ESP ORTE CLU BE SALVADOR DOMINGO 9/12/2012 ANDRÉ UZÊDA A preocupação com a saúde é o principal motivo para o jovem brasileiro, entre 18 a 35 anos, praticar algum tipo de modalidade esportiva no Brasil. O dado está identificado na pesquisa que a empresa de calçados e artigos esportivos Olympikus, do grupo Vulcabras-Azaleia, realizou com 1.542 pessoas no País, justo com o intuito de radiografar hábitos, estilo de vida e relação de consumo desta faixa etária com a prática de exercícios físicos. Além da preocupação com o bem-estar (com 42% das respostas), o lazer (30%) aparece como segunda opção mais assinalada nesta aferição. Com base nestes números, o jornal A TARDE vai publicar, nos próximos domingos, matérias especiais identificando o perfil dos ‘jovens-atletas’ no País. De bate-pronto, um dos objetos interpretados do estudo revela que, desproporcional à média nacional, a região Nordeste possui índices próprios. Aqui, o número de jovens que praticam esportes buscando o lazer como principal causa é maior do que no restante do País – são 37% contra 30%. Como consequência imediata, o item saúde como causa primordial é também inferior nesta faixa geográfica, em comparativo ao restante do Brasil. (veja infográfico ao lado). Para o antropólogo Jeferson Bacelar, professor da Universidade Federal da Bahia, a explicação para esta distorção estaria no conjunto de valores de cada camada da população brasileira. “A saúde como conceito é algo novo, do início do século XXI. E está mais intimamente ligado às classes média e alta. Nós sabemos que estas classes, por um contexto histórico, se concentram mais no Sul e Sudeste do Brasil... Além do mais, aqui no Nordeste temos a característica peculiar de sermos um povo alegre, mais espontâneo e isso influencia na busca pelo prazer. O cara quer bater o Marco Aurélio Martins / Ag. A TARDE / 8.10.2011 INFORMAÇÃO Estudo da empresa Olympikus revela o perfil do jovem atleta brasileiro Esporte por prazer é maior no Nordeste, diz pesquisa Futebol é o esporte mais praticado no Brasil, com 57%, de acordo com pesquisa por amostragem PESQUISA OLYMPIKUS Total Comparativo entre as regiões e a média nacional sobre o perfil do ‘jovem atleta’ brasileiro 68 67 66 47 64 57 45 Sul Sudeste 49 53 55 FALTA DE TEMPO 37 30 21 21 42 42 44 44 39 O que mais atrapalha a prática do esporte? FUTEBOL Qual o índice de prática esportiva por região? E qual esporte mais praticado? foi o número de municípios ouvidos pela pesquisa da empresa Olympikus. Destes, 41% foram entrevistados nas capitais e região metropolitana, e 59% no interior do Brasil 33 19 ATIVIDADE ESPORTIVA 96 27 25 FALTA DE ESTRUTURA baba dele e depois tomar sua cerveja, sem se preocupar com o sobrepeso ou com estética”, brinca o estudioso. A mesma questão é vista por outro prisma pelo presidente do CREF-Bahia/Sergipe (Conselho Regional de Educação Física), Paulo César Vieira. “A questão da saúde ainda precisa ser melhor entendida por aqui. A prá- Norte/Centro-Oeste 61 60 38 26 Nordeste 74 56 51 B9 ENTRETENIMENTO SAÚDE Quais as razões de se praticar esporte? Editoria de Arte A TARDE “Temos a característica de um povo alegre, e isso influencia na busca pelo prazer” JERFERSON BACELAR, antropólogo Outro ponto no qual o Nordeste apresenta índices diferentes do parâmetro nacional está na mo- dalidade esportiva mais praticada entre jovens. Neste ponto, porém, não há disparidades, mas uma pequena elevação além do normal registrado na média do País. O futebol, no Brasil, é a modalidade preferida de 57% dos jovens, enquanto no Nordeste este número sobe para 61% (a maior entre todas as regiões – ver no infográfico ao lado). A dança é o segundo esporte mais praticado na região, com 40% da preferência – a média nacional é de 35% “A falta de estrutura para outras modalidades acaba facilitando para que estas sejam as mais praticadas, já que demandam de poucos esforços para serem realizadas”, analisa Paulo César Vieira. A margem de erro na aferição realizada com 1.542 pessoas é de 3%. O “nível de confiança” da pesquisa é de 95%. As classes sociais entrevistadas foram as A, B e C e os brasileiros, da bola. Hoje, não somos mais os donos do campo nem da bola. Não aprendemos a utilizar os espaços e damos a bola com facilidade ao adversário. Entre 1974 e 1994, o Brasil não ganhou a Copa do Mundo, porque havia seleções melhores. A de 1982 foi exceção. Encantou, mas não venceu. José Miguel Wisnik, em seu excepcional livro “Veneno remédio”, escreveu sobre esse período: “Predominava a ideia de que era preciso adotar um jogo eminentemente coletivo, tecnica- mente responsável, compactamente defensivo, fisicamente forte e que abrisse mão de devaneios individualistas”. De 1994 até hoje, nas vitórias e nas derrotas, continuaram as discussões sobre o futebol-arte e de resultados. As maiores equipes de todos os tempos, com vários estilos, sempre atuaram, primeiro, para vencer. A Seleção de 1970 jogava um futebol de prosa e de poesia. Unem o pragmatismo criativo e o jogo coletivo com o talento individual e as fantasias. “A linha reta não sonha” (Oscar Niemeyer). Quando as grandes equipes perdem não é porque não são competitivas. Dezenas de detalhes, que, muitas vezes, duram umafraçãodesegundos,mudam a história de um jogo. “A vida é um sopro” (Oscar Niemeyer). A arte necessita da técnica. Já a técnica sem a arte tende ao tecnicismo e à ineficiência. O que não se pode é confundir firula, habilidade sem técnica, com arte. Infelizmente, um grande número de pessoas envolvidas profissionalmente com o fute- bol apenas se preocupa com o resultado, com os estereótipos, com o imediatismo e com as manchetes bombásticas. A discussão entre futebol-arte e de resultados transcende o futebol. Faz parte das eternas dúvidas humanas entre a razão e a imaginação, o desejo e a ética, o real e o simbólico, e tantas outras dualidades. Quando vejo o Barcelona jogar, um time que une o individual com o coletivo, a fantasia com o resultado, atenuam-se minhas dúvidas futebolísticas e minhas angústias existenciais. tica de qualquer atividade física precisa ocorrer da forma correta e com a indicação de profissionais responsáveis. Essa consciência ainda não chegou para todos”, diz. Único esporte MARGEM DE ERRO DA PESQUISA OLYMPIKUS COLUNA DO TOSTÃO Tostão Ex-jogador “A LINHA RETA NÃO SONHA” A antiga e inapropriada discussão entre futebol-arte e futebol de resultados será ainda mais frequente até a Copa, por causa do fim do sonho de trazer Guardiola, símbolo do futebol bem jogado e bonito, e do retorno de Felipão à Seleção, representante do futebol de resultados, embora, como todo bom técnico, tenha sucessos e fracassos. Após a Copa de 1966, vencida pelos ingleses, só se falava, no Brasil, do fim do jogo moleque, inventivo e imprevisível das seleções de 1958 e 1962 e do novo futebol dos europeus, de resultado, força, disciplina tática, velocidade e objetividade. Apenas quatro anos depois, após a Copa de 1970, o grande cineasta italiano Pasolini disse que a poesia brasileira tinha vencido a prosa italiana. Chico Buarque escreveu que os europeus eram os donos do campo,