PERFIL NUTRICIONAL E SOCIAL DE CRIANÇAS DE ESCOLAS PÚBLICAS PERFIL NUTRICIONAL E SOCIAIL DE CRIANÇAS NUTRITIONAL AND SOCIAL PROFILE OF CHILDREN OF PUBLIC SCHOOLS NUTRITIONAL AND SOCIAL PROFILE OF CHILDREN Renata Braganholo Slompo¹ Rosangela Pontes² Patrícia Arantes da Luz³ Cynthia Matos Silva Passoni4 RESUMO O objetivo desse estudo foi avaliar o estado nutricional de crianças de Escolas Públicas e relacionar com determinantes sociais, para estudar possíveis pontos de intervenção em relação à merenda escolar. Foi realizado um estudo transversal com todas as escolas do Município de Piraquara - PR, totalizando 20 escolas. Foi utilizada amostragem estratificada. As escolas foram subdividas por regiões os ____________________________________________________ 1 1 2 2 Graduanda em nutrição – Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil 3 3 Nutricionista e chefe do Setor de Nutrição e Alimentação Escolar de Piraquara 4 4 Doutora pela Universidade Estadual Paulista. Coordenadora do Curso de nutrição da UniBrasil Graduanda em nutrição – Faculdades Integradas do Brasil - UniBrasil – R.Francisco Leal, 1113 - CEP: 83305-120 . São Cristovão – Curitiba – Paraná. E-mail: [email protected], Tel.: 8503-6225 alunos selecionados foram de primeira a quarta série, escolhidos aleatoriamente entre a faixa etária de 7 a 12 anos. Observou-se discrepância em relação ao diagnóstico de estado nutricional dos alunos em regiões distintas do Município, em regiões carentes nas quais as hipóteses eram encontrar crianças com baixo peso para idade e nanismo para idade, encontrou-se nível elevado de sobrepeso para idade e nanismo para idade, e, em regiões centrais nas quais as hipóteses eram encontrar mais sobrepeso para idade e altura ideal para idade encontrou-se maior número de baixo peso para idade e nanismo para idade. Descritores: estado nutricional; alimentação escolar; determinantes sociais. ABSTRACT The objective of this study was to evaluate the nutritional status of children in public schools and relate to social determinants, to study possible points of intervention in relation to school meals. We conducted a cross-sectional study with all the schools in the city of Piraquara - PR, totalizing 20 schools. Stratified sampling was used. The schools were subdivided by regions selected students were first to fourth grade, randomly selected from the age of 7 to 12 years. There was a discrepancy concerning the diagnosis of nutritional status of students in different areas of the city, in poor regions where the hypothesis were to find children with low weight for age and stunting for age, we found high level of overweight for age and stunting for age, and central regions in which the hypothesis were to found more overweight for age and ideal height for age showed the largest number of low weight for age and stunting for age. Keywords: nutritional status, school feeding, social determinants INTRODUÇÃO O Brasil, apesar de possuir alguns setores de sua economia desenvolvidos, apresenta um índice de desigualdade social muito alto, fator este primordial para o surgimento de problemas de saúde pública como a desnutrição, tanto por déficit como por excesso (³). As avaliações antropométricas do estado nutricional de escolares estão sendo tradicionalmente executadas com base em uma referência que é constituída a partir da observação do peso, da estatura e da idade da criança. Há vários registros de estudos epidemiológicos sobre a avaliação do estado nutricional usando a antropometria como um indicador ou método direto. Os resultados destes estudos constituem-se em indicadores diretos porque mostram o problema em si, ou seja, as manifestações biológicas que expressam o estado nutricional da população (³). Nos últimos 15 anos, a desnutrição infantil diminuiu em apenas 5%, o que mostra que apesar das campanhas, para diminuir a fome no mundo, a desnutrição infantil continua sendo muito preocupante e é responsável por mais da metade das mortes de crianças a nível global. Muitas crianças apesar de não estarem em níveis, considerados como: baixos pesos estão em risco nutricional, pois apresentam carências severas de vários micronutrientes, como as vitaminas e os minerais essenciais para o desenvolvimento físico e intelectual nessa faixa etária (²). Tanto a obesidade infantil quanto a desnutrição são muito preocupantes, pois são reflexos de uma alimentação inadequada. Estas crianças têm grandes dificuldades no desenvolvimento, desenvolvendo-se menos do que o esperado, risco de anemia, “déficit” na aprendizagem e algumas vezes dificuldade de sobrevivência. (5) Partindo-se do pressuposto de que a nutrição infantil constitui um importante indicador das condições gerais de vida de uma população, os acompanhamentos da situação nutricional e do controle do crescimento infantil de um país revelam-se instrumentos essenciais, tanto para a aferição das condições de vida a que está submetida à população infantil, como da sociedade em geral. Dessa forma, o conhecimento da natureza, tipo, magnitude, grupos mais afetados, distribuição espacial e por estratos socioeconômicos dos problemas alimentares e nutricionais de um país, constitui o elemento inicial básico de qualquer estratégia integral e efetiva para eliminá-los. (¹) Segundo Buss, em março de 2006, foi criada a Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), que tem por objetivo a preservação da saúde e a prevenção das doenças e outros agravos, além de consciência e ações individuais, depende da implementação de políticas públicas sociais e de saúde e da mobilização da sociedade (4) . Para a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. Apesar de hoje em dia a obesidade estar se tornando uma epidemia, a desnutrição infantil continua presente em nosso meio. Considerando que tanto a obesidade quanto a desnutrição são reflexo de uma alimentação inadequada, tornase importante correlacionar estes dados a fim de detectar índices significativos para minimizar a prevalência de doenças infantis relacionadas com alimentação e estimular uma alimentação saudável. Este trabalho teve como objetivo avaliar o estado nutricional de crianças freqüentadoras de escolas públicas do município de Piraquara correlacionando com a oferta de alimentos a partir da merenda escolar e determinantes sócioeconômicos. A partir de um estudo feito na Escola Municipal Heinrichs de Souza – Piraquara – Paraná, no qual foi diagnosticado crianças com baixo peso e nanismo por idade. Julgou-se necessário a investigação dos fatores relacionados com o estado nutricional desta população. Para que seja realizada intervenção a nível global, garantindo a qualidade de vida, o acesso e permanência do educando no ambiente escolar. METODOLOGIA Trata-se de um estudo transversal realizado em todas as escolas do Município de Piraquara - PR, totalizando 20 escolas, foi utilizada amostragem estratificada. As escolas foram subdividida por regiões, G todas as escolas do município, A escolas situadas em invasões, B escolas de zona rural, C escolas próximas de favelas e invasões e D escolas centrais, tais como alunos de primeira a quarta série escolhidos aleatoriamente entre a faixa etária de 7 a 12 anos. Para se ter 95% (noventa e cinco por cento) de confiança e no máximo quatro pontos percentuais de verdade. Desta forma, foram selecionados 441 alunos, sendo estes o número de 5 % (cinco por cento) do total de alunos por escola. O Projeto foi submetido ao Comitê de Ética das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil, com o protocolo de aprovação n° 05/2008. Os integrantes da amostra foram submetidos à avaliação do estado nutricional, foram aferidos peso e estatura para classificação do estado nutricional segundo Índice de massa corporal para a idade- IMC/I e altura para a idade- A/I (OMS/2007), foi utilizado para classificação do estado nutricional os pontos de corte para altura/idade: percentil menor do que 3 – nanismo/idade; percentil acima de 3 – altura adequada/idade; Para classificação do IMC/idade os pontos de corte foram: percentil menor do que 3 – baixo peso/idade; percentil maior do que 3 ou igual a 85 – eutrófico/idade; percentil maior de 85 e menor que 97 – sobrepeso/idade; percentil maior que 97 – obesidade. As medidas antropométricas foram coletadas na escola, de maneira padronizada segundo Jelliffe 1968 (19) . As crianças foram pesadas com roupas leves e descalças com balança digital Plena ® com capacidade de 150 kg e precisão de 100 g. A estatura foi obtida com estadiômetro móvel Cardiomed® com 200 cm com precisão de 0,1 cm. Ambas as medidas foram coletadas por avaliadores treinados, sempre com os mesmos equipamentos, rotineiramente calibrados. E aplicou-se aos pais ou ao responsável um questionário sócio econômico, no qual se abordou questões como: idade dos alunos, sexo, número de filhos, com quem os alunos moram responsáveis pelo sustento da família, escolaridade dos pais ou responsáveis, se trabalham de carteira assinada, há quanto tempo, renda total mensal da família, saneamento básico, esgoto e luz elétrica. Os dados foram tabulados com o programa EXCEL®. Fizeram parte da amostra 196 crianças cujos pais e ou responsáveis firmaram o termo de consentimento livre e esclarecido e entregaram o questionário sócio econômico para a participação da pesquisa. RESULTADO E DISCUSSÃO Figura 1: “Diagnóstico Nutricional de altura/idade e IMC/idade (OMS, 2006) da região G – todas as áreas do município Figura 2: “Diagnóstico Nutricional de altura/idade e IMC/idade (OMS, 2006) da região A – áreas de invasão. Figura 3: “Diagnóstico Nutricional de altura/idade e IMC/idade (OMS, 2006) da região B – área rural figura 4: “Diagnóstico Nutricional de altura/idade e IMC/idade (OMS, 2006) da região C – áreas de proximidade de invasões e favelas: Altura/Ida de Figura 5: “Diagnóstico Nutricional de altura/idade e IMC/idade (OMS, 2006) da região D – áreas centrais Tabela 1: Distribuição das crianças por região segundo número de irmãos Criança Região N Nenhum % Número de irmãos Dois Três Um N % N % N % Quatro ou mais N % Geral A B C D 196 96 7 42 51 10,7 7,3 14,3 14,3 15,7 21 7 1 6 8 24,0 19,8 25,6 21,4 33,3 47 19 2 9 17 30,1 27,1 42,9 28,6 35,7 59 26 3 12 18 12,2 15,6 0,0 19,1 2,0 24 15 0 8 1 N 23,01 30,2 14,3 28,6 13,7 45 29 1 7 7 Legenda: Região G todas as escolas do município, A escolas situadas em invasões, B escolas de zona rural, C escolas próximas de favelas e invasões e D escolas centrais Tabela 2: Distribuição das crianças por região segundo a escolaridade do pai, mãe e responsável Escolaridade do pai, mãe e responsável Região G A Analfabeto ou ensino fundamento incompleto Ensino fundamental Pai Responsáve l % N Pai 1 1 , 2 5 1 0 , 9 Mãe N % N % N 196 25 ,2 5 0 2 7 , 4 5 3 3,47 22 ,3 2 2 2 4 , 9 8 2 4 2,96 96 8 3 % Mãe N 2 2 1 0 Ensino médio Ensino superior completo responsável Pai N % N % N % N Responsá vel % N Pai % Mãe % N Mãe % N responsável N % 9, 7 1 8 2, 3 4 7 , 6 15 8, 3 7 0,7 1 0,8 8 2 1,2 3 2 5 19 ,9 1 9 1, 65 2 7 , 2 7 5, 42 4 1,2 3 1 1,1 1 1,5 2 0,86 1 B 7 29 ,6 3 2 6 , 9 2 0 0 C 42 32 ,3 1 3 1 3 5,32 3 D 51 20 ,3 8 3 1 , 6 1 9 , 4 8 3,25 2 1 7 , 6 5 3 , 2 5 1 4 , 3 1 15 ,6 3 1 0 0 5 , 3 2 0 4, 9 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 3, 62 1 0, 75 1 4 6, 32 3 1,6 5 1 1,7 1 2,1 1 0,44 0 7 13 ,2 5 6 4, 37 3 1 0 , 5 6 , 5 4 7, 35 1 2,3 2 1 3,2 5 2 5,39 3 0,32 1 Legenda: Região G todas as escolas do município, A escolas situadas em invasões, B escolas de zona rural, C escolas próximas de favelas e invasões e D escolas centrais, Tabela 3: Distribuição das crianças por região com relação à renda total mensal da família Criança Região Geral A B C D Renda total mensal da família em salários mínimos Menos de 1 1a3 3a5 5a7 N 196 96 7 42 51 % 30,1 35,4 42,86 26,2 27,5 N 59 34 3 11 14 % 54,1 52,1 42,86 54,8 51,0 N 106 50 3 23 26 % 8,7 5,2 14,38 11,9 7,8 N 17 5 1 5 4 + de 7 % 2,6 2,1 0,0 2,4 3,9 N 5 2 0 1 2 % 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Nenhuma renda % N 4,6 9 5,0 5 0,0 0 4,8 2 9,8 5 N 0 0 0 0 0 Legenda: Região G todas as escolas do município, A escolas situadas em invasões, B escolas de zona rural, C escolas próximas de favelas e invasões e D escolas centrais Tabela 4: Distribuição das crianças por região segundo Condições de moradia Criança Na casa onde vive possui saneamento básico Região N Água encanada Sim Não % N % 196 96 7 42 51 94,4 91,7 100 95,2 86,3 Geral A B C D 185 88 7 40 44 5,6 8,3 0 4,8 13,7 N Esgoto Sim % 11 8 0 2 7 57,7 43,8 57,15 69,1 68,6 Na casa onde vive Possui luz elétrica Copel Rabicho N Não % N % N % N 113 42 4 29 35 42,4 56,3 42,15 31,0 31,4 83 54 3 13 16 71,4 49,0 100 90,5 80,4 140 47 7 38 41 28,6 51,0 0 9,5 19,6 56 49 0 4 10 Legenda: Região G todas as escolas do município, A escolas situadas em invasões, B escolas de zona rural, C escolas próximas de favelas e invasões e D escolas centrais Tabela 5: Distribuição das crianças por região segundo a ocupação do pai, mãe e responsável Criança Ocupação do pai, mãe e responsável Região Desempregado Pai Empregado Mãe Responsável Pai Mãe Responsável N 79 % 40,32 N 79 % 1,65 N 3 37 40,0 39 1,36 1 4 50,0 3 0,0 0 G N 196 % 8,4 N 17 % 8,4 N 17 % 0,91 N 1 A 96 10,4 10 8,69 8 1,32 1 B 7 0,0 0 0,0 0 0,0 0 % 40,3 2 38,2 3 50,0 C 42 21,7 9 7,32 3 3,25 1 28,0 12 34,25 15 5,48 2 D 51 12,32 6 9,62 4 1,26 1 35,2 18 39,1 20 2,5 2 Legenda: Região G todas as escolas do município, A escolas situadas em invasões, B escolas de zona rural, C escolas próximas de favelas e invasões e D escolas centrais Sabendo que região G são todas as escolas do município, região A são as escolas localizadas em invasões, região B escolas rurais, região C escolas próximas de favelas e invasões e a região D escolas localizadas próximas ou no centro da cidade. Observou-se grande discrepância em relação ao estado nutricional (peso e altura) dos alunos em regiões distintas do Município, mesmo em regiões carentes nas quais as hipóteses eram encontrar crianças com baixo peso e nanismo, confirmou-se um nível elevado de sobrepeso e nanismo, e, em regiões centrais nas quais as hipóteses eram encontrar mais sobrepeso e altura adequada, encontrou-se maior número de baixo peso e nanismo (figura, 1, 2, 3, 4 e 5) Evidências científicas apontam para um aumento nos casos de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes em vários países. No Brasil, a situação não é diferente, refletindo uma transição nutricional pela qual o país está passando e que exige intervenções nutricionais adequadas. Este fato ganha relevância, pois indivíduos obesos na infância apresentam elevado risco de permanecerem obesos na vida adulta (17). Os índices de sobrepeso e obesidade, que segundo Escoda (15) a obesidade hoje é considerada problema de saúde coletiva pela elevada prevalência, neste estudo os índices ficaram no geral entre 7% e 8%, respectivamente como mostra a (figura 1). As regiões que apresentaram maiores índices de sobrepeso foram C e D, 12 e 15%, (figura 4 e 5), já obesidade foram os grupos B e D, (figura 3 e 5), que apresentam os maiores Índices, ficando em 14% e 15%. O que também tem forte relação com os níveis de renda da população e acesso aos alimentos. A obesidade e os níveis de renda são socialmente correlacionados. O baixo consumo de proteína de alto valor biológico e alto consumo de carboidratos e gordura, incide nas classes inferiores, associado ao consumo em menor freqüência de leguminosas, frango e carnes em geral, aumentando o risco da população de baixa renda se tornarem cada fez mais obesas.(15) Segundo Anjos (7) , a demografia e Saúde (PNDS) mostram que a prevalência do nanismo declinou em um terço dois inquéritos (de 15,7% em 1989 para 10,5% em 1996), sendo essa redução maior nas áreas urbanas do que nas rurais. O progresso no crescimento foi maior do que no período passado, com um declínio médio na prevalência de crianças com retardo severo de crescimento de 3,7% ao ano entre 1985 e 1989 e de 4,8% ao ano entre 1989 e 1996. Da mesma forma, a evolução regional do índice A/I indica declínio do déficit de crescimento em todo país, sendo de 34,9% no Centro-Sul, de 34,4% no Nordeste e de 29,6% na região Norte. O diferencial de prevalência com relação às regiões do Centro-Sul aumenta ligeiramente no caso da Região Norte. Já em Piraquara o estudo nos mostra o contrário, em relação à incidência de nanismo/idade, observa-se a variação entre 7% e 9% entre as regiões estudadas (figura 1, 2, 4 e 5) exceto a região B (figura 3) na qual a incidência é 0%. Nogueról (20) cita em seu trabalho desenvolvido a partir de uma análise antropométrica da POP 2002-2003 que a diferença aproximada de altura entre os brasileiros e, por coincidência, o que separa a estatura dos quintis mais ricos e a dos mais pobres. Ao contrário do que diz o senso comum, a literatura mostra que diferenças genéticas, apesar de terem impacto individual, são desprezíveis em relação ao conjunto dos indivíduos no que respeita à estatura. Em uma população, existem indivíduos mais altos ou mais baixos, mas sua altura média é determinada por condicionantes externos. Ou seja, os genes e o ambiente determinam a altura dos indivíduos, mas para as populações predominam as influências das condições de vida. Um dos mais importantes parâmetros da qualidade de vida da população é o crescimento em altura de crianças. As condições ambientais influenciam o potencial de crescimento infantil e este efeito é maior do que aquele que pode ser atribuído aos fatores genéticos. Constata-se grande diferença de estatura associada com a condição sócio-econômica, em pré-escolares com semelhanças étnicas e geográficas. As comparações de alturas de crianças aos sete anos, procedentes de distintos países e situações sócio-econômicas, revelam que as limitações genéticas estão ao redor de 3,5 cm, enquanto o meio ambiente pode resultar em populações com diferenças de mais de 12 cm. Embora exista uma corrente hegemônica que reconhece as implicações da desigualdade social, a maioria dos estudos realizados no Brasil, usam variáveis intermediárias, ou seja, nível de renda, grau de escolaridade, características de moradia (14). Porém em relação ao IMC/idade os índices de obesidade são mais elevados nas regiões B e D entre 14% e 15% (figura 3 e 5) na região B provavelmente na alimentação rural que é rica em leite integral, gordura animal, queijos gordos e na região D provavelmente eles possuem mais acesso a alimentos, pois as casas e escolas ficam próximas a mercados, panificadoras, lanchonetes no centro da cidade, do que nas demais regiões A e C (figura 2 e 4) que estão localizadas em favelas ou em proximidades, nestes bairros provavelmente não possuem tanto acesso a alimentos, sendo escasso comércio de alimentos nestas regiões. Um estudo com escolares de Salvador, Bahia, Leão (10) , mostra que a prevalência global de obesidade na amostra estudada em escolas públicas foi 8,2%. Esse resultado foi compatível com os menores índices desse estudo que ficaram entre 6% e 8%. Já o sobrepeso é mais comum nas crianças da região C e D 11% e 12% (figura 4 e 5) provavelmente na região C por ser a classe mais baixa, eles devem consumir mais alimentos ricos em gorduras e carboidratos e na região D por terem mais acesso a alimentos no centro da cidade tendo a incidência menor no grupo A com 6% (figura 2) da população, provavelmente por este bairro ser contemplado pelo governo federal com o Programa de Aceleramento do Crescimento PAC no qual há um investimento em condições de moradia, saneamento básico, agricultura familiar, coorporativas, saúde pública, entre outros, e nulo na região B, no qual esta só apresenta obesidade (figura 3). No estudo desenvolvido por Abrantes (13) , foram analisados os dados de sobrepeso de uma grande amostra pertencente às regiões Nordeste e Sudeste do Brasil e indicaram valores iguais a 8,6% para sobrepeso. Esses valores são inferiores aos observados no presente estudo, na qual a prevalência de sobrepeso foi quase duas vezes superior nas regiões C e D (figura 4 e 5), já nas demais regiões, exceto região B (figura 3) que não apresenta sobrepeso, tivemos valores inferiores ao estudo, ficando entre 6% e 7% (figura 1 e 2). As regiões que apresentam maior número de crianças eutróficas são as regiões A, B e C entre 83% e 86% (figura 2, 3 e 4), provavelmente nas regiões A, B e C, que são bairros mais distantes do centro da cidade, não tendo tanto movimento na rua, por possuir mais áreas de campo, estas crianças podem sair mais de casa para brincar, aumentando a atividade física e o número de crianças eutróficas, havendo uma queda em 73% somente no grupo D (figura 5), provavelmente por ser o contrario das demais regiões, pois há grande movimento nas ruas da cidade, sendo praticamente nulo as áreas de campo, diminuindo a atividade física dessas crianças e aumentando o sobrepeso. Segundo Turini (8), em estudo desenvolvido em Londrina-PR, mostra que a incidência de escolares eutróficos nesta cidade é de 65,11%, sendo superior neste estudo que varia entre 73% e 86% (figura 1, 2, 3, 4 e 5). Em comparação a incidência de baixo peso apareceram nas regiões A e D em 2% (figura 2 e 5), provavelmente por estas regiões serem as que mais apresentaram nenhuma renda na família 5% e 9,8% respectivamente (tabela 5), possivelmente estas famílias não possuem grande acesso a alimentos, acarretando no baixo peso estas crianças, já nos grupos B e C são nulos (figura 3 e 4), possivelmente por apresentarem maior renda entre as famílias, possuindo mais acesso a alimentos (tabela 5). Farias (9), em estudo realizado em Rondônia, Norte do País, mostra que o nível de baixo peso/idade é de 4%, índices maiores de este estudo que ficaram entre 0% e 2% (figura 1, 2, 3, 4 e 5), mostrando que no Sul do Pais os índices de baixo peso são menores do que no Norte do País. A partir da (tabela 2), podemos notar que região que mais apresentou número de irmãos foi o a região B totalizando 100% das famílias, as demais regiões ficaram entre 84,3% a 91,7%. Notou-se também que em todas as regiões, a maior porcentagem das famílias apresentam dois filhos (tabela 2). Segundo Motta17 As variáveis relativas à família e domicílio associadas ao sobrepeso, foram: chefe de família, número de pessoas, irmãos que residem no domicílio, presença de criança menor de cinco anos, tipo de casa, número de cômodos e número de equipamentos domésticos. A chance de sobrepeso foi maior nos filhos únicos ou que tinham apenas um irmão. Já em Piraquara podemos observar que a maior parte das famílias possuem dois filhos, (tabela 2), ficando na média geral 30,10%, a região A foi a que mais apresentou filhos quatro ou mais irmãos sendo 31,2% (tabela 2), já a região C ficou em 28,6% das famílias possuem dois ou mais de quatro irmãos (tabela 2), a região D foi a que mais apresentou filho único ficando em 15,7% (tabela 2) Comparando com a porcentagem de sobrepeso e obesidade a região D, (figura 5), foi a que mais apresentou sobrepeso e obesidade juntos, ficando em 11% e 14% respectivamente, assim comprovou-se que famílias com filho único tem maior chances de terem filhos com sobrepeso e obesidade conforme cita Motta. Com relação a “com quem moram”, (tabela 3), apenas na região B todos os alunos moram com os pais, já nas outras regiões a margem ficou entre 64% a 76,5%. Em relação aos que moram apenas com as mães a região A foi a que apresentou maior índice, 27,02%, as demais regiões ficaram entre 21,9% a 16,7%. Já os que com responsáveis (avós ou outros) a região que apresentou maior índice foi a C ficando em 11,9%, as regiões A e D ficaram com porcentagem em torno de 5,3% e 3,9% respectivamente. Na escolaridade dos pais ou responsáveis, (tabela 4), a maior porcentagem é analfabeta. Os índices encontrados ficaram em 39,2% a 61,9 %, a região que menos apresentou esse índice foi à região D 39,3% com as mães e a que mais apresentou foi à região C 61,91% com ambos os pais. Já as famílias com maior nível de escolaridade, ou seja, que completaram o ensino superior foi as da região D em 4,1%, as regiões A, C e G ficaram entre 2,1% a 4,1% com ambos os pais e apenas a região B a porcentagem foi nula com ambos os pais. Segundo Orlonski(16), se mostra associada à baixa estatura dos filhos com a baixa escolaridade dos pais. Nota-se que pais com menos de quatro anos de estudo apresentam um risco 2,12 vezes maior de possuir um filho com baixa estatura do que uma mãe que possui mais de nove anos de estudo. Com relação ao nanismo nutricional em Piraquara observa-se que as regiões A, C e D, (figura 2, 4 e 5) ficaram entre 7 e 9%, já a região B a porcentagem foi nula (figura 3). Em Piraquara os dados foram diferentes deste estudo, mostra-se que a região B, onde 56,5% dos pais são analfabetos (tabela 4) as crianças não apresentam nanismo nutricional, já a região A e C enquadram-se neste estudo (tabela 4), porém a região D foi a que menos apresentou pais analfabetos com 42,95% (tabela 4) contradizendo o estudo de Orlonski (16). De acordo com a ocupação dos pais (tabela 7), a região que mais apresentou desemprego foi à região D 13,73 %, sendo a região que apresenta a maior porcentagem de nenhuma renda 9,8 % (tabela 5) e a região que menos apresentou desemprego foi à região B ficando em 0% (tabela 7), no entanto foi à região que menos apresentou em porcentagem nenhuma renda, ficando em 0% das famílias (tabela 5). Na questão da renda familiar, (tabela 5), a maioria das famílias recebem de 1 a 3 salários mínimos. A região D foi a que apresentou maior renda, de 5 a 7 salários mínimos ficando 3,9%, em contra partida também foi a região D foi que apresentou o índice maior de famílias que não possuem nenhuma renda 9,8% das famílias. A literatura também evidencia que o baixo peso para a idade, o sobrepeso e o retardo de crescimento linear são comuns em áreas de baixa renda (18). A região D foi a que mais apresentou estas características, número de famílias com nenhuma renda (tabela 5), apresentou o maior número de excesso de peso (sobrepeso e obesidade) (figura 5), nanismo/altura a região D (figura 5), ficou com 8%, igualando a média total dos alunos (figura 1) e ao baixo peso/idade a região D, (figura 5) manteve os mesmos níveis da região A (figura 2). Com relação às condições de moradia da população, (tabela 6), as regiões A, B e C apresentaram maior índice de água encanada 91,7%, 100% e 95,2% respectivamente, a região D foi a que menos apresentou com 86,3%. No saneamento básico os índices de famílias que possuem tratamento de esgoto foram de 43,8% a 69,1%. A luz elétrica (não considerando “rabicho”) as porcentagens ficaram em 49 % a 100%. Há uma grande diferença entre os resultados em cada região, lembrando que o município possui restrições para o desenvolvimento-social por ter reservas de mananciais de água e muitas áreas de ocupação irregular. CONCLUSÃO Embora a comparação entre os estudos sobre os problemas nutricionais que utilizam avaliações antropométricas seja difícil, as definições são fundamentadas em diferentes indicadores e pontos de corte, e as faixas de idade envolvidas são variadas, ela não é inviável. Este confronto, por ocorrer a partir de dados de regiões distintas, com suas semelhanças e diferenças em relação à área estudada, pode estimular o entendimento dos possíveis fatores determinantes e a busca de soluções. Sabendo da importância do estado nutricional adequado na infância é fundamental conhecer o perfil nutricional da população infantil, pois quanto mais precocemente forem diagnosticados problemas nutricionais, mais fácil será de intervir. Constatou-se uma discrepância nos resultados entre a população estudada, havendo diferença de diagnóstico de uma região para outra, mostrando a influência dos determinantes sociais, no perfil nutricional, sendo de tamanha importância traçar o perfil nutricional e social da população, para estabelecer programas de intervenção individualizada em cada região do município com educação nutricional a partir do ensino infantil, adequação dos cardápios e alimentação escolar, implementação de lanches extra em escolas com necessidades e principalmente políticas públicas eficazes nos múltiplos setores do município. Sugere-se aperfeiçoar a equipe do Setor responsável com a contratação de mais técnicos (nutricionistas) a fim de dar continuidade ao estudo para que os problemas sejam minimizados e sanados tornando as políticas públicas mais eficientes. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 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