PERFIL NUTRICIONAL E SOCIAL DE CRIANÇAS DE ESCOLAS PÚBLICAS
PERFIL NUTRICIONAL E SOCIAIL DE CRIANÇAS
NUTRITIONAL AND SOCIAL PROFILE OF CHILDREN OF PUBLIC SCHOOLS
NUTRITIONAL AND SOCIAL PROFILE OF CHILDREN
Renata Braganholo Slompo¹
Rosangela Pontes²
Patrícia Arantes da Luz³
Cynthia Matos Silva Passoni4
RESUMO
O objetivo desse estudo foi avaliar o estado nutricional de crianças de Escolas
Públicas e relacionar com determinantes sociais, para estudar possíveis pontos de
intervenção em relação à merenda escolar. Foi realizado um estudo transversal com
todas as escolas do Município de Piraquara - PR, totalizando 20 escolas. Foi
utilizada amostragem estratificada. As escolas foram subdividas por regiões os
____________________________________________________
1
1
2
2
Graduanda em nutrição – Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil
3
3
Nutricionista e chefe do Setor de Nutrição e Alimentação Escolar de Piraquara
4
4
Doutora pela Universidade Estadual Paulista. Coordenadora do Curso de nutrição da UniBrasil
Graduanda em nutrição – Faculdades Integradas do Brasil - UniBrasil – R.Francisco Leal, 1113 - CEP:
83305-120 . São Cristovão – Curitiba – Paraná. E-mail: [email protected], Tel.: 8503-6225
alunos selecionados foram de primeira a quarta série, escolhidos aleatoriamente
entre a faixa etária de 7 a 12 anos. Observou-se discrepância em relação ao
diagnóstico de estado nutricional dos alunos em regiões distintas do Município, em
regiões carentes nas quais as hipóteses eram encontrar crianças com baixo peso
para idade e nanismo para idade, encontrou-se nível elevado de sobrepeso para
idade e nanismo para idade, e, em regiões centrais nas quais as hipóteses eram
encontrar mais sobrepeso para idade e altura ideal para idade encontrou-se maior
número de baixo peso para idade e nanismo para idade.
Descritores: estado nutricional; alimentação escolar; determinantes sociais.
ABSTRACT
The objective of this study was to evaluate the nutritional status of children in
public schools and relate to social determinants, to study possible points of
intervention in relation to school meals. We conducted a cross-sectional study with all
the schools in the city of Piraquara - PR, totalizing 20 schools. Stratified sampling
was used. The schools were subdivided by regions selected students were first to
fourth grade, randomly selected from the age of 7 to 12 years. There was a
discrepancy concerning the diagnosis of nutritional status of students in different
areas of the city, in poor regions where the hypothesis were to find children with low
weight for age and stunting for age, we found high level of overweight for age and
stunting for age, and central regions in which the hypothesis were to found more
overweight for age and ideal height for age showed the largest number of low weight
for age and stunting for age.
Keywords: nutritional status, school feeding, social determinants
INTRODUÇÃO
O Brasil, apesar de possuir alguns setores de sua economia desenvolvidos,
apresenta um índice de desigualdade social muito alto, fator este primordial para o
surgimento de problemas de saúde pública como a desnutrição, tanto por déficit
como por excesso (³).
As avaliações antropométricas do estado nutricional de escolares estão sendo
tradicionalmente executadas com base em uma referência que é constituída a partir
da observação do peso, da estatura e da idade da criança. Há vários registros de
estudos epidemiológicos sobre a avaliação do estado nutricional usando a
antropometria como um indicador ou método direto. Os resultados destes estudos
constituem-se em indicadores diretos porque mostram o problema em si, ou seja, as
manifestações biológicas que expressam o estado nutricional da população (³).
Nos últimos 15 anos, a desnutrição infantil diminuiu em apenas 5%, o que
mostra que apesar das campanhas, para diminuir a fome no mundo, a desnutrição
infantil continua sendo muito preocupante e é responsável por mais da metade das
mortes de crianças a nível global. Muitas crianças apesar de não estarem em níveis,
considerados como: baixos pesos estão em risco nutricional, pois apresentam
carências severas de vários micronutrientes, como as vitaminas e os minerais
essenciais para o desenvolvimento físico e intelectual nessa faixa etária (²).
Tanto a obesidade infantil quanto a desnutrição são muito preocupantes, pois
são reflexos de uma alimentação inadequada. Estas crianças têm grandes
dificuldades no desenvolvimento, desenvolvendo-se menos do que o esperado, risco
de anemia, “déficit” na aprendizagem e algumas vezes dificuldade de sobrevivência.
(5)
Partindo-se do pressuposto de que a nutrição infantil constitui um importante
indicador das condições gerais de vida de uma população, os acompanhamentos da
situação nutricional e do controle do crescimento infantil de um país revelam-se
instrumentos essenciais, tanto para a aferição das condições de vida a que está
submetida à população infantil, como da sociedade em geral. Dessa forma, o
conhecimento da natureza, tipo, magnitude, grupos mais afetados, distribuição
espacial e por estratos socioeconômicos dos problemas alimentares e nutricionais
de um país, constitui o elemento inicial básico de qualquer estratégia integral e
efetiva para eliminá-los. (¹)
Segundo Buss, em março de 2006, foi criada a Comissão Nacional sobre
Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), que tem por objetivo a preservação da
saúde e a prevenção das doenças e outros agravos, além de consciência e ações
individuais, depende da implementação de políticas públicas sociais e de saúde e da
mobilização da sociedade
(4)
. Para a Comissão Nacional sobre os Determinantes
Sociais da Saúde (CNDSS), os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais,
étnico-raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de
problemas de saúde e seus fatores de risco na população.
Apesar de hoje em dia a obesidade estar se tornando uma epidemia, a
desnutrição infantil continua presente em nosso meio. Considerando que tanto a
obesidade quanto a desnutrição são reflexo de uma alimentação inadequada, tornase importante correlacionar estes dados a fim de detectar índices significativos para
minimizar a prevalência de doenças infantis relacionadas com alimentação e
estimular uma alimentação saudável.
Este trabalho teve como objetivo avaliar o estado nutricional de crianças
freqüentadoras de escolas públicas do município de Piraquara correlacionando com
a oferta de alimentos a partir da merenda escolar e determinantes sócioeconômicos.
A partir de um estudo feito na Escola Municipal Heinrichs de Souza –
Piraquara – Paraná, no qual foi diagnosticado crianças com baixo peso e nanismo
por idade. Julgou-se necessário a investigação dos fatores relacionados com o
estado nutricional desta população. Para que seja realizada intervenção a nível
global, garantindo a qualidade de vida, o acesso e permanência do educando no
ambiente escolar.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo transversal realizado em todas as escolas do
Município de Piraquara - PR, totalizando 20 escolas, foi utilizada amostragem
estratificada. As escolas foram subdividida por regiões, G todas as escolas do
município, A escolas situadas em invasões, B escolas de zona rural, C escolas
próximas de favelas e invasões e D escolas centrais, tais como alunos de primeira a
quarta série escolhidos aleatoriamente entre a faixa etária de 7 a 12 anos. Para se
ter 95% (noventa e cinco por cento) de confiança e no máximo quatro pontos
percentuais de verdade. Desta forma, foram selecionados 441 alunos, sendo estes o
número de 5 % (cinco por cento) do total de alunos por escola. O Projeto foi
submetido ao Comitê de Ética das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil, com
o protocolo de aprovação n° 05/2008. Os integrantes da amostra foram submetidos
à avaliação do estado nutricional, foram aferidos peso e estatura para classificação
do estado nutricional segundo Índice de massa corporal para a idade- IMC/I e altura
para a idade- A/I (OMS/2007), foi utilizado para classificação do estado nutricional os
pontos de corte para altura/idade: percentil menor do que 3 – nanismo/idade;
percentil acima de 3 – altura adequada/idade; Para classificação do IMC/idade os
pontos de corte foram: percentil menor do que 3 – baixo peso/idade; percentil maior
do que 3 ou igual a 85 – eutrófico/idade; percentil maior de 85 e menor que 97 –
sobrepeso/idade; percentil maior que 97 – obesidade. As medidas antropométricas
foram coletadas na escola, de maneira padronizada segundo Jelliffe 1968
(19)
. As
crianças foram pesadas com roupas leves e descalças com balança digital Plena
®
com capacidade de 150 kg e precisão de 100 g. A estatura foi obtida com
estadiômetro móvel Cardiomed® com 200 cm com precisão de 0,1 cm. Ambas as
medidas foram coletadas por avaliadores treinados, sempre com os mesmos
equipamentos, rotineiramente calibrados. E aplicou-se aos pais ou ao responsável
um questionário sócio econômico, no qual se abordou questões como: idade dos
alunos, sexo, número de filhos, com quem os alunos moram responsáveis pelo
sustento da família, escolaridade dos pais ou responsáveis, se trabalham de carteira
assinada, há quanto tempo, renda total mensal da família, saneamento básico,
esgoto e luz elétrica. Os dados foram tabulados com o programa EXCEL®. Fizeram
parte da amostra 196 crianças cujos pais e ou responsáveis firmaram o termo de
consentimento livre e esclarecido e entregaram o questionário sócio econômico para
a participação da pesquisa.
RESULTADO E DISCUSSÃO
Figura 1: “Diagnóstico Nutricional de altura/idade e IMC/idade (OMS, 2006) da
região G – todas as áreas do município
Figura 2: “Diagnóstico Nutricional de altura/idade e IMC/idade (OMS, 2006) da
região A – áreas de invasão.
Figura 3: “Diagnóstico Nutricional de altura/idade e IMC/idade (OMS, 2006) da
região B – área rural
figura 4: “Diagnóstico Nutricional de altura/idade e IMC/idade (OMS, 2006) da região
C – áreas de proximidade de invasões e favelas:
Altura/Ida
de
Figura 5: “Diagnóstico Nutricional de altura/idade e IMC/idade (OMS, 2006) da
região D – áreas centrais
Tabela 1: Distribuição das crianças por região segundo número de irmãos
Criança
Região
N
Nenhum
%
Número de irmãos
Dois
Três
Um
N
%
N
%
N
%
Quatro ou mais
N
%
Geral
A
B
C
D
196
96
7
42
51
10,7
7,3
14,3
14,3
15,7
21
7
1
6
8
24,0
19,8
25,6
21,4
33,3
47
19
2
9
17
30,1
27,1
42,9
28,6
35,7
59
26
3
12
18
12,2
15,6
0,0
19,1
2,0
24
15
0
8
1
N
23,01
30,2
14,3
28,6
13,7
45
29
1
7
7
Legenda: Região G todas as escolas do município, A escolas situadas em invasões,
B escolas de zona rural, C escolas próximas de favelas e invasões e D escolas
centrais
Tabela 2: Distribuição das crianças por região segundo a escolaridade do pai, mãe e
responsável
Escolaridade do pai, mãe e responsável
Região
G
A
Analfabeto ou ensino
fundamento incompleto
Ensino fundamental
Pai
Responsáve
l
%
N
Pai
1
1
,
2
5
1
0
,
9
Mãe
N
%
N
%
N
196
25
,2
5
0
2
7
,
4
5
3
3,47
22
,3
2
2
2
4
,
9
8
2
4
2,96
96
8
3
%
Mãe
N
2
2
1
0
Ensino médio
Ensino superior completo
responsável
Pai
N
%
N
%
N
%
N
Responsá
vel
%
N
Pai
%
Mãe
%
N
Mãe
%
N
responsável
N
%
9,
7
1
8
2,
3
4
7
,
6
15
8,
3
7
0,7
1
0,8
8
2
1,2
3
2
5
19
,9
1
9
1,
65
2
7
,
2
7
5,
42
4
1,2
3
1
1,1
1
1,5
2
0,86
1
B
7
29
,6
3
2
6
,
9
2
0
0
C
42
32
,3
1
3
1
3
5,32
3
D
51
20
,3
8
3
1
,
6
1
9
,
4
8
3,25
2
1
7
,
6
5
3
,
2
5
1
4
,
3
1
15
,6
3
1
0
0
5
,
3
2
0
4,
9
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1
3,
62
1
0,
75
1
4
6,
32
3
1,6
5
1
1,7
1
2,1
1
0,44
0
7
13
,2
5
6
4,
37
3
1
0
,
5
6
,
5
4
7,
35
1
2,3
2
1
3,2
5
2
5,39
3
0,32
1
Legenda: Região G todas as escolas do município, A escolas situadas em invasões,
B escolas de zona rural, C escolas próximas de favelas e invasões e D escolas
centrais,
Tabela 3: Distribuição das crianças por região com relação à renda total mensal da
família
Criança
Região
Geral
A
B
C
D
Renda total mensal da família em salários mínimos
Menos de 1
1a3
3a5
5a7
N
196
96
7
42
51
%
30,1
35,4
42,86
26,2
27,5
N
59
34
3
11
14
%
54,1
52,1
42,86
54,8
51,0
N
106
50
3
23
26
%
8,7
5,2
14,38
11,9
7,8
N
17
5
1
5
4
+ de 7
%
2,6
2,1
0,0
2,4
3,9
N
5
2
0
1
2
%
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
Nenhuma
renda
%
N
4,6
9
5,0
5
0,0
0
4,8
2
9,8
5
N
0
0
0
0
0
Legenda: Região G todas as escolas do município, A escolas situadas em invasões,
B escolas de zona rural, C escolas próximas de favelas e invasões e D escolas
centrais
Tabela 4: Distribuição das crianças por região segundo Condições de moradia
Criança
Na casa onde vive possui saneamento básico
Região
N
Água encanada
Sim
Não
%
N
%
196
96
7
42
51
94,4
91,7
100
95,2
86,3
Geral
A
B
C
D
185
88
7
40
44
5,6
8,3
0
4,8
13,7
N
Esgoto
Sim
%
11
8
0
2
7
57,7
43,8
57,15
69,1
68,6
Na casa onde vive Possui
luz elétrica
Copel
Rabicho
N
Não
%
N
%
N
%
N
113
42
4
29
35
42,4
56,3
42,15
31,0
31,4
83
54
3
13
16
71,4
49,0
100
90,5
80,4
140
47
7
38
41
28,6
51,0
0
9,5
19,6
56
49
0
4
10
Legenda: Região G todas as escolas do município, A escolas situadas em invasões,
B escolas de zona rural, C escolas próximas de favelas e invasões e D escolas
centrais
Tabela 5: Distribuição das crianças por região segundo a ocupação do pai, mãe e
responsável
Criança
Ocupação do pai, mãe e responsável
Região
Desempregado
Pai
Empregado
Mãe
Responsável
Pai
Mãe
Responsável
N
79
%
40,32
N
79
%
1,65
N
3
37
40,0
39
1,36
1
4
50,0
3
0,0
0
G
N
196
%
8,4
N
17
%
8,4
N
17
%
0,91
N
1
A
96
10,4
10
8,69
8
1,32
1
B
7
0,0
0
0,0
0
0,0
0
%
40,3
2
38,2
3
50,0
C
42
21,7
9
7,32
3
3,25
1
28,0
12
34,25
15
5,48
2
D
51
12,32
6
9,62
4
1,26
1
35,2
18
39,1
20
2,5
2
Legenda: Região G todas as escolas do município, A escolas situadas em invasões,
B escolas de zona rural, C escolas próximas de favelas e invasões e D escolas
centrais
Sabendo que região G são todas as escolas do município, região A são as
escolas localizadas em invasões, região B escolas rurais, região C escolas próximas
de favelas e invasões e a região D escolas localizadas próximas ou no centro da
cidade.
Observou-se grande discrepância em relação ao estado nutricional (peso e
altura) dos alunos em regiões distintas do Município, mesmo em regiões carentes
nas quais as hipóteses eram encontrar crianças com baixo peso e nanismo,
confirmou-se um nível elevado de sobrepeso e nanismo, e, em regiões centrais nas
quais as hipóteses eram encontrar mais sobrepeso e altura adequada, encontrou-se
maior número de baixo peso e nanismo (figura, 1, 2, 3, 4 e 5)
Evidências científicas apontam para um aumento nos casos de sobrepeso e
obesidade em crianças e adolescentes em vários países. No Brasil, a situação não é
diferente, refletindo uma transição nutricional pela qual o país está passando e que
exige intervenções nutricionais adequadas. Este fato ganha relevância, pois
indivíduos obesos na infância apresentam elevado risco de permanecerem obesos
na vida adulta (17). Os índices de sobrepeso e obesidade, que segundo Escoda (15) a
obesidade hoje é considerada problema de saúde coletiva pela elevada prevalência,
neste estudo os índices ficaram no geral entre 7% e 8%, respectivamente como
mostra a (figura 1). As regiões que apresentaram maiores índices de sobrepeso
foram C e D, 12 e 15%, (figura 4 e 5), já obesidade foram os grupos B e D, (figura 3
e 5), que apresentam os maiores Índices, ficando em 14% e 15%. O que também
tem forte relação com os níveis de renda da população e acesso aos alimentos. A
obesidade e os níveis de renda são socialmente correlacionados. O baixo consumo
de proteína de alto valor biológico e alto consumo de carboidratos e gordura, incide
nas classes inferiores, associado ao consumo em menor freqüência de leguminosas,
frango e carnes em geral, aumentando o risco da população de baixa renda se
tornarem cada fez mais obesas.(15)
Segundo Anjos
(7)
, a demografia e Saúde (PNDS) mostram que a prevalência
do nanismo declinou em um terço dois inquéritos (de 15,7% em 1989 para 10,5%
em 1996), sendo essa redução maior nas áreas urbanas do que nas rurais. O
progresso no crescimento foi maior do que no período passado, com um declínio
médio na prevalência de crianças com retardo severo de crescimento de 3,7% ao
ano entre 1985 e 1989 e de 4,8% ao ano entre 1989 e 1996. Da mesma forma, a
evolução regional do índice A/I indica declínio do déficit de crescimento em todo
país, sendo de 34,9% no Centro-Sul, de 34,4% no Nordeste e de 29,6% na região
Norte. O diferencial de prevalência com relação às regiões do Centro-Sul aumenta
ligeiramente no caso da Região Norte. Já em Piraquara o estudo nos mostra o
contrário, em relação à incidência de nanismo/idade, observa-se a variação entre
7% e 9% entre as regiões estudadas (figura 1, 2, 4 e 5) exceto a região B (figura 3)
na qual a incidência é 0%.
Nogueról
(20)
cita em seu trabalho desenvolvido a partir de uma análise
antropométrica da POP 2002-2003 que a diferença aproximada de altura entre os
brasileiros e, por coincidência, o que separa a estatura dos quintis mais ricos e a dos
mais pobres. Ao contrário do que diz o senso comum, a literatura mostra que
diferenças genéticas, apesar de terem impacto individual, são desprezíveis em
relação ao conjunto dos indivíduos no que respeita à estatura. Em uma população,
existem indivíduos mais altos ou mais baixos, mas sua altura média é determinada
por condicionantes externos. Ou seja, os genes e o ambiente determinam a altura
dos indivíduos, mas para as populações predominam as influências das condições
de vida.
Um dos mais importantes parâmetros da qualidade de vida da população é o
crescimento em altura de crianças. As condições ambientais influenciam o potencial
de crescimento infantil e este efeito é maior do que aquele que pode ser atribuído
aos fatores genéticos. Constata-se grande diferença de estatura associada com a
condição
sócio-econômica,
em
pré-escolares
com
semelhanças étnicas
e
geográficas. As comparações de alturas de crianças aos sete anos, procedentes de
distintos países e situações sócio-econômicas, revelam que as limitações genéticas
estão ao redor de 3,5 cm, enquanto o meio ambiente pode resultar em populações
com diferenças de mais de 12 cm. Embora exista uma corrente hegemônica que
reconhece as implicações da desigualdade social, a maioria dos estudos realizados
no Brasil, usam variáveis intermediárias, ou seja, nível de renda, grau de
escolaridade, características de moradia (14).
Porém em relação ao IMC/idade os índices de obesidade são mais elevados
nas regiões B e D entre 14% e 15% (figura 3 e 5) na região B provavelmente na
alimentação rural que é rica em leite integral, gordura animal, queijos gordos e na
região D provavelmente eles possuem mais acesso a alimentos, pois as casas e
escolas ficam próximas a mercados, panificadoras, lanchonetes no centro da cidade,
do que nas demais regiões A e C (figura 2 e 4) que estão localizadas em favelas ou
em proximidades, nestes bairros provavelmente não possuem tanto acesso a
alimentos, sendo escasso comércio de alimentos nestas regiões. Um estudo com
escolares de Salvador, Bahia, Leão
(10)
, mostra que a prevalência global de
obesidade na amostra estudada em escolas públicas foi 8,2%. Esse resultado foi
compatível com os menores índices desse estudo que ficaram entre 6% e 8%.
Já o sobrepeso é mais comum nas crianças da região C e D 11% e 12%
(figura 4 e 5) provavelmente na região C por ser a classe mais baixa, eles devem
consumir mais alimentos ricos em gorduras e carboidratos e na região D por terem
mais acesso a alimentos no centro da cidade tendo a incidência menor no grupo A
com 6% (figura 2) da população, provavelmente por este bairro ser contemplado
pelo governo federal com o Programa de Aceleramento do Crescimento PAC no
qual há um investimento em condições de moradia, saneamento básico, agricultura
familiar, coorporativas, saúde pública, entre outros, e nulo na região B, no qual esta
só apresenta obesidade (figura 3). No estudo desenvolvido por Abrantes
(13)
, foram
analisados os dados de sobrepeso de uma grande amostra pertencente às regiões
Nordeste e Sudeste do Brasil e indicaram valores iguais a 8,6% para sobrepeso.
Esses valores são inferiores aos observados no presente estudo, na qual a
prevalência de sobrepeso foi quase duas vezes superior nas regiões C e D (figura 4
e 5), já nas demais regiões, exceto região B (figura 3) que não apresenta sobrepeso,
tivemos valores inferiores ao estudo, ficando entre 6% e 7% (figura 1 e 2).
As regiões que apresentam maior número de crianças eutróficas são as
regiões A, B e C entre 83% e 86% (figura 2, 3 e 4), provavelmente nas regiões A, B
e C, que são bairros mais distantes do centro da cidade, não tendo tanto movimento
na rua, por possuir mais áreas de campo, estas crianças podem sair mais de casa
para brincar, aumentando a atividade física e o número de crianças eutróficas,
havendo uma queda em 73% somente no grupo D (figura 5), provavelmente por ser
o contrario das demais regiões, pois há grande movimento nas ruas da cidade,
sendo praticamente nulo as áreas de campo, diminuindo a atividade física dessas
crianças e aumentando o sobrepeso. Segundo Turini (8), em estudo desenvolvido em
Londrina-PR, mostra que a incidência de escolares eutróficos nesta cidade é de
65,11%, sendo superior neste estudo que varia entre 73% e 86% (figura 1, 2, 3, 4 e
5).
Em comparação a incidência de baixo peso apareceram nas regiões A e D
em 2% (figura 2 e 5), provavelmente por estas regiões serem as que mais
apresentaram nenhuma renda na família 5% e 9,8% respectivamente (tabela 5),
possivelmente estas famílias não possuem grande acesso a alimentos, acarretando
no baixo peso estas crianças, já nos grupos B e C são nulos (figura 3 e 4),
possivelmente por apresentarem maior renda entre as famílias, possuindo mais
acesso a alimentos (tabela 5). Farias (9), em estudo realizado em Rondônia, Norte do
País, mostra que o nível de baixo peso/idade é de 4%, índices maiores de este
estudo que ficaram entre 0% e 2% (figura 1, 2, 3, 4 e 5), mostrando que no Sul do
Pais os índices de baixo peso são menores do que no Norte do País.
A partir da (tabela 2), podemos notar que região que mais apresentou número
de irmãos foi o a região B totalizando 100% das famílias, as demais regiões ficaram
entre 84,3% a 91,7%. Notou-se também que em todas as regiões, a maior
porcentagem das famílias apresentam dois filhos (tabela 2).
Segundo Motta17 As variáveis relativas à família e domicílio associadas ao
sobrepeso, foram: chefe de família, número de pessoas, irmãos que residem no
domicílio, presença de criança menor de cinco anos, tipo de casa, número de
cômodos e número de equipamentos domésticos. A chance de sobrepeso foi maior
nos filhos únicos ou que tinham apenas um irmão. Já em Piraquara podemos
observar que a maior parte das famílias possuem dois filhos, (tabela 2), ficando na
média geral 30,10%, a região A foi a que mais apresentou filhos quatro ou mais
irmãos sendo 31,2% (tabela 2), já a região C ficou em 28,6% das famílias possuem
dois ou mais de quatro irmãos (tabela 2), a região D foi a que mais apresentou filho
único ficando em 15,7% (tabela 2) Comparando com a porcentagem de sobrepeso e
obesidade a região D, (figura 5), foi a que mais apresentou sobrepeso e obesidade
juntos, ficando em 11% e 14% respectivamente, assim comprovou-se que famílias
com filho único tem maior chances de terem filhos com sobrepeso e obesidade
conforme cita Motta.
Com relação a “com quem moram”, (tabela 3), apenas na região B todos os
alunos moram com os pais, já nas outras regiões a margem ficou entre 64% a
76,5%. Em relação aos que moram apenas com as mães a região A foi a que
apresentou maior índice, 27,02%, as demais regiões ficaram entre 21,9% a 16,7%.
Já os que com responsáveis (avós ou outros) a região que apresentou maior índice
foi a C ficando em 11,9%, as regiões A e D ficaram com porcentagem em torno de
5,3% e 3,9% respectivamente.
Na escolaridade dos pais ou responsáveis, (tabela 4), a maior porcentagem é
analfabeta. Os índices encontrados ficaram em 39,2% a 61,9 %, a região que menos
apresentou esse índice foi à região D 39,3% com as mães e a que mais apresentou
foi à região C 61,91% com ambos os pais. Já as famílias com maior nível de
escolaridade, ou seja, que completaram o ensino superior foi as da região D em
4,1%, as regiões A, C e G ficaram entre 2,1% a 4,1% com ambos os pais e apenas a
região B a porcentagem foi nula com ambos os pais.
Segundo Orlonski(16), se mostra associada à baixa estatura dos filhos com a
baixa escolaridade dos pais. Nota-se que pais com menos de quatro anos de estudo
apresentam um risco 2,12 vezes maior de possuir um filho com baixa estatura do
que uma mãe que possui mais de nove anos de estudo. Com relação ao nanismo
nutricional em Piraquara observa-se que as regiões A, C e D, (figura 2, 4 e 5)
ficaram entre 7 e 9%, já a região B a porcentagem foi nula (figura 3). Em Piraquara
os dados foram diferentes deste estudo, mostra-se que a região B, onde 56,5% dos
pais são analfabetos (tabela 4) as crianças não apresentam nanismo nutricional, já a
região A e C enquadram-se neste estudo (tabela 4), porém a região D foi a que
menos apresentou pais analfabetos com 42,95% (tabela 4) contradizendo o estudo
de Orlonski (16).
De acordo com a ocupação dos pais (tabela 7), a região que mais apresentou
desemprego foi à região D 13,73 %, sendo a região que apresenta a maior
porcentagem de nenhuma renda 9,8 % (tabela 5) e a região que menos apresentou
desemprego foi à região B ficando em 0% (tabela 7), no entanto foi à região que
menos apresentou em porcentagem nenhuma renda, ficando em 0% das famílias
(tabela 5).
Na questão da renda familiar, (tabela 5), a maioria das famílias recebem de 1
a 3 salários mínimos. A região D foi a que apresentou maior renda, de 5 a 7 salários
mínimos ficando 3,9%, em contra partida também foi a região D foi que apresentou
o índice maior de famílias que não possuem nenhuma renda 9,8% das famílias.
A literatura também evidencia que o baixo peso para a idade, o sobrepeso e o
retardo de crescimento linear são comuns em áreas de baixa renda (18). A região D
foi a que mais apresentou estas características, número de famílias com nenhuma
renda (tabela 5), apresentou o maior número de excesso de peso (sobrepeso e
obesidade) (figura 5), nanismo/altura a região D (figura 5), ficou com 8%, igualando
a média total dos alunos (figura 1) e ao baixo peso/idade a região D, (figura 5)
manteve os mesmos níveis da região A (figura 2).
Com relação às condições de moradia da população, (tabela 6), as regiões A,
B e C apresentaram maior índice de água encanada 91,7%, 100% e 95,2%
respectivamente, a região D foi a que menos apresentou com 86,3%. No
saneamento básico os índices de famílias que possuem tratamento de esgoto foram
de 43,8% a 69,1%. A luz elétrica (não considerando “rabicho”) as porcentagens
ficaram em 49 % a 100%. Há uma grande diferença entre os resultados em cada
região, lembrando que o município possui restrições para o desenvolvimento-social
por ter reservas de mananciais de água e muitas áreas de ocupação irregular.
CONCLUSÃO
Embora a comparação entre os estudos sobre os problemas nutricionais que
utilizam avaliações antropométricas seja difícil, as definições são fundamentadas em
diferentes indicadores e pontos de corte, e as faixas de idade envolvidas são
variadas, ela não é inviável. Este confronto, por ocorrer a partir de dados de regiões
distintas, com suas semelhanças e diferenças em relação à área estudada, pode
estimular o entendimento dos possíveis fatores determinantes e a busca de
soluções.
Sabendo da importância do estado nutricional adequado na infância é
fundamental conhecer o perfil nutricional da população infantil, pois quanto mais
precocemente forem diagnosticados problemas nutricionais, mais fácil será de
intervir. Constatou-se uma discrepância nos resultados entre a população estudada,
havendo diferença de diagnóstico de uma região para outra, mostrando a influência
dos determinantes sociais, no perfil nutricional, sendo de tamanha importância traçar
o perfil nutricional e social da população, para estabelecer programas de intervenção
individualizada em cada região do município com educação nutricional a partir do
ensino infantil, adequação dos cardápios e alimentação escolar, implementação de
lanches extra em escolas com necessidades e principalmente políticas públicas
eficazes nos múltiplos setores do município.
Sugere-se aperfeiçoar a equipe do Setor responsável com a contratação de
mais técnicos (nutricionistas) a fim de dar continuidade ao estudo para que os
problemas sejam minimizados e sanados tornando as políticas públicas mais
eficientes.
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6) Perfil nutricional e social de crianças de escolas