorar o processo ensino-aprendizagem. 2.3 Formação de Professores para o Atendimento de Alunos com Necessidades Educacionais Especiais A formação docente regulamentada pela atual Lei de Diretrizes e Base de Educação Nacional (9934/96, art. 59. III) prevê em seu dispositivo atuação de professores com 6 especialização em nível médio ou superior, para o atendimento educacional especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para atuarem com alunos especiais na classe comum (LDB, 1996). Percebe-se, portanto uma discordância da lei no concernente a sua aplicabilidade, uma vez que admite formação em nível médio para atuação com alunos especiais quando se cogita uma estrutura montada por especialistas para o atendimento educacional especializado. No sentido de preparar o professor para o ensino com alunos especiais, a exemplo dos surdos cabe ao sistema de ensino promover cursos de formação continuada para o seu corpo docente assegurando-lhes aptidões e inovações nas suas práticas pedagógicas de forma a atender as necessidades educacionais dos alunos surdos (PRIETO, 2006). A formação continuada do professor deve ser um compromisso dos sistemas de ensino comprometidos com a qualidade do ensino, que nessa perspectiva, devem assegurar que sejam aptos a elaborar e implantar novas propostas e práticas de ensino para responder às características de seus alunos, incluindo aquelas evidenciadas pelos alunos com necessidades educacionais especiais (PRIETO, 2006). De acordo essa autora os professores devem ser capazes de analisar os domínios de conhecimento atuais dos alunos, as diferentes necessidades demandadas nos seus processos de aprendizagem, bem como, elaborar atividades, criar ou adaptar materiais, além de prever formas de avaliar os alunos para que as informações sirvam para retroalimentar seu planejamento e aprimorar o atendimento aos alunos (PRIETO, 2006, p. 58). Os cursos de formação se constituem um espaço propício para o desenvolvimento de habilidades e capacidades para identificação dos mecanismos do processo de aprendizagem e conhecimento dos alunos, onde o professor passará a desenvolver uma visão crítica sobre sua prática pedagógica, além de diversificar a metodologia de ensino, e usar instrumentos de avaliação compatíveis com as habilidades e potencialidades de cada um. Para Glat e Nogueira (2002 apud PRIETO, 2006, p. 60) se a pretensão é “garantir educação para todos, independente de suas especificidades”, deve-se asseverar “oferta de uma formação que possibilite aos professores analisar, acompanhar e contribuir pra o aprimoramento dos processos regulares de escolarização, no sentido de que possam dar conta das mais diversas diferenças existentes entre seus alunos”. 2.4 Tendências Subjacentes à Educação das Pessoas com Surdez 7 A surdez é uma deficiência que leva o indivíduo a ter perda total ou parcial da percepção sonora devendo ser verificado também em que momento ela se manifestou, se antes ou após a aquisição da linguagem oral e quais as prováveis causas como também os diferentes graus de perda auditiva, entre outros determinantes (MILANEZ, 2011). Atualmente muitos pesquisadores, assim como pessoas surdas, consideram que o termo “surdo” refere-se ao indivíduo que percebe o mundo por meio de experiências visuais e opta por utilizar a língua de sinais, valorizando a cultura e a comunidade surda (LIMA et al. 2006, p. 20). Conforme observado por Damázio (2007) há uma inconstante definição quanto às propostas educacionais do surdo no sistema de ensino. Ora tais propostas estão para sua inserção na escola regular ou classes especiais, ora na escola especial. As políticas educacionais adotadas pelo sistema de ensino do país para inclusão do surdo nas suas instituições de ensino regular parecem pouco eficazes aos olhos de diversos segmentos da sociedade, inclusive de surdos, que rejeitam as propostas por acreditarem que invés de inclusão o sistema passa a promover ainda mais a exclusão, por não ter em sua rede escolas estruturadas para atender as suas peculiaridades. O embate sobre essas questões é polêmico e requer dos órgãos gestores posicionamentos firmes e definidos quanto às políticas educacionais adotadas para promover a inclusão e a aprendizagem do aluno surdo no cenário educacional e social, conforme os direitos constitucionais do país. As tendências linguísticas difundidas no meio educacional visando prover a inclusão do surdo de forma a promover a sua interação, comunicação com os membros de sua comunidade vão se alternando ao longo da história. As escolas comuns ou especiais, que adotaram o oralismo defendiam a linguagem oral como única possibilidade linguística tanto no contexto social como no escolar, rejeitando o uso da Língua de Sinais em quaisquer circunstâncias, assim os alunos surdos eram instruídos a desenvolverem a oralidade como os alunos ouvintes (ALVEZ, et al. 2010). De acordo com Sá (1999 apud DAMÁZIO 2006, p. 19) o oralismo, não conseguiu atingir resultados satisfatórios, porque além de ocasionar déficits cognitivos, legitimar a manutenção do fracasso e provocar dificuldades no relacionamento familiar, não aceitava o uso da Linguagem de Sinais, discriminava a cultura surda e negava a diferença entre surdos e ouvintes. A proposta educacional da comunicação total diferentemente do oralismo concebia a pessoa surda de forma natural, reconhecia suas particularidades aceitando o uso de todos os 8 recursos que viabilizassem a sua comunicação. Entretanto, foi questionada por não atender aos desafios da vida cotidiana da pessoa com surdez, chegando a ser comparada com o oralismo (ALVEZ et al 2010). A abordagem educacional bilíngue, ao contrário dos enfoques anteriores, visa capacitar a pessoa surda para utilização de duas línguas (Libras e Língua portuguesa oral e escrita) na rotina escolar e na vida social, em que surdos e ouvintes convivem no mesmo espaço e partilham das mesmas situações de aprendizagem. Damázio (2007). Para Damázio e Ferreira (2010) enquanto as discussões ficam centradas na aceitação de uma língua ou de outra, as pessoas com surdez não têm o seu potencial individual e coletivo desenvolvido, ficam relegadas a segundo plano, descontextualizadas das relações sociais das quais fazem parte, por conseguinte excluídas. [...] desenvolver uma pedagogia centrada na criança, capaz de educar com sucesso todos os meninos e meninas, inclusive os que sofrem de deficiência graves. O mérito dessas escolas não está só na capacidade de dispensar educação de qualidade a todas as crianças; com sua criação, dar-se-á um passo muito importante para tentar mudar atitudes de discriminação, criar Comunidades que acolham a todos (MEC/SEESP, 2001). O Decreto 5.626/05 que regulamentou a Lei nº 10436/2002 da Língua Brasileira de Sinais, prevê a organização de turmas bilíngue, constituídas por alunos surdos e ouvintes onde as duas línguas: Libras e Língua Portuguesa são utilizadas no mesmo espaço educacional. A lei também define que para os alunos com surdez a primeira língua é a Libras e a segunda é a Língua Portuguesa na modalidade escrita, além de orientar para a formação inicial e continuada de professores, formação de intérpretes para a tradução e interpretação da Libras e o ensino bilíngue na escola regular (MEC/SEESP, 2001). Kozlowski (1998 apud LIMA, 2006, p. 24), afirma que “trabalho numa proposta bilíngue”, quer dar o direito e condições ao indivíduo surdo de poder utilizar duas línguas; portanto, não se trata de negação, mas de respeito; o indivíduo escolherá a língua que irá utilizar em cada situação linguística em que se encontrar. A proposta educacional bilíngue proporciona ao deficiente auditivo o desenvolvimento tanto da língua portuguesa escrita e oral quanto da linguagem de libras com ganhos significativos de aprendizagem e comunicação, devendo as escolas organizarem o serviço complementar para atendimento educacional especializado. Na prática o acesso do aluno surdo à escola e ao atendimento educacional especializado geralmente tem sido tratado por método que visam basicamente à comunicação 9 oral. Ou dependendo do grau de surdez alguns surdos se beneficiam dessa prática enquanto que as pessoas com surdez profunda continuam segregadas e discriminadas no contexto educacional. 3. METODOLOGIA Os procedimentos metodológicos utilizados na busca por atingir os objetivos deste estudo foram divididos nos tópicos apresentados a seguir: (i) delineamento da pesquisa; (ii) tipo de estudo; (iii) instrumento de pesquisa e coleta de dados (iv). A pesquisa de campo foi precedida por uma revisão bibliográfica da temática em análise em material impresso e internet na busca pela identificação de diferentes métodos científicos com objetivo de escolher aquele que melhor se adequasse ao estudo proposto. Pesquisa implica em produzir novos conhecimentos a partir de uma determinada realidade, fato, ou fenômeno social. E os trajetos a serem percorridos pelo pesquisador em busca da compreensão desses fenômenos são chamados de caminhos, instrumentos usados para se fazer ciência ( DEMO, 1995 apud MELO, 2011). 3.2 Tipo de estudo O tipo de estudo caracteriza-se por um estudo de campo cuja finalidade é a coleta de dados sobre as condições de acessibilidade educacional do aluno surdo na escola em análise e o método empregado é de cunho qualitativo uma vez que busca uma aproximação entre as teorias e a realidade encontrada, observando-se as características do estudo qualitativo (ZANELLA, 2009). 3.3 Instrumento de pesquisa e coleta de dados O instrumento de pesquisa utilizado foi um roteiro de entrevista estruturada que de acordo com Goode e Hatt (1969), citados por Lakatos, (2003, p. 195) "consiste no desenvolvimento de precisão, focalização, fidedignidade e validade de certo ato social como a conversação". E tem como objetivo principal a obtenção de informações do entrevistado, sobre determinado assunto ou problema. 10 A coleta de dados exige alguns procedimentos que segundo Gil (2007 apud ZANELLA, 2009, p. 82) classifica-se em dois grandes grupos: no primeiro grupo, têm-se as pesquisas bibliográficas documentais e no segundo grupo pesquisas que se utiliza de seres humanos visto que dependem de informações transmitidas pelas pessoas. Nesse grupo incluem-se a pesquisa experimental, a ex-post-facto, o levantamento, o estudo de campo e o estudo de caso. A coleta de dados se deu por meio de visita aos participantes da pesquisa com a finalidade de informá-los sobre o estudo, bem como torná-los cientes da importância da contribuição de cada um para consolidação da pesquisa. Na ocasião foi entregue a cada participante, um total de seis pessoas, um roteiro para norteá-los sobre as questões inerentes ao propósito da pesquisa, bem como facilitar a compreensão de cada um sobre o assunto a ser tratado na entrevista. Em seguida foram realizadas as entrevistas com professores, gestor escolar, pais de alunos e Secretário de Educação. As entrevistas foram gravadas em vídeo com objetivo de assegurar a integridade das informações prestadas eliminando assim barreiras de improvisações e distorções dos fatos decorrentes de falhas de anotações tardias. 4 ANÁLISE DE RESULTADOS Após a coleta foi dado início ao processo de análise dos resultados, procurando estabelecer uma relação dialógica entre o referencial teórico e a realidade pesquisada. Kerlinger (1980 apud ZANELLA, 2009, p. 125) define o processo de análise de dados como “a categorização, ordenação, manipulação e sumarização de dados” e tem por objetivo reduzir grandes quantidades de dados brutos a uma forma interpretável e mensurável. 4.1 O Ingresso de Alunos Surdos na Instituição Pesquisada Antes de adentrar nos discursos proferidos pelos atores da pesquisa, será apresentada a tabela contendo dados referentes ao ingresso de alunos surdos na instituição em estudo, seguida de uma breve explanação de como se deu o seu processo de inclusão. 11 Tabela 1 - Número de alunos surdos matriculados na escola de 2001 a 2011 Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Total de alunos 360 370 329 297 260 239 309 323 298 268 254 Deficiência auditiva 03 01 02 02 01 02 03 02 -01 02 % 0,78 0,27 0,61 0,67 0,38 0,84 0,97 0,62 0,0 0,37 0,79 Outras deficiências 05 08 08 10 09 11 12 10 07 05 06 % 1,29 2,16 2,43 3,37 3,46 4,6 3,88 3,09 2,35 1,86 2,36 Fonte: dados da pesquisa 2011 A inclusão dos deficientes no sistema de ensino da rede municipal começou no ano 2001, período em que foi implantado na referida escola uma sala especial. Para atuarem nessa sala dois professores receberam capacitação da Fundação Integrada de apoio à Pessoa com Deficiência (FUNAD), os alunos especiais também recebiam atendimento desta instituição, sempre que necessário. Mas o olhar aqui está voltado para o universo do aluno surdo. Como se pode observar na Tabela 1, esse público sempre esteve presente na referida instituição de ensino. Entretanto a qualidade do ensino oferecido a esse público é pouco expressiva se comparada às estatísticas numéricas, visto que não existe na instituição nenhuma evidência de que os alunos surdos que freqüentaram a instituição tenham concluído a primeira fase de sua escolarização. Possivelmente uma das causas desse problema esteja relacionada à inexistência da qualificação específica do professor para trabalhar com o aluno surdo e não necessariamente a linguagem utilizada pelo aluno para se comunicar com a comunidade, conforme os discursos proferidos no ambiente escolar. 4.2 O olhar da Gestora Escolar Por um período de quatro anos aproximadamente os alunos deficientes a exemplo dos surdos tiveram assistência dos órgãos especializados, mas foi interrompida devido a entraves de ordem burocrática, conforme declarado pela gestora escolar. Desde então os alunos deficientes, frequentam a escola sem apoio de uma equipe especializada e sem que seu corpo docente tenha participado da formação específica para o atendimento educacional dos alunos com surdez, ainda de acordo com a entrevistada. 12 Sobre ações e projetos que contemplam a participação e aprendizagem do aluno surdo, a gestora escolar enfatizou que: “os professores incentivam os alunos surdos a participarem dos projetos na medida do possível, uma vez que eles não podem ser excluídos de nenhuma atividade, no entanto, em atividades de leitura oral, é muito complicado visto que o aluno não ouve e nem fala”. Conforme Damázio (2006) se somente o uso de uma língua bastasse para aprender, as pessoas ouvintes não teriam problemas de aproveitamento escolar, já que entram na escola com a língua oral desenvolvida. 4.3 Os Professores e os Recursos Pedagógicos Em relação aos professores, quando perguntados sobre cursos de formação específica para o atendimento educacional de alunos surdos, ambos afirmaram não ter participado de cursos dessa natureza, mas que têm algum conhecimento no assunto, como relatado pela professora (A) “não pra esse tema, mas já participei de capacitação que teve um momento que abordou (o tema) [...] eu acho que todo professor deveria participar de cursos que o habilitasse para trabalhar com o aluno surdo”. Nesse aspecto, a professora (A) destaca a importância da formação para aquisição de conhecimentos teórico-práticos no cotidiano da sala de aula. De acordo com Prieto (2006, p. 58), os conhecimentos sobre o ensino de alunos com necessidades especiais não podem ser do domínio de apenas de alguns especialistas e sim apropriados pelo maior número possível de profissionais da educação, idealmente para todos. Quando questionados sobre uso dos recursos pedagógicos, ambos disseram usar alguns recursos existentes na escola, jogos, blocos lógicos, caça-palavras, e que o material existente é usado com todos os alunos independente de deficiências. A professora (A) fez o seguinte comentário: “de vez em quando a gente leva eles lá, e o aluno usa o material e ele gosta e participa bastante”. O professor (B) acrescentou a esse questionamento sua opinião: [...] “o dia a dia nosso é que faz com que a gente aprenda, a gente possa até que não tenha se especializado ainda, mas no dia a dia nós aprendemos muito com eles”. Esse professor demonstrou ter mais facilidade na comunicação com o aluno surdo porque já vivenciou outras experiências com esses educandos em sala de aula, embora não tenha conhecimento da Linguagem de Sinais. 13 Pelas declarações foi possível perceber que os professores utilizam os recursos pedagógicos descritos de forma aleatória, sem objetivos previamente definidos, assim os materiais são usados muito mais como entretenimento do que como recursos favorecedores de aprendizagem dos alunos. Um aspecto positivo a se considerar é quando o professor diz aprender na convivência diária com o aluno surdo, mesmo não tendo se especializado. Tal afirmação encontra respaldo nas teorias de Damázio e Ferreira (2010). De acordo com esses autores a educação dos surdos embora esteja ligada ao uso de línguas, o fracasso escolar não depende exclusivamente delas, mas também da qualidade e da eficácia das práticas pedagógicas e que nesse processo à de se considerar a presença de quem age, produz sentido e interage: a pessoa com surdez. Nesse sentido as práticas pedagógicas poderão dar um salto qualitativo em relação à aprendizagem do aluno surdo. Em relação aos desafios a serem superados pelos professores no atendimento educacional do aluno com surdez, a professora (A) foi enfática ao declarar “o meu maior desafio é fazer com que o aluno (surdo) aprenda no mesmo nível que os outros, eu acho muito complicado”. Para o professor (B) o principal desafio “é quando eles trazem novidades pra sala de aula e a gente não sabe o que eles querem comunicar”. Estes achados de pesquisa também encontram reflexos na teoria, nas palavras de Dorziat (1998) citado por Damázio (2006, p. 14) “os professores precisam conhecer e usar a Língua de Sinais” para enfrentar os desafios do dia-a-dia. A de se reconhecer que embora, a Língua de Sinais não seja suficiente para escolarizar o aluno com surdez a sua utilização melhora consideravelmente as interações professor, aluno surdo e, por conseguinte, as relações deste com os demais integrantes da escola. Quanto às adaptações curriculares os professores afirmaram não fazer nenhuma mudança os conteúdos são trabalhados da mesma forma com todos os alunos, mesmo porque não recebem nenhuma orientação nesse sentido. Percebe-se, portanto a necessidade de uma equipe de apoio especializado para dar suporte ao trabalho do docente. Nesse sentido, a escola poderá buscar junto a Secretaria de Educação meia para suprir a carência dos docentes, visto que eles precisam de orientações de como proceder, quais os caminhos a percorrer para que o aluno surdo participe das atividades curriculares em condições de aprendizagem com os demais alunos. No contexto das dificuldades vivenciadas pelos professores eles demonstram não saber como trabalhar com alunos surdos, também não contam com recursos apropriados e nem com 14 apoio de que necessitam para assistir o aluno em suas necessidades educacionais, entretanto, consideram importante que o aluno surdo frequente a sala de aula comum, desde que os professores sejam preparados antes de recebê-los só assim poderiam ajudá-los como lhe é de direito, segundo o professor (B). Embora a amostra deste estudo não seja estatisticamente representativa, é possível inferir que os relatos desses professores podem refletir o pensamento e a necessidade de todo o corpo docente da rede de ensino no que concerne à formação, apoio e disponibilidade de recursos para atuarem junto aos deficientes auditivos nas suas salas de aulas, na medida em que não há um programa de ensino que atenda a estas necessidades. 4.4 A Participação dos Pais Na entrevista com os pais as dificuldades relatadas pelos professores também fazem parte do repertório das famílias dos alunos surdos que frequentam a escola em estudo. Perguntado a uma mãe de aluno surdo sobre o nível de aprendizagem do filho esta fez a seguinte afirmação: “ele gosta de vim pra escola, mas ele num aprende nada não”. Outra mãe diz: “faz três anos que o meu vem pra escola e já faz umas coisinhas”, reconhecendo que já houve algum avanço no aprendizado do filho. Sabe-se da importância da participação dos pais no processo ensino-aprendizagem dos seus filhos, entretanto, essas práticas estão longe de acontecer visto que escola e família ainda não se conscientizaram do papel a ser desempenhado por cada um nesse processo. Para escola não basta convidar os pais para reuniões de pais e mestres, mas envolvê-los nos projetos educacionais visando o desenvolvimento sócio afetivo e cognitivo da criança com surdez. Assim, como para as famílias não basta matricular seus filhos, mas é necessário participar de todo processo educacional de suas crianças. Estas premissas são abordadas na teoria, como observa Carvalho et al (1998, p.78) ”os canais de comunicação entre pais e escola podem se estreitar via conselhos e associações de pais”, visando constituir elos de interesses coletivos voltados para a aprendizagem dos deficientes auditivos. Em relação à comunicação do aluno no ambiente familiar e na vizinhança uma das mães citou: “em casa ele não tem problemas de comunicação porque todo mundo entende o que ele diz e com os outros meninos ele brinca muito com eles, não vejo nenhum problema”. Tal informação remete a reflexões a cerca da comunicação e interação da criança surda no interior da escola. Comumente o professor diz não saber se comunicar com a criança surda, 15 apontando muitas dificuldades nos procedimentos didáticos para atender as necessidades educacionais do aluno surdo, causando prejuízos na sua interação e, por conseguinte na sua aprendizagem. Estaria, então, a escola, renegando o seu papel? Esse questionamento é respaldado também na teoria, onde autores como Montoan (2006, p. 29) consideram que “o ensino escolar comum e o despreparo dos professores, por sua vez, não podem continuar sendo justificativa dos que querem escapar da inclusão escolar pelos mais diferentes motivos”. Ou seja, por mais difícil que seja incluir os alunos surdos é um dever da Escola fazer com que se dê a inclusão. 4.5 As Respostas do Secretário de Educação Na entrevista com o secretário de educação este fez algumas considerações a cerca do atendimento educacional dispensado aos alunos deficientes nas escolas da rede municipal de ensino; entre elas o secretário enfatizou a questão da não qualificação específica do professor para trabalhar com os alunos deficientes auditivos. Ciente do quadro situacional das escolas para absorver os alunos com suas diversas especificidades o secretário fez a seguinte observação: estamos fazendo um levantamento em todas as escolas sobre questões de infraestrutura, recursos materiais e professores porque pretendemos para o ano implantar algumas mudanças significativas visando à melhoria da aprendizagem dos alunos deficientes nas escolas da rede municipal de ensino. Quanto às ações e projetos implementados pelo município para o atendimento educacional especializado o secretario destacou a importância de um trabalho coletivo para solucionar problemas inerentes à inclusão dos alunos deficientes na rede de ensino, entre eles os alunos surdos. Segundo o secretário, algumas ações já existem nesse sentido e elas estão contempladas no Plano de Ações Articuladas (PAR). Comparando as declarações do secretário com as dos professores e pais de alunos, percebe-se que as ações não têm atingido o nível desejável para o efetivo atendimento do aluno deficiente auditivo. Visto que além da qualificação específica do professor para o atendimento educacional do aluno surdo, a escola pesquisada também não dispõe de suporte técnico para o manuseio dos equipamentos e recursos tecnológicos, entre outros determinantes. Em tempos de mudanças educacionais, hoje não se concebe um sistema de ensino inerte, vendado para as causas sociais, pois não basta abrir vagas para os alunos surdos e 16 proclamar inclusão sem que as escolas da rede deem conta das especificidades de sua demanda. A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades. Além de assegurar a terminalidade específica àqueles que não atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências e assegura a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão do programa escolar. (MEC/SEESP, 1996). A referida Lei também define, entre as normas para a organização da educação básica, a “possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado” (art. 24, inciso V) e “[...] oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames” (art. 37). Diante do exposto, ao sistema de ensino cabe a tarefa de criar condições de trabalho digno para os profissionais da educação de forma que todos se beneficiem de sua política educacional. É nesse contexto que o sistema municipal de ensino deve construir educação para todos. 5 Conclusões A realização deste estudo possibilitou analisar as condições de acessibilidade dos alunos deficientes auditivos na organização escolar investigada, considerando os princípios de políticas educacionais que promovem e asseguram ao aluno com surdez participar e aprender em condições de igualdade sem sofrer discriminação e danos intelectuais no contexto escolar. Por meio de estudos teóricos e investigativos, foi possível perceber que teoria e prática nem sempre caminham na mesma direção, ou seja, não estão em consonância com propósito de educação na perspectiva inclusiva uma vez que a oferta do ensino dispensado ao aluno surdo na instituição analisada ainda não oportuniza ao aluno deficiente auditivo construir a sua identidade e autonomia, uma vez que suas peculiaridades não são consideradas no contexto da prática escolar. Comumente eles são tratados como ouvintes e precisam se adequar as regras da escola. O despreparo do professor associado a outros fatores para assistir ao aluno surdo na sala regular de ensino tem se constituído como um dos grandes empecilhos a sua comunicação 17 interação com todos os componentes da escola, visto que não existe na instituição de ensino uma organização de base para o atendimento educacional de alunos deficientes auditivos. Assim o fracasso escolar recai sobre os alunos surdos e não sobre as práticas educacionais impostas a eles. Ou ainda, são condicionados a não partilharem das mesmas experiências que os alunos ouvintes, porque deveriam estar em uma sala especial, assim teriam mais chances de aprenderem. A concepção de inclusão do aluno com deficiência na escola regular percebida pelos entrevistados nesse estudo, a princípio parecia não ser bem interpretada, visto que entendiam que inclusão estava relacionada apenas ao acesso ou acessibilidade. Este acesso seria então apenas promovido pela edificação de rampas nas dependências ou entorno da escola, e não a todas as condicionantes para verdadeira inclusão tais como: organização do espaço escolar, formação especifica do docente, adaptação curricular, estratégias de ensino, processos avaliativos, parcerias firmadas entre os órgãos gestores e pais, bem como utilização de recursos tecnológicos facilitadores do processo aprendizagem do aluno surdo na escola comum. Por meio dos estudos realizados constatou-se que tanto os professores quanto os alunos surdos enfrentam muitas dificuldades de acesso/acessibilidade ao ensino de qualidade. Aos docentes faltam melhores condições de trabalho e aos alunos faltam melhores condições de aprendizagem. Os relatos dos professores foram bastante esclarecedores quanto ao despreparo destes para lidar com alunos surdos nas suas salas de aula, embora um deles tenha demonstrado certa facilidade na comunicação com o aluno surdo, isto não lhe garante conhecimento de causa. Os pais demonstram pouco ou nenhum conhecimento acerca do processo de inclusão que possibilite a seus filhos crescerem e se desenvolverem em um espaço propício a aprendizagem. Para eles seus filhos são bem acolhidos e isto é o bastante. Os resultados deste estudo não são estanques, representam reflexões e discussões a cerca da acessibilidade dos alunos surdos em sala de aula comum. Assim como refletir sobre as experiências, saberes e sabores da profissão vivenciada por professores da rede municipal de ensino que a cada ano circula pelos labirintos da educação em busca de soluções para a problemática da inclusão dos deficientes na sala regular de ensino, a exemplo do aluno surdo. Refletir sobre o processo de inclusão de alunos surdos na escola regular é imprescindível e fundamental porque educação de qualidade e igualitária só é possível à medida que os diversos organismos sociais e seu corpo docente, discutem, analisam, propõe e executa ações concretas capaz de modificar mentalidades e promover cidadania. 18 Considerando as discussões de especialistas, educadores, pais de alunos surdos e os parâmetros legais que regem a educação do país, entre estes a LDB (9934/96) o sistema municipal de ensino precisa rever sua estrutura organizacional para oferta do ensino inclusivo. E esta revisão deve começar por absorver as novas concepções de ensino na perspectiva inclusiva, passando por mudanças na estrutura física das instituições, aquisição de recursos materiais, capacitações dos profissionais da rede, incorporação das famílias nos seus projetos educacionais visando à melhoria no processo ensino-aprendizagem do seu corpo discente independente de deficiências de qualquer natureza. Minicurrículo Liliane Bezerra da Silva Graduada em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras - FAFIG de Guarabira, PB, (1992); Tem formação em Curso de Extensão Universitária: Capacitação de tutor em EaD pela UFPR, (2009); Curso de Formação Continuada de Professores em Tecnologias de Informação e Comunicação Acessíveis pela UFRGS, (2009); Formação Continuada em Mídias na Educação, Cíclo Básico e Intermediário pela UFPB, (2009/2010); Pós-graduação em Gestão Pública Municipal pela UFPB/VIRTUAL, (2011). Professora da Rede Municipal de Ensino do município de Araruna/PB há 23 anos. Atuou como diretora escolar, atualmente coordenadora pedagógica. Foi tutora do curso: Gênero e Diversidade na Escola, promovido pelo NIPAM/UFPB, (2009); Animadora Cultural do Projeto Aprender em Paz – Educação para a Prevenção a Violência na Escola, promovido pelo NIPAM/UFPB, (2010). REFERÊNCIAS ALVEZ, Carla Barbosa. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: abordagem bilíngue na escolarização de pessoas com. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial; [Fortaleza]: Universidade Federal do Ceará, 2010. v. 4. BRASIL. ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). NBR 6022/2003. 19 ________. Ministério da Educação. Declaração de Salamanca Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>. Acesso em 18.out. 2011. ________. Ministério da Educação. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/diretrizes.pdf>. Acesso em 18.out. 2011. ________. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva – MEC/SEESP. Disponível em: <http://portal. mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/política>. Acesso em 10.out.2011. ________. Ministério da Educação. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: estratégias e orientações para a educação de crianças com necessidades educacionais especiais. /Ministério da Educação – Brasília: MEC, 2000. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/eduinf_esp_ref.pdf>. Acesso em 18.out. 2011. ________. Ministério da Educação. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil/Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998. ________. Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996. 5ª ed. Disponível em: <http://bd.camara.gov.br>. Acesso em 01.dez. 2011. DAMÁZIO, M. F. M e FERREIRA, J. P. Artigo Revista da Educação Especial / Secretaria de Educação Especial. v.5, n. 1 (jan/jul) – Brasília: Secretaria de Educação Especial, 2010. DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Formação Continuada a Distância de Professores para o Atendimento Educacional Especializado: pessoa com surdez/ SEESP/SEED/MEC – Brasília/DF – 2007. KOZEN, A. A. et al. (cood). Pela Justiça na Educação. Brasília: MEC. FUNDESCOLA, 2000 Disponível em: <http://www.fnde/index.php/arq-fundescola/.../3537/.../dowload>. Acesso em: 07.out. 2011. LAKATOS, E. M. MARCONE, M. de A. Fundamentos de Metodologia Científica. 5 ed. São Paulo. Atlas, 2003. LIMA, Daisy Maria Collet de Araújo. Educação infantil saberes e práticas da inclusão: dificuldades de comunicação e sinalização: surdez. 4ª ed., Brasília: MEC. Secretaria de Educação Especial, 2006. MELO, Antônio dos Reis Lopes. Compreendendo Elementos Textuais do Trabalho Cientifico. Disponível em: <http://www.arquivosonline.net/aee/modiii/a6/m3a6t6.pdf>. Acesso em 02.out. 2011. 20 MANTOAN, Maria Teresa Eglér; PRIETO, Rosângela Gavioli; ARANTES, Valéria Amorim. Inclusão escolar: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2006. MILANEZ, Simone Ghedini Costa. O aluno com Surdez. Disponível em: <http://www.professorguilherme.net/libras__arquivos/conteudo/O%20ALUNO%20COM%20 SURDEZ.htm>. Acesso em 10.set.2011. OLIVEIRA, M. M. B. C. Ampliando o Olhar sobre as Diferenças através de Práticas Educacionais Inclusivas. Brasília: SEED/MEC, 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/.../experiências educacionais inclusivas.pdf>. Acesso em 07.out.2011. PEREIRA, M. Q.; MAROSTEGA, V. L. Perspectivas Pedagógicas na Escola de Surdos de Santa Maria. Revista do Centro de Educação. N 20. Disponível em: <http://coralx.ufsm.br/revce/seesp/2002/02/a3.htm>. Acesso em 04,nov. 2011. ZANELLA, Liane Carly Hermes. Metodologia de estudo e de pesquisa em administração Departamento de Ciências da Administração/ UFSC: [Brasília]: CAPES: UAB, 2010. APÊNDICES – Carta Informativa, Termo de Concentimento e Roteiro de Entrevistas CARTA INFORMATIVA Prezado (a) Senhor (a) A presente pesquisa intitulada Inclusão dos Alunos Surdos na Sala Regular de Ensino, tem como objetivos investigar e analisar as condições de acessibilidade educacional oferecida pela Escola Municipal de Ensino Fundamental João Moreira Soares aos alunos com deficiência auditiva, sob a óptica de professores, pais de alunos surdos, gestor escolar e secretário de educação. Assim, por meio desta, você está sendo solicitado a participar voluntariamente da pesquisa, caso concorde, deverás responder a uma entrevista, a se realizar em dia e horário previamente agendada. Desde já lhe informo que sua identidade será preservada e que as informações por você prestadas serão utilizadas unicamente para fins de pesquisa, podendo ser apresentadas em congressos, eventos e publicações científicas. 21 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Eu, _________________________________________ciente dos procedimentos da pesquisa aceito e autorizo o uso do material produzido durante a entrevista concedida a estudante de Pós-graduação em Gestão Pública Municipal. Declaro ainda, ter recebido as devidas explicações sobre a referida pesquisa, a qual me disponho a colaborar voluntariamente. _______________________________ Assinatura do participante _______________________________ Assinatura da pesquisadora ROTEIRO DE ENTREVISTA COM A GESTORA ESCOLAR Ilma. gestora, esta entrevista é parte do Trabalho de Conclusão do Curso Especialização em Gestão Pública Municipal oferecido pela UFPB Virtual – EAD - UAB e tem como objetivo coletar informações acerca do atendimento educacional oferecido por esta Instituição de ensino aos alunos especiais (surdos). 1º) Diretora existe registro do número de alunos deficientes atendidos por esta escola desde o ano 2000? É possível disponibilizar os dados para esta pesquisa? 2º) Entre 2000 a 2010 como se dava o processo de inclusão dos alunos deficientes nessa escola? Eles eram atendidos em salas comuns ou salas especiais? 3º)A escola enquanto Instituição socioeducativa preza pela excelência do serviço oferecido a sua comunidade. Assim, pergunto: quais ações ou projetos já foram implementadas por esta escola para o Atendimento Educacional dos alunos especiais? 4º) Diretora, a senhora já articulou com o gestor municipal ou secretário de educação para implantação de uma sala multifuncional nesta escola para oferta do ensino complementar em sala de aula 5º) Quais os procedimentos adotados por esta instituição para trazer de volta os alunos surdos egressos, que se evadiram da escola porque não conseguiam se comunicar com clareza com os colegas, professores e demais integrantes desta instituição? 22 6º) A escola considera importante a participação da família no processo ensino-aprendizagem dos alunos especiais? Por quê? 7º) O corpo docente desta instituição tem formação específica para o atendimento educacional de alunos surdos? 8º) Quais as maiores dificuldades enfrentadas pela escola para inclusão de alunos surdos? 9º) O corpo docente desta instituição faz as adequações curriculares necessárias para atender as necessidades educacionais dos alunos, em cada série de sua escolarização? 10º) Que nota de 5 a 10 você atribui a sua equipe escolar levando em consideração o atendimento educacional oferecido em particular, aos alunos especiais? ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS PROFESSORES Prezado(a), professor(a), esta entrevista é parte do Trabalho de Conclusão do Curso Especialização em Gestão Pública Municipal oferecido pela UFPB Virtual – EAD - UAB e tem como objetivo coletar informações a cerca do atendimento educacional especializado oferecido por esta Instituição de ensino aos alunos surdos. 1º) Professora qual a sua formação acadêmica? 2º) Você já participou de cursos de formação continuada, especifica, para o atendimento educacional de alunos surdos? Teça algum comentário a respeito dessa formação. 3º) Você acredita que a presença de um intérprete da Língua de sinais na sala de aula regular ajudaria na interação e aprendizagem do aluno surdo? 4º) Professora, o aluno deficiente auditivo comumente, utiliza-se dos outros órgãos dos sentidos para se comunicar com o mundo exterior. Então pergunto: Quais são os recursos que você usa na sala de aula para estimular os alunos surdos a participarem das atividades escolares? 5º) A escola comumente, orienta os pais a procurarem especialistas na área de saúde, quando estes se queixam que o filho (a) tem problemas que podem prejudicar o seu desempenho escolar? 6º) Os projetos desenvolvidos pela escola oportunizam os alunos com surdez participarem das atividades em condições de igualdade com os outros alunos? 7º) Do seu ponto de vista quais são os maiores desafios a ser superados por você no atendimento educacional do aluno surdo? 23 8º) Em sua opinião porque o aluno surdo se comunica sem maiores problemas em outros ambientes sociais, mas na escola ele não consegue interagir, se comunicar com clareza com professores, colegas e os outros integrantes da escola? 9º) Você faz as devidas adequações curriculares para atender as necessidades educacionais do aluno surdo inserido na sua sala de aula? 10º)Quais os critérios adotados por você para avaliar o aluno surdo? ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS PAIS Prezado (a), senhor (a), esta entrevista é parte do Trabalho de Conclusão do Curso Especialização em Gestão Pública Municipal oferecido pela UFPB Virtual – EAD - UAB e tem como objetivo coletar informações a cerca do atendimento educacional oferecido por esta Instituição de ensino aos alunos surdos. 1ª) Quando você descobriu que seu filho tinha deficiência auditiva? 2ª) Com que idade seu filho passou a frequentar a escola? 3ª) Você foi orientado (a) por alguém a matricular seu filho ou essa foi uma decisão em família? 4ª) Atualmente a criança recebe algum tipo de tratamento especializado, a exemplo do fonoaudiológico? Fale sobre esse atendimento. 5ª) Existe troca de informações entre vocês pais, professor (a) e os profissionais da saúde sobre os progressos alcançados pela criança tanto na aprendizagem escolar quanto no tratamento terapêutico? Comente sobre essa relação. 6ª) Em relação à sociabilidade no ambiente familiar a criança surda consegue interagir, se comunicar bem com todos? E na vizinhança como se processa essa relação? 7ª) Do seu ponto de vista o seu filho, mesmo não usando a oralidade consegue se comunicar bem com a (o) professor (a) colegas de turma e as outras pessoas da escola? Fale um pouco sobre essa questão. 8ª) Em casa quem ajuda a criança a resolver as atividades escolares? 9ª) Em que momentos você participa da vida escolar de seu filho? 10ª) Você está satisfeito (a) com o ensino que a escola oferece o seu filho? Por quê? 24 ROTEIRO DE ENTREVISTA COM O SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO Ilmo. Secretário de Educação, esta entrevista é parte do Trabalho de Conclusão do Curso Especialização em Gestão Pública Municipal oferecido pela UFPB Virtual – EAD - UAB e tem como objetivo coletar informações a cerca da acessibilidade educacional do aluno surdo nas escolas da Rede Municipal de Ensino. 1º) Senhor secretário, a secretaria dispõe de uma base de dados referente ao número de alunos surdos atendidos nas escolas da rede pública municipal de ensino? É possível termos acesso a esses registros? 2º) O Atendimento Educacional Especializado é uma modalidade de ensino direcionado ao aluno especial. Nesse sentido, o que a Secretaria de Educação tem feito para garantir a acessibilidade desse público ao ensino complementar? 3º) A secretaria Municipal de Educação é o órgão responsável direto por gerir ações, projetos e programas educacionais. Então, pergunto: Quais ações já foram ou estão sendo implementadas pelo município para o AEE nas escolas da rede pública de ensino, visando atender as necessidades educacionais dos alunos com deficiências auditiva? 4º) As famílias dos alunos surdos são encaminhadas ou orientadas pela Secretaria de Educação a procurarem especialistas das outras áreas assistenciais com objetivo de melhorar a relação social e promover a inclusão do aluno desses alunos no contexto socioeducativo? 5º) A secretaria de educação desenvolve projetos em parceria com a secretaria municipal de saúde visando o atendimento dos alunos com deficiência auditiva como uma das etapas importantes para sua inclusão e efetiva aprendizagem escolar? 6º) Os professores que atendem alunos com surdez nas suas turmas regulares recebem orientações da equipe pedagógica de como planejar as aulas para que os alunos com limitações tenham as mesmas oportunidades de aprender que os outros alunos? 7º) A Formação continuada para o Atendimento Educacional Especializado tem se configurado como uma necessidade docente e uma conquista dos alunos especiais inseridos no ensino regular. Então pergunto: Os professores da rede municipal de ensino participam de formação continuada específica para o atendimento AEE? Por quê? 8º) A secretaria de Educação considera importante a participação da família no processo ensino-aprendizagem dos alunos? Por quê? 9º) Quais são as maiores dificuldades enfrentadas pelo município para implantação de salas multifuncionais nas suas instituições de ensino? 10º) O gestor municipal já articulou com o MEC para aquisição de equipamentos/materiais para implementação de Salas Multifuncionais na rede municipal de ensino?