Programa de Pós Graduação em Nutrição Clínica ALTERAÇÕES NUTRICIONAIS NO PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIA BARIÁTRICA Eliane Ferreira Belo Horizonte 2009 Eliane Ferreira Soares ALTERAÇÕES NUTRICIONAIS NO PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIA BARIÁTRICA Monografia apresentada como exigência do Programa de Pós graduação em Nutrição Clínica do Ganep Nutrição Humana, como requisito parcial para obtenção do Título Especialista em Nutrição Clínica. Orientador: Dan Linetzky Waitzberg Belo Horizonte 2009 Dedico este trabalho a todos os pacientes que se submeteram a cirurgia bariátrica do ambulatório de nutrição da Universidade Federal de Minas Gerais, motivo pelo qual me despertou interesse para realização deste trabalho. AGRADECIMENTOS Á Deus por ter me dado saúde e força para trilhar com sucesso mais uma etapa. Ao meu marido e à D. Aparecida pelo apoio constante e compreensão ao longo dessa jornada. Ao meu orientador Dan Linetzky Waitzberg pelo exemplo de vida. RESUMO Esta revisão bibliográfica teve como objetivo coletar dados na literatura sobre as alterações nutricionais no pós operatório em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica. A obesidade tem aumentado em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil e pode acarretar outras doenças como diabetes mellitus, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e dislipidemia. Atualmente a cirurgia bariátrica é o método mais eficaz de perda de peso sustentável entre pacientes de obesidade mórbida. Os tipos de cirurgias bariátricas podem ser divididos em duas categorias: restritivas e restritivas malabsortivas. Geralmente, pacientes submetidos a procedimentos restritivos são os menos sujeitos aos riscos de complicações nutricionais, enquanto que pacientes submetidos a procedimentos malabsortivos estão sujeitos aos mais altos riscos. Baixos níveis de ferro e vitamina B12 são predominantes após o bypass gástrico em y de Roux. Níveis anormais de cálcio tiveram maior predominância na cirurgia de BPD, embora tenha encontrado deficiência após RYGB . Níveis de vitamina D estavam baixos tanto em BPD quanto RYGB. Deficiências de vitaminas lipossolúveis, proteínas e zinco são principalmente detectadas após derivação biliopancreática e deficiência de tiamina é comum em pacientes com vômitos freqüentes. A dieta após a cirurgia bariátrica tem como objetivo oferecer 60 a 80 gramas diárias de proteína, 25 a 30% de lipídeos e em torno de 50% ou mais de carboidratos, evitando alimentos com alto teor de açúcares que contribuiriam para o esvaziamento rápido do estômago. Nos três primeiros meses após a cirurgia, o conteúdo energético não ultrapassa 800 kcal/dia, a partir de 6 a 12 meses o conteúdo é em torno e 1000 a 1500 kcal/dia. Devido a dificuldade desses pacientes de atingir as necessidades nutricionais diárias após a cirurgia, atenção especial deve ser dada ao consumo e suplementação nutricional. Palavras Chaves: cirurgia bariátrica, deficiência nutricional, obesidade mórbida, obesidade. ABSTRACT This bibliographical review had objective to collect data in the literature on the nutritional alterations in patients that underwent bariatric surgery. The obesity has been increasing at several places of the world, including in Brazil and can bring other diseases like diabetes mellitus, arterial high blood pressure, cardiovascular diseases and dyslipidemia. At present the bariatric surgery is the most efficient method of loss of sustainable weight between patients of morbid obesity. The types of bariatric surgeries can be divided in two categories: restrictive and restrictive malabsorptive. Generally, patients underwent restrictive procedures are the least subject to risk of nutritional complications, while patients underwent procedures malabsorptive are subject to the highest risk. Low levels of iron and vitamin B12 are predominant after Roux-en-Y gastric bypass .Abnormal levels of calcium had a higher prevalence of BPD in surgery, but has found deficiency after RYGB. Levels of vitamin D were low in both BPD as RYGB . Deficiencies of fat-soluble vitamins, proteins and zinc are principally detected after diversion biliopancreatic and deficiency of thiamine is common in patients with frequent vomiting. A diet after the bariatric surgery aim to offer 60 to 80 gram daily of protein, 25 to 30 % of lipids and around 50 % or more of carbohydrates, avoiding foods with high tenor of sugars that would contribute to the fast emptying of the stomach. In the first three months after the surgery, the energetic content does not exceed 800 kcal/day, from 6 to 12 months the content is around 1000 to 1500 kcal/day. Due to difficulty of these patients of reaching the necessities nutritional daily after the surgery, special attention must be given to the consumption and nutritional supplementation. Keywords: bariatric surgery, nutrient deficiency, morbid obesity, obesity. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 09 2. OBJETIVO ................................................................................................................... 11 3. MATERIAS E MÉTODOS ......................................................................................... 12 4. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................... 13 5. CONCLUSÃO ............................................................................................................... 25 REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 26 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BPD - Derivação Biliopancreática BPDDS - Derivação Biliopancreática com Switch Duodenal cm - Centímetro g/dl - Gramas por decilitro IDA - Anemia por Deficiência de Ferro IMC - Índice de Massa Corporal IU - Unidades Internacionais kcal/dia - Quilocaloria/dia kg - Quilograma kg/m2 - Quilograma por metro quadrado LASGB - Bandagem Gástrica de Silicone Ajustável por Laparoscopia mmol/l - Milimol por litro µg - Micrograma µmol/l - Micromol por litro ml - Mililitros OMS - Organização Mundial da Saúde PTH - Hormônio da Paratireóide RYGB - Bypass Gástrico em Y de Roux VBG - Gastroplastia de Bandagem Vertical 9 1. INTRODUÇÃO Obesidade é uma doença multifatorial onde o excesso de gordura corporal está relacionado a predisposição genética e, principalmente a fatores ambientais. Paciente com obesidade severa frequentemente sofrem de séria doença assim como incapacidade física e psicológica que claramente fazem aumentar a mortalidade e morbidade (Alvarez-Leite, 2004). A obesidade mórbida está frequentemente associada à Síndrome Metabólica, que aumenta a mortalidade geral em cerca de 2 vezes e a cardiovascular em cerca de 2,9 vezes (Lakka et al, 2002). É uma patologia crescente que ocorre no mundo todo. Esta condição é frequentemente associada a comorbidades como hiperlipidemia, diabetes tipo 2 e doença cardiovascular (Mizon et al.,2007). A epidemia da obesidade tem se agravado ao longo de muitas décadas passadas e é agora prioridade de saúde pública em escala mundial (Prentice, 2006). O número de procedimentos de cirurgias bariátricas tem aumentado significativamente ao longo das últimas décadas (Trus et al.,2005). O crescimento no número de cirurgias é também evidente nos dados coletados no mundo todo indicando um aumento de 40.000 a 146.301 entre os anos de 1998 e 2003 (Buchwald & Wiliams, 2004). A organização Mundial de Saúde estima que existem 1,7 milhões de pessoas com sobrepeso e obesidade em todo o mundo, com estudos populacionais indicando que a prevalência de obesidade é crescente em crianças, adolescentes e adultos (Deitel, 2003). A prevalência de obesidade na população adulta americana, no período entre 1999 e 2004, era de aproximadamente 30%, e a prevalência de obesidade clinicamente severa (classe III, isto é, IMC > 40) entre 2003 e 2004 era de 2,8% em homens e 6,9% em mulheres (Ogden et al., 2006). A primeira terapia de escolha para obesidade severa é um programa não cirúrgico que integra mudanças no comportamento, atividade física adequada e suporte psicológico. (Alvarez-Leite, 2004). Contudo, em muitos casos de obesidade severa, o tratamento não cirúrgico deixa de propiciar perda de peso consistente e o tratamento cirúrgico pode ser indicado em alguns casos específicos (índice de massa corpórea acima de 40 ou >35 com comorbidades) (Alvarez-Leite, 2004). O surgimento crescente em procedimentos bariátricos é devido a vários fatores, incluindo técnica cirúrgica melhorada, redução na taxa de mortalidade pós-operatória, 10 significativa melhora nas condições de comorbidades relacionadas a obesidade e atenção da mídia aumentada (Kushner, 2006). Cirurgia bariátrica está associada com o desenvolvimento de muitas deficiências nutricionais que são previsíveis, previsíveis e tratadas baseadas na anatomia alterada cirurgicamente e mudanças dietéticas impostas. Com um aumento do número de pacientes com obesidade severa submetendo-se a cirurgia bariátrica, os clínicos precisam familiarizar-se com os procedimentos cirúrgicos e deficiências nutricionais (Kushner, 2006). Os três procedimentos restritivos malabsortivos: bypass gástrico em Y de Roux (RYGB), desvio biliopancreático (BPD) e desvio biliopancreático com derivação duodenal (BPDDS) impõem um risco maior para malabsorção e deficiência de micronutriente do que a bandagem gástrica de silicone ajustável laparoscópica puramente restritiva. Embora outros micronutrientes tenham sido reportados, as deficiências metabólicas e clínicas de dois minerais (ferro e cálcio) e quatro vitaminas (tiamina,folato, vitamina D e B12) têm sido mais frequentemente descritas na literatura (Kushner, 2006). A maior parte dos pacientes que se submetem a procedimentos malabsortivos desenvolvem alguma deficiência nutricional, justificando suplementação mineral e multivitamínica no pós operatório (Alvarez-Leite, 2004). O risco de complicações nutricionais no pós operatório aumenta se a prescrição dietética não for cuidadosamente seguida e o estado nutricional frequentemente monitorado (Marcus & Elkins, 2004) Para evitar graves deficiências nutricionais após cirurgia bariátrica é importante prever, prevenir e imediatamente tratar anormalidades nutricionais. Tanto o sucesso da cirurgia quanto a incidência de deficiências nutricionais estão relacionadas a magnitude de perda de peso. Atenção especial deveria ser dada a pacientes submetidos a procedimentos malabsortivos mais agressivos. Um controle cuidadoso e regular de nutrientes deve ser introduzido, uma vez que as deficiências limitam a qualidade de vida (Alvarez-Leite, 2004). 11 2. OBJETIVO Realizar uma revisão bibliográfica de trabalhos nacionais e internacionais que abordem as alterações nutricionais no pós operatório de pacientes submetidos a cirurgia bariátrica. 12 3. MATERIAIS E MÉTODOS A revisão da literatura foi realizada através da pesquisas nas bases de dados do Science Direct, MEDLINE, Literatura Latino-americana e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (LILACS). Para a coleta de artigos foram utilizadas as seguintes palavraschave: cirurgia bariátrica, deficiência nutricional, obesidade mórbida, obesidade. 13 4. REVISÃO DE LITERATURA 4.1 Obesidade A obesidade é frequentemente definida como excesso de peso, que está associado ao aumento da incidência de diabetes mellitus, doenças cardiovasculares e doença hepática gordurosa não alcoólica. A obesidade está também associada com o risco aumentado de todas as causas de mortalidade. Contudo o efeito do sobrepeso e obesidade na morbidade e mortalidade é difícil de quantificar (Ogden et al.,2007). A classificação mais aceita de peso corpóreo é baseada no Índice de Massa Corporal (IMC) definindo como o peso corporal (em quilogramas) dividido pela altura (em metros ao quadrado), permitindo identificar o risco de desenvolver complicações relacionadas a obesidade (Santos et al., 2006; pg.189, cn. n. 5,6). Obesidade é definida quando o IMC for ≥ 30 kg/m2, sobrepeso está entre 25 a 29,9 kg/m2, obesidade grau I quando situa-se entre 30 a 34,9 kg/m2, obesidade grau II quando o IMC está entre 35 e 39,9 kg/m2 e obesidade grau III quando o IMC ultrapassa 40kg/m2 (Mechanick et al., 2008). Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiares 2002-2003 (IBGE, 2004) a obesidade no Brasil afeta 8,9% dos homens adultos e 13,1% das mulheres adultas. Nos Estados Unidos e em outros lugares, a obesidade tem aumentado dramaticamente desde 1980. Entre 1980 e 2004 a prevalência de obesidade aumentou de 15% para 33% entre adultos e a prevalência de crianças acima do peso de 6% para 19% nos Estados Unidos (Ogden et al., 2006). 4.2 Tratamento Apesar de tratamentos comportamentais e farmacológicos de obesidade poderem resultar em perda de peso a curto prazo de aproximadamente 5 a 10% do peso corporal (com alguns dos mais bem sucedidos estudos relatando perda de peso tão alta quanto 18,8% em 12 meses (Delinsky, 2006), eles não foram capazes de produzir mais do que uma perda de peso modesta para a maioria dos pacientes, nem demonstraram sucesso em um prazo mais longo (Yanovski, 2002). Embora os pacientes tenham uma pausa nas complicações médicas e 14 psicológicas da obesidade, as melhoras nestas áreas frequentemente se deterioram com a recuperação do peso (Engel et al., 2003). Por outro lado, a cirurgia bariátrica produz perda de peso que varia entre 50 e 75% do excesso de peso corporal (Buchwald et al., 2004). Existem consenso crescente que a cirurgia bariátrica é a opção de tratamento predominante para a maioria dos indivíduos que tem obesidade clinicamente grave e que tem o mais alto risco de sofrer mortalidade relacionado a obesidade e comorbidade (Buchwald, 2005). A cirurgia bariátrica é aceita, atualmente, como a ferramenta mais eficaz no tratamento e controle da obesidade mórbida. Dentre os principais benefícios desta cirurgia, pode-se salientar a perda e manutenção do peso em longo prazo, melhora ou controle das doenças associadas, com conseqüência melhora na qualidade de vida (Garrido, 2002, apud Soares & Falcão, 2007, p.60). São candidatos ao tratamento cirúrgico pacientes com IMC maior que 40 kg/m2 ou com IMC superior a 35kg/m2 associado a comorbidade tais como apnéia do sono, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemias e dificuldades de locomoção, entre outras de difícil manejo clínico (Segal & Fandiño, 2002; p.69, cn. N.5, 10-12). Cirurgias de perda de peso caem em uma de duas categorias: restritivas e restritiva-malabsortiva. Cirurgias restritivas limitam a quantidade de comida que o estômago pode conter e diminuem a velocidade da taxa de esvaziamento gástrico. Estas incluem gastroplastia de bandagem vertical (VBG), o protótipo dessa categoria e bandagem gástrica de silicone ajustável por laparoscopia (LASGB). Os três procedimentos de bypass restritivosmalabsortivos associam os elementos de restrição gástrica e malabsorção seletiva entre eles: bypass gástrico em Roux (RYGB), derivação biliopancreática (BPD), derivação biliopancreática com switch duodenal (BPDDS) (Kushner, 2006). RYGB é o procedimento mais comumente realizado e aceito de bypass. Ele implica na formação de uma bolsa gástrica proximal de 10 a 30 ml e a criação de uma gastrojejunostomia estreita (10 mm) (Kushner, 2006). Segundo Csendes et al., (2005) este tem mostrado resultados altamente satisfatórios em termos de perda de peso, melhora de condições médicas e na qualidade de vida. BPD implica na realização de uma gastrectomia subtotal, divisão do intestino delgado, 250 cm proximal à válvula ileocecal e conectando-a diretamente à bolsa gástrica produzindo uma gastroileostomia. O restante da derivação proximal (ducto biliopancreático) é então anastomizado ao lado do íleo distal 50 cm proximal à válvula ileocecal. Neste procedimento o estômago distal, o duodeno e jejuno total são desviados, deixando apenas um 15 canal comum de 50 cm de íleo distal para que os nutrientes se misturem com as secreções pancreáticas e biliares (Kushner, 2006). BPDDS é uma variação da BPD que preserva a primeira porção do duodeno. Neste procedimento, uma gastrectomia subtotal vertical é realizada e o duodeno é dividido logo acima do piloro. O intestino delgado distal é conectado ao coto pequeno do duodeno, produzindo um canal comum íleo-duodenal de 75-100 cm para absorção de nutrientes. A outra ponta do duodeno é fechada e o restante do intestino conectado à derivação enteral de 75 a 100 cm da válvula ileocecal (Kushner, 2006). Cirurgia bariátrica está associada com o desenvolvimento de muitas deficiências nutricionais que são previsíveis, previníveis e tratadas baseadas na anatomia alterada cirurgicamente e mudanças dietéticas impostas (Kushner, 2006). 4.3 - Deficiências Nutricionais 4.3.1 Vitaminas hidrossolúveis Vitamina B12 é normalmente absorvida no íleo terminal. Contudo para que a absorção ocorra, a vitamina B12 deve estar vinculada ao fator intrínseco, uma glicoproteína produzida por células parietais no estômago e quebrada na presença de ácido hidroclorídrico e pepsina. Isto usualmente ocorre no estômago distal e duodeno, ambos sendo desviados após uma RYGB (Flancbaum et al., 2006). A deficiência sintomática de vitamina B12 pode ocorrer por longos períodos antes do aparecimento de qualquer sinal ou sintoma clínico (Kwok et al., 2004) desencadeando uma deficiência crônica de vitamina B12 que, se mantida durante anos, pode levar a manifestações neuropsiquiátricas irreversíveis (Andres et al., 2004). A posição da vitamina B12 é mais comumente e mais facilmente calculada por meio dos níveis séricos e plasmáticos de vitamina. A concentração de B12 no soro ou no plasma reflete tanto a B12 ingerida quanto estocada. O limite mais baixo é considerado como sendo de aproximadamente 120-180 pmol/l (170-250 pg/ml) (Kushner, 2006). Marcuard et al.,(1989) identificaram uma taxa de deficiência de vitamina B12 na ordem de 36% dos pacientes após bypass gástrico em um prazo pós operatório médio de 22 meses. Deficiência de folato é menos comum do que a deficiência de B12 e ocorre secundariamente a ingestão diminuída da dieta. Embora a absorção de folato ocorra 16 preferencialmente na porção proximal do intestino, ela pode acontecer ao longo de todo o intestino delgado (Alvarez-Leite, 2004). Segundo Cooper et al., (1999) operações puramente restritivas podem não demonstrar as mesmas taxas de deficiência de folato e vitamina B12. Pacientes de VBG acompanhados durante 5 meses após a cirurgia não mostraram deficiência de folato ou vitamina B12. Ao longo de 12 meses, contudo, apesar de todos os pacientes terem leituras normais de folato sérico, a média tinha sofrido uma queda significativa. Os níveis de vitamina B12 não sofreram alterações significativas ao longo de um ano. Num estudo de 30 pacientes submetidos ao bypass gástrico em Y de Roux laparoscópico e acompanhados por pelo menos dois anos, não foi observado deficiência de folato em nenhum paciente e vitamina B12 foi observado 33,3% em dois anos e 27,2% em três anos (Vargas-Ruiz & Hernández-Rivera, 2008). A tiamina é absorvida no intestino delgado proximal. A incidência de deficiência de tiamina após a cirurgia bariátrica tem sido baixa (Bloomberg et al.,2005). Uma deficiência aguda de tiamina associada com sintomas clínicos progredindo rapidamente parece resultar de uma combinação de ingestão de alimentos restrita e vômitos intratáveis persistentes. Sintomas comumente ocorrem de 1 a 3 meses após a cirurgia, embora eles possam ocorrer mais tarde (Kushner, 2006). Chang, et al., (2004) encontrou 40 casos de deficiência de tiamina em um total de 168.010 casos de bariátricas relatadas por membros da Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica. O desenvolvimento da deficiência de tiamina, conhecida como encefalopatia de Wernicke ou beribéri cerebral, é uma complicação a longo prazo rara, porém potencialmente letal das cirurgias bariátricas. (Mason et al., 2005). 4.3.2 Cálcio e vitamina D O duodeno e jejuno proximal são pontos seletivos para a absorção de cálcio enquanto que a vitamina D é absorvida preferencialmente no jejuno e no íleo. Malabsorção de cálcio e vitamina D é uma conseqüência do bypassing destes segmentos do intestino durante operações bariátricas (Bloomberg et al.,2005). As deficiências de cálcio e vitamina D ocorrem mais frequentemente com as operações de malabsorção, comparadas com aquelas puramente restritivas (Bloomberg et al., 17 2005). Essas deficiências manifestam clinicamente com osteoporose, osteomalácia ou hiperparatireoidismo secundária (Parkes, 2006). Segundo Mason et al., (2005) a deficiência de vitamina D é a segunda complicação metabólica mais importante na cirurgia de redução de peso. Muitos estudos têm demonstrado uma correlação inversa entre as concentrações de vitamina D e Índice de Massa Corporal (IMC) ou porcentagem de gordura do corpo, sugerindo reduzida biodisponibilidade de vitamina D proveniente da pele em indivíduos obesos (Kushner, 2006). A doença metabólica óssea e a inadequada ingestão de cálcio podem ocorrer após bypass gástrico em Y de Roux. A absorção fracionada de cálcio se relacionou com os níveis de estradiol, que explicaram 62% da variação de absorção de cálcio fracionada em 6 meses após a cirurgia (Riedt et al., 2004). A vitamina D é importante uma vez que o cálcio é absorvido pela ação de 1,25 dihidroxivitamina D [1,25(OH)2 D], que melhora a absorção do cálcio no duodeno, jejuno e íleo, sendo que maior absorção acontece no íleo (80%) (Wasserman, 2004). Slater et al (2004) estudaram metabolismo de cálcio e vitamina lipossolúvel no soro em pacientes suplementados com cálcio e vitamina D após o BPD. Eles acharam níveis anormais de cálcio e vitamina D em 57 e 63% dos pacientes 1 e 4 anos após a cirurgia respectivamente . Hipocalcemia também estava presente em 15 e 48% de pacientes, 1 e 4 anos após BPD. Hiperparatireoidismo secundário estava presente em 69% dos pacientes após 4 anos. Por outro lado, Marceau et al (2002) relatou apenas mudanças modestas na massa óssea em pacientes submetidos a BPD, 4 a 10 anos após a cirurgia. Contudo, estes pacientes estavam sob vigilância severa para evitar complicações metabólicas e suplementação mineral e vitamínica apropriada. Segundo Diniz et al. (2004) elevados níveis séricos de PTH foram observados em 29% dos pacientes e hipocalcemia em 0,9% em 110 pacientes submetidos a RYGB a partir do terceiro mês de cirurgia e depois (3 a 80 meses após cirurgia). Pungnale et al., (2003) mostraram que densidade mineral óssea do osso cortical diminuiu significativamente dentre 31 mulheres que se submeteram a procedimentos de bandagem restritivas sem evidências de hiperparatireoidismo secundária. Guney et al., (2003) demonstraram que a redução de peso causa perda óssea tanto em pacientes em tratamento médico quanto naqueles que se submeteram a gastroplastia de bandagem vertical restritiva, sem mudança nos níveis de PTH. Em outro estudo (Mach et al., 2004), seis pacientes obesos de controle foram comparados com quatro pacientes que se 18 submeteram a RYGB e nove pacientes que receberam bandagem gástrica. A operação RYGB resultou em perda significativa de massa óssea em comparação com o grupo de bandagem e controle de peso. Infelizmente a principal limitação na maioria dos estudos revisados é a falta de dados de base uma vez que a própria obesidade é associada com anormalidades no eixo PTH-Vitamina D (Kushner, 2006). Indivíduos obesos mórbidos frequentemente têm certo grau pré-existente de deficiência nutricional mesmo antes da cirurgia. Hiperparatireoidismo secundário e osteomalácia podem ocorrer em indivíduos obesos que não tenham se submetido a qualquer tipo de cirurgia gástrica de bypass (Bloomberg et al., 2005). Uma revisão potencial de 213 pacientes se apresentando para tratamento cirúrgico de obesidade mórbida mostrou que 25% dos pacientes tinham hiperparatireoidismo o que foi positivamente correlacionado com o IMC e 21% dos pacientes tinham níveis anormalmente baixo de 25-hidroxivitamina D (Hamoui et al., 2004). Segundo Brolin et al.,(2002) as taxas de deficiência de cálcio e vitamina D após RYGB têm sido relatadas em valores de 10% e 51%, respectivamente. 4.3.3-Vitaminas lipossolúveis Deficiências de vitaminas lipossolúveis são comuns e previsíveis após cirurgia bariátrica. A malabsorção dessas vitaminas é mais frequentemente encontrada após operações tais como BPD as quais limitam a exposição do alimento às secreções bíliopancreática, necessária a decomposição da gordura (Bloomberg et al.,2005). No entanto, sabe-se que a obesidade afeta a bioquímica das vitaminas lipossolúveis (Arunabh et al., 2003), sugerindo que as deficiências de vitaminas lipossolúveis já estão presentes nos pacientes antes da cirurgia (Slater et al., 2004). Dolan et al., (2004) avaliaram os níveis de vitamina A e julgaram os baixos (< 1,6 mmol/l) em 61% dos pacientes submetidos a BPD com ou sem switch duodenal após 28 meses de acompanhamento. Um estudo com 170 pacientes após BPD, a incidência de vitamina A atingiu 69% no quarto ano após a cirurgia, com um claro aumento da deficiência ao longo do tempo (Slater et al., 2004). Deficiência de vitamina A foi relatada apenas após a derivação biliopancreática (Mason et al., 2005) e é provavelmente devido a malabsorção de gordura causada pelo procedimento (Parkers, 2006). 19 Segundo Bloomberg et al.,(2005) a deficiência de vitamina E é incomum e ainda não se mostrou clinicamente significativa em pacientes que recebem suplementação sob a forma de multivitamínicos. Slater et al (2004) mostraram que os níveis de vitamina E sérica estavam normais em todos os pacientes sob o estudo com um ano após BPD e permaneceram normais em 96% dos pacientes até 4 anos após a cirurgia . Estes pacientes estavam tomando suplementos de vitaminas lipossolúveis. Dolan et al., (2004).em um outro estudo mostrou que somente 5% dos pacientes em um período médio de 28 meses após BPD e BPDDS tinham níveis baixo de vitamina E (< 7 umol/l) embora a maior parte estivesse tomando suplementos. Dolan et al (2004) compararam BPD com e sem switch duodenal e descobriu que a metade dos pacientes tinha deficiência de vitamina K, sem diferenças significativas entre as duas cirurgias. Os resultados provêm de um acompanhamento médio de 37 meses após BPD e 23 meses após BPDDS. Staler et al., (2004) examinaram a incidência de deficiência de vitamina lipossolúvel após BPD. A incidência de deficiência de vitamina A foi 69%, de vitamina K 68%, de vitamina D 63% e vitamina E 4% até o 4º ano após a cirurgia. 4.3.4 Minerais Zinco, como é um nutriente que depende da absorção de gordura, baixas concentrações séricas foram observadas em pacientes após derivações biliopancreáticas (Slater et al., 2004). Contudo, manifestações clínicas de deficiências de zinco não são comuns após cirurgia bariátrica (Alvarez-Leite, 2004). Após BPDDS, um estudo à partir de 2 centros mostraram que a incidência da deficiência de zinco (<12µmol/L) aproximava-se de 50% após 4 anos de acompanhamento e não cresceu ao longo do tempo após a cirurgia (Slater et al., 2004) Num outro estudo, deficiência de zinco ocorreu apenas 10,8% dos pacientes após BPD com ou sem switch duodenal, apesar de uma taxa de sujeição de 80% com a suplementação multivitamínica. (Dolan et al., 2004) Marceau et al. (2002) não encontraram anormalidades significativas nos níveis de magnésio antes da BPD, após 4 e 10 anos. Dolan et al. (2004) descobriu que em média 5% dos pacientes 28 meses após a cirurgia tinham níveis baixos de magnésio, porém a diferença entre aqueles submetidos a BPD e os submetidos a BPD com switch duodenal não era significativa. Não há informações de evidência de complicações clínicas por deficiência de magnésio após cirurgia bariátrica. 20 Poucos estudos clínicos tem sido publicados com vistas a deficiência de selênio após a cirurgia bariátrica (Bloomberg et al., 2005), Dolan et al.(2004) quando compararam BPD com e sem switch duodenal descobriram que 14,5% dos pacientes tinham deficiência de selênio (< 0,7umol/L), sem diferenças significativas entre as duas cirurgias e também sem conseqüências clínicas. O ferro é normalmente absorvido no duodeno que é excluído do fluxo do alimento após RYGB, levando a sua deficiência (Flancbaum et al., 2006). Pacientes que se submetem aos procedimentos restritivos malabsortivos estão sob risco particular de desenvolver deficiência de ferro e anemia por deficiência de ferro (IDA) devido à reduzida absorção de ferro, reduzida ingestão do ferro e pela menstruação da mulher, aumentando a perda de ferro (Kushner, 2006). Bypass cirúrgico do duodeno e jejuno proximal diminuem a absorção total de ferro porque a maior parte da absorção do ferro ocorre nessas regiões (Conrad & Umbreit, 2000). Além da absorção de ferro reduzida, pacientes de cirurgia bariátrica tipicamente consomem menos ferro heme devido a uma intolerância a produtos derivados da carne. Devido à combinação desses fatores, IDA ocorre no pós operatório em 33-50% dos pacientes, com uma mais alta incidência nas mulheres menstruando (Kushner, 2006). Deficiência de ferro pode também ser agravada nestes pacientes como resultado de uma interação absortiva inibitória nutriente-nutriente entre ferro e cálcio, outro mineral que é rotineiramente suplementado durante o período pós-operatório (Kushner, 2006). Anemia é mencionada como efeito colateral nutricional adverso mais comum na RYGB. Dados da literatura mostram que o principal determinante de anemia é a deficiência de ferro (Mizon et al.,2007). Skroubis et al., (2002) acompanharam 79 pacientes submetidos a RYGB e 95 pacientes submetidos a BPD durante dois anos após a cirurgia e demonstraram uma diminuição nos níveis de ferritina de 37,7% após RYGB e 15,2% após BPD. Todas as deficiências eram leves e foram facilmente corrigidas com suplementação adicional desse micronutriente deficiente, não necessitando de hospitalização. A deficiência de ferro não alterou em BPD com ou sem switch duodenal e aconteceu em uma taxa de 22,9% no acompanhamento médio de 28 meses (Dolan et al., 2004). A maior parte dos estudos de BPD tinha protocolos para suplementação multivitamínica, (Dolan et al., 2004). Num estudo de 30 pacientes submetidos ao bypass gástrico em Y de Roux laparoscópico e acompanhados por pelo menos dois anos, dois dos pacientes apresentaram 21 anemia ferropênica antes da cirurgia . Suplementação multivitamínica foi prescrita para todos os pacientes. Após dois anos, 46,6% dos pacientes apresentaram anemia por deficiência de ferro ou vitamina B12 ou de ambos. Após três anos, 63,6%, pelos mesmos motivos (VargasRuiz & Hernández-Rivera, 2008). Há dados inconsistentes relativos a deficiência de ferro após operações puramente restritivas tais como a gastroplastia de bandagem vertical (VBG) (Bloomberg et al., 2005). Um estudo relatou uma taxa de deficiência de ferro 20% dos pacientes antes da VBG, aumentando para 32% desses em uma média de 4 anos após VBG (Kalfarentzos et al., 2001). 4.3.5 Proteína Deficiência de proteína (Albumina menor que 3,5g / dl) pode ocorrer após RYGB, porém é mais comumente vista em procedimentos malabsortivos como BPD (Bloomberg et al., 2005). Um estudo por dois anos acompanhando no pós operatório 79 pacientes submetidos a RYGB e 95 a BPD, demonstrou que a incidência de hipoalbuminemia era desprezível, o que significa valores de albumina > 4g/dl. Somente um paciente de RYGB e dois de BPD tinham um nível de albumina sérica < 3g/dl (Skroubis et al., 2002). Dolan et al. (2004) compararam BPD com e sem switch duodenal e descobriram que 18% dos pacientes sofriam de hipoalbuminemia, não havendo diferenças significativas entre as duas cirurgias. Tabela 1: Incidência de deficiências nutricionais encontradas no pós-operatório de pacientes submetidos a diferentes cirurgias bariátricas (conforme revisão de literatura citada acima) Nutriente Vitamina B12 Vitamina B12 Folato Folato Cálcio Cálcio Vitamina D Vitamina D Vitamina A Vitamina E Vitamina K Vitamina K Zinco Cirurgia Bypass gástrico VBG VBG RYGB BPD RYGB BPD RYGB BPD e BPDDS BPD e BPDDS BPD BPD e BPDDS BPD e BPDDS Porcentagem da deficiência 27,2 a 36 0 0 0 57 10 63 51 61 a 69 4a5 68 50 10,8 a 50 22 Magnésio Selênio Ferro Ferritina Ferritina Anemia Hipoalbuminemia Proteína BPD e BPDDS BPD e BPDDS BPD ou BPDDS RYGB BPD RYGB BPD ou BPDDS RYGB 5 14,5 22,9 37,7 15,2 46,6 a 63,6 18 1,26 4.4 - Aspectos nutricionais da dieta após cirurgia bariátrica A quantidade recomendada de proteína deve constituir de pelo menos 1,0 g/kg peso ideal/dia, o que na prática equivale ingerir entre 60 a 80 g de proteínas diárias. Os carboidratos deverão constituir mais do que 50% do aporte diário e sua procedência deverá ser variada, evitando alimentos com alto teor de açúcares que contribuiria para o esvaziamento rápido do estômago (síndrome de dumping ). Os lipídeos não devem superar 25-30% de energia total diária, esses tendem a lentificar o esvaziamento gástrico e agravar sintomas de refluxo gastroesofágico. Em derivações gástricas biliopancreática, com componente malabsortivo, uma excessiva quantidade de gordura pode ocasionar dor abdominal, flatulência e esteatorréia. (Rubio & Moreno, 2007). Nas cirurgias gástrica restritiva, o início da capacidade gástrica está restringida a volumes muito pequenos, de 30 a 50 ml, posteriormente esta capacidade aumenta de 150-120 ml .A fibra insolúvel pode ser mal tolerada em pacientes com capacidade gástrica reduzida. A escassez de ácido clorídrico não permite digerir bem as paredes celulares e origina sensação gástrica pesada e flatulência. Somente a fibra solúvel contida nos alimentos na forma de beta glucana ou oligossacarídeos são bem toleradas (Rubio & Moreno, 2007). Durante os três primeiros meses, o conteúdo energético da dieta não ultrapassa 800 kcal/dia. A partir de 6 a 12 meses, com o aprendizado da forma de comer o volume do reservatório aumenta, permitido a ingestão de 1000 a 1500 kcal/dia. A consistência da dieta aumenta de forma progressiva desde uma dieta líquida completa até uma dieta normal, em um período de 6 a 12 semanas, em função do tipo de cirurgia e as características de cada paciente (Rubio & Moreno, 2007). Dieta líquida (0 a 4 semanas): Os líquidos devem ser tomados em pequena quantidade até completar a quantidade diária necessária. Este paciente deve manter uma hidratação adequada (2-2,5 L/dia). Dieta semi-sólida (2-8 semanas): poderá ser mais ou 23 menos espessa de acordo com a tolerância do paciente. Nesta fase as proteínas são introduzidas na forma de carne, triturados junto com carboidratos e lipídeos, formando um purê. Em caso de intolerância a carnes, deverá substituir por suplemento protéico. Dieta livre (a partir de 4-8 semanas): se inicia quando o paciente se encontra em condições de comer praticamente todos os alimentos saudáveis, isto é, baixa em gorduras e açúcares e rica em proteínas, frutas e verduras (Rubio & Moreno, 2007). 4.5 - Suplementação nutricional Segundo Elliot, (2003) o emprego de 350 µg/dia geralmente corrige um baixo nível da vitamina B12, apenas uma pequena porcentagem de indivíduos irão precisar de administração parenteral de B12 . Pacientes deveriam receber pelo menos 500 µg de B12 diariamente como uma suplementação dietética distribuída oralmente na forma de comprimido ou líquido ou sublingual como um spray nasal de 500 µg de cianocobalamina gel uma vez por semana, ou por injeção intramuscular de 100 µg mensalmente. O caminho de distribuição é baseado na preferência do paciente e monitoramento da posição da vitamina B12 (Kushner, 2006). Segundo Flancbaum et al., (2006), deve-se acompanhar níveis de vitamina B12 a cada 6 meses, prescrevendo sua suplementação apenas quando indicada clinicamente. Todos os pacientes submetidos a uma operação bariátrica restritiva mal absortiva deveriam receber doses suplementares de folato para prevenir a deficiência. Suplementos de ácidos fólicos são quase 100% biodisponíveis. Tipicamente a quantidade de folato presente em geral (400 µg) ou suplemento multivitamínico prenatal (800-1000 µg) é adequada para prevenir a deficiência (Kushner, 2006). Conformidade com a ingestão multivitamínica pode prevenir a deficiência de tiamina na maior parte dos casos. Em suspeita da deficiência, a administração de 50-100 mg de tiamina deve corrigir a deficiência. Em pacientes com hiperemese, administração parenteral da tiamina 6 semanas após a cirurgia deve prevenir a deficiência (Alvarez-Leite, 2004). Segundo Flancbaum et al., (2006), recomendam-se a triagem de tiamina no préoperatório e no peri-operatório, reposição com 100 mg de tiamina intramuscular no período pós-operatório imediato. Além disso, qualquer paciente queixando-se ou apresentando vômitos prolongados deveria suspeitar-se como tendo uma possibilidade de deficiência de 24 tiamina e ser tratado como tal empiricamente porque o exame não está geralmente disponível imediatamente e não há efeitos adversos na terapia de reposição de tiamina. Para evitar deficiência e suplementar a dieta, todos os pacientes deveriam receber suplementos de cálcio de pelo menos 1200-1500 mg/dia em doses fracionadas dependendo da adequação de cálcio na dieta. Mulheres na pós-menopausa, na lactação ou grávidas podem precisar de níveis mais altos devido a necessidades aumentadas. Citrato de cálcio mais vitamina D é a fórmula preferida por ser mais solúvel do que o carbonato de cálcio na ausência de produção de acidez gástrica. A vitamina D é tipicamente suplementada através de um comprimido multivitamínico mineral (400 IU) e aquele para duas doses de comprimido de cálcio mais vitamina D (400-800 IU) para uma dose suplementar diária total de aproximadamente 800-1200 IU de vitamina D (Kushner, 2006). Em pacientes com grave deficiência de vitamina D, repleção inicial de estoques com o análogo da vitamina D, ergocalciferol, deveria ser prescrita com 50.000 IU diariamente por uma a três semanas, seguida de administração semanal ou bimestral até que a desordem seja tratada (Thomas & Demay, 2000). Segundo Flancbaum et al., (2006), prescrevem-se 1200 mg de citrato de cálcio com vitamina D para todos os pacientes no pós-operatório, mas essa dose pode de fato mostrar-se muito baixa conforme novos dados se tornarem disponíveis. Sendo que a prática atual é examinar todos os candidatos a deficiência de 25-OH vitamina D e caso esteja presente corrigi-la tanto no pré-operatório quanto no pós-operatório imediato com ergocalciferol (5000 IU) dados por via oral uma vez por semana durante 8 semanas. A suplementação de cálcio de 1g/dia reduziu a perda óssea mensurada por densidade mineral óssea (Jensen, 2001). Durante acompanhamento de paciente externo, deve-se fornecer 320 mg de ferro 2 vezes ao dia para todas as mulheres em idade fértil (Mason et al., 2005). Deficiência de ferro e anemia às vezes persistem até em pacientes tomando multivitaminas. Nesses casos, uma suplementação adicional de ferro (300 mg de sulfato ferroso 3 vezes ao dia associado com ácido ascórbico) deveria ser prescrita para corrigir isto (Alvarez-Leite, 2004). 25 5. CONCLUSÃO Os artigos analisados relatam que pacientes submetidos a cirurgia bariátrica estão em risco aumentado de desenvolver alterações nutricionais, essas ocorrem mais frequentemente com as cirurgias restritivas malabsortivas se comparadas com aquelas puramente restritivas. Baixos níveis de ferro e vitamina B12 são predominantes após o bypass gástrico em y de Roux. Níveis anormais de cálcio tiveram maior predominância na cirurgia de BPD, embora tenha encontrado deficiência após RYGB . Níveis de vitamina D estavam baixos tanto em BPD quanto RYGB. Deficiências de vitaminas lipossolúveis, proteínas e zinco são principalmente detectadas após derivação biliopancreática e deficiência de tiamina é comum em pacientes com vômitos freqüentes. Assim, com o conhecimento das conseqüências nutricionais após essas cirurgias, maior atenção deveria ser dada a esses pacientes. Com um monitoramento cauteloso e suplementação adequada, essas deficiências poderiam ser evitadas e tratadas. 26 REFERÊNCIAS Alvarez-Leite JI. Nutriente deficiencies secondary to bariatric surgery. Curr Opin Clin Nutr Metab Care 2004; 7: 1-7 Andres E, Loukili NH, Noel E, et al. Vitamin B12(cobalamin) deficiency in elderly patients. CMAJ 2004; 171: 251-259. Arunabh S, Pollack S, Yeh J, et al. Body fat content and 25-hydroxyvitamin D levels in healthy women. J Clin Endocrinol 2003;88; 1157-161. Bloomberg RD, Fleishman A, Nalle JE, et al. Nutritional deficiencies following bariatric surgery: What have we learned? Obesity Surgery 2005; 15:145-154. Brolin RE, LaMarca LB, Kenler HA et al. Malabsorptive gastric bypass in patients with superobesity. J Gastrointest Surg 2002; 6:195-205. Buchwald H. The future of bariatric surgery. Obes Surg 2005; 15:598-605. Buchwald H, Williams SE. Bariatric surgery worldwide 2003. Obes Surg 2004; 14:11571164. Buchwald H, Avidor Y, Braunwald E, et al. 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