Marla Augusta de Almeida Silva
UFV - Unlversldade Federal de Vloos. - Vl00sa - MG
enorma universo machadiano:
da malandraqeM
servilidade:
a quastio da malandraqem.
que gera multas vezes
Selecionamos,
2 segredo
ocio, a depend'nela,
a
que constitui uma das expreS80es da sociedade bra-
silelra do seculo passado e atuaI",
malandraqem
0
Trata-se
(1)
para lsso, alguns contos, onde aspectos da
aparecem com mais nitidez: Miss DOlar, Luis Soares,
de Augusta,
radio, Om amblci080,
2 emprestimo,
Singular ocorrencia,
om er-
Pai contra mae, Qual d08 dois?
A caracterizaoao
do malandro nos contos machadianos
de-se ao estudo do jeito de ser e de viver de certas
que levam a vida na ociosidade,
pre~
per~~
no parasitismo.
Na epoca em que os cont08 foram produzidos,
a
so~1~n~rte
do Rio de Janeiro estava repleta de indivIduos totalmente avessos a qualquer
tipo de trabalho, que viviarn de esbanjar as for-
tunas da familia ou explorar amigos e protetores.
dependencia
Desse concex-
de certos tipos, que nio conseguem ver no
urn objetivo de vida. Vivendo
a
tr~balho
parte do mundo produtivo,
uma vida solta, inconseqUente e dispendiosa.
levam
1230
Em Miss-DOlar, Jorqevivia
confortavelmente i 80mbra
da
mae, que the permitia gartar a razeivel quantia de ••••c1uzentos
mil reis per mes, sem os qanhar ••••• (2). Do meS1llOmodo, Soares,
do conto intitulado Luis Soares, dilapidava a fortuna
deixada
par seu pai e qozava· ••• a vida que levava, eaquivando-se
todo a qinero de traballlo"
U,.
Va.concelos, •• .Q Mwredo
qu8ta, uma personllqea rica e oc:loSA-"••,pgssuis
na e nao trabalhavA, ~to
i, ~abalbava
de
de Au
was boa fortu-
muito n. de8trui~ao
da
referida fortuna •••" (4'. Ouua person&gem totalaente infensa a
qualquer tipo de trabalho i ~
Daniel
dois? Jovem, inteligente, saudivel,
COlD
£,
do conto
Qual
~
forma~io superior obti-
da em escolas europeias, portanto, com todas as condi~oes
para
exercer urnaatividade permanente e regular, prefere levar a vida indiferente a tudo. Achava Dr. Daniel que, •••••morando
o pai,
0
comerciante Marcos, abastado e operoso, nao
precisava
trabalhar, senao porque tambem sofria de rreguica" (5).
Jose Candido, do canto ~
ambicioso, detestava
0
com
Tambem
trabalho e vi-
via dependente do pai, urncomerciante de 10uCas, que possuia im6
veis e dinheiro.
Soares, Jorge, Vasconcelos, Daniel e Jose candido
pos-
suem muitos pontos de intersecio: nao trabalham, vivem de expl£
rar
0
patrimonio da_ familia, enfim, sao verdadeiros
parasitas
sociais. Longe do trabalho, como forma de realizacao pessoal
e
fonte de subaistencia, esses individuos passaro a vida dependendo dos recursos de seus antepassados.
Ao lado das personagens ricas e ociosas, Machado
coloca
aquelas que, apesar de carentes de recursos finaneeiros, sac igua1ment~ avessas a qualquer tipo de atividade produtiva. Cust6
dio, do canto
Q emprestimo e Elisiario, de ~ erradio sao prot£
tipos do malandro pobre, pregu1coso, dependente. 0 primeiro, ~
ce "... com a vocacao da riqueza. sem a vocacao do
trabalho·(6)
1231
e
° segundo,
01.1 SIeja,
!Wao constant.
Elis1ario,
para D. Jacinta,
con.titui motivo de preocupaesposa, qu.e nio hesita
.8\1&
em
implor~r ajuda aos amigos, no sentido de •••• fazer com que ele
trabalhe·
(7).
se os malandroB
mIlia, os ~bres
mais abastados
suqam as fortunas da fa-
vivem de explorar os amigos, protetores
drinhos. A88im, Leandro, de Sinqular ocorreneia,
nivel socio-economico
baixo, fazia constantes
critorio de Andrade para •••• pedlr-lhe,
eu tre8 mil reis"
(8).
personagem
como de costume, dois
Da mesma forma, CUstOdio, urn tipo sem d!
vivia do que
lhe davam os amigos •••• urn dez, outro cinco, outro vlnte
reis, e de tals eSpOrtulas
e que ele principalmente
mil
tirava
alberque e a cornida· (9). Tambem Elisiario explorava
0
0
urn prote-
Dr. Leusada, operador de alqurn nome, que devera ob
sequios ao pal e quis paqi-los ao filho".
Em geral, os autinticos malandros,
(10)
quando tentam
dar 01.1trabalhar,
movidos per urn aperto finaneeiro
sao inconstantes,
freqOentemente
quer pretexto.
mudam de atividade
A falta de persistencia
estu-
qualquer,
sob
qual-
de candido Neves, no co~
to Pai contra mae, ooloea-o em situacoes constrangedoras.
cisava de dinheiro,
nao consequia
de cart6rio,
de
incursoes ao es-
nheiro, nem desejo de trabalhar para eonsequI-lo,
tor, ••••
p!
01.1
de estabilidade,
Pre-
de trabalho certo,
agdentar nenhuma profissao.
continuo de uma reparticao
Atividades
mas
como ~
anexa ao Minister10
do
Imperio, carteiro e outros empregos foram deixados logo depois
de obtidos"
inst1tuicoes
(11).
Elistario,
apesar de ter freqUentado
de ensino superior,
" ••• nao era formado em cou-
sa nenhuma, posto estudasse engenhar1a,
xando em todas as faculdades
cao".
(12)
var1as
medicina, direito,
de~
fama de grande talento sem aplic~
Auaencia
de preocupacao
las coisas do passado
sio caracter!sticas
cificamente
0
com
futuro, de.interess8
0
e valorizacio
apenas do tempo
que marcam a exi.tencia
malandro
de Machado
pe-
presente
do malandro,
espe-
de Assis. om exemplo expres-
siva disso
e
ras, qasta
toda a fortuna deixada par seu pai, mas leva um ch~
Soares que, despreocupado
que ao perceber
passado
que estava praticamente
pela cabeca que alg~
ro eprecisar
soares,
trabalhar
CUstodio
passado,
uma existencia
ambicoes,
tadores
frivolo.
do Alcazar.
samento,
e
a atitude
quinhentos
esperar
(15).
Machado
bem-humorado,
Fez Vasconcelos
interessante
de Custodio
observar,
de totalpenuria,
entre eles. Sem emprego,
como
malandro
ao tabe11ao.
8.
dos
Era de
viesse de cOnqu18-
semelhante
quase despsjados
e
el& sa1 do
.& di em cavivendo
a Alegria era urn fate
do malandro
fr~~
apenas cinco,
que comer e, mesmo
casal ria a proposito
Um tra~o marcante
0
engracado,
na mesma linha de ~
ao consegu1r
0
para
com "••• a cara risonha
(16). outra situaoao
nessa situacio
com
aS8im
triste. Contrar1amente,
Neves. Nao t1nham
·0
nem
alegre, gentil, i~
Criou Jorge gentil,
" ••• risonho e palpitante,
to do aluguel,
levava
sem saudades,
esbocou personagens
sa de Candido
analogia
regra, tambem
mil re1s que pedira emprestado
tar a Asia Menor"
presente
imitador de gestos e cacoetes dos
que ele se tornasse
-cartorio
e
ficcional.
de anedatas,
expansiva"
a
0
do
(14).
em geral,
seu unLverso
contador
nao foge
como
nada queria saber
•••• sem futuro, nern passado,
o malandro,
povoar
outro homem. Asslm
nem temares, nem remorsos.
urn erradio·
con.eq~ente,
dia pudesse vir a nao ter dlnhe!
como qualquer
(13). E Elisiario
futu-
pobre. Nunca havia lhe
"••• vivia do presente,
nem saudades,
era tudo"
corn as aituaooes
comurn
por falta de pa9ame~
de tudo".
(17)
de Machado, estabelecendo
real, e a preocupaoio
com a
aparincia
1233
fisiea. CustOdio
cerreto.
"vestia pobremente,
mas escovado,
Usava 10ngas unhas curada8 com eamero e t~~ha as maos
muito bem talhadas,
macia •••• " (18). Vasconcelos
homem bem apessoado,
dotado de urn maravilhoso
salhas que Ihe davam um ar de diplomata"
mente vaidoso,
"••• era
~~
par de suI~as gel
(19). Jorge, extrema-
usava luvas, botas finas e ia com freq~encia
"•.. casas dos cabeleireiros,
romana da decadineta
As relacoes
marcam
aperta1~.
is mios de suas servaS latinas".
de favor, tio pratieadas
stmultaneamente
diano e no contexto
onde gastava mais tempo que
a presanca
uma
(20)
no seculo passado,
do malandro
soclal brasileira.
as
no texto
macha-
Como prava dissa,
Soares, que depais de gastar a fortuna, resolve
temes
trabalhar.
Pe-
de, entao, ajuda ao t10 que, atravis de uma carta ·~ao
ministro,
eonsegue-lhe,
em pouco tempo, um cargo numa secreta-
ria, com otimo salario.
socledade
Cust~o
deseja entrar
de uma fabrica de agulhas a, como nao possui
tal necessario,
vorz dinhe1ro
procura Vaz Nunes e implora-lhe
amprestado
Machado,
parasitismo,
atento do seu momenta
individuos
"encostaram-se"
que, apes decadas
na maquina
tamos soares que, ao' sentir-se
(21). Tambem~,
0
capi-
urn grande
fa-
social e polf
de ceiosidade
administrativa.
na
m1ser1a
"••• entrar em bom viver e comeCa par aceitar
co"
amigo de pandeqas
e pedir
Ocampo
chadlana
Wll
e
Prova
resolve
urn ernprego pUbl!
de Vasconcelos,
do se encont.ra ea apuras, delxa claro que pretende
governo
na
a jura reduzido.
observador
tico, reproduziu
disso,
Igualmente,
"••• ir
qua~
ao
luqar qualquer ••. ". (22)
901itico
nao foi negligenciado
e, na~ raro, os parasitas
tOB para a ficclonal,
da sociedade
eram incentivados
Dois amigos
de Elisiirio,
ram faze-lo
deputado"
na escr1tura
ma-
real transpos-
aingressar
no
poder.
l1gados aos Illeiospol.iticos, "quise-
(23). 0 tio de Soares, com medo de
que
"••• lembrou-se de inspirar-lhe a carreira polltica. Pensava 0
Major que a polltica seria urn remedl0 decisivo para aquele do-
registra, nas linhas e entrelinhas de alguns contos, a presenca marcante do malandro na sociedade brasileira do seculo XIX,
com
0
intuito primordial de nele vislumbrar suas
possibilida-
des literarias.
1.
XAVIER, Therez1nha Mucci. Projeto de Pesquisa, 1990.
2. ASSIS, Machado de. Miss Oolar. In: obra completa, vol.
Rio de Janeiro, ~ova
Aguilar, 1979. p. 36.
II,
5. ~GABElRA,
Octavio. Machado de Assis. Rio
Ed. Civilizacao Brasileira,-'9~.
290.
___________________
. Q erradio. In: Ope cit., p. 594.
Singular ocorrencia. In: cp. cit., p. 392.
___________________
. Q emprestimo. In: Ope cit., p. 335.
___________________
. B! erradl0. In: op. cit., p. 586.
___________________• Pat contra mae. In: op. cit., p. 660.
~
erradio. In: op. cit., p. 586.
Q emprestimo. In: op. cit., p. 335.
Um erradio. In: op. cit., p. 592.
________________
• 0 segredo de Augusta. In: ope cit.,p. 82.
Q emprestimo. In: op. cit., p. 335.
Pai contra mae. In: Ope cit., p. 662.
o emprestimo. In: Ope cit., p. 335.
Miss DOlar. In:op.
_________
cit., p. 36.
• LUis Soares. In: ape cit. ,p.
49~
Q segredo de Augusta. In: q>. cit., p. 82.
~
________________
erradio. In: Ope cit., p. 591.
• Luis Soares. In: Ope oit., p. 50.
1. ASSIS. Machado de. Obra completa.
ra Nova Aguilar. T9T9.
2. CARVALHO,
2V. Rio de Janeiro, Edito
Jose Hurilo de. Os bestializados.
panhia das Letras, 1987.--
~
Paulo,
3. GLEDSON, John. Machado de Assis - ficcao ! htstoria.
Janeiro. Paz e Terra,-'9~
Com-
Rio de
4. GOMES, Eugenio. Machado de Assts - contos. 8~ edi~ao,
de Janeiro, Agir, 1969:- -----
Rio
5. MATTA, Roberto da. Carnavais, ~alandros !hereis. Rio de Ja
neiro, Zahar, 1983.
6.
~--__.
se S.A.,
•~ ~
~ ~ rua. Sao Paulo,
Ed. Brasilien
1965.
7. MANGABEIRA, Octavia. Machado de Assis. Rio de Janeiro,
lizaQao Brasileira S.A., 19;4.------
Civi
9. PATI, Francisco. Dicionario de Machado de Assis. Sao Paulo,
Imprensa Oficial do Estaao~1972.
10. -~REIRA, Lucia Miguel. Machado de Assis. Estudo Critico
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biografico. Sao Paulo, companliIa~ora
Nac~onal, 1946.11. SANTIAGO, Silviano. Uma literatura nos tr6picos.
lo, Perspectiva, 1~.
Sao
Pau-
12. XAVIER, Therezinha Mucci. Verso e rever so do favor nos ~~
de Machado de Assis. Tese de doutorado,PUC=~
'1"98J':
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