UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE A AUTO-ESTIMA COMO FATOR DETERMINANTE NA APRENDIZAGEM LUZIA MOREIRA ZILBER ORIENTADOR: Profª. Fabiane Muniz Rio de Janeiro, Fev./2003 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE A AUTO-ESTIMA COMO FATOR DETERMINANTE NA APRENDIZAGEM LUZIA MOREIRA ZILBER Monografia apresentado à Universidade Cândido Mendes como requisito do Curso de Pós-Graduação Psicopedagogia. Rio de Janeiro, Fev./2003 “Lato Sensu” em 3 RESUMO O trabalho proposto, realizado a partir de uma pesquisa bibliográfica, se destina a abordar a questão da influência da auto-estima como fator determinante da aprendizagem, pois uns alunos demonstram maior desejo, interesse, entusiasmo e motivação que outros, e que variadas dimensões ideológicas e psicológicas estão implicadas neste desejo. Nesse contexto, o trabalho busca analisar a inter-relação entre afetividade e cognição, partindo do princípio que a afetividade poder ser conceituada como todo o domínio das emoções propriamente ditas, dos sentimentos das emoções, das experiências sensíveis, e principalmente da capacidade em se poder entrar em contato com sensações. Ademais, a comunicação da criança com o outro se faz através da emoção, primeiro recurso disponível à promoção das interações indispensáveis à continuidade da vida. 4 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 05 CAPITULO I - A CRIANÇA E A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO ........... 1.1 A Assimilação e Acomodação ............................................................................... 1.2 A Teoria da Equilibração ....................................................................................... 1.3 Os Estágios Cognitivos .......................................................................................... 07 08 10 12 CAPÍTULO II - A INFLUÊNCIA DAS DIMENSÕES AFETIVA/COGNITIVA NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM .......................................................... 15 CAPÍTULO III - A INFLUÊNCIA DAS EMOÇÕES NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO .............................................................................................. 20 3.1 O encontro da emoção com o conhecimento ......................................................... 26 CAPÍTULO IV - DA ESTIMA À AUTO-ESTIMA NA EDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM ...................................................................................................... 30 4.1 Sugestões para enriquecer a auto-estima ............................................................... 32 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 37 ANEXOS ..................................................................................................................... 38 5 INTRODUÇÃO Criança, adolescente ou adulto, qualquer um deles, por mais diferente que seja quanto à sua organização psicológica, é sempre um ser humano que vive em sociedade, com o seu grupo de pares, isto é, no seu micro-sistema e que interage com diversas entidades físicas e psicológicas, cujo conseqüente sucesso dependerá de vários fatores intrínsecos e extrínsecos. Assim, é nesta perspectiva que abordamos a auto-estima, como uma das características do ser humano de extrema importância para as relações humanas. Mas afinal o que é a autoestima? Qual a sua influência no processo de aprendizagem? Tão falada e comentada nos dias de hoje, mas sabemos defini- la corretamente? Nos nossos dias a palavra auto-estima é utilizada por diversos tipos de profissionais, quer sejam ou não da área das Ciências Humanas. Se pensarmos o porquê desta saudável vulgarização, talvez cheguemos à conclusão, que cada vez mais se está a dar uma maior importância ao bem-estar das pessoas. É, portanto, neste sentido que pensamos ser importante abordar a questão da autoestima, do ponto de vista técnico e científico, para que se reconheça legitimidade, nas conversas formais e informais que se têm hoje em dia. Antes de mais, auto-estima é acima de tudo uma atitude, uma atitude para consigo próprio que vai sendo adquirida ao longo do crescimento e do desenvolvimento da criança. Para muitos autores, a auto-estima constitui o núcleo básico da personalidade, para outros, é a 6 forma habitual, mais ou menos estável de pensar, sentir, amar, comportar-se e reagir consigo próprio, sendo obviamente uma estrutura dinâmica e passível de ser modificada. Deste modo, a forma como lidamos conosco pode influenciar - e influencia com certeza - a forma como lidamos com os outros, quer na vida profissional, familiar e escolar: - a auto-estima poderá ajudar a ultrapassar dificuldades pessoais, fomentando a autoresponsabilidade - se o indivíduo acreditar que tem em si recursos disponíveis para responder às necessidades que lhe vão surgindo, ele irá esforçar-se para cumprir determinada tarefa; - permite uma relação social saudável e positiva - pois se o indivíduo tem uma boa relação consigo próprio, será mais fácil de transpor para os outros que o rodeiam; desenvolve a criatividade - pois para se trabalhar a criatividade, será necessário que o indivíduo se sinta confiante e que acredite que é capaz de desenvolver e de criar algo; - por último, falamos da aprendizagem, tema que por, responsabilidades profissionais nos é mais querido e sensível. É, pois um dado adquirido, para os especialistas que, a auto-estima de uma criança afeta, influencia e condiciona a aprendizagem. Se não, pensemos que, para adquirirmos qualquer idéia nova temos que estar "disponíveis" para essa aquisição, isto é, se não acreditarmos que temos capacidade para compreendê- la, para reter uma matéria ou perceber uma fórmula, não chegaremos a ter motivação suficiente para investir nessa nova tarefa. Os comentários destrutivos dos pais, professores e colegas são muitas vezes formas de acentuar o auto-desespero e a intolerância à frustração. Todos nós somos testemunhas da impotência que uma criança ou uma adolescente sente quando tem uma baixa auto-estima. Aqui, todas as experiências negativas vão reforçar esta característica e fazer com que o tão desejado sucesso escolar, fique cada vez mais distante e difícil. Assim, escolhemos a auto-estima como fator determinante na aprendizagem por observamos, ao longo do processo, grande número de pessoas sem atenção, desinteressados, com o sentimento de incapacidade, fugindo de problemas mais simples. Faz-se então, importante uma prática pedagógica, que considere o aluno como um indivíduo pensante, inteligente, que se alegre, sofre, que constrói significados. 7 CAPITULO I A CRIANÇA E A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO Jean Piaget, para explicar o desenvolvimento intelectual, partiu da idéia que os atos biológicos são atos de adaptação ao meio físico e organizações do meio ambiente, sempre procurando manter um equilíbrio. Assim, Piaget entende que o desenvolvimento intelectual age do mesmo modo que o desenvolvimento biológico (Wadsworth, 1996). Para Piaget, a atividade intelectual não pode ser separada do funcionamento "total" do organismo (1952, p.7): “Do ponto de vista biológico, organização é inseparável da adaptação: Eles são dois processos complementares de um único mecanismo, sendo que o primeiro é o aspecto interno do ciclo do qual a adaptação constitui o aspecto externo.” Ainda segundo Piaget (Pulaski, 1986), a adaptação é a essência do funcionamento intelectual, assim como a essência do funcionamento biológico. É uma das tendências básicas inerentes a todas as espécies. A outra tendência é a organização. Que constitui a habilidade de integrar as estruturas físicas e psicológicas em sistemas coerentes. Ainda segundo o autor, a adaptação acontece através da organização, e assim, o organismo discrimina entre a miríade de estímulos e sensações com os quais é bombardeado e as organiza em alguma forma de estrutura. Esse processo de adaptação é então realizado sob duas operações, a assimilação e a acomodação. Cabe aqui introduzir um novo conceito que é amplamente utilizado quando essas operações, assimilação e acomodação, são empregadas. Esse novo conceito que estamos procurando introduzir é chamado por Piaget de esquema (schema). 8 Wadsworth (1996) define os esquemas como estruturas mentais, ou cognitivas, pelas quais os indivíduos intelectualmente se adaptam e organizam o meio. Assim sendo, os esquemas são tratados, não como objetos reais, mas como conjuntos de processos dentro do sistema nervoso. Os esquemas não são observáveis, são inferidos e, portanto, são constructos hipotéticos. Conforme Pulaski (1986), esquema é uma estrutura cognitiva, ou padrão de comportamento ou pensamento, que emerge da integração de unidades mais simples e primitivas em um todo mais amplo, mais organizado e mais complexo. Dessa forma, temos a definição que os esquemas não são fixos, mas mudam continuamente ou tornam-se mais refinados. Uma criança, quando nasce, apresenta poucos esquemas (sendo de natureza reflexa), e à medida que se desenvolve, seus esquemas tornam-se generalizados, mais diferenciados e mais numerosos. Nitzke et alli (1997a) escreve que os esquemas cognitivos do adulto são derivados dos esquemas sensório- motores da criança. De fato, um adulto, por exemplo, possui um vasto arranjo de esquemas comparativamente complexos que permitem um grande número de diferenciações. Estes esquemas são utilizados para processar e identificar a entrada de estímulos, e graças a isto o organismo está apto a diferenciar estímulos, como também está apto a generalizá- los. O funcionamento é mais ou menos o seguinte, uma criança apresenta um certo número de esquemas, que grosseiramente poderíamos compará- los como fichas de um arquivo. Diante de um estímulo, essa criança tenta "encaixar" o estímulo em um esquema disponível. Vê-se então, que os esquemas são estruturas intelectuais que organizam os eventos como eles são percebidos pelo organismo e classificados em grupos, de acordo com características comuns. 1.1 A Assimilação e Acomodação A assimilação é o processo cognitivo pelo qual uma pessoa integra (classifica) um novo dado perceptual, motor ou conceitual às estruturas cognitivas prévias (Wadsworth, 9 1996). Ou seja, quando a criança tem novas experiências (vendo coisas novas, ou ouvindo coisas novas) ela tenta adaptar esses novos estímulos às estruturas cognitivas que já possui. O próprio Piaget define a assimilação como (Piaget, 1996, p. 13): “... uma integração à estruturas prévias, que podem permanecer invariáveis ou são mais ou menos modificadas por esta própria integração, mas sem descontinuidade com o estado precedente, isto é, sem serem destruídas, mas simplesmente acomodando-se à nova situação.” Assim, a acomodação acontece quando a criança não consegue assimilar um novo estímulo, ou seja, não existe uma estrutura cognitiva que assimile a nova informação em função das particularidades desse novo estímulo (Nitzke et alli, 1997a). Diante deste impasse, restam apenas duas saídas: criar um novo esquema ou modificar um esquema existente. Ambas as ações resultam em uma mudança na estrutura cognitiva. Ocorrida a acomodação, a criança pode tentar assimilar o estímulo novamente, e uma vez modificada a estrutura cognitiva, o estímulo é prontamente assimilado. Wadsworth diz que (1996, p. 7) "A acomodação explica o desenvolvimento (uma mudança qualitativa), e a assimilação explica o crescimento (uma mudança quantitativa); juntos eles explicam a adaptação intelectual e o desenvolvimento das estruturas cognitivas." Essa mesma opinião é compartilhada por Nitzke et alli (1997a), que escreve que os processos responsáveis por mudanças nas estruturas cognitivas são a assimilação e a acomodação. Piaget (1996), quando expõe as idéias da assimilação e da acomodação, no entanto, deixa claro que da mesma forma como não há assimilação sem acomodações (anteriores ou atuais), também não existem acomodações sem assimilação. Esta declaração de Piaget, significa que o meio não provoca simplesmente o registro de impressões ou a formação de cópias, mas desencadeia ajustamentos ativos. Procurando elucidar essas declarações, quando se fala que não existe assimilação sem acomodação, significa que a assimilação de um novo dado perceptual, motor ou conceitual se dará primeiramente em esquemas já existentes, ou seja, acomodados em fases anteriores. E quando se fala que não existem acomodações sem assimilação, significa que um dado perceptual, motor ou conceitual é acomodado perante a sua assimilação no sistema cognitivo 10 existente. É neste contexto que Piaget (1996, p. 18) fala de "acomodação de esquemas de assimilação". Partindo da idéia de que não existe acomodação sem assimilação, podemos dizer que esses esquemas cognitivos não admitem o começo absoluto (Piaget, 1996), pois derivam sempre, por diferenciações sucessivas, de esquemas anteriores. E é dessa maneira que os esquemas se desenvolvem por crescentes equilibrações e auto-regulações. Segundo Wazlavick (1993), pode-se dizer que a adaptação é um equilíbrio constante entre a assimilação e a acomodação. De uma forma bastante simples, Wadsworth (1996) escreve que durante a assimilação, uma pessoa impõe sua estrutura disponível aos estímulos que estão sendo processados. Isto é, os estímulos são "forçados" a se ajustarem à estrutura da pessoa. Na acomodação o inverso é verdadeiro. A pessoa é "forçada" a mudar sua estrutura para acomodar os novos estímulos. Assim, de acordo com a teoria construtivista, a maior parte dos esquemas, em lugar de corresponder a uma montagem hereditária acabada, constrõem-se pouco a pouco, e dão lugar a diferenciações, por acomodação às situações modificadas, ou por combinações (assimilações recíprocas com ou sem acomodações novas) múltiplas ou variadas. 1.2 A Teoria da Equilibração Segundo Piaget (Wadsworth, 1996), a teoria da equilibração, de uma maneira geral, trata de um ponto de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, e assim, é considerada como um mecanismo auto-regulador, necessária para assegurar à criança uma interação eficiente dela com o meio-ambiente. A importância da teoria da equilibração, é notada principalmente frente a dois postulados organizados por Piaget (1975, p.14) : Primeiro Postulado: Todo esquema de assimilação tende a alimentarse, isto é, a incorporar elementos que lhe são exteriores e compatíveis com a sua natureza. 11 Segundo Postulado: Todo esquema de assimilação é obrigado a se acomodar aos elementos que assimila, isto é, a se modificar em função de suas particularidades, mas, sem com isso, perder sua continuidade (portanto, seu fechamento enquanto ciclo de processos interdependentes), nem seus poderes anteriores de assimilação. O primeiro postulado limita-se a consignar um motor à pesquisa, e não implica na construção de novidades, uma vez que um esquema amplo pode abranger uma gama enorme de objetos sem modificá- los ou compreendê-los. O segundo postulado afirma a necessidade de um equilíbrio entre a assimilação e a acomodação na medida em que a acomodação é bem sucedida e permanece compatível com o ciclo, modificado ou não. Em outras palavras, Piaget (1975) define que o equilíbrio cognitivo implica em afirmar que: a presença necessária de acomodações nas estruturas; a conservação de tais estruturas em caso de acomodações bem sucedidas. Esta equilibração é necessária porque se uma pessoa só assimilasse estímulos acabaria com alguns poucos esquemas cognitivos, muito amplos, e por isso, incapaz de detectar diferenças nas coisas, como é o caso do esquema "seres", já descrito nesta seção. O contrário também é nocivo, pois se uma pessoa só acomodasse estímulos, acabaria com uma grande quantidade de esquemas cognitivos, porém muito pequenos, acarretando uma taxa de generalização tão baixa que a maioria das coisas seriam vistas sempre como diferentes, mesmo pertencendo à mesma classe. Segundo Wadsworth (1996), uma criança, ao experienciar um novo estímulo (ou um estímulo velho outra vez), tenta assimilar o estímulo a um esquema existente. Se ela for bem sucedida, o equilíbrio, em relação àquela situação estimuladora particular, é alcançado no momento. Se a criança não consegue assimilar o estímulo, ela tenta, então, fazer uma acomodação, modificando um esquema ou criando um esquema novo. Quando isso é feito, ocorre a assimilação do estímulo e, nesse momento, o equilíbrio é alcançado. Nesta linha de pensamento em torno da teoria das equilibrações, Piaget, segundo Lima (1994, p.147), identifica três formas básicas de equilibração, são elas: 12 Em função da interação fundamental de início entre o sujeito e os objetos, há primeiramente a equilibração entre a assimilação destes esquemas e a acomodação destes últimos aos objetos. Há, em segundo lugar, uma forma de equilibração que assegura as interações entre os esquemas, pois, se as partes apresentam propriedades enquanto totalidades, elas apresentam propriedades enquanto partes. Obviamente, as propriedades das partes diferenciam-se entre si. Intervêm aqui, igualmente, processos de assimilação e acomodação recíprocos que asseguram as interações entre dois ou mais esquemas que, juntos, compõem um outro que os integra. Finalmente, a terceira forma de equilibração é a que assegura as interações entre os esquemas e a totalidade. Essa terceira forma é diferente da Segunda, pois naquela a equilibração intervém nas interações entre as partes, enquanto que nesta terceira a equilibração intervém nas interações das partes com o todo. Em outras palavras, na Segunda forma temos a equilibração pela diferenciação; na terceira temos a equilibração pela integração. Dessa forma, podemos ver a integração em um todo, segundo a teoria da equilibração como uma tarefa de assimilação, enquanto que a diferenciação pode ser vista como uma tarefa de acomodação. Há, contudo, conservação mútua do todo e das partes. Embora, Piaget tenha apontando três tipos de equilibração, lembra que os tipos possuem o comum aspecto de serem todas relativas ao equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, além de conduzir o fortalecimento das características positivas pertencentes aos esquemas no sistema cognitivo. 1.3 Os Estágios Cognitivos Piaget, quando descreve a aprendizagem, tem um enfoque diferente do que normalmente se atribui à esta palavra. Piaget separa o processo cognitivo inteligente em duas palavras: aprendizagem e desenvolvimento. Para Piaget, segundo Macedo (1994), a aprendizagem refere-se à aquisição de uma resposta particular, aprendida em função da 13 experiência, obtida de forma sistemática ou não. Enquanto que o desenvolvimento seria uma aprendizagem de fato, sendo este o responsável pela formação dos conhecimentos. Piaget, quando postula sua teoria sobre o desenvolvimento da criança, descreve-a, basicamente, em 4 estados, que ele próprio chama de fases de transição (Piaget, 1975). Essas 4 fases são: - Sensório- motor (0 – 2 anos) Neste estágio, a partir de reflexos neurológicos básicos, o bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio (Lopes, 1996). Também é marcado pela construção prática das noções de objeto, espaço, causalidade e tempo (Macedo, 1991). Segundo LOPES, as noções de espaço e tempo são construídas pela ação, configurando assim, uma inteligência essencialmente prática. Conforme Macedo (1991, p. 124) é assim que os esquemas vão "pouco a pouco, diferenciando-se e integrando-se, no mesmo tempo em que o sujeito vai se separando dos objetos podendo, por isso mesmo, interagir com eles de forma mais complexa." Nitzke et alli (1997b) diz-se que o contato com o meio é direto e imediato, sem representação ou pensamento. - Pré-operatório (2 – 7,8 anos) É nesta fase que surge, na criança, a capacidade de substituir um objeto ou acontecimento por uma representação (Piaget e Inhelder, 1982), e esta substituição é possível, conforme Piaget, graças à função simbólica. Assim este estágio é também muito conhecido como o estágio da Inteligência Simbólica. Contudo, Macedo (1991) lembra que a atividade sensório- motor não está esquecida ou abandonada, mas refinada e mais sofisticada, pois verifica-se que ocorre uma crescente melhoria na sua aprendizagem, permitindo que a mesma explore melhor o ambiente, fazendo uso de mais e mais sofisticados movimentos e percepções intuitivas. A criança deste estágio: é egocêntrica, centrada em si mesma, e não consegue se colocar, abstratamente, no lugar do outro; não aceita a idéia do acaso e tudo deve ter uma 14 explicação (é fase dos "por quês"); já pode agir por simulação, "como se"; possui percepção global sem discriminar detalhes; deixa se levar pela aparência sem relacionar fatos. Nessa fase a criança passa a ter os primeiros contatos com a presença informática na construção do seu conhecimento, através de brincadeiras em sites infantis, como Turma da Mônica e Barbie. - Operatório-concreto (8 – 11 anos) Conforme Nitzke et alli (1997b), neste estágio a criança desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade, sendo então capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade. Apesar de não se limitar mais a uma representação imediata, depende do mundo concreto para abstrair. Um importante conceito desta fase é o desenvolvimento da reversibilidade, ou seja, a capacidade da representação de uma ação no sentido inverso de uma anterior, anulando a transformação observada. A informática se mostra presente a partir de jogos educativos de português, matemáticas, CD-Rom sobre o funcionamento do corpo humano ou sobre como as coisas funcionam e pequenas enciclopédias. - Operatório-formal (8 – 14 anos) Segundo Wadsworth (1996) é neste momento que as estruturas cognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento. A representação agora permite à criança uma abstração total, não se limitando mais à representação imediata e nem às relações previamente existentes. Agora a criança é capaz de pensar logicamente, formular hipóteses e buscar soluções, sem depender mais só da observação da realidade. Em outras palavras, as estruturas cognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento e tornam-se aptas a aplicar o raciocínio lógico a todas as classes de problemas. 15 CAPÍTULO II A INFLUÊNCIA DAS DIMENSÕES AFETIVA/COGNITIVA NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM Na prática pedagógica tem-se percebido que um grande número de crianças tem fracassado na escola e as justificativas são as mais diversas. Algumas das muitas utilizadas pelos profissionais de educação tem sido: a existência de algum comprometimento neurológico, incapacidade para se adaptar às regras da escola, falta de interesse, problemas de conduta, dificuldade de concentração, e outros. Sendo assim fica claro que em nenhum momento é feito uma reflexão em que sejam avaliadas as ações de todos que estão envolvidos no processo pedagógico. Diante dessa dificuldade, a escola opta em culpabilizar todas daqueles que não se encaixam no seu modelo homogeneizante e uma das estratégias mais utilizadas é segregar os alunos e alunas, dentro da própria escola “regular” ou encaminhar tais alunos para um tratamento com especialistas. Estas crianças se encaixam no grupo dos diferentes, porque não se alfabetizaram no tempo determinado pela escola, não se adaptaram a metodologia utilizada e principalmente porque rompiam com o ideal do aluno estabelecido pela escola. Eram aquelas que se revelam como desviantes do padrão escolar homogêneo. As diferenças reveladas por crianças, nos força a desenvolver um olhar mais centrado no sujeito que aprende percebendo-o como ser único, dotado de formas peculiares de perceber o mundo e do construir conhecimentos. Este olhar, nos possibilita reconhecer no aluno alguém que possui saberes diferentes dotados de capacidade de pensar, sentir, desejar, escolher e decidir. 16 Precisamos de clareza de forma que vemos a nossa turma. Se como um grupo de indivíduos iguais ou de sujeitos singulares que se constituem a cada dia, a partir das interrelações que estabelecem a cada dia, a partir das inter-relações que estabelecem dentro e fora da escola. Acreditamos ser desta capacidade de perceber o aluno, a turma e o conhecimento dependerá o tipo de relações que serão construídas, dentro da escola entre: professor e aluno; aluno e conhecimentos. Sendo assim, é importante que o professor(a) possua bagagem teórica para lidar com as dimensões cognitivos e afetivo em sala de aula. Muitas crianças, deficientes ou não quando chegam a escola pela primeira vez, passam por um período de ansiedade natural, gerado pelo primeiro distanciamento da família, o único grupo que ela conhece esse momento e onde ela se sente segura. Passos (1991, p.14) fala sobre isso: “A criança que nos chega às mãos tem muita necessidade de amor e apreciação, pois doravante irá conviver com um meio bem diferente do seu. Portanto, a principal preocupação do professor deverá ser a de torná-la tranqüila, feliz e confiante, a fim de que haja uma abertura para a aprendizagem. Esta criança precisa ser reforçada positivamente encorajada na sua ação exploratória para poder verbalizar. Sua auto-imagem deve ser desenvolvida, uma vez que isto influi na sua capacidade de aprender”. A escola representa o desconhecido, o novo que naturalmente provocam medo sentimento e ao novo grupo social. Como propõe Boris Cyrulnik: deve o professor ser uma figura “d’attachement” para o seu aluno uma figura de apego de vínculo. A insegurança do aluno será superada pelo elo forte de cooperação, compreensão e amizade que ele estabelecerá com o professor. Os professores são portanto, uma das forças vitais no crescimento, desenvolvimento e adaptação intelectual e emocional da criança. Como deve o professor atual na prática pedagógica e obter resultados positivos?O professor deve estabelecer com o aluno uma vinculação afetiva que o potencialize, valorize, destaque os seus saberes, ajudando-o a superar os ainda não saberes. 17 Steban (1992, p. 45) nos ajuda a refletir sobre isso: “Encontrar o que o aluno sabe é tão importante quanto encontrar o que ele não sabe, mas numa perspectiva de que AINDA não sabe, o que afirma a sua potencialidade para novas aprendizagens e a parcialidade de todo o conhecimento. O que AINDA NÃO SE SABE demarca uma síntese entre o conhecimento e o desconhecimento, devendo ser um direcionador da atividade pedagógica”. O olhar do professor para os seus alunos como sujeitos potentes e capazes é determinante no processo de apropriação e apropriação e construção de novos conhecimentos pelas crianças. Como nos lembra Freire (1995, p.52) “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto às indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, as suas inibições, um ser crítico e inquiridor, inquieto em face à tarefa que tenho-a de ensinar e não de transferir conhecimento”. Devido à aprendizagem estar intimamente ligada ao ajustamento emocional um não ocorre sem o outro e o professor torna-se responsável por ambas. O profissional que se compromete nesta medida entende que a educação não deve ser um mero pretexto para se conhecer datas, fatos, acidentes geográficos e temas acadêmicos que muito pouco resistem à prova do tempo. O currículo de uma escola é muito mais do que isso. Nossas origens, nossos ódios, nossa libido, respeitar, também são objetos de nossa aprendizagem que, entretanto, só existe na circulação de saberes e aprendente, entre o sujeito que tenta compreender no mundo e o outro que se interpõe entre eles. “Só ensino quem aprende” é um dos alicerces da teoria construtivista, onde o professor é um mediador entre o conhecimento científico. A aula continua quando o professor ouve os problemas do aluno e o ajuda a refletir sobre eles. É na confiança que se estabelece entre ambos que se cria a vinculação que transforma o professor numa figura “d’attachemet”, de apego. O aluno e o “ser” estão interligados. O conteúdo programático e a vida estão juntos. 18 Freire (1998, p.164) fala da prática educativa como um exercício constante em favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores e educandos: “Como prática estritamente humana jamais pude entender a educação como uma experiência fria, sem alma, em que os sentimentos e as emoções, os desejos, os sonhos devessem ser reprimidos por uma espécie de ditadura racionalista. Nem tampouco jamais compreendi a prática educativa como uma experiência a que faltasse o rigor em que se gera a necessária disciplina intelectual” No exercício do ensinar e do aprender há que se considerar a emoção do aluno, e também a do professor. Embora ele seja a única influência sobre os alunos, ele é a força mais influente no clima emocional que envolve o grupo. Como aconteceu com todas as pessoas, ensinará aquilo que ele é. Se for alegre e dedicado ao próprio crescimento ensinará essa formidável atitude. Se for enfadonho e monótono só poderá transmitir insipidez. Não se deveria, portanto, analisar as relações que o professor estabelece com o aluno senão a partir de suas emoções, de sua história de vida. Porém, a escola que insiste em dicotomizar o saber e o sentir não se importa com isso. Os educadores parecem não entender como se dá o desenvolvimento, nem como a afetividade e a cognição estão implicadas nesse processo. A grande maioria acha que os problemas da educação se resolveriam com a melhoria dos materiais pedagógicos e equipamentos técnicos. Saltini (1997, p.15) fala sobre isso: “Devo lembrar que não tardou durante as pesquisas de Freud e de outros analistas da mente humana, a descobrirem a verdade do enunciado de Spinoza, segundo o qual o conhecimento só produz mudança na medida em que também é conhecimento afetivo”. O sucesso escolar da criança está intimamente ligado a competência do professor, que por sua vez, está ligada não unicamente mas também ao tipo de formação que o mesmo tenha recebido. O professor que no seu curso de formação tenha vivenciado uma educação autoritária, centrada nos conteúdos sem alegria, sem conexão com a vida e com a realidade, poucas condições terá de oferecer algo diferente ao seu aluno. Para Johnson e Cruikshanh: “O mestre é o pivô do sucesso de qualquer programa educacional”. (1982:29). 19 O êxito da criança vidente ou portadora de deficiência visual está relacionada também ao fato de que o professor deve reconhecer seu aluno o melhor possível nos aspectos: emocional e intelectual e estabelecer com ele, com a criança. Percebemos que na escola existe uma certa desarticulação entre a dimensão afetiva e cognitiva. Sendo assim concordo com Vygotsky (1988) quando ele afirma que não há separação entre as dimensões afetivas e cognitivas, inclusive ele busca uma nova abordagem psicológica que dê conta de entender o sujeito como totalidade. Para ele,....são os desejos, necessidades, impulsos, e inclinações dos indivíduos que dão origem ao pensamento e este, por sua vez, exerce influência sobre os aspecto afetivo-volitivo”. A hipótese de que uma das possíveis causas das dificuldades que a criança portadora de deficiência visual encontra para se apropriar da construção do conhecimento, esteja na desarticulação das dimensões afetivas e cognitivas. Se faz necessário e urgente, um reflexão acerca da importância dos vínculos que são construído no cotidiano das salas de aulas, como aspecto fundamental, para que as mesmas percebem a realidade a sua volta e possam construir e ampliar conhecimentos, uma prática pedagógica deve provocar o aparecimento das manifestações afetivas e procurar trabalha- las sendo de fundamental importância para que a criança se desenvolva em plenitude. 20 CAPÍTULO III A INFLUÊNCIA DAS EMOÇÕES NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO Quando se fala em inteligência emocional, temos que ter em mente três emoções positivas: alegria, prazer e amor. Essas três emoções é que permitem ao indivíduo relacionarse bem consigo mesmo e com o outro, e saber lidar com esses sentimentos contribuem para a formação do indivíduo proativo (guiado por seus valores, selecionados e interiorizados). Na área educativa, assim como nas demais torna-se, portanto, fundamentalmente aprender a "ler" as emoções das pessoas que estão inseridas em nosso meio, e para isso nada melhor do que nos colocarmos no lugar do outro, tentando entender o que a outra pessoa está sentindo, e assim, podermos compreender melhor suas atitudes. A partir dessa compreensão é que o professor está apto a auxiliar o seu aluno a tomar consciência de suas emoções. Só com a tomada de consciência é que se pode unir razão e emoção. Por outro lado, existem as emoções negativas, que são basicamente três: raiva, medo e tristeza. Dentro de uma sala de aula, não é difícil encontrar esses sentimentos nos alunos, assim como em um grupo de professores não é difícil perceber tais emoções. Goleman, reportando Aristóteles diz: "Qualquer um pode zangar-se. Isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa não é fácil". (apud Bomtempo, 1997, p. 9) Essa reflexão demonstra que os maiores problemas no relacionamento humano são causados pela falta de controle emocional. Quando o professor não sabe lidar com seus 21 próprios sentimentos, dificilmente conseguirá lidar com os sentimentos de seus alunos, principalmente diante de tantas atitudes que os aborrecem devido a um comportamento indesejado no momento da aula, como a indisciplina, o deboche, as conversas paralelas, o desinteresse pelo conteúdo que está sendo trabalhado. Sem perder o entendimento de que o professor é um ser dotado de sentimentos e que o profissionalismo não o torna uma máquina insensível (pelo contrário, no desempenho de suas funções, ele fica com a sensibilidade mais apurada), outros funcionários da escola, pertencentes ao corpo técnico e administrativo, precisam se preocupar também com o seu bem estar, não pensando somente no aluno. Trabalhar com o professor as suas emoções, oferecendo a ele os mesmos cuidados que ele terá com os alunos. Que será basicamente: ”Trabalhar no sentido de criar um ambiente agradável e livre de tensões na sala de aula. O aluno precisa aprender a ser feliz na escola, descobrir o prazer de aprender, e de fazer as suas atividades bem-feitas, aprender que é permitido errar e que o erro nos faz crescer. Não ter medo de descobrir, assumir e desenvolver a própria potencialidade.’’ (Bomtempo, 1997, p. 9). Nesse sentido devemos pensar também em propiciar ao professor um ambiente agradável e livre de tensões. Criar espaços para a descontração, para a discussão, para que ele possa extravasar seus sentimentos, falar de seus medos, de suas incertezas. Esse espaço só é possível de acontecer numa escola que inclua em seu calendário brechas para encontros, para "capacitação" ou qualquer outro termo que se queira usar. Temos a consciência das dificuldades existentes em relação a esses espaços, uma vez que a contagem de horas-aula e do mínimo de dias letivos, da forma como é procedida, não favorece atividades extra-classe, devido à obrigatoriedade da reposição da carga- horária do aluno, o que é um direito que não lhe pode ser negado. Entretanto, no contexto atual, vimos se processarem mudanças significativas em todos os campos sociais. Mudanças essas advindas de fatores diversos, como a globalização, que coloca todos os setores em busca de maior escolarização e o mesmo ocorre com os profissionais da educação. Nos últimos anos as novas exigências do mercado de trabalho 22 colocam os profissionais já acomodados em sua situação funcional a buscar novamente os bancos escolares. Esse fato significa um ganho maior do que o explícito na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei 9394/96, na qual são estabelecidos prazos para que os profissionais da educação que ainda não têm o curso superior possam concluí- lo. Observando mais atentamente o que essa exigência legal está ocasionando, percebemos que hoje nas escolas estão presentes pessoas de diferentes faixas etárias e níveis diversos de bagagem teórica e prática. Tudo isso contribui para que a escola seja um espaço ainda mais rico, pois estão interagindo professores recém- formados com outros que já possuem grande experiência da prática educativa. Essa troca é favorável tanto para um grupo quanto para o outro. Entendemos que todo o esforço dispensado ao aluno no sentido de trabalhar as suas emoções, deve ser estendido ao professor. ‘’Devemos partir do princípio de que em educação, como em qualquer outro setor profissional, a valorização do ser deve vir antes de qualquer coisa, pois antes de ser aluno, professor, servente, vigilante, etc; o indivíduo é uma pessoa, dotada de raciocínio, de sentimentos, de desejos e expectativas de ver no outro a confirmação do bem e do carinho natural que deve existir entre os seres.’’ (Costa, 2000, p. 89) Assim como o aluno precisa aprender a ser feliz e descobrir o prazer de aprender, o professor tem as mesmas necessidades. Precisa ser feliz para contagiar seus alunos com sua felicidade. Precisa encontrar prazer também em aprender. Afinal, o educador é um eterno aprendiz. E encontrando prazer em ensinar, reconhecerá seu erro e o erro de seu aluno como parte do processo ensino-aprendizagem. Terá ainda coragem de abrir-se aos desafios de uma educação oposta à tradicional, acolhendo com otimismo projetos inovadores e até inovando a sua prática pedagógica, a partir do momento que encarar o medo não como obstáculo, mas como regulador de suas ações, reconhecendo de forma consciente as suas limitações sem com isso estagnar-se frente às iniciativas. 23 Só podemos compartilhar com alguém aquilo que possuímos. "nada pode pela felicidade de outrem, aquele que não sabe ser feliz ele próprio" (Snyders, 1988, p. 21). Portanto, para não se violentar nem violentar o outro, o professor necessita que as emoções positivas - alegria, prazer e amor - superem as negativas - raiva, medo e tristeza. Bomtempo (1997) diz: ’’A pouca atenção dispensada às aptidões do coração vem sendo apontada como uma das causas do mal-estar social, hoje caracterizado pela depressão, angústia, estresse, hipertensão e ansiedade, que atormentam o ser humano, faminto de afeto e compreensão, buscando um pouco que seja de carinho e atenção.’’ (p. 6) Existe hoje, graças às pesquisas científicas realizadas nas últimas décadas, a compreensão de que o emocional exerce grande influência na produção do trabalho humano e esse é o grande interesse do momento. Bomtempo (1997), baseada no trabalho de Goleman (1995), enfoca que o ser humano tem fomes a serem satisfeitas: "alimentação, afeto, reconhecimento, estruturação do tempo, estímulo dos sentimentos, sexo, identidade, direito a respirar e segurança". (p. 12-13). Quando ela cita essas necessidades do ser humano, obviamente não se refere a um segmento especifico, mas ao sentido amplo da pessoa humana. Entendemos que essas necessidades são tanto do aluno quanto do professor e dos demais funcionários ligados à educação, e enfim, de todos os seres humanos, independente da área profissional. Puebla (1997), falando sobre a importância dos sentimentos, considera que: ’’(...) a grande crise que vivemos é uma grande oportunidade para reencontrar a pureza da vida com a autenticidade e a sinceridade daquelas almas que não se confundiram com o egoísmo e a competitividade de nossa época. Ela ainda diz que estas esperam o reencontro do homem com o seu Ser Interior.’’ (Puebla, 1997, p. 21) Esse reencontro se dá no momento em que compreendemos os nossos próprios conflitos e assim o sentimento de egoísmo cede lugar à solidariedade. Puebla enaltece a sala de aula como espaço para a transmissão de valores e salienta a importância dos professores praticarem esses valores em todos os momentos. Ela interpreta a complexidade da vida na época atual, pelo comprometimento com os conhecimentos intelectuais que nos levou a 24 explorar quilômetros de um espaço até a pouco inexplorado em detrimento da habilidade e do espaço para explorar o próprio espaço interno. Segundo Puebla, essa exploração ficou diluída. ’’Vivemos um momento histórico crucial, em que ainda podemos colaborar para as criatividades a participação responsável e a cooperação na construção de uma comunidade harmoniosa, baseada em Amor, energia de crescimento e de transformação, respeito, verdade, retidão e justiça.’’ (Puebla, 1997, p. 20) Quando defendemos a necessidade de ser trabalhado com e para os professores a questão da afetividade, é por entender o quanto o ser humano precisa estar bem para poder lidar com os problemas das pessoas que fazem parte do seu ambiente. Partindo desse pressuposto, um professor emocionalmente equilibrado consegue intervir de forma adequada nas relações conflituosas de sua sala de aula, ou seja, sua participação na vida de seus alunos tenderá a basear-se no respeito e na justiça. O ambiente influência muito nos diversos fatores do desenvolvimento humano, e o grau de satisfação do indivíduo na escola determina também o quanto a aprendizagem será alcançada. Um dos autores que enfoca a necessidade de proporcionar um ambiente alegre é Snyders, cujos trabalhos têm contribuído para desmistificar o ambiente escolar como local onde o riso é proibido. ’’O conceito de alegria desenvolvido por Snyders é a alegria de compreender, de sentir, descobrir a realidade, de poder decifrá-la e sobre ela atuar, de romper com as inseguranças e incertezas, buscar a plenitude (...) a alegria que Snyders tem em mente é a busca da originalidade, da criatividade, da auto-superação e crescimento constante das potencialidades dos indivíduos, da supressão (ou pelo menos sua diminuição) das inseguranças, do medo e incertezas. É a alegria de saber, de conhecer e poder escolher criticamente as diversas possibilidades oferecidas pela realidade.’’ (Carvalho, 1996, p.15) É preciso mencionar que a alegria proposta por Snyders não significa abolir o aluno do enfrentamento das dificuldades e dos desafios que são necessários para o seu crescimento individual. Ele não estará isento a cumprir suas atividades e a participar do conjunto de 25 normas da escola que freqüenta. Se assim ocorresse, não estaria a escola contribuindo com a aprendizagem necessária ao indivíduo para a convivência em sociedade. Wallon (1992), em sua teoria da emoção, considera afetividade e inteligência fatores sincreticamente misturados, e defende que a educação da emoção deve ser incluída entre os propósitos da ação pedagógica. Esse estudioso analisou que no inicio da vida, a afetividade se sobressai e que no decorrer do desenvolvimento humano, a história da construção da pessoa será constituída por uma sucessão pendular de momentos dominantemente afetivos ou dominantemente cognitivos. Ele coloca grande importância na afetividade, e alerta para o fato de que para evoluir, ela depende de conquistas realizadas no plano da inteligência e vice-versa. E reafirma sua teoria, ao dizer que: ’’Ela incorpora de fato as construções da inteligência, e, por conseguinte tende-se racionalizar. As formas adultas de afetividade, por esta razão, podem diferir enormemente das suas formas infantis.’’(Wallon, 1992, apud Dantas, 1992, p. 90) Como se percebe, a afetividade no início do desenvolvimento humano é pura emoção. O seu amadurecimento ocorre de acordo com os acontecimentos advindos do meio, e nisso estão envolvidas as pessoas que se tornam parceiros das experiências do indivíduo. Dantas (1990), baseada nos estudos de Wallon, fala em três grandes momentos de organização afetiva: afetividade emocional ou tônica, afetividade simbólica e afetividade categorial. Se no início as emoções são incontidas e a nutrição afetiva depende inteiramente da presença concreta dos parceiros, assim que se constrói a função simbólica da inteligência ela se amplia pela forma cognitiva de vinculação afetiva. Essas reflexões é que conduzem o pensamento de Dantas quando diz: "Pensar nessa direção leva a admitir que o ajuste fino da demanda às competências, em educação, pode ser pensado como uma forma muito requintada de comunicação afetiva" (Wallon, 1992, apud Dantas, 1992, p. 90). Outro autor que enfoca o sentido das emoções no contexto de vida e analisa a forma como a sociedade lida com os conceitos referentes a esta questão é Maturama. "Vivemos uma cultura que desvaloriza as emoções em função de uma supervalorização, num desejo de dizer 26 que nós, os humanos, nos distinguimos dos outros animais por sermos seres racionais" (Maturama, p. 92). Sabemos que lidar com as emoções requer aprendizagem. O ser humano vive em constante dilema, pois para conviver de forma harmônica na sociedade, não pode dar vazão a todos os seus sentimentos. Muitos estudos revelam o dualismo existente entre afetividade e razão. La Taille (1992) menciona que os dois termos são entendidos como complementares. Ela diz que a afetividade seria a energia que move a ação. A Razão seria o que possibilitaria o sujeito identificar desejos, sentimentos variados, e obter êxito nas ações. Se assim interpretados deixa de existir o conflito entre as duas partes (La Taille, 1992, p. 66). La Taille, baseado em Piaget afirma que: ’’O sistema democrático pede a cooperação. Basta verificar quais são suas exigências: levar em conta o ponto de vista alheio, respeitá-lo, fazer acordos, negociações, contratos com o outro, admitir e respeitar as diferenças individuais, conviver com a pluralidade de opiniões, de crenças, de credos etc. Além do mais, pelas características do mundo moderno, somos cada vez mais levados a ter de encontrar e nos relacionar com pessoas de culturas diversas, de formação diversa, de religiões diversas.’’ (La Taille, 1992, p. 69) Essa autora nos remete ao pensamento de que na sala de aula, estamos trabalhando para contribuir com a formação de cidadãos democráticos. E esses cidadãos só se concretizarão nos benefícios democráticos se tiverem liberdade para pensar e para agir. Essa liberdade deve conduzir a ações conscientes. E essa consciência não existe se as ações forem impostas. Portanto, o papel fundamental do educador seria, nesse sentido, ensinar a pensar. Ensinar o outro a aprender. E a proposta do pensamento que temos é exatamente perceber de que forma a afetividade torna o respeito mútuo, possível de ser conseguido na prática. 3.1 O encontro da emoção com o conhecimento A emoção é a irracionalidade, é a tragédia humana. A razão é a sua negação, é a nossa redenção. Pense, não se deixe levar pela emoção, diz a senhora prudência. A mitologia grega 27 apresenta a sabedoria na fria e armada deusa Palas Atenas, na sua luta permanente contra a ciumenta Hera e no seu arrogante desprezo frente à frágil Afrodite, a deusa do amor. Nada é mais equivocado. Todo conhecimento humano se inicia na emoção. Só conhecemos o que amamos ou odiamos. E só amamos e odiamos o que conhecemos. O cantor baiano Bell Marques fala com candente franqueza da origem emocional do conhecimento: ‘’Nunca fui um bom aluno. Não gostava de estudar e assistia às aula por imposição. Se eu precisasse da média cinco para passar de ano, cinco e meio já me deixava satisfeito. Eu me sentava no fundo da sala. Era daquele tipo que fica mexendo com os outros, o perturbador da classe. Além de não gostar de estudar, eu também não gostava dos professores. Alguns alunos, quando a aula terminava, iam lá para a frente conversar com o professor. Eu não. Ia embora correndo. No dia seguinte, entrava na sala resmungando: "Pô, que saco! É aula do fulano, então eu vou abusar, vou perturbar". Mas um professor passou pela minha vida de maneira diferente: Alceu, meu professor de física. Da classe dele eu não corria. Ninguém conseguia dar uma aula mais alegre, mais forte e mais clara do que a dele. Ele tinha uma forma prática de ensinar. Sem rodeios. Não tinha mistério nas coisas que dizia. Ele não era de fazer brincadeiras. Outros professores, como o de química, contavam piadas, faziam graça. Mas o Alceu não era assim. Não sei qual era o segredo. Era uma coisa muito dele, uma simpatia. Era a forma como ele falava, como andava na sala de aula. O respeito e a admiração pelo professor eram unânimes na minha sala de aula. Eu entendia facilmente o que ele ensinava. Cheguei até a ser um bom aluno de física. Mas nas outras disciplinas ... Em Matemática, por exemplo, não conseguia entender uma palavra do que o professor dizia. Depois que saí da escola, já me encontrei com o professor Alceu. Mas ele não sabe dessa minha admiração. Ele nem deve se lembrar que eu fui aluno dele (...) Graças ao contato que tive com ele, já no final da minha vida escolar, eu saberei orientar os meus dois filhos. Se todos os professores fossem iguais a ele, eu não teria passado em branco pela escola. Certamente eu teria sido, sem vergonha nenhuma, um bom aluno.’’ (Rev. Nova Escola/ago/96) Bell fala do seu amor pelo educador Alceu. Explica como deste encontro nasceu o seu amor pela Física. Freud, em visita à escola que estudou, afirma que o encontro da emoção com o conhecimento é simultâneo ao encontro do educador com o aluno: ‘’Não sei o que mais nos prendia atenção (em meu tempo de colégio), o que mais nos importava, a ocupação com as ciências que nos ensinavam, ou com as personalidades de nossos mestres. A estes, de qualquer modo, em todos nós se dirigia uma corrente subterrânea ininterrupta, para muitos entre nós, o caminho que conduzia às ciências ia através das pessoas dos mestres; alguns ficavam atolados 28 nesse caminho, e houve outros a quem o caminho, destarte, foi definitivamente obstruído. Tentávamos conquistar-lhes a simpatia, ou nos afastávamos deles; imaginávamos neles simpatias ou antipatias provavelmente inexistentes; estudávamos seus caracteres e formávamos - ou deformávamos - os nossos à sua imagem e semelhança. Provocavam-nos as mais fortes revoltas e impunham-nos submissão completa; espiavamo-lhes as pequenas fraquezas e sentíamos orgulho por suas grandes virtudes, sua sabedoria e sua justiça. No fundo, queríamos muito a eles, se para isso nos davam qualquer motivo; não sei se todos os nossos mestres o perceberam. Mas tínhamos para com eles, incontestavelmente, uma atitude toda especial, uma atitude que não deixava de ter seus inconvenientes para os atingidos. De antemão, nos inclinávamos igualmente a querer-lhes bem como a detesta-los - a critica-los como a venera-los.’’ (Freud Programa comemorativo do Jubileu do ginásio K. K. ErzherzogRainer-Realgimnasium /Viena,Austria) É Walon quem aponta diretamente esta origem do conhecimento quando estabelece que os nossos primeiros pensamentos são sobre nossas emoções. Este primeiro elemento da nossa racionalidade compõe a primeira linguagem humana: a linguagem afetiva. O afeto se difere da emoção enquanto seu reflexo racional. É a primeira e fundamental criação racional, o pensar a emoção. É da formação da linguagem afetiva que nos falam o cantor e o psicanalista. Afeto é a elaboração da emoção pelo pensamento; é a emoção pensada. A jornada humana da criação e desenvolvimento do pensamento se inicia na emoção e o seu primeiro passo é o afeto. Pensamento é linguagem e linguagem é pensamento. A linguagem afetiva é o primeiro e fundamental passo para a formação da nossa inteligência. A ação educativa só se inicia com ela. A aprendizagem de um conceito não ocorre através da transmissão educador/aluno; ela é sempre produto da criação - o aluno só aprende um conceito se o cria e o educador só o ensina se conseguir desencadear, com os alunos, o movimento de sua criação. Este encontro do educador com o aluno para a criação conceitual só acontecerá na formação da linguagem afetiva comum, quando educador e educando encararem a aula não como uma imposição institucional, como uma obrigação determinada pelas necessidades do estômago. Quando a aula for uma imposição do gosto, do amor, uma obrigação determinada pelas necessidades do afeto, aí teremos o ponto de encontro em que se inicia toda a aprendizagem. É isto que nos ensina Rubem Alves: 29 ‘’Educadores, onde estarão? Em que covas terão se escondido? Professores, há aos milhares. Mas professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão: é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança. Profissões e vocações são como plantas. Vicejam e florescem em ninhos ecológicos, naquele conjunto precário de situações que as tornam possíveis e – quem sabe? – necessárias. Destruído esse habitat, a vida vai se encolhendo, murchando, fica triste, mirra, entra para o fundo da terra, até sumir.’’ (Rubem Alves, 1982) 30 CAPÍTULO IV DA ESTIMA À AUTO-ESTIMA NA EDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM Ainda que a auto-estima comece no âmbito familiar, produto da relação da criança com seus pais ou responsáveis - e ainda antes do nascimento, na mente dos pais -, essa continua no âmbito escolar, na relação com o docente e o grupo de colegas. Este processo não é linear, onde um dá e o outro recebe; surge da interação entre ambos. Quando o aluno é aceito e compreendido, devolve os mesmos sentimentos para o professor, que também se sente reconhecido, valorizado. Assim se gera um círculo de bem estar, onde a tarefa é gratificante para ambos e o clima é propício para o desenvolvimento das potencialidades. Quem se sente amado pode aceitar-se, adquirir o senso do seu próprio valor, descobrir e realizar o potencial para o qual está dotado. O amor no âmbito educativo, na classe, torna possível captar de cada um o mais profundo, a sua verdadeira essência. Através do amor é possível vislumbrar o potencial, o que ainda não foi revelado e o que será exibido. Descobrir os talentos possibilita a quem é amado a descoberta, o fazer-se conhecer. Muito já foi dito a respeito da estima do aluno e isso sem dúvida é importante. E quem cuida dos educadores? Eles também precisam ser amados pelo aluno e reconhecidos socialmente pelo prestígio do seu trabalho. Às vezes, quando o aluno não aprende, o docente pode considerar-se incompetente, se atribui este fracasso apenas ao seu próprio trabalho. Ao não sentir-se reconhecido, pode retrair-se, desconectar-se afetivamente e inibir sua criatividade para buscar novas alternativas, piorando assim a relação. Ele não é o responsável absoluto, ambos são protagonistas. 31 A confiança, a segurança, o senso do próprio valor, se aprende mais pela presença do que pela docência. É importante que os mesmos educadores tenham uma auto-confiança realista, pois acima de tudo, se transmite mais pelo que se é, pelo que se vive do que pelo que se diz. São símbolos da auto-estima: - Usar os talentos e as aptidões para amar e estudar. - Ter um grau mínimo de auto-aceitação e de orgulho próprio. - Ter auto-confiança realista. - Reconhecer as necessidades e valorizar as vitórias. - Fazer valer os direitos e aceitar suas limitações. - Ser autêntico. - Não esconder-se nem mostrar-se com exagero. - Ter ideais de acordo com as possibilidades de sucesso. - Ter desejos e projetos pessoais. - Relacionar-se livremente com os outros, com autonomia e independência. Como se manifesta a baixa auto-estima: Geralmente está associada a pessoas envergonhadas, inibidas, temerosas, que não se animam a competir nem a destacar-se. Ainda são símbolos de baixa auto-estima, certas atitudes que aparentemente revelam o contrário: como querer chamar sempre a atenção, tentado ser o centro, sentir a necessidade de ganhar todo o tempo, ainda que valendo-se de trapaças, exibir um perfeccionismo exagerado ou depender da aprovação externa. O que uma criança precisa para desenvolver a auto-estima: a) Educadores e companheiros que a aceitem como ela é, que a aprovem e aceitem, para que ela possa descobrir-se e desenvolver-se em sua plenitude. Estas atitudes nutritivas e positivas, geradoras de experiências de satisfação precisam também de limites, frustrações adequadas a cada momento do desenvolvimento, que permitam à crianças interiorizar as funções que antes eram realizadas pelos educadores. b) Docentes que ofereçam segurança, apoio, sustentação e que sirvam de modelo, fonte de força, da qual possa participar. A idealização dos professores é necessária em um determinado momento; porém, logo é preciso romper com esta idealização, para facilitar o acesso às crianças; ao serem humanizadas, valorizadas de uma maneira mais realista, as crianças sabem que não podem nem possuem tudo. Da auto-afirmação surgirão as ambições 32 de uma pessoa e da admiração, os ideais. A vivência dos próprios talentos e habilidades é o que torna possível que as ambições se unam a ideais realistas. c) Sentir-se um entre seus pares, membro de um mesmo grupo. Do que depende um maior ou menor grau de auto-estima O grau de auto-estima depende da capacidade de sustentar a distância entre o ideal de si mesmo e a realidade, do descobrimento dos dons e da aceitação das limitações. Os sentimentos de auto-satisfação surgem quando existe uma relação fluída entre o que se almeja como ideal e o que se é na realidade. Também depende do perfeito equilíbrio entre talentos, ambições e ideais. Se os ideais são razoáveis, uma pessoa é capaz de trabalhar eficientemente para alcançá- los; disto surgem sentimentos de satisfação para consigo mesmo pela tarefa realizada e pelo objetivo alcançado. Se os ideais são por demais elevados, de tal maneira que não existe a possibilidade de alcançá- los de forma eficiente, surgem sentimentos de inferioridade e ineficácia. Quanto menor for a brecha entre o ideal e a possibilidade de alcançá-lo, menor será a ansiedade, maior será a auto-estima. É humano experimentar sentimentos de insatisfação e de inferioridade; ninguém tem a possibilidade de alcançar todos os ideais. Sempre há um resquício de insatisfação que funciona como força motriz, que gera uma tensão constante, dando lugar ao progresso que abre espaço para cada qual buscar, por si mesmo, a maneira de realizar-se, livre e criativamente, integrando a força de seus desejos com as possibilidades que o mundo externo oferece. 4.1 Sugestões para enriquecer a auto-estima O auto-conceito corresponde a descrição mental que uma pessoa faz de si mesma em três dimensões : cognitiva, comportamental e afetiva e em várias áreas : escolar, familiar, relações interpessoais, etc. Enquanto a auto-estima seria a avaliação que uma pessoa realiza das diferentes representações que tem de si mesma. A auto-estima é um componente básico do que chamamos de personalidade. Já se publicaram mais de vinte mil artigos sobre auto-estima, e não é para menos; vejamos os 33 principais transtornos da infância estão relacionados com alterações da auto-estima: transtornos de aprendizagem, transtorno da comunicação-verbal; transtorno por déficit de atenção, encoprese, enurese, fobia social, transtorno de identidade sexual e outros. Além disso, uma baixa auto-estima está correlacionada com altos níveis de ansiedade, insegurança, pouca estabilidade emocional, passividade, hipersensibilidade à crítica e baixo rendimento na escola. Por outro lado, uma criança com alta auto-estima tem maior probabilidade de um bom e adequado ajuste psicológico, de apresentar condutas de cooperação, segurança e, bom humor. Portanto, no brincar a criança tem a oportunidade de interagir com pessoas e objetos, liberar sua criatividade, explorar seus limites e adquirir repertórios comportamentais / afetivos de forma reforçadora e prazeirosa. CUNHA (1994) afirma que é brincando que a criança mergulha na vida, podendo ajustar-se às expectativas sociais e familiares. Não podemos esquecer que a auto-estima pode modificar-se significativamente, ser fortalecida e através de experiências emocionais/ cognitivas que o brincar oferece e, assim as crianças podem se beneficiar para seu crescimento pessoal. Os jogos de faz-de-conta, ricos em fantasias imaginativas, em especial no que diz respeito aos super-heróis, são seres que apresentam interessantes características : bondade, sabedoria, coragem, força; solucionam qualquer problema; são líderes e guias para as pessoas e não recebem ordem de ninguém; nunca se enganam, não estão sujeitos à dúvidas, frustrações e fraquezas como a maioria das pessoas. São aprovados e reconhecidos pelos adultos e todos querem ser seus amigos. ( Kostelnick e col., 1986) As crianças são, em geral, capazes de manejar situações psicológicas aversivas através do brincar. Gabardino e col. (1992), afirmam que através do brincar e das brincadeiras, a criança restabelece seu controle interior, sua auto-estima e desenvolve relações de confiança consigo mesma e com os outros. 34 A auto-estima, uma das condições do desenvolvimento normal, tem sua gênese na infância em processos de interação social – na família ou na escola – que são amplamente proporcionados pelo brincar. 35 CONCLUSÃO Contribuir para o crescimento dos processos da aprendizagem e auxiliar no que diz respeito a qualquer dificuldade em relação ao rendimento escolar, é do âmbito de toda a comunidade pedagógica. Ter conhecimento de como o aluno constrói seu conhecimento, compreender as dimensões das relações com a escola, com os professores, com o conteúdo e relacioná-los aos aspectos afetivos e cognitivos, permite uma atuação mais segura e eficiente. Reflitamos a respeito do ser global que está perante um movimento de aprendizagem. Devemos considerar que o desenvolvimento deste ser se dá harmoniosamente e equilibradamente nas diferentes condições orgânica, emocional, cognitiva e social. As dificuldades de aprendizagem podem surgir quando um ou mais aspectos citados encontram-se alterados e tendem a agravar-se na medida em que não são diagnosticados precocemente. Podemos afirmar que o ser humano é singular e a ele, somente a ele pertence sua situação, sua relação com o processo que lhe foi oferecido e o desnrolar deste. Dentre causas orgânicas podemos citar as lesões cerebrais, síndromes congêntias, desnutrição e o Distúrbio do Déficit de Atenção, com ou sem Hiperatividade (DDAH). Porém, o impedimento para aprender não está atrelado somente aos fatores orgânicos. O estado emocional determina e permeia todo tipo de relação, sendo ela uma proposta educacional formal ou não. O processo de construção do conhecimento se dá em base sólida de acordo com a afetividade que se tem perante o objeto de estudo e o desconhecido, pressupondo-se que todo desconhecido é novo e o novo tem que associar-se ao já aprendido, modificando-o e aumentando-o. Uma criança que, em seu processo encontra dificuldades em "crescer", em lidar com as novas propostas pode estar transformando suas má-relações 36 familiares para o espaço escolar. É importante que o professor tenha consciência de que a criança traz consigo a bagagem natural cultural e também traz todas as referências afetivas. No aspecto social, destaca-se o ambiente, a quantidade e a qualidade de estímulos recebidos e o valor dado à aprendizagem pela família e/ou meio social comunitário. A atuação da Psicopedagogia tem como base o pensar, a forma como a criança pensa e não propriamente o que aprende. Ter um olhar psicopedagógico de um processo de aprendizagem é buscar compreender como eles utilizam os elementos do seu sistema cognitivo e emocional para aprender. É também buscar compreender a relação do aluno com o conhecimento, a qual é permeada pela figura do professor e pela escola. A Psicopedagogia preocupa-se, portanto, como a criança aprende. 37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTUNES, Celso. Alfabetização emocional. Petrópolis: Vozes, 1999. BOMTEMPO, Luzia. Escola do coração. Um conjunto de atividades para desenvolver nos alunos a inteligência emocional. Amae Educando. Minas Gerais: Fundação Amae Educando, nº 268, jun., 1997. CUNHA,N. Brinquedoteca: um mergulho no brincar. São Paulo: Maltese, 1994. ESTEBAN, Maria Tereza. Não saber / Ainda não saber / Já saber: pistas par aa superação do fracasso escolar. Dissertação de Mestrado, Niterói: UFF, 1992. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Anatomia. Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1998. FREIRE, Paulo. 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