Prevenção
e Tratamento de Feridas
Da Evidência à Prática
Novembro 2014, Primeira Edição
Prevenção e Tratamento de Feridas
Da Evidência à Prática
TÍTULO
Prevenção e Tratamento de Feridas - Da Evidência à Prática
Coordenadores
Cristina Afonso, Gustavo Afonso
Manuel Azevedo, Marta Miranda
Paulo Alves
Revisores
Alice Rodrigues, André Vaz
Beatriz Araújo, Carlos Cancela
Cristina Afonso, Eduardo Capitão
Gustavo Afonso, Manuel Azevedo
Marta Miranda, Paula Caldas
Paulo Alves, Rita Videira
Vanessa Dias
Editores
Eugénio Pinto
Isabela Vieira
Paginação e design HARTMANN Portugal – www.hartmann.pt
ISBN 978-989-20-5133-8
Email [email protected]
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Primeira edição | Novembro 2014
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22. Desafios da investigação e indicadores de qualidade em feridas
Paulo Alves; Lúcia Vales; João Neves Amado
Evidências clínicas na área das feridas são difíceis de alcançar devido à multiplicidade de
abordagens ao doente com ferida.
Na abordagem ao doente com ferida é essencial que a decisão clínica seja baseada na melhor
evidência científica, pois estas decisões irão ter impacto na segurança e na qualidade dos
cuidados prestados. A prestação de cuidados em saúde com base na evidência assenta na
prática clínica ancorada na melhor evidência científica disponível (Attalah, 2004; o ensino e a
investigação para avaliação da efetividade, eficiência e segurança das intervenções na área de
saúde são estrategicamente importantes para a população em todos os países (Alves et al.,
2013).
O processo de decisão em feridas está diretamente associado ao conhecimento prévio e da
experiência do profissional de saúde, prática baseada na evidência (PBE), sendo que este
conhecimento deveria estar sustentado nos mais recentes dados de investigação, nas últimas
orientações clínicas nacionais e internacionais, assim como em algoritmos de tratamento
previamente testados e validados (Rose, 2011).
Sabemos que a literatura e dados de investigação estão em constante mudança, e cabe ao
profissional de saúde estar atualizado, incorporando como ferramenta a PBE, por meio da
avaliação crítica das evidências, aplicando-as na sua prática clínica diária.
A evidência científica isolada não é suficiente para a tomada de decisão clínica, pois carece de
reflexão associada aos benefícios e riscos associados, aos custos inerentes e alternativas de
tratamento, assim como aos objetivos definidos com o seu doente e no plano de cuidados.
Assim, exige a integração da experiência clínica individual com a melhor evidência externa
disponível oriunda da pesquisa sistemática.
Esta avaliação crítica da evidência remete-nos para a estratificação das melhores fontes que
suportam a decisão clínica, a hierarquia da evidência, sendo geralmente apresentada na
forma de uma pirâmide desde três a nove níveis, de acordo com a validade e confiabilidade
dos dados (figura 1).
Figura 1 - Hierarquia da evidência [Adaptado de Navigating the Maze, Universidade de
Virgínia, Health Sciences Institute (2009)].
A PBE conduz o clínico no sentido do sucesso do tratamento / cicatrização, mas também deve
ser implementada em programas de prevenção, isto é, na ausência de lesão. Esta associação
da PBE a programas de prevenção está particularmente associada à segurança clínica,
qualidade dos cuidados e economia da saúde (Hurd et al, 2008; Falagan, 2013).
Os programas de prevenção devem ser implementados pelas organizações de uma forma
sistemática, dando o devido suporte ao nível dos sistemas de informação, formação contínua
e monitorização contínua dos objetivos definidos. Este conjunto de medidas visa a melhoria
contínua dos cuidados, pelo feedback recebido das avaliações dos doentes e profissionais.
Estes programas de prevenção e tratamento pressupõem um envolvimento em todos os
níveis da organização, desde a parte administrativa à componente clínica, bem como dos
cargos de gestão. Dentro dos outcomes / resultados clínicos mais identificados são:
- Redução do tempo de cicatrização e número de amputações;
- Redução do risco e das taxas de infeção em feridas;
- Redução da dor associada às feridas;
- Aumento da autonomia e mobilidade dos doentes;
- Aumento da qualidade de vida.
No entanto, para o sucesso das intervenções é necessário eliminar as barreiras à
implementação de boas práticas no tratamento de feridas já identificadas na literatura
(Dealey, 2009, Flanagan, 2013), pois de outra forma as limitações serão constantes, levando
ao descontentamento geral e à frustração das equipas. Algumas das barreiras identificadas
são:
-
Registos / sistemas de informação insuficientes e inadequados;
Avaliação do doente com ferida inadequada;
Falta de atualização de conhecimentos dos profissionais;
Práticas desatualizadas e infundadas;
Má aplicação das boas práticas;
Educação e formação inconsistentes;
Dificuldades de comunicação e de cooperação entre os profissionais;
Falta de liderança nos processos de decisão.
A instituição de boas práticas na prevenção e tratamento de feridas demonstram resultados
altamente positivos, nomeadamente redução do número de erros, melhoria dos resultados,
assim como maior previsibilidade de custos associados (Flanagan, 2013).
As instituições / profissionais de saúde devem definir prioridades e objetivos específicos
relacionados com a prevenção e tratamento de feridas, que devem ser monitorizados e
ajustados de acordo com os resultados atingidos. Definir um conjunto de indicadores
epidemiológicos, de processo e de resultado, são fundamentais para a garantia de segurança
e qualidade de vida dos doentes com ferida.
Indicadores de qualidade: desafios no tratamento de feridas
Os indicadores de saúde são medidas sumárias que refletem, indiretamente, informação
relevante sobre diferentes atributos e dimensões da saúde e dos fatores que a determinam
(Institute Medicine, 1988); é, assim, um constructo útil para a quantificação, monitorização e
avaliação da saúde e seus determinantes, podendo ter como objeto a pessoa ou uma
comunidade (Institute Medicine, 1988; Jenicek, 1995; Chevalier et al., 1995).
Desta forma, ausência de úlceras de pressão é considerada um indicador de qualidade dos
cuidados prestados (Pancorbo-Hidalgo et al., 2006; Elliott, 2010).
A qualidade de um indicador depende, em grande medida, da qualidade dos seus
componentes originais, nomeadamente dos dados utilizados na sua construção, assim como
da utilização sistemática de definições operacionais e de métodos de medida e recolha
uniformes (Dias et al., 2007).
A construção de um indicador pressupõe a disponibilidade de dados, dos valores das variáveis
simples selecionadas com os quais irá ser construído um indicador quantitativo.
Desta forma, para a recolha dos dados originais estes terão que estar registados de forma
correta e sistematizada. Habitualmente estes registos estão integrados em sistemas de
informação cuja qualidade global é fundamental para a qualidade dos indicadores.
Daí a uniformização e concordância nos registos ser fundamental para monitorizar a evolução
dos tratamentos e, consequentemente, o sucesso ou insucesso das intervenções propostas.
A definição dos outcomes / resultados é essencial para esta monitorização; fatores como a
limitação temporal, o elevado número de resultados a avaliar e a incomparabilidade dos
doentes em estudo coloca em causa o objeto do estudo.
Definição de outcomes na investigação em feridas
Na elaboração dos indicadores e para a investigação é essencial a predefinição correta de
outcomes / resultados. Recomendações para a investigação em feridas são escassos, mas nos
últimos anos um grupo de investigadores (Gottrup et al, 2010), publicou um documento cujo
objetivo seria sugerir recomendações sobre algumas das considerações que devem ser feitas
ao projetar estudos sobre intervenções para o tratamento de feridas.
Neste documento os autores identificaram quais os parâmetros mais utilizados pelos
investigadores nos estudos randomizados controlados (as percentagens representam a
proporção de cada categoria dos 313 parâmetros registados):
•
Taxa de redução da área da ferida (24.1%);
•
Cicatrização da ferida (16.9%);
•
O tempo de cicatrização (9%);
•
Mudança do aspeto da ferida (9%);
•
Biomarcadores e bacteriologia (4.5%);
•
Circulação (1.9%);
•
Sinais de infeção (4.5%);
•
Sinais e sintomas (13.2%);
•
Desempenho do penso (7.0%);
•
Qualidade de vida (5.8%);
•
Custos e recursos utilizados (4.5%).
Utilizar estes parâmetros de forma sistemática é impossível em vários contextos; desta forma,
seguir algumas recomendações para a investigação em feridas pode reduzir estas limitações.
É premente aumentar a qualidade da investigação realizada em feridas, o que implica
consistência na medição de parâmetros / resultados, e para atingir a consistência é
importante que se utilizem parâmetros predefinidos e robustos.
Devem adaptar os outcomes / resultados à intervenção em estudo e utilizar as melhores
evidências disponíveis; usar a ferida cicatrizada ou tecido sem lesão como um resultado a
atingir pode limitar o sucesso da intervenção, pois nem sempre é possível / adequado medir
(exemplo, doentes paliativos, ferida maligna); considerar os tempos de investigação de acordo
com o tamanho e tipo de ferida; definir outros parâmetros (alterações nas condições da
ferida) relevantes para monitorizar a evolução da ferida (redução da dor; presença de tecido
necrótico, granulação e epitelização; presença de odor); “os cuidados básicos / standard”
devem ser padronizados quando servem de grupo de controlo (Gottrup, 2010).
Esta correta definição de outcomes contribui para a melhoria da qualidade e fiabilidade da
investigação, permitindo avaliar novas estratégias de prevenção e tratamento em feridas
complexas e de difícil cicatrização.
Referências bibliográficas
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