Engenharia Gerencial White Paper Eng. José Luiz De Martini Julho 2014 – revisão 01 [email protected] A cogeração como alternativa aos desafios energéticos A visão corrente de que o Brasil possui um dos maiores parques de energia hidrelétrica do mundo, nos afasta de uma realidade um pouco distante disto. Se de fato temos cerca de 70% de nossa energia produzida em plantas hidráulicas, temos uma significativa parcela, da ordem de 15%, oriunda de plantas térmicas, carvão, petróleo ou gas. Como estas plantas são de baixa eficiência, somadas as perdas em transmissão, transformação e distribuição, as alternativas de geração distribuída serão sempre bem vistas, seja em termos de custos, quanto em termos ambientais. A geração distribuída, ou seja, as plantas localizadas junto aos pontos de consumo, notadamente na condição de autoprodutor, podem representar alternativa econômica e estratégica e neste aspecto as instalações de missão critica podem ser sim beneficiadas no incremento da disponibilidade e confiabilidade. As diretrizes do Uptime® apontam que a geração própria é a forma principal de suprimento, ficando a ligação da Cia Concessionária como uma alternativa econômica. Da mesma forma, uma solução com duas fontes independentes pode ser criada combinando-se plantas de suprimento combinado, Concessionária, geração de substituição (Diesel) e Cogeração (gas natural). Instalações data centers Uptime geradores a gas cogeração chillers de absorção no-break UPS Eletropaulo light geração de ponta geração distribuída microgeração José Luiz De Martini Cummins Caterpillar Engenharia Gerencial White Paper Eng. José Luiz De Martini Julho 2014 – revisão 01 [email protected] Plantas para geração distribuída. Em termos práticos, quando produzimos energia na própria instalação consumidora estaremos falando de geração distribuída. São soluções, desde energia foto voltaica até grandes plantas de cogeração. As fontes não gerenciáveis como produção foto voltaica ou eólica (você pode não ter sol ou vento), não são tratadas neste artigo. Quando pensamos na geração distribuída de plena capacidade o foco esta na utilização de combustíveis fosseis ou eventual renováveis como o etanol, este sem adequada viabilidade econômica e mesmo técnica. Assim trataremos de modelos utilizando o Gas Natural, disponível comercialmente em distintas modalidades tarifarias, para aplicações em geração simples de energia e especificamente para Cogeração. O óleo Diesel ainda é o combustível mais adequado para geração de substituição ou backup. Geração de ponta. Como a energia em horário de ponta (usualmente, dias uteis das 17h30 as 20h30) é mais onerosa, vários consumidores utilizam a capacidade de geração, seja existente, normalmente Diesel, ou especifica para este fim, a gas natural ou Diesel ou ainda combinando ambos os tipos de motores, propiciando uma alternativa econômica apenas, pois esta solução continua sendo de baixa eficiência, não maior de 40%. Cogeração. A forma mais adequada de elevarmos o rendimento de uma planta é o aproveitamento do rejeito térmico dos motogeradores na produção de outra utilidade, daí o termo cogeração, que á a produção de mais de uma utilidade, utilizando o mesmo sistema e insumo (combustível). Uma planta de cogeração pode prover para instalações consumidoras, energia elétrica, calor na forma de água quente ou vapor e ainda água gelada empregando chillers de absorção ou mesmo, compressores centrífugos acionados por turbinas a vapor. Como exemplo, podemos chegar até mesmo na produção de gás carbônico para plantas de produção e engarrafamento de refrigerantes. Engenharia Gerencial White Paper Eng. José Luiz De Martini Julho 2014 – revisão 01 [email protected] Balanceando utilidades em Data Centres. Excluindo-se as utilidades destinadas as áreas prediais, administrativas, apoio e conforto, o grande consumo de energia em DC ocorre na alimentação e refrigeração das salas de servidores. Sem maiores detalhes, podemos atribuir a necessidade de aproximadamente 300 TR (toneladas de refrigeração) para cada MW de energia entregue aos serviços. Esta relação de consumo se ajusta perfeitamente para uma planta de cogeração, pois empregando motogeradores a gas natural, recuperação de calor de jaqueta e reaquecimento de água quente pelos gases de escapamento, associado a chillers de absorção, temos praticamente a mesma relação em termos de produção de energia elétrica e frio. Também em termos de investimento, motogeradores a gas natural entre 1200 a 2000 kW, oferecem bom custo por kW. Chillers de absorção nestas condições não possuem grande eficiência, mas resultam economicamente viáveis, por serem alimentados pelo rejeito térmico dos motores. Uso de turbogeradores. A aplicação de turbinas, normalmente derivadas de projetos aeroespaciais, oferece condições favoráveis para a recuperação de energia térmica. Normalmente possuem menor eficiência na produção de energia elétrica, mas permitem em função da temperatura e concentração dos gases de escape, eficiente recuperação de calor. Comparando as soluções temos: - motogeradores a gas natural eficiência elétrica da ordem de até 42% e produção de vapor da ordem de 0,9 t/hora/MWe - turbo gerador com rendimento elétrico da ordem de 32% e produção de vapor de até 2,5 t/hora de valor. O espaço requerido para instalações com turbogeradores é bem mais reduzido do que com motogeradores, porém há outros fatores a serem considerados: - Em termos de custo de aquisição, só é valido compararmos soluções com turbinas acima de 5 MW. Existem aplicações de micro turbinas desenvolvidas especificamente para aplicações de missão critica, com UPS integradas, mas de reduzida experiência de mercado. - Turbinas devem operar de forma continua. Seria adequado para Data Centres (operação 24x7), porém como no balanço térmico, se considerarmos apenas as demandas elétricas e de frio, não haveria como aproveitar a capacidade de produção de ar condicionado, salvo se na mesma planta existirem consumidores para todo o produto da cogeração. Engenharia Gerencial White Paper Eng. José Luiz De Martini Julho 2014 – revisão 01 [email protected] Como aplicar uma planta de cogeração em um Data Center. A primeira condição que deve ser seguida é o fato da instalação ser especificamente projetada com este recurso, ou seja, não devemos simplesmente interpor um sistema de cogeração na entrada de energia e desenvolver o restante do projeto como se não houvesse a planta de cogeração. Isto é mandatório, pois devemos extrair deste investimento todas as vantagens econômicas e técnicas, valorizando o investimento com incremento da robustez e confiabilidade da planta. Alias sempre falamos em confiabilidade e disponibilidade, mas nem sempre nos atemos a robustez da instalação, ou seja, sua capacidade em suportar desafios impostos por fenômenos de toda ordem, previsíveis em projeto ou não. A titulo de exemplo para tornar este artigo mais claro, vamos simular um Data Center, com os seguintes parâmetros simplificados: - Energia para servidores – 800 a 900 kW. - Demanda de refrigeração – 300 TR - Capacidade de energia na entrada da planta – 1800 kW. Assim o projeto convencional iria conter: - Suprimento da concessionária em tensão primaria, com demanda contratada de 1800 kW, suprimento pleno ponta e fora de ponta. - Geração própria Diesel, digamos com dois motogeradores de 1850 kW, com manobras em transição aberta e interrupção do suprimento quando do corte da concessionária. - Dois UPS de 900 a 1000 kW - Ar condicionado, expansão direta ou indireta (com água gelada) da ordem de 350 TR. Numa opção com cogeração o mesmo projeto teria: - Suprimento da concessionária em tensão primaria, com demanda contratada de 1800 kW, suprimento balanceado de acordo com as condições tarifarias. - Geração própria Diesel com um motogerador de 1850 kW, apenas como backup e retaguarda do sistema. - Os mesmos Dois UPS de 900 a 1000 kW - Um conjunto de cogeração com motogerador de 1400 kW e chiller de absorção de 350 TR Engenharia Gerencial White Paper Eng. José Luiz De Martini Julho 2014 – revisão 01 [email protected] - Ar condicionado expansão indireta. (com água gelada). - Chiller elétrico de backup de 350 TR. Analisando este modelo poderíamos concluir que estaríamos introduzindo novos componentes com vantagem operacional e retorno financeiro baseado apenas na operação em horário de ponta. Ou seja, o que determinará a adoção desta opção como solução é um conjunto de fatores: - Disponibilidade de energia da concessionária de elétrica, pois muitas vezes esta disponibilidade tem grandes custo e prazos de instalação longo, por exemplo, se for necessária a construção de subestação transformadora de alta tensão. - Disponibilidade com confiabilidade de Gas natural e eventual aporte financeiro de apoio ao projeto pela distribuidora de Gas. - Relação entre as tarifas e tributos no fornecimento de energia elétrica e gas natural, além da disponibilidade e custo de água para condensação. - Possibilidade de contratação e operação da planta em regime conhecido como B.O.T, onde uma empresa especialista monta, aluga e opera a usina, com transferência dos ativos ao contratante ao final do contrato, este de longa duração, por exemplo 15 anos. - Necessidade operacional quanto a uma planta mais confiável e robusta. - Inserção da planta em um complexo que permita o melhor aproveitamento da cogeração, além dos limites do data Center em si. Conclusão Nosso objetivo foi apresentar um modelo tecnicamente viável de utilização de sistema de geração de distribuída como alternativa à deficiências de fornecimento de energia elétrica e que seja economicamente possível em situações mandatórias. Nestas condições concluímos pela viabilidade do modelo, principalmente em regiões onde as tarifas de energia elétrica sejam mais onerosas. Também se estabelecidos valores pelas vantagens técnica obtidas pode-se considerar a opção deste modelo no planejamento de uma nova planta de suporte a um data Center ou demais consumidores que demandem soluções de missão critica. Engenharia Gerencial White Paper Eng. José Luiz De Martini Julho 2014 – revisão 01 [email protected] Autor Eng. José Luiz De Martini Engenheiro Eletricista, Titular da Engenharia Gerencial SS Ltda, desenvolvedor de soluções para Instalações de Alto desempenho e confiabilidade para sistemas de missão critica e aplicações especiais de sistemas de energia. - E-mail: [email protected] - www.cspi.com.br