PRECISO IMPLEMENTAR UM CSC NA MINHA ORGANIZAÇÃO Por Breno Jacomé “E agora, o que fazer para implementar um CSC?” Essa pergunta deve ser respondida pelos gestores que estarão à frente do processo de implementação de um Centro de Serviços Compartilhados (CSC) em sua organização. É possível encontrar facilmente, através de pesquisa e participação em fóruns, o conceito Shared Services e formas de evoluir o CSC nas empresas que já o tem em sua estrutura. No entanto, a pergunta “e agora?” para aqueles que não possuem CSC implementado continua sem resposta. A maioria das empresas que participam dos grupos de discussão sobre CSC já passaram pelo momento inicial da implantação e o foco de suas discussões costuma ser o futuro dos CSCs já existentes. É mais difícil encontrar discussões sobre o momento inicial da implementação do CSC, momento no qual os processos ainda estão sob gestão das Unidades de Negócio. Esse artigo abordará elementos de uma Metodologia de Implantação de CSC desde a concepção até a implementação do conceito pleno de Shared Services. Esperamos que uma breve descrição das etapas de implementação desta Metodologia, com maior foco na etapa inicial, oriente os gestores no sentido de identificar os primeiros passos para iniciar o CSC em suas empresas. A Metodologia divide a implantação de um CSC em três ondas precedidas de um Estudo de Viabilidade, que pode ser chamado de etapa zero. A onda um é a Consolidação da Gestão, a onda dois é a Arrumação da Casa e a onda final é a Educação da Demanda. O ESTUDO DE VIABILIDADE O primeiro objetivo do Estudo de Viabilidade, como o próprio nome diz, é analisar a viabilidade de implantação do CSC na organização segundo aspectos técnicos, financeiros e culturais. O segundo objetivo é planejar toda a implementação que está por vir. Este segundo objetivo pode ser entendido como um meio para chegarmos ao primeiro, uma vez que os benefícios financeiros do CSC podem ser obtidos mais rapidamente ou mais lentamente dependendo do plano de implementação. Detalhando um pouco mais o Estudo de Viabilidade, sua primeira entrega é a identificação dos processos candidatos a fazer parte do futuro CSC. A partir do contato com outras empresas e experiências de mercado, pode-se identificar as funções tradicionalmente presentes em um CSC tais como compras, financeiro, administração de pessoal e TI, cabendo ao CSC executar, tradicionalmente, os processos transacionais dessas funções. Digo tradicionalmente porque há CSCs inovadores que ultrapassaram os limites dessa regra e já executam processos não transacionais, no entanto, esse aspecto cabe a outro artigo. A partir da relação dos processos candidatos ao CSC, deve-se realizar análises de viabilidade sob aspectos financeiros e técnicos. Os ganhos financeiros dos processos no CSC devem ser estimados para cada processo candidato e podem ser de três tipos: ganhos de escala e consolidação da gestão, melhoria e conformidade dos processos e educação da demanda. Esses três tipos são bastante alinhados com as futuras três ondas de implementação do CSC. ANÁLISE FINANCEIRA DA CONSOLIDAÇÃO DA GESTÃO Durante a identificação dos processos candidatos ao CSC, é importante identificar o atual responsável por sua execução, se as Unidades de Negócio ou o corporativo. Processos cuja responsabilidade atual é do corporativo não costumam apresentar sozinhos ganhos de escala. Já os processos que estão sob responsabilidade das Unidades de Negócio possuem alto potencial de economia de escala. Um segundo e importante elemento a se considerar sob aspecto da centralização é a redução do overhead necessário para a execução dos processos. É possível que cada Unidade de Negócio tenha, por exemplo, o seu próprio supervisor de departamento de pessoal ou supervisor financeiro. Com a implantação do CSC, a quantidade de cargos de supervisão na organização é reduzida devido à unificação da força de trabalho em um único centro. Essa consolidação da gestão pode ser obtida também em processos executados pelo corporativo que vêm integrar o escopo do CSC, se organizados de forma integrada a processos de forte interface antes executados pelas Unidades de Negócio. Por exemplo, consolidação dos cartões ponto de todas as Unidades de Negócio com o processamento da folha de pagamentos podem ter sua gestão integrada e consolidada. ANÁLISE DE VIABILIDADE TÉCNICA Para decidir pela centralização de um processo é necessário analisar como suas transações, antes realizadas integralmente na Unidade de Negócio, serão solicitadas ao CSC e executadas de forma remota, em princípio, sem a mesma disponibilidade de informações concedidas ao antigo executor da transação. Esse aspecto é o que chamamos de análise de viabilidade técnica. Para realizar a análise de viabilidade técnica, é necessário realizar levantamentos de disponibilidade de tecnologias e meios de comunicação, estimativas de custos de manutenção e investimentos. Em paralelo, é necessário realizar entendimento e redesenho dos processos analisados. Para esta etapa zero, de Estudo de Viabilidade, recomendamos que não façam redesenhos detalhados, foquem apenas no conceito de viabilidade. O real detalhamento será feito em outra fase do projeto, posterior ao Estudo de Viabilidade e apenas para aqueles processos aprovados. ANÁLISE DAS MELHORIAS DE PROCESSOS Em organizações fortemente descentralizadas, apenas os ganhos com a consolidação da gestão já justificam financeiramente o CSC. No entanto, as Unidades de Negócio dificilmente serão convencidas a abrirem mão de seus processos se não apresentarmos outras formas de benefícios, muitas vezes, qualitativos. Portanto, é imprescindível mapear oportunidades de melhorias e conformidade de processos com a implementação do CSC. Alguns benefícios encontrados em organizações com CSC têm sido: consolidação nacional de contratos de suprimentos, redução de contabilização errada de impostos retidos a fornecedores, redução de pagamentos em atraso, redução de inadimplência, aumento de acuracidade no pro- cessamento de folha de pagamentos, melhora da resposta às dúvidas de funcionários referente a benefícios, maior eficácia na resolução de chamados de TI, redução de riscos de compliance, redução de pontos de auditoria, entre outros. A EDUCAÇÃO DA DEMANDA O último benefício que pode ser estimado no Estudo de Viabilidade é a Educação da Demanda. A Educação da Demanda é a racionalização e planejamento das solicitações ao CSC que acontecem após a implantação do modelo de repasse dos custos do CSC às Unidades de Negócio. Esse conceito é amplamente discutido em fóruns e artigos tendo em vista que muitas organizações que possuem o CSC em sua estrutura não evoluíram o modelo para este patamar de gestão e o planejam fazer. Nesse sentido, tendo em vista todos os ganhos de escala e melhoria de processos calculados e que, por si só, viabilizam a implementação do CSC, é comum as organizações não contabilizarem este benefício no Estudo de Viabilidade. De qualquer forma, são comuns relatos de gestores, após a implantação do conceito pleno de Shared Services em suas organizações, de que os ganhos com Educação da Demanda superam os ganhos obtidos pelo restante do Estudo de Viabilidade. DIMENSÃO CULTURAL A última dimensão de viabilidade para ser analisada na etapa zero é a dimensão cultural. A cultura organizacional por si só não é capaz de inviabilizar uma análise de viabilidade de CSC mas ela influencia diretamente o plano de implantação. A cultura organizacional é o principal driver a se considerar ao optar por uma implantação mais longa com menos rupturas de processo ou mais expressa com maior ocorrência de rupturas. Estamos falando portanto do plano de gestão da mudança e, pelo visto, este plano influencia diretamente o cronograma do projeto. Por análise de investimentos, a tendência das organizações é priorizar projetos mais rápidos. No entanto, se não considerarmos os aspectos de cultura organizacional e devido plano de gestão da mudança, a resistência da organização é capaz de frear a implantação do CSC inviabilizando financeiramente o projeto ou então esvaziando sua credibilidade. PLANO DE IMPLANTAÇÃO E AS TRÊS ONDAS Nesse momento, portanto, é necessário desenhar o cronograma de implantação do CSC. Para facilitar esse trabalho, irei passar rapidamente as três ondas de implementação do CSC que acontecem após aprovação executiva do Estudo de Viabilidade. A primeira onda é a Consolidação da Gestão, etapa na qual se centralizam os processos obtendo os ganhos de escala e os primeiros incrementos de produtividade acontecem na organização. Essa etapa se caracteriza por grandes conflitos devido a perda de poder das Unidades de Negócio. Nesse momento a gestão da mudança se torna protagonista no projeto. Nesse sentido, cabe ainda uma discussão a respeito dessa primeira onda, sobre o ritmo e sequencia de redesenho e consolidação dos processos no CSC. É possível realizar uma implementação Big Bang, na qual a centralização será realizada um processo de cada vez para todas as Unidades de Negócio simultaneamente, ou uma implementação através de Incorporações, na qual os redesenhos e consolidação acontecem uma Unidade de Negócio de cada vez, porém com todos os processos simultaneamente. Essas estratégias são dois extremos de uma escolha complexa que os gestores do CSC devem posicionar sua própria estratégia de implementação para sua Organização. A segunda onda, chamada de Arrumação da Casa, é quando os processos são estabilizados e melhorias, além daquelas obtidas na centralização, são implementadas. Nesse momento há incremento na qualidade dos serviços prestados pelo CSC e novos ganhos de produtividade. No entanto, o CSC da organização ainda se comporta como uma mera centralização de atividades, sem dar auto- nomia ao cliente interno. O verdadeiro Modelo Benchmark, que promove uma nova cultura organizacional de planejamento e economias conscientes, só irá acontecer na onda três. A onda três, portanto, é a etapa de Educação da Demanda. É nesse momento que os acordos de nível de serviços são firmados e as Unidades de Negócio passam a pagar pelos os custos de operação do CSC. O Modelo Benchmark de Serviços Compartilhados une custos por transação dos processos aos acordos de nível de serviço através de um modelo de prestação de serviço tal qual faria um fornecedor externo. É a profissionalização dos serviços prestados pelo CSC através de um novo modelo de relacionamento com os clientes internos. Um bom plano de implementação permeia todas as três etapas levando em consideração os aspectos culturais da organização. CONCLUSÃO A resposta para a pergunta “E agora, o que fazer para implementar um CSC?” portanto é: realizar um Estudo de Viabilidade, onde serão definidos os processos e o plano de implementação para ser aprovado pela alta direção da organização. Esse plano de implementação, se seguida a Metodologia apresentada neste artigo, será dividido em três ondas: Consolidação da Gestão, Arrumação da Casa e Educação da Demanda. Breno Sarcinelli Jácome – Engenheiro de Produção formado pela UFRJ, sócio gestor da Visagio, possui experiência de implantação de serviços compartilhados em diferentes organizações brasileiras. CONTATO Avenida Nilo Peçanha, 50 - Centro Rio de Janeiro - RJ | CEP: 20.020-906 www.institutodegestao.com.br +55 21 2223-1528/2895