INCENTIVO À LEITURA: UMA PRÁTICA MAIS QUE NECESSÁRIA PARA O EDUCADOR EM SALA DE
AULA
PAGLIARINI, Camila1
DAVID, Patricia 2
RESUMO:
A leitura é o tema proposto por este artigo, que tem como objetivo analisar o ato de ler e a prática do mesmo em sala de aula, levantando algumas
hipóteses no que se refere à dificuldade da leitura de clássicos literários no Ensino Médio. Atentando para a importância do trabalho com a leitura no
ambiente escolar, uma vez que tal dificuldade possa ser justificada pelo precário acesso a livros, pelo uso não apropriado da teoria na prática pelos
educadores, por questões financeiras, sociais ou também individuais, segundo teorias de Freire (1986) e Bamberger (1995). O presente estudo está
permeado, metodologicamente, por pesquisa bibliográfica interpretativa, bem como, quantitativa, uma vez que levantando dados a partir de um
questionário estruturado, realizado em Junho de 2014 com alunos do 1º Ano do Ensino Médio de uma Escola Estadual. A partir dos dados coletados,
observou-se certa carência na questão de acesso, estímulo e leitura dos clássicos literários. Desse modo, o artigo mostrará algumas estratégias e
possibilidades para trabalhar leitura em sala de aula, de uma maneira em que os alunos não se sintam pressionados para o ato, mas sim atraídos como
corrobora Maia (2007) e Freire (1986).
PALAVRAS-CHAVE: Leitura, incentivo, escola.
ENCOURAGING READING: A REQUIRED PRACTICE FOR EDUCATOR IN THE CLASSROOM
ABSTRACT:
Reading is the topic proposed for this article, which aims to analyze the act of reading and its practice in classroom, bringing some hypotheses about
the difficulty of reading literary classics in high school. Thinking about the importance of working with reading in the school environment,
considering this difficulty can be explained for the poor access to books, for the inappropriate use of theory in practice by educators, for the financial,
social or also individual issues, according to theories from Freire (1986) and Bamberger (1995). This study is methodologically permeated by
interpretative literature, as well as quantitative, since collecting information from a structured questionnaire, developed in June 2014 with students
from 1st year of High School from a State School. From the information collected, it was noticed a certain lack to the access issue, encouragement
and reading of literary classics. Thus, the article will show some strategies and possibilities to work with reading in the classroom, in a way that
students do not feel pressured for this act, but attracted like corroborates Maia (2007) and Freire (1986).
KEYWORDS: Reading; Encouraging; School.
1. A PRÁTICA NECESSÁRIA NO AMBIENTE SALA DE AULA
A partir da leitura o pensamento humano evolui e o homem passa a ser mais intelectual então começa a
transformar para melhor o meio onde vive. Desta forma, faz-se relevante a pesquisa, considerando que a leitura constrói
o homem e também por meio do domínio desta competência o cidadão pode ser autônomo e tomar consciência de si
próprio e dos outros, de forma a poder tomar decisões face à complexidade do mundo do século XXI.
Ao praticar a leitura é preciso ter calma, paciência, atenção e tranquilidade. Pode-se afirmar que esse exercício
faz bem à saúde e à mente, pois o individuo pode se descobrir por meio deste ato, de acordo com Bamberger (1995): “A
leitura é um dos meios mais eficazes de desenvolvimento sistemático da linguagem e da personalidade. Trabalhar com a
linguagem é trabalhar com o homem”. (BAMBERGER, 1995, pág.10)
Livros, revistas e jornais são portas para o conhecimento, pois ajudam os leitores a estabelecerem um conceito
global do mundo. Ao mesmo tempo em que uma leitura pode ser agradável, ela também pode apresentar um conteúdo
inestimável passível de ser armazenado, fazendo com que o nível de conhecimento aumente.
1
Aluna do 6º período da graduação em Letras – FAG (Fundação Assis Gurgacz). E-mail para correspondência
[email protected]
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Professora orientadora Mestre em Letras (UNIOESTE). E-mail para correspondência [email protected]
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Um bem acessível a todos, a leitura pode ser praticada por qualquer indivíduo alfabetizado, situação que há
alguns anos era apenas permitida à classe dominante e depois só aos mais cultos e só então foi liberada para toda a
sociedade, logo, a leitura deve ser valorizada já que se pode ter acesso a ela. “Nos tempos antigos, antes da invenção da
imprensa, reservava-se a pouquíssimos o privilégio da leitura, e, mesmo depois do século do Humanismo, ela só era
acessível a uma elite culta.” (BAMBERG, 1995, p.9).
Com o avanço tecnológico, tornou-se indispensável que mais pessoas leiam. Considerando que o mercado de
trabalho se encontra cada vez mais seletivo, há necessidade de profissionais que estejam bem preparados para atuarem
nas mais diversas áreas, assim, considera-se que tal preparação parte da bagagem cultural e acadêmica que cada
indivíduo adquire ao longo do tempo e a leitura faz parte desse processo, quanto mais se lê, mais vocabulário e
habilidade de comunicação se aprende.
Segundo Bamberg (1995) a leitura concede ao indivíduo a habilidade de remover barreiras educacionais,
propiciando oportunidades de educação principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento da linguagem e da
intelectualidade, direcionando, então, o ser para a regularização da sua situação pessoal.
Para o indivíduo alcançar um bom arcabouço teórico é importante que o processo de “gosto” pela leitura
aconteça ainda quando criança. Sendo assim, o educador precisa incentivar o aprendiz para que ele tenha uma
alfabetização eficaz resultando em um bom leitor.
Portanto, nesse processo é necessário que haja alfabetização por inteiro, deve-se cobrar da criança leituras
frequentes, para que ela consiga ter mais familiaridade com as palavras. E é muito importante que o educador
(professor) incentive o ato da leitura, mas sem opinar sobre o que o seu aluno deve ler, pois a abordagem para a leitura
deve ser eclética, porém, sempre observando a faixa etária dos aprendentes. Vale ressaltar, também, que a qualidade de
compreensão da leitura é mais importante do que a velocidade da mesma.
Bamberg (1995) afirma que todo indivíduo, desde a sua alfabetização e letramento, deveria ser incentivado a
criar um acervo ao longo dos anos de ensino criando assim seu “passaporte de leitor”. A prática diária de leitura faz
com que os indivíduos evoluam paulatinamente, fazendo-os desfrutar de novos conhecimentos a cada obra ou texto
lidos.
As escolas têm que abordar mais o método da leitura em sala de aula, pois a mesma está confundindo os termos:
alfabetização, que é o ato de saber ler e escrever, com letramento, que é o ato de saber usar a leitura e a escrita em
qualquer situação diária. Esse despreparo faz com que a escola tenha dificuldades em cumprir uma das suas devidas
funções que é formar cidadãos críticos, letrados e não apenas alfabetizados.
Segundo Soares (apud Buosi, et. al. 2003.) o conceito de letramento é “estado ou condição de quem não apenas
sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita.” Baseando-se nesse conceito e em
pesquisas realizadas pelo Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) de 2001 revelam que o Brasil tem um
baixo índice nos gráficos em questão do número de professores que reservam tempo de sua aula para práticas de leitura
de fruição.
É importante não se esquecer de que é em sala de aula que o ensino ganha força e é por meio da escola que se
forma o perfil de aluno leitor e escritor. Outra questão que requer atenção na formação de seres críticos é o método
utilizado pelo professor, educadores não devem se prender apenas aos métodos antigos e tradicionais, ou teorias. Faz-se
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necessário ter os currículos e referenciais como apoio na hora de elaborar a aula, porém, não se deve ficar preso
somente a eles na hora de realizá-la.
A realidade atual da sociedade pouco valoriza e pouco desenvolve práticas de leitura, os cidadãos,
maioritariamente, leem muito pouco. Os alunos, segundo os testemunhos dos professores, não leem. O endeusamento
do trabalho e o atrativo de outras formas de lazer não deixam tempo para que seja dada à leitura o seu valor e a sua
importância como instrumento no acesso ao conhecimento, ao entretenimento e ao prazer, embora seja consensual para
a sociedade que é preciso inverter esta situação, uma vez que é inegável o papel relevante que o ato de ler assume no
mundo contemporâneo.
Pode-se notar que o professor é um indivíduo fundamental enquanto incentivador da leitura, pois quando o Brasil
começou a ser alfabetizado, por volta do ano de 1835 a sua política educacional já era comparada à dos países vizinhos.
Segundo Lajolo (1993) a educação no nosso país começou de trás para frente, ou seja, começou ao inverso do que teria
que começar. Trinta anos depois, em 1863, percebe-se, ainda, o descaso pelo ensino da língua materna e da leitura.
Nota-se, portanto, que não é de hoje que enfrentamos barreiras na educação no Brasil. Em meados dos anos
1870, o professor não tinha nenhuma preparação profissional para ministrar as aulas, então o que veio a ocorrer foi o
seguinte: professores inexperientes, sem base de como trabalhar literatura com alunos foram às salas de aula, e em
consequência, os alunos não se adaptavam a tais métodos utilizados e ao invés de aprenderem e tomarem gosto pela
leitura, eles começaram a se desfazer das aulas. Chegando a um ponto em que professores começaram a fazer
“propagandas” sobre o quão importante e prazeroso era ler.
Os métodos antigos de ensino não visavam preparar aulas com interação entre alunos e professores, hoje em
dia é necessário ter diálogo na sala para promover e formar a autonomia intelectual dos e nos alunos. A interação
também é importante para o seguinte fator: o aluno precisa questionar, e não apenas ser um indivíduo passivo em sala
de aula, ele não deve só aceitar o que o professor diz, ele precisa ter argumento, ele necessita pensar e refletir e, apesar
de tudo, basear suas opiniões em leituras que, atualmente, é um grande desafio na sala de aula.
Desse modo, descarta-se totalmente a obrigação de leituras de textos que tem a
intencionalidade exclusiva de se ensinar gramática e conceitos. E ainda, não utilizar leituras
nas aulas leva o professor a situações confusas. Como se pode querer que o aluno domine a
grafia das palavras e a gramática se este não lê? Ler pouco leva o aluno a escrever mal, o
que também faz limitar o vocabulário. (BUOSI, et.al. 2003. P. 187)
É necessário que os professores busquem textos complementares, pois eles são essenciais para a fruição da
leitura, principalmente se os livros didáticos não contribuem muito para a mesma. Buosi et. al. (2003), reforça ainda que
a leitura não deve ser praticada apenas em aulas de língua portuguesa, e sim em todas as outras disciplinas, portanto
poderíamos sugerir que todas as disciplinas tivessem um momento dedicado à leitura. A falta de leitura faz com que o
aluno se afaste dos livros.
Dado o exposto, o incentivo à leitura é algo que levará os alunos a desenvolverem a habilidade de leitores,
contudo, é importante que leiam o que lhes interessa para que se sintam confortáveis durante a prática. O ato da leitura é
muito mais do que simplesmente ler um artigo de revista, um livro, um jornal. Ler se tornou uma necessidade, é
participar ativamente de uma sociedade, desenvolver a capacidade verbal, descobrir o universo através das palavras,
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além do fato que ao final de cada leitura nos enriquecemos com novas ideias, experiências.
Segundo Resende (apud Buosi et al 2003.) o professor que pretende formar leitores não deve adotar apenas a
uma forma de ensinar. Ele precisa aprimorar seus métodos para conseguir ótimos resultados, sugerir aos alunos textos
diferentes, não sempre do mesmo assunto e inovar suas aulas, com isso poderá proporcionar ao aluno um novo objetivo
de leitura.
O professor que trabalha com leituras diversificadas em sala de aula desconstrói a ideia de que o universo de
ensino gire apenas em torno do livro didático. Devemos aproveitar o momento em que o aluno está na escola e oferecer
a ele coisas novas, pois a escola é o lugar mais apropriado para se obter conhecimento, assim Buosi (et. al.2003)
corrobora:
A escola é um espaço privilegiado para o ensino da leitura e da escrita, já que é nela que
existe todo um ambiente preparado para isso, onde as televisões são desligadas, onde não
há telefones tocando, onde as crianças interagem com os colegas e com a diversidade
textual da escola e da comunidade, ou seja, onde se da o encontro decisivo entre a criança e
a leitura/escrita. É direito de o aluno ter acesso a ler e a escrever em boas condições, com
materiais apropriados e professores bem preparados. (Buosi et al, 2003, p.187.)
Seria interessante se todo professor conseguisse trazer um texto prazeroso, atualizado, com conteúdo
proveitoso para ler juntamente com os alunos, poderia ser um bom começo para criar uma familiaridade com a leitura
na sala de aula. Para tanto, Martins (2003) salienta:
[...] papel do educador na intermediação do objeto lido com o leitor é cada vez mais
repensado; se, da postura professoral lendo para e/ou pelo educando, ele passar a ler com,
certamente ocorrera o intercambio das leituras, favorecendo a ambos, trazendo novos
elementos para um e outro. (MARTINS, 2003, p. 33).
Se parar para pensar, na verdade, não existe um manual pronto e certeiro para formar leitores, depende muito
do meio em que o indivíduo se encontra. Portanto, a família e a escola exercem um papel fundamental no processo de
crescimento individual e social da criança, pois é a partir deles que se formam bons leitores. Família e escola devem
caminhar juntas para formar indivíduos letrados e não apenas seres alfabetizados, pois o letramento é importantíssimo
para a vida.
O aluno que aprende a ler e se encanta pela leitura, pratica cada vez mais esse ato, porém, não só pratica como
também começa a influenciar o ambiente e as pessoas com quem convive para a obtenção do hábito da leitura. Neste
ínterim, ao se adquirir o gosto pela leitura, o indivíduo não passará apenas a ler mais, como também despertar o gosto
pela produção escrita. Então, seria possível realizar a missão dos educadores e formadores de formar cidadãos críticos.
“Somente o professor que encara a leitura do aluno como um todo é realmente capaz de formar leitores.” (BAMBERG,
2002, p.55).
Associar a leitura como forma de rendimento escolar é possível também, principalmente, quando se trata da
língua portuguesa, a qual exige mais leitura e interpretação por parte dos alunos. O ensino-aprendizagem da língua
considerando os estudos de Bakhtin (2003) e a perspectiva dos gêneros do discurso passa por algumas transformações.
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Já não é mais o ensino voltado para a metalinguagem, mas o ensino voltado para o uso, ou seja, as práticas sociais de
trabalho com a língua. Trabalhar com o texto/gênero do discurso consiste na compreensão da função cumprida pela
linguagem, ou seja, é por meio do ato de ler que acontece o ensino aprendizagem.
E ao se trabalhar com gêneros discursivos e textos, é indispensável à prática da leitura, Zilberman (2002)
colabora que:
O processo, no conjunto, compõe-se de várias etapas: nasce da dissociação entre a leitura e
seu destino, o texto, que se qualifica como entidade autônoma, autossuficiente e
insubordinável as reações do leitor. Desprendendo-o do objeto, a leitura, ação
necessariamente transitiva, busca nova base de sustentação e complemento; a que descobre
tem conteúdo ideológico: de sua posse e exercício dependem a elevação social e integração
aos padrões privilegiados. (ZILBERMAN, 2002, p.14)
Nesse viés Figueiredo (2005) designa a leitura como um conjunto complexo de processos coordenados que
incluem percepções linguisticas e conceituais que começam na decodificação das palavras e vão até a página impressa.
Existe uma inter-relação entre semântica e referencial as quais se encontram num texto como há também a informação
lida que fica guardada na memória por um período longo de tempo.
Sendo assim para a compreender um texto, o conhecimento prévio do leitor é fundamental. Se o leitor for
capaz de construir os sentidos do texto, a compreensão acontece, no entanto, se ele não for capaz, não pode se dizer que
o ato de ler se concretizou. Por isso, o professor deve ter a preocupação de fazer com que o aluno identifique a estrutura
organizacional do texto de forma consciente, identifique os conceitos que indicam essa estrutura e adaptem os referentes
até que sejam capazes de obter uma representação do texto que responda às suas necessidades.
Para identificar a estrutura global que está na base de qualquer texto, o aluno deve ter a capacidade de o
descodificar de acordo com a sua tipologia - descritivo, narrativo, expositivo, argumentativo, etc. e de acordo com os
seus gêneros discursivos – romance, crônica, relatório, anúncio, etc.; deve ser capaz de prever a sua essência, o que
pressupõe algum percurso hierarquizado, uma vez que o de nível superior possui mais informação do que o de nível
inferior; para além disso, o aluno tem de ter a capacidade de, em simultâneo, integrar informação grafo nemática,
morfémica, semântica ( coerência), sintática (coesão), pragmática, esquemática e interpretativa.
É necessário e importante que o professor crie condições para que os alunos possam apropriar-se de
características discursivas e linguísticas de gêneros textuais diversos, em situações de comunicação real. Lopes-Rossi
(2005) afirma:
As atividades de leitura, por si só, podem constituir-se objetivo de um projeto pedagógico.
Nem todos os gêneros se prestam bem à produção escrita na escola porque suas situações de
produção e de circulação social dificilmente seriam reproduzidas em sala de aula (...)
(LOPES-ROSSI, 2005, p.81).
Segundo a teoria de Lopes-Rossi (2005), entende-se que as atividades de leitura devem conduzir os alunos a
perceber que a composição do gênero, em todos os seus aspectos verbais e não verbais, é elaborada de acordo com sua
função social e seus propósitos comunicativos. Sendo assim, esses tipos de atividades são considerados muito
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favoráveis ao processo da leitura e podem vir a contribuir para a formação de um cidadão crítico e participativo na
sociedade.
O autor Geraldi (2006) propõe que a prática de leitura de textos na escola deve ser entendida no interior da
concepção de linguagem como forma de interação social, bem como deve envolver dois tipos de textos: curtos e
narrativas longas. Afirma, ainda, que a quantidade de aulas semanais para essa prática é fundamental, pois os alunos
podem escolher livros para sua leitura individual e depois trocar com seus colegas. Também ressalta a importância de
que nenhuma cobrança deveria ser feita pelo professor, porque o que se busca é desenvolver o gosto pela leitura. E, por
fim, defende que o professor, ao avaliar seus alunos, deve se ater apenas ao aspecto da quantidade de livros lidos pelo
aluno dentre os indicados para a leitura, o que representa uma postura de confiança em relação à educação.
Com foco na questão ensino e aprendizagem FREIRE (1986) em sua obra A importância do ato de ler explica
que se devem produzir textos desde a alfabetização, pois desse período até a pós-alfabetização se teria uma pequena
biblioteca com escritos próprio do alfabetizado. Ele ressalta muito a ideia de que na comunidade poderia ter uma
biblioteca popular, pois a sociedade em geral pensa que biblioteca é só para a elite e que as classes menos elitizadas não
podem ter acesso a ela.
Em áreas cuja cultura tem memória preponderantemente oral e não há nenhum projeto de
transformação infraestrutural em andamento, o problema que se coloca não é o da leitura da
palavra mas o de uma leitura mais rigorosa do mundo, que sempre precede a leitura da
palavra. Se antes raramente os grupos populares eram estimulados a escrever seus textos,
agora é fundamental fazê-lo, desde o começo mesmo na alfabetização para que, na pósalfabetização, se vá tentando a formação do que poderá a vir ser uma pequena biblioteca
popular, com a inclusão de páginas escritas pelos próprios educando. (FREIRE, 1986. p.
36)
Os alunos de escolas públicas pensam que estudar é só para a elite ou a classe dominante. Muitos deles não se
esforçam por pensarem que não tem condições financeiras futuras para bancar seus estudos. Porém, se eles se
ajudassem, veriam que a classe tem capacidade igual ou maior que a classe elitizada. O questionário realizado com os
alunos do primeiro ano do Ensino Médio aponta que os mesmos não demonstram interesse pela leitura, como já citado
anteriormente, um dos causadores desse problema podem ser as condições financeiras.
Outro grande desafio que se coloca à escola, hoje, é retirar a leitura do esquecimento em que tem estado nos
últimos anos e torná-la o centro de todas as discussões pedagógicas que nela ocorrem. Os professores deverão envolverse na procura de alternativas e assumir essa discussão como uma necessidade urgente e imprescindível. Porém, é
preciso ter em conta que há um longo e difícil caminho a percorrer. O professor deve abandonar a convicção de que a
responsabilidade é sempre de fatores exteriores à sua profissão e abandonar o discurso da preocupação com a leitura,
assumindo, efetivamente, uma preocupação com a prática, adquirindo uma postura preocupada com uma
fundamentação teórica que possa subsidiar uma nova postura metodológica, cumprindo com a sua função nesse
processo. Para além disso, é imprescindível que ele próprio se afirme como leitor que vá ao encontro dos interesses dos
alunos, os motive e os desperte para o desejo de ler. Torna-se, então, urgente promover uma metodologia adequada a
um melhor aproveitamento das aulas e do tempo dedicado à leitura, em que a paixão pelos livros (por parte do
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professor) se torne contagiante.
2.A IMPORTÂNCIA DE LER OS CLÁSSICOS
Segundo Calvino (1993), os clássicos são obras que não tem época, que em qualquer tempo que ler ou reler irão
se identificar com eles, e irão também descobrir sempre algo novo em cada releitura, pois as obras são as mesmas,
porém as mentes e o modo de interpretar sempre serão diferentes, consequentemente, uma nova visão de uma
determinada obra será descoberta.
O clássico, de acordo com a definição de Calvino, é uma leitura que por mais lida que tenha sido sempre revelará
uma mensagem nova ao leitor. Eles têm por característica fazer as pessoas compreenderem quem elas são de onde
vieram, o que fazem e o que buscam na vida, enfim é uma espécie de autoajuda para compreender os indivíduos de uma
sociedade.
Perante essas características Calvino (1993) incentiva a leitura nas pessoas através de uma biblioteca ideal, ou
seja, fazer uma lista de quantos livros já foram lidos, quais livros pretendem ler, quais livros já foram citados, etc.
Através dessa biblioteca ideal, os professores podem despertar o gosto/hábito pela leitura de jovens e adultos.
Terezinha Oliveira (2010) organiza um artigo que expõe algumas questões a fim de despertar a criticidade para
pensar por que alguns autores são lembrados e famosos até hoje e outros não. Segundo estudos, alguns escritores
conseguiram, em suas obras, responder o que o público gostaria de saber sobre a época, eles conseguiram escrever com
clareza em seus livros as principais ideias.
Neste ínterim, percebe-se o quanto a leitura dos clássicos faz relevante na vida escolar dos alunos, pois através
delas, o aluno tem a oportunidade de compreender de forma contextualizada a sociedade em que vive suas
características históricas e também se autoconhecer.
3. PESQUISA QUALITATIVA
Este artigo propõe uma pesquisa qualitativa, caracterizada como estudo de caso, pois analisa o contexto
educacional de alunos de duas turmas de primeiros anos do Ensino Médio de uma escola pública de Lindoeste.
Para realização deste estudo, seguindo os pressupostos de Nisbet e Watt (1978, apud Lüdke e André, 1986),
primeiramente foi feita uma análise da literatura pertinente e coerente com o tema proposto. Posteriormente, na segunda
fase da pesquisa realizou-se a coleta de dados através de um questionário semiestruturado aplicado a aproximadamente
55 alunos referentes as leituras realizadas no decorrer da sua vida escolar. E na terceira fase, finaliza-se com a
interpretação e análise de dados coletados e elaboração do artigo.
O questionário aplicado contemplava sete questões, sendo que seis eram questões objetivas e uma questão
aberta, todas voltadas ao tema da literatura, ou seja, obras, clássicos e autores. Segue abaixo as perguntas e os resultados
obtidos:
1. Você gosta de ler?
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7
Sim: 45 alunos
Não:10 alunos
2. Com qual frequência você lê?
5 vezes por semana: 8 alunos
3 vezes por semana: 19 alunos
1 vez por semana: 27 alunos
Apenas 1 aluno não respondeu essa questão.
3. O que você gosta/prefere ler?
Jornais: 9 alunos
Revistas: 18 alunos
Ficção: 19 alunos
Clássicos da literatura: 8 alunos
4. Você gosta de ler os clássicos da literatura?
Sim: 25alunos
Não: 26 alunos
4 alunos não responderam
5. Quanto clássico você já leu?
De 1 a 5 livros: 25 alunos
De 6 a 10 livros: 6 alunos
Nenhum livro: 24 alunos
6. Hoje você está lendo algum livro?
Sim: 10 alunos
Não: 45 alunos
7. Escreva o titulo e o autor do ultimo livro que você leu:
Essa questão a maioria dos alunos não responderam, alegaram que não se lembravam mais do nome do livro ou
do autor. Dos alunos que responderam a questão, os livros mencionados foram:
Lua nova – Clarisse Xavier
Crepúsculo – Clarisse Xavier
A bela e a fera
Dom Quixote
Romeu e Julieta – William Shakespeare
A menina que roubava livros
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Iracema
Câmera secreta - Harry Potter
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio das pesquisas bibliográficas foi possível compreender que o ato de ler é muito mais profundo do que
se pode imaginar, ele não pode acontecer de qualquer forma. O leitor deve ter consciência e entendimento do que está
lendo. E se por acaso a leitura não está acontecendo, fluindo da maneira que deveria ser há estratégias para desenvolver
a prática da mesma.
Ao se pensar em leitura geralmente pensa se também em estudos, escola, e isso é normal, pois há uma ligação
entre ambos, que é uma das funções da escola formar indivíduos críticos que colaborem com a formação de uma
sociedade critica. No ambiente escolar quem atua como o mediador do conhecimento é o professor, o qual pode
incentivar a prática da leitura em suas aulas.
Porém com a pesquisa realizada para esse estudo pode se analisar a carência de leitura entre os alunos que
participaram da pesquisa foi muito grande. Em relação à questão 1 a maioria respondeu que gosta de ler, porém na
questão 10 eles já se contradizem, pois se você realmente gosta de ler, irá ler algum livro ou ao menos se lembrará do
último livro que leu.
Alguns alunos responderam que não se lembravam de quando tinha lido um livro. Esta questão coloca os
professores em alerta, pois é o aluno que realiza leituras periódicas certamente lembrar-se-ia das obras lidas. O que se
pode perceber através do questionário aplicado é que o gosto pela leitura existe, porém por falta de motivação ou
interesse estes alunos não estão realizando leituras pertinentes a sua formação escolar.
Este estudo não teve a intenção de apresentar algo definitivo, nem respostas para o problema levantado, na
verdade, vem mais para instigar na busca de novas metodologias para conquistar os alunos do ensino médio para o
mundo da literatura, mais especificadamente, a literatura dos clássicos, que são a base para a boa bagagem teórica e
também social. Também é importante enfatizar a importância do papel do educador neste cenário, pois ele tem em suas
mãos a possibilidade de provocar o interesse, motivação e hábito nos seus alunos.
A escola funciona como uma unidade em que forma cidadãos para o mundo, sendo assim, a equipe escolar
deve apoiar os professores, para que eles consigam realizar de maneira adequada seu trabalho, pois através deste estudo
ficou evidente que ainda existem professores muito empolgados e animados tentando fazer o melhor para elaborarem
aulas produtivas buscando incentivar os alunos na prática e no gosto pela leitura.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Antiguidade e Medieval. Dourados: UEMS, 2010.
CALVINO, Ítalo. Porque ler os clássicos. 1° Edição. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
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FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. – São Paulo: Autores Associados:
Cartez, 1986.
BUOSI, Rosângela Bressan. CARUSO, Analides Flávia. LAVAGNINI, Lazara Pereira. SILVA, Marilza de Barros
Quintino. MEGDA, Maria Célia. SOUSA, Maria Emilia de Araujo. KAMAL, Maria Marcia Moreira Garrut. A leitura
de fruição na formação de alunos leitores e produtores de textos. Akrópolis, Umuarama, v.11, n.4, out/dez., 2003.
BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. Trad. de Octavio Mendes Cajado. 6. Ed. São Paulo,
Ática, 1995.
LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo, Ática, 1993.
LÜDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. – 19. Ed.- São Paulo: Brasiliense, 1994.
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GERALDI, João Wanderley. O texto na sala de aula. 4.ed. São Paulo, Ática, 1984.
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