CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO UNISAL MARIA JOSÉ ALVES CABRAL CONSELHO DE CLASSE E SÉRIE NA ESCOLA PÚBLICA COMO INSTRUMENTO DE EXCLUSÃO. Americana-SP 2011 UNISAL MARIA JOSÉ ALVES CABRAL CONSELHO DE CLASSE E SÉRIE NA ESCOLA PÚBLICA COMO INSTRUMENTO DE EXCLUSÃO. Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado do Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação, sob a Orientação da Profa. Dra. Sueli Maria Pessagno Caro Americana-SP 2011 C 12c Cabral, Maria José Alves Conselho de classe e série na escola pública como instrumento de exclusão / Maria José Alves Cabral. – Americana: Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL, 2011. 150 f. Dissertação (Mestrado em Educação). UNISAL – SP. Orientadora: Profa. Dra. Sueli Pessagno Caro. Inclui bibliografia. 1. Exclusão escolar. 2. Conselho de classe – Legislação. 3. Avaliação educacional. I. Título. CDD – 370.1934 Catalogação elaborada por Terezinha A. G. Antonio – CRB- 8/2606 Bibliotecária do UNISAL – Unidade Americana Conselho de Classe e Série na Escola Pública como Instrumento de Exclusão. Maria José Alves Cabral Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação, no Programa de Mestrado do Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL Dissertação de Mestrado defendida e aprovada em 22 / 06 /2011, pela comissão julgadora: _____________________________________________ Prof. Dr. Renato K. Soffner – UNISAL _____________________________________________ Prof. Dr. Manoel Nelito Matheus Nascimento - UFSCar __________________________________________________ Profa. Dra. Sueli Maria Pessagno Caro – UNISAL (orientadora) AGRADECIMENTOS Agradecer significa o reconhecimento de que sem a colaboração das pessoas que fizeram determinado percurso conosco e a ajuda divina o mesmo não se realizaria. Reconheço e mostro minha gratidão em primeiro lugar: A Deus pela infinita misericórdia e amparo em todos momentos que permearam a execução desse trabalho. A professora orientadora DrªSueli Maria Pessagno Caro,por acreditar que seria possível a conclusão desse trabalho e sua contribuição para formação de uma concepção de que é possível investir na criação de um ser humano que seja antes de tudo um ser social e solidário. Ao professor Professor Drº Manoel Nelito M. Nascimento, por sua orientação e esclarecimentos sobre os vários caminhos que permeiam as políticas educacionais e suas implicações no cotidiano escolar. Ao Professor Drº Paulo de Tarso Gomes, por possibilitar o entendimento do pensamento filosófico e sua ligação com as concepções pedagógicas. Ao Professor Drº Marcos Francisco Martins, pela oportunidade de confrontar os acontecimentos políticos e escolas filosóficas. Ao Professor Drº Luis Antonio Groppo; por ampliar a visão sobre educação e contextualizando com a contemporaneidade. Ao Professor Drº Renato K. Soffner; que por meio da eficiente coordenação possibilita um mestrado que prima pela excelência. Por fim Ao corpo de funcionários do UNISAL lotados nas diversas áreas que colaboraram direto e indiretamente nesta formação. Aos professores, alunos e pais das escolas públicas pesquisadas: EE Carlos Gomes de Campinas – SP e Centro Municipal de Ensino Profissionalizante Osmar Passarelli Silveira Paulínia - SP, pela colaboração na realização dessa pesquisa. Aos alunos em especial, considerando serem estes o motivo da existência da instituição escolar. Aos meus filhos: Rafael Cabral Machado Samira Cabral Machado Marco Antonio coelho Machado que colaboraram na elaboração desse trabalho. Não julgueis para que não sejais julgados. Pois com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido, hão de vos medir. (Mateus cap.7. verso 1,2) RESUMO O eixo principal das análises e reflexões desenvolvidas neste estudo é o conselho de classe e série, como espaço de avaliação, pelo qual passa todo o resultado do processo educativo, desenvolvido pelo coletivo de professores, em suas respectivas disciplinas. O desenvolvimento do estudo teve como embasamento reflexões, análises e pesquisas sobre teóricos da educação brasileira e francesa que examinaram a estreita ligação entre o ensino escolar e exclusão social. A metodologia investigativa utilizada envolveu observação e participação direta nos conselhos e a aplicação de questionários aos pais, professores e alunos. As discussões nos conselhos de classe e série mostram que ocorre uma avaliação oculta e não formal do cotidiano da sala de aula e que esta pode concorrer para ocasionar a repetência e exclusão escolar do aluno. Palavras chaves: Conselho de Classe. Avaliação Escolar . Exclusão Escolar. ABSTRACT The principal point of analysis and reflections developed in this study is the council of class and grade as an evaluation place, where all the output of educational process that is developed by teachers in the respective subjects of school curriculum happens. The development of the study had as base the reflections, analysis and researches about Brazilian ad French education’s theorists that examined the narrow link between school teaching and social exclusion. The investigative methodology included observation and direct participation in the council of class and grade, and application of questionnaires to the parents, teachers, and students. The discussions in the council of class and grade show that occurs a hidden and no formal evaluation of the day-by-day in the classroom and it can provoke the repetition and school exclusion of the student. Keywords: Class Council. School Evaluation. School Exclusion LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APEOESP - Associação dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo AV – Avaliação CENP - Coordenadoria de Assuntos Pedagógicos CF - Constituição Federal CEPAL- Comissão Econômica para América Latina DEs - Diretorias de Ensino EF - Ensino Fundamental EM - Ensino Médio IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica IDESP - Índice de Desenvolvimento do Estado de São Paulo INEP - Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais IPEA - Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira PCNS - Parâmetros Curriculares Nacionais PROFIC - Programa de Formação Integral da Criança SARESP - Sistema de Avaliação do Estado de São Paulo SEE - Secretaria de Educação Estadual PREMEM – Programa de expansão e Melhoria do Ensino UNESCO- Organização das Nações Unidas para Educação a Ciência e a Cultura LISTA TABELAS Tabela I Analfabetismo de 5 a 19 anos entre 1872 a 1900 no Brasil........ P.13 Tabela II Indicadores Demográficos e Econômicos e Taxa de Alfabetização de 5 até 19 anos................................................................................................p.14 Tabela III Indicadores Demográficos e Econômicos e Taxa de Alfabetização de 1950 1970..,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,.......................................................................p.16 Tabela IV Taxa de Analfabetismo na Faixa Etária de 15 anos ou mais por Grupos de Idade......................................,,,,,,,,,,,..........................................p.18 Tabela V Ensino Fundamental - Taxas Agregadas de Transição................p.19 TabelaVI Níveis de Proficiência de Matemática – SARESP...........,,,,.........p..96 Tabela VII Níveis de Proficiência de Língua Portuguesa – SARESP-2010.p.96 Tabela VIII Médias de Proficiência da Rede Estadual por Ano/Série e Disciplina.......................................................................................................p.97 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico.Taxa de Reprovação na América Latina..................................................p.....8 Gráfico I.................................................................................................................p.104 Gráfico II................................................................................................................p.1 07 Gráfico III...............................................................................................................p.108 Gráfico I V..............................................................................................................p.11 0 Gráfico V................................................................................................................p.112 Gráfico VI...............................................................................................................p.11 3 Gráfico VII..............................................................................................................p.114 Gráfico VIII.............................................................................................................p.11 5 Gráfico IX...............................................................................................................p.118 Gráfico X................................................................................................................p.12 0 Gráfico XI...............................................................................................................p.122 GráficoXII...............................................................................................................p.124 INTRODUÇÃO.............................................................................................................8 CAPITULO1 - EDUCAÇÃO BRASILEIRA: UMA HISTÓRIA DE EXCLUSÃO .......... 12 11.. Historia dos conselhos de classe e Série ....................................................... 20 1.2. Composição do conselho de classe série ..................................................... 24 1.3. Conselho de classe e série - Avaliação e Aprendizagem ............................... 25 1.4. Conselho de classe saberes incorporados - tempo de aprendizagem interior e julgamento subjetivo ............................................................................................. 27 1.5. Conselho de Classe e Série: uma visão crítica .............................................. 32 CAPÍTULO 2 - AVALIAÇÃO ..................................................................................... 39 2.1 Avaliação na Idade Média............................................................................... 41 2.2 Avaliação no Período Renascentista .............................................................. 43 2.3. Avaliação na Idade Moderna e o Realismo na Pedagogia ............................. 47 2.4 - Avaliação no Período Contemporâneo ......................................................... 53 2.5. A avaliação da aprendizagem ........................................................................ 55 3. O CONSELHO DE CLASSE E A LEGISLAÇÃO ATUAL DE AVALIAÇÃO NA REDE DE ENSINO PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO ................................. 58 3.1. O neoliberalismo e as políticas educacionais no Estado de São Paulo.......... 64 3.2. Redemocratização da Rede Estadual e Políticas de Estado Mínimo ............. 67 3.3. A Progressão Continuada .............................................................................. 73 3.4. Histórico do sistema de Progressão Continuada ........................................... 75 3.5 Ciclos e Progressão Continuada................................................................... . ..83 3.6. Política de avaliação do Estado de São Paulo............................................. ...88 3.7. Característica do SARESP .......................................................................... . ..90 3.8. As Políticas de Avaliação Externa e o impacto nas práticas avaliativas...... .103 4. REFLEXÃO SOBRE A PESQUISA REALIZADA................................................ 106 .. 4.1. Analise de pesquisa e gráficos dos professores.............................................107 4.2 Gráficos com resultados da questões dos Professores.................................109 .. 4.2 Analise da pesquisa e gráficos dos alunos......................................................123 4.3 analise da pesquisa dos pais e responsaveis ...............................................127 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. ... ....132 REFERÊNCIAS...................................................................................................... ..136 APÊNDICES.......................................................................................................... ..143 INTRODUÇÃO Um dos principais papéis reservados à educação consiste antes de tudo, dotar a humanidade de capacidade de dominar o seu próprio desenvolvimento. Ela deve, de fato, fazer com que cada um tome o seu destino nas mãos e contribua para o progresso da sociedade em que vive, baseando o desenvolvimento na participação responsável dos indivíduos e das comunidades. Relatório Jacques Delors. (2004: 82) O cenário de repetência escolar na educação pública brasileira é uma realidade que persiste por décadas e, como resultado, temos um gotejar continuo de indivíduos com seus insucessos escolares. Este fato tem sido objeto de investigação de inúmeros trabalhos e persiste ainda a cultura da repetência, a qual permanece como mostra a estatística abaixo: TAXA DE REPROVAÇÃO NA AMERÍCA LATINA Taxa de reprovação do Brasil é a maior dos países do cone sul 18,70% 0,2 0,15 0,1 0,05 12% 9,90% 2,90% 4,40% 6,60% 0 mundo América Latina Argentina Portugal Haiti Brasil GRÁFICO - Fonte: IBGE, Síntese dos Indicadores Sociais, 2007 – repetência na 8ª série De acordo com UNESCO, no 2º ciclo do ensino fundamental a reprovação era de 19% em 2007, evoluiu para 24,5% em 2008. Ainda segundo indicadores, do IBGE, Síntese dos Indicadores Sociais de 2007, o Brasil é o país que mais reprova na América Latina. Portanto, faz-se necessário investigar por quais caminhos e mecanismos se legitimam esse insucesso escolar. Nesta pesquisa, delimitou-se como objeto de análise os Conselhos de Classe e Série por se apresentarem como uma das prováveis instâncias que podem contribuir para fomentar essa exclusão. Por uma questão metodológica, será 13 analisado o conselho de classe e série da EE. Carlos Gomes, do município de Campinas no estado de São Paulo. As observações e análises foram retiradas dos acontecimentos vivenciados na unidade escolar por esta professora e notei que a rotina escolar tem criado uma avaliação desumana e unilateral no qual o aluno não participa das decisões que colaborarão para definir, sua aprovação ou retenção e exclusão social. Tais fatos levam as interrogações pertinentes ao exercício da cidadania e democracia, negadas aos alunos no momento em que são julgados sem terem a oportunidade de participação nas instâncias que decidirão seu futuro escolar. Desse modo, as instâncias decisórias escolares se transformam em uma correlação de forças desiguais e converte-se em jogo de poder. Assim, esse espaço de decisão e ação pedagógica perde o sentido. A ação reflexiva e formativa da avaliação se perde quando ela é desvirtuada e carregada de impressões pessoais ficando estereotipada, porque um julgamento nunca é isento de subjetividade, que por sua vez provoca uma ―miopia‖ e impede a percepção do outro como sujeito de direitos. Para a efetivação do presente estudo foram utilizados os seguintes documentos: planilhas, espelho de notas, observação da participação nos conselhos de classe e série, anotações de comentários e observações proferidas pelos participantes durante as reuniões. Foi executada a pesquisa de campo em que foram aplicados questionários abertos para os agentes envolvidos no processo educativo: aos pais duas questões, aos alunos duas questões e aos professores um com três questões e outro com nove questões. Os instrumentos mencionados possibilitaram a realização do trabalho de investigação da instância deliberativa, conselho de classe e série e análise das possíveis causas determinantes que levam esse espaço a se transformar no instrumento de eliminação da escola, concorrendo assim para alimentar a exclusão social. Porém a escola isoladamente não é a responsável pelo grave quadro de exclusão social em que se encontra grande parte da população, mas pode colaborar para o agravamento da situação. E isso pode acontecer por intermédio da escola, de suas organizações burocráticas e instâncias, quando se apresentam como um espaço de seleção contínua. 14 Durante séculos, o conjunto da população tem sido vitima de formas cruéis de exploração. No Brasil, tal processo de exploração ficou marcado com a vinda dos negros africanos para atender ao regime escravocrata que perdurou do século XVI até o final do século XIX. A escola, com origem no sistema de exploração econômica, foi uma escola excludente e seletiva concorrendo para o agravamento do contexto de exclusão. Nesta perspectiva a organização burocrática da escola, como por exemplo, o conselho de classe e série vem colaborar ratificando o fracasso do aluno, o conselho como um espaço privilegiado no qual passa todo resultado do processo educativo e que abriga ideologias, práticas educativas diversificadas e, portanto, pode tornar-se um espaço seletivo. A seletividade ocorre muitas vezes de forma inconsciente por meio das instâncias e dos agentes envolvidos no processo educativo. Temos uma escola burguesa na qual se produz uma educação estranha aos interesses das classes populares. Dessa forma a escola tem produzido um conhecimento cujo objetivo limita-se a formação para o trabalho, ou seja, a recomposição dos quadros no mercado e também permanece como lócus privilegiado onde se reproduz os valores e o modo de vida da classe dominante. A educação para a vida, visando proporcionar o direito de ser ou o exercício da cidadania, ainda não se materializou. Para entender esta escola ambígua se faz necessário contextualizá-la historicamente, identificando os papéis que lhe foram atribuídos, sobretudo no final do século XX. Nesse período ocorrem intensas mudanças educacionais provocadas pela globalização e reestruturação da economia mundial, provocando profundas crises sociais bem como enfraquecimento dos Estados nacionais, extinguindo fronteiras e disseminando a miséria nos países periféricos. Na realização do presente estudo, foram considerados os autores pioneiros que se preocuparam com as questões de exclusão social, repetência, evasão escolar, Historia da Educação e legislações a cerca da educação estadual paulista. Considerando que o problema aqui estudado é o conselho de classe como instrumento de exclusão, procura-se refazer o trajeto histórico em que se construiu o cenário de repetência porque, obrigatoriamente, a retenção escolar passa pelo conselho de classe e série. 15 O trabalho está estruturado da seguinte forma: No primeiro capitulo é traçado um histórico da origem dos conselhos na França, bem como a implantação das primeiras experiências no Brasil, que teve a intenção de instituir uma avaliação integral. O segundo capítulo aborda a ligação intrínseca entre avaliação e conselho de classe, o estudo sobre o significado da avaliação nos períodos da Idade Antiga até o período contemporâneo e a avaliação da aprendizagem e sua relação com os conselhos de classe e série. O capítulo três traz o estudo sobre o conselho de classe e série e a sua relação com avaliação instituída no ciclo básico da rede pública de São Paulo. A análise compreende o período que se inicia em 1984, quando se dá a primeira gestão do PMDB com a política de redemocratização da Rede de Educação após o período da Ditadura Militar, até a gestão do atual PSDB, partido que governa o estado de São Paulo desde 1995 e os ideais neoliberais implantados nas políticas educacionais no estado: Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP), progressão continuada e as práticas educativas. No último capítulo é feito uma análise das questões distribuídas aos pais, aos alunos e aos professores com intuito de obter respostas sobre as indagações pertinentes ao conselho de classe e série e os respectivos gráficos para uma melhor visualização dos resultados e comparações das respostas obtidas de cada um dos questionários, bem como das considerações finais e a referência bibliográfica. 16 CAPITULO1 - EDUCAÇÃO BRASILEIRA: UMA HISTÓRIA DE EXCLUSÃO Ao falar da exclusão social, que ocorre de forma quase imperceptível através da escola pública brasileira, não podemos esquecer que o Brasil historicamente excluiu seus filhos economicamente e culturalmente, negando através de séculos, o acesso ao saber. O sistema de ensino tem perpetuado tal exclusão, pois antes não havia oferta de vagas para todos; hoje, abrigam quase todos em seu interior, mas sem proporcionar o acesso ao conhecimento integral. Segundo Romanelli (1973), no Brasil, até o final da década de 1920, as camadas dominantes tinham como objetivo manter um sistema de ensino que atendesse a seus interesses e status. Organizava assim, um ensino de forma ―fragmentária‖, no qual as disciplinas não se articulavam entre si formando um conjunto de saberes e práticas que proporcionasse uma formação integral com vistas ao trabalho. Dessa forma, o ensino era constituído de modo a preparar os burgueses para ocupar os postos de serviços mais almejados. Sendo assim, o acesso ao ensino ficou limitado aos filhos da elite brasileira, que recebiam uma educação humanística, enquanto a educação profissional da população era ignorada Uma vez que a economia não fazia exigências à escola em termos de demanda econômica de recursos humanos; que a herança cultural havia sido criada a partir da importação de modelos e pensamentos provenientes da Europa; e que a estratificação social, predominante dual na época colonial, havia destinado à escola apenas parte da aristocracia ociosa; que essa demanda social de educação, mesmo quando englobou no seu perfil os extratos médios urbanos, procurou sempre na escola uma forma de adquirir ou manter status, alimentando, além disso, um preconceito contra o trabalho que não fosse intelectual e uma vez, enfim, que todos esses aspectos se integravam, é possível afirmar-se que a educação escolar existente com origem na ação pedagógica dos Jesuítas correspondia exatas necessidades da sociedade como um todo. A função social da escola era, então, a de fornecer os elementos que iriam preencher os quadros da política, da administração publica e formar a inteligência do regime. (ROMANELLI, 1973, p. 45) 17 No final do século XIX para a grande maioria da população, o ensino era considerado dispensável a ponto de termos quase 80% da população analfabeta. Ao analisarmos os dados referentes à educação no Brasil, observamos que a taxa de escolarização era de apenas 9% de crianças e jovens de 5 a 19 anos de idade. - TAXA DE ANALFABETISMO DE 5 A 19 ANOS ENTRE 1872 A 1900 NO BRASIL Nº 872 890 N População recenseada no Brasil Taxa de analfabetismo população de 1 9.930.478 82,3 1 14.333.915 82,6 5 anos ou mais Tabela I Fonte: IBGE apud BOTELHO, Tarcisio. Contando os milhões da nossa historia. (Rio de Janeiro), ano 1 nº4 p. 9, fev. 2004. A tabela acima mostra a situação alarmante em carência educacional, pois de quase 10 milhões de habitantes em 1872, apenas 17,7% estavam na escola. É necessário registrar que não estão contabilizados na estatística as crianças e adolescentes negros, uma vez que seus progenitores não eram considerados cidadãos. No ano de 1871 entrou em vigor a lei do ventre livre que libertava os filhos de escravos nascidos após a sua promulgação. Por volta de 1885, passava de quatrocentos mil o número de crianças negras nascidas livres. No entanto, para essas crianças negras, a educação era considerada perigosa e desnecessária como escreve Marcos Vinicius Fonseca. A não difusão de habilidades como a leitura e escrita, o combate às influências da raça negra na sociedade e a proibição aos escravos de terem acesso a estabelecimentos de ensino, constituíram-se importantes mecanismos de controle para uma sociedade que contava com grande número de trabalhadores escravizados. (FONSECA, 2001, p. 30) 18 Na tabela abaixo, observamos uma pequena melhora em relação ao analfabetismo se comparar os números apresentados entre 1872 e 1900, totalizando um período de dezoito anos, mas o problema ainda persistia fortemente. INDICADORES DEMOGRÁFICOS E ECONÔMICOS E TAXA DE ALFABETIZAÇÃO DE 5 ATÉ 19 ANOS Indicadores 1900 1920 1940 1950 População total 17.438.434 30.635.605 41.236.315 51.944.397 Densidade demográfica 2,06 3,62 4,88 6,14 Renda per capita em dólares 55 90 180 % população urbana 10 16 31 36 65,3 69,9 56,2 50,0 % de analfabetos (15 anos e mais) - Tabela II Fontes: Lourenço Filho, M. B. Redução das taxas de analfabetismo no Brasil entre 1900 e 1960: descrição e análise. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Rio de Janeiro, v. 44, n. 100, p. 250-272, out./dez. 1965; Fundação IBGE, Séries Estatísticas Retrospectivas, 1970. A estatística apresentada no tabela 2 nos leva a algumas considerações: a primeira, que fica já evidente ao observarmos os dados acima, é que o analfabetismo assolava o país e continuava principalmente entre jovens até 19 anos, não sendo contabilizada a população adulta. Outro fato que agravou a situação é que após a abolição do regime escravocrata em 1888, houve um aumento de contingente e isso geraria um novo cenário social e de carências educacionais num quadro já tão precário. Não esqueçamos que, para a população negra, o acesso a cultura era mais difícil porque incluía o preconceito e o pouco domínio da língua portuguesa falada, condição para ser alfabetizado. Faltava para essa parcela da população, o capital cultural básico, ou seja, o código de acesso à cultura historicamente acumulada que era o domínio da língua falada. Não se observa no Brasil preocupação ou algum movimento com relação à população de escravos em relação ao domínio da língua portuguesa. Por outro lado verificamos que havia já em 1854, legislação proibindo o ensino a negros. Esta legislação limitou o acesso ao ensino e deixa claro quais pessoas que não teriam esse direito como observamos no decreto que institui a Reforma Couto Ferraz: 19 DECRETO Nº 1.331A- de Fevereiro de 1854. ART.69. ―Não serão admitidos à matrícula, nem poderão frequentar as escolas: § 1º Os meninos que padecerem moléstias contagiosas. § 2.º Os que não tiverem sido vacinados. § 3.º Os ―escravos‖ (COLEÇÃO DAS LEIS DO IMPERIO DO BRASIL,1854) (TOMO 17, 2ª PARTE , SECÇAO 12ª p.59) Portanto, em 1854, legitimou por meio da legislação, o que era considerado normal; os escravos, escravo liberto e toda sua prole a exclusão, negando-lhes o conhecimento. Sendo assim, mesmo que os senhores se propusessem a arcar com os custos, da educação dos seus cativos, a educação com características escolares era proibida aos escravos. Um exemplo dessa situação era o regulamento de ensino dos colégios de Artes Mecânicas das Províncias. O Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Espírito Santo, amparadas na Reforma Couto Ferraz, vedava a matrícula às crianças de cor preta, mesmo as libertas. Assim, vivia os negros sem os conhecimentos elementares da leitura e sem perspectiva de mudança, uma vez que a escola era para a elite e seus filhos e as poucas vagas ofertadas as classes populares eram insuficientes. (PRIMITIVO, Moacyr, p.39). A situação começa a mudar no século XX quando a crescente industrialização gera demanda de mão de obra, o que torna necessário uma educação para todos, inclusive para as populações libertas. Assim, visualizamos uma mostra da realidade do final do século XIX e início do século XX, com suas contradições, conflitos inerentes a uma sociedade em transformação, em que gradativamente se sai de um sistema de economia agrária e para uma recém instalada industrialização, que trazia consigo a necessidade de mão de obra mais qualificada. A escola, no entanto, não acompanha tal mudança, permanecendo atrelada aos interesses da elite brasileira, e ignora as necessidades e anseios do povo. 20 INDICADORES DEMOGRÁFICOS E ECONÔMICOS E TAXA DE ALFABETIZAÇÃO DE 1950/1970 Indicadores 1950 1960 1970 População total 51.944.397 70.119.071 94.501.554 Densidade demográfica 6,14 8,39 11,18 Renda per capita em dólares - 236 - % população urbana 36 46 56 % de analfabetos (15 anos e mais) 50,0 39,5 33,1 Tabela III Fontes: Lourenço Filho M. B. Redução das taxas de analfabetismo no Brasil entre 1900 e 1960: descrição e análise Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Rio de Janeiro, v. 44, n. 100, p. 250-272, out./dez. 1965; Fundação IBGE, Séries Estatísticas Retrospectivas, 1970. A evolução de um modelo exclusivamente agrário–exportador para um modelo parcialmente urbano-industrial afetou o equilíbrio estrutural dos fatores influentes no sistema educacional pela inclusão de novas e crescentes necessidades de recursos humanos para ocupar funções nos setores secundários e terciários da economia. O modelo econômico em emergência passou, então a fazer solicitações à escola. (ROMANELLI, 1978, p. 46) A autora escreve que em quase toda a história brasileira as bases políticas assentaram-se mais no poder exercido pelos dos donos de terra e nos interesses dos latifundiários, ou seja, numa minoria aristocrática agrária. Sendo assim, a organização do ensino mostrou-se sempre fragmentada, devido aos interesses particulares dessa minoria burguesa. Dentro desse contexto, a escola qualificava os representantes da política local em que estava inserida atendendo as esferas mais altas do antigo regime. O monopólio da cultura oferecido pelas escolas era garantia de postos burocráticos e nível mais elevado de atuação no que diz respeito à prática profissional, isto é, a área administrativa do mercado de trabalho recém surgido com a recente industrialização no Brasil. Este quadro de monopólio do mecanismo de acesso a cultura continuou se arrastando, mas isso não significa que não houve luta por parte dos educadores e da população para mudar. O exemplo do manifesto dos Pioneiros (1932) e das lutas travadas pela população em busca da expansão do ensino para atender suas 21 necessidades de formação. Os poucos avanços verificados e a leve redução do analfabetismo se deveu aos intensos enfrentamentos. O Brasil continuou apresentando descompasso entre educação e desenvolvimento. Na década de 1930, o ensino expandiu-se fortemente por causa do crescimento sensível da demanda social de educação. Isso se deu devido a dois fatores: o crescimento demográfico e a urbanização. O crescimento demográfico é responsável pela demanda de educação e a urbanização, pela evolução da demanda. Mas a expansão do ensino foi deficiente porque ocorreu de forma quantitativa e em seu aspecto estrutural. Entre as deficiências podemos apontar: a oferta insuficiente de vagas nas escolas; o baixo rendimento do sistema escolar; a discriminação social acentuada. (ROMANELLI, 1978) Ainda no aspecto cultural, havia a manutenção e expansão de uma escola voltada para atender uma pequena elite, ignorando as transformações sócioeconômicas e culturais que a sociedade atravessava, alijando o povo em seu direito de aprender. Para Romanelli 1978, é esta inadequação que define a defasagem e o desenvolvimento brasileiro após os anos 1930 e na década de 50 em que metade da população não era alfabetizada, conforme se observa no Quadro 3. Os mecanismos de seleção dentro da escola perpetuam-se, mudando apenas a roupagem e, aos antigos; novos mecanismos são inseridos com novas formas de coibir o acesso da população ao saber. Um exemplo é o dos exames de admissão para cursar as séries subseqüentes, instituído em1931, pelo decreto nº 19.890 e que vigorou até 1977. Esse permaneceu como um eficiente filtro às etapas posteriores de educação durante quarenta anos, quando foi revogado e surgiram outros mecanismos, como a instituição dos conselhos de classe e série em 1977. Embora tendo em seu princípio um ideal democrático que possibilitaria uma visão do rendimento integral do aluno, na prática acaba por se transformar em uma instância legitimadora de exclusão, no qual se retinha por falta de décimos nos conselhos finais. 22 TAXA DE ANALFABETISMO NA FAIXA ETÁRIA DE 15 ANOS OU MAIS POR GRUPOS DE IDADE. BRASIL - 1970 - 1996 15 anos 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 39 40 a 49 50 anos ou mais Anos Anos Anos Anos Anos ou mais 1970 33,6 24,3 26,5 29,9 32,9 38,5 48,4 1980 25,4 16,5 15,6 18,0 24,0 30,8 43,9 1981 20,1 12,1 12,2 12,7 15,3 23,8 38,3 1995 5,6 6,8 7,5 9,3 11,0 16,7 32,7 1996 14,7 6,0 7,1 8,1 10,2 15,5 31,5 Ano Tabela IV Nota: Exclusiva a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá em 1995 e 1996. Fonte: IBGE - PNAD 1996 Segundo o IBGE, em 1982 a taxa anual de repetência no primeiro ano do primeiro grau atingia (52,4%) da população matriculada. O Brasil historicamente é um país cuja desigualdade permeou suas várias fases, principalmente por sua economia ter sido essencialmente agrária e com regime de exploração de mão de obra escravocrata, o que justifica e cristaliza a injustiça social proveniente do sistema. Dentro deste modelo econômico é que a organização da escola brasileira teve sua origem, assim teremos uma escola que atendia somente aos anseios da elite agrária brasileira. Para o povo, havia certa quantidade de lugares nas poucas escolas primárias públicas, de onde os alunos poderiam seguir para as escolas normais e técnico-profissionais mantidas pelo poder público. Observamos aqui a dualidade da escola reforçando e dividindo os estudantes em duas categorias, uma privilegiada e a outra destinada à exclusão pela falta de formação. Assim, o caráter elitista da educação brasileira fez com que durante décadas não fizesse parte das prioridades nacionais e, muito menos, de debates que envolvessem a sociedade, um acesso escolar com equidade. Os governos brasileiros ignoraram do mesmo modo a crescente classe média, bem como suas necessidades e aspirações de formação. Não havia expansão do sistema de ensino para toda população, nem mesmo para as camadas em ascensão social existente, que embora fosse reduzida, aspirava ao ensino superior. O aumento no número de estabelecimentos de ensino no país foi resultado de pressão e lutas populares. No campo educacional, essa luta se traduziu da seguinte 23 forma: de um lado a pressão social de educação, cada vez mais crescente e exigente; e do outro, o controle das elites mantidas no poder, que buscavam, por todos os meios, conter a pressão popular pela distribuição limitada de escolas e manter, pelo uso de legislação, o caráter elitizante da educação. Assumindo uma característica de luta de classes, a expansão da educação obedeceu às normas da instabilidade de uma sociedade profundamente marcada por uma cultura seletiva e burguesa. Como podemos observar, os interesses da elite é responsável pelo surgimento de uma escola promotora de exclusão social e a repetência é resultado desse processo, no qual o Brasil assume a dianteira entre os países que mais reprova: ENSINO FUNDAMENTAL - TAXAS AGREGADAS DE TRANSIÇÃO Brasil - 1981 - 2010 Ano Promoção Repetência Evasão 1981 58% 36 6% 1985 58% 36 6% 1990 60% 34 6% 1995 65% 31 4% 1998 67% 29 4% 2000 68% 28 4% 2002 70% 27 3% 2004 71% 26 3% 2005 72% 26 3% 2008 73% 24 2% 2010 75% 23 2% Tabela V Fonte: MEC/INEP/SEEC (* )Dados estimados O quadro acima caracteriza bem a escola brasileira, por meio de seus mecanismos burocráticos de eliminação de excedente, foi sutilmente deixando pelo caminho, ao longo do século, um a um, milhões ficaram sem oportunidades. Deixou, assim, de cumprir seu papel primordial, o de socializar o saber. Também negou a oportunidade de formação ao cidadão impedindo o acesso e domínio do saber e consequentemente impedindo formação de pessoas autônomas. 24 1.1. Historia dos conselhos de classe e Série Os conselhos de classe e série tiveram sua origem na França em 1945, primeiramente, em classes experimentais e, de forma espontânea, nos estabelecimentos educacionais que consideravam a importância da iniciativa. A finalidade era de orientar o acesso ao ensino técnico ou clássico francês segundo a aptidão do aluno. Rocha (1986) afirma que em 1959 com a reforma educacional da França foram criados três tipos de conselhos: conselho para avaliar as turmas, conselho de orientação Institucional e o conselho de orientação. Os objetivos da reforma foi o de democratizar o ensino para as classes populares possibilitando o acesso as diversas modalidades de ensino. Dalben (1994) faz os seguintes relatos sobre a criação do sistema francês de conselhos: Por ocasião da reforma de ensino francesa de 1959, foram instituídos três tipos de conselhos; o conselho de classe, no âmbito da turma; o conselho de orientação; no âmbito do estabelecimento; e o conselho Departamental de Orientação, em esfera mais ampla. Essa reforma almejava declaradamente organizar um sistema escolar fundado na observação sistemática e continua dos alunos, com vista a oferecer, a cada um, o ensino que corresponda a seus gostos e aptidões. (DALBEN, 1994, p.26) Segundo Dalben 1994, o conselho de classe foi instituído como experiência no Brasil no momento em que novas idéias e práticas pedagógicas constavam na agenda de lutas dos pioneiros da educação nova. O anseio por concretizar melhorias nas condições de aprendizagem possibilita a abertura para experiências inovadoras como é o caso da metodologia de avaliação coletiva francesa. O conselho funcionava de uma forma multidisciplinar: coordenado por um professor orientador ou pelo diretor e o vice-diretor da instituição escolar, o inspetor geral 25 responsável pela turma, um médico, um assistente social ou enfermeira, um conselheiro de orientação, os professores da turma, outros inspetores, dois alunos eleitos por seus pares como delegados de turma e os pais. E conselho tinha por função elaborar pareceres sobre os alunos com objetivo de serem transmitidas as famílias, que recebiam orientação quanto ao acesso dos alunos às diferentes modalidades de ensino. No Brasil, o Conselho de classe foi introduzido nas práticas pedagógicas com a intenção de valorizar e incentivar o trabalho coletivo. Essa experiência foi trazida ao Brasil por um grupo de professores que estagiavam no Instituto de Pesquisas de Serves na França. A escola francesa tinha o objetivo de fazer uma avaliação coletiva e global do aluno por meio de reuniões periódicas, inicialmente quinzenais e posteriormente, mensais. Faziam leituras e relatos das dificuldades de aprendizagem de suas respectivas classes e, de cada aluno, em separado. Rocha (1982, p.19) afirma que a França neste período passava por várias reformas com o objetivo de democratizar o seu sistema de ensino e a instituição dos conselhos foi resultado destas mudanças educacionais implantadas por ocasião da reforma. Com relação ao Brasil, as primeiras instituições escolares a adotar a nova metodologia avaliativa foram o Colégio Santa Cruz de São Paulo e de São João Del Rei em Minas Gerais o Centro Educacional de Niterói (RJ), o Colégio Brasileiro de Almeida (RJ) e o colégio de aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro que, em 1959, institui os conselhos de classe com grande aceitação por parte dos docentes. Os conselhos de classe e série seriam implantados de forma indireta através do Premem1. Posteriormente, a (lei 5.692 / 71) traça as diretrizes para a operacionalização nas escolas públicas nacionais. Antes da referida lei, os conselhos de classe e série não eram instituídos de maneira formal, apareciam como prática espontânea nas instituições escolares que visualizavam sua importância para o processo de avaliação de forma integral. 1 Programa de Expansão e Melhoria do Ensino ( PREMEN - MEC). http://www.jusbrasil.com.br/diarios/3292974/dou-secao-1-14-11-1974-pg-31 26 O estado de Minas Gerais foi o primeiro a instituir as novas diretrizes que implantaram os conselhos de classe e série de forma oficial na rede pública estadual. Para Dalben (1994), um conselho de classe deve ter a participação direta dos profissionais que desenvolvem trabalho pedagógico com as turmas para avaliação, de forma a possibilitar-lhes a oportunidade de analisarem e discutirem o processo de trabalho desenvolvido em sala de aula. O docente, ao participar desse processo, coloca para reflexão sua própria prática pedagógica, tanto em termos de relacionamento com os alunos como o seu fazer pedagógico em relação conteúdos, metodologias, procedimentos didáticos, sistema de avaliação/recuperação e outros. Sempre estão presente os registros de desempenho, os sucessos, os fracassos com suas razões e as alternativas de superação. A relação professor/aluno entra com um peso forte na dimensão do conjunto de teias que se estabelecem nos seus processos sociais e seus conflitos. Nesse sentido, encontram espaço para as reflexões e reorganização de procedimentos e atitudes. De forma oficial aqui no Brasil, a (lei 4.024 de 1961), que desde 1948 começou a ser pensada e debatida em tramitação pelo congresso durante treze anos, desencadeia o compromisso dos docentes com a avaliação dos alunos. As legislações básicas que regem os conselhos são: (Decreto n° 10.623/77), (Decreto n° 11.625/78), (Parecer nº 67/98) (normas regimentais básicas). O Parecer67/98*2 explicita o que é um conselho de classe série sua composição, sua abrangência, os pontos em que possui poder deliberativo e aplicação prática, afirmando que é o colegiado responsável pelo processo coletivo de acompanhamento e avaliação do ensino e da aprendizagem: Capitulo III Dos colegiados:3 a) ―Reúne-se para debater as questões do ensino e da aprendizagem; b) Possibilita a inter-relação entre profissionais e alunos, entre 2 http://www.ceesp.sp.gov.br/Pareceres/pa_67_98.htm 3 http://www.publicado.com.br/ud/map78.htm 27 turnos e entre séries e turmas; c) Propicia o debate permanente sobre o processo de ensino e de aprendizagem d) e) Orienta o processo de gestão do ensino. favorece a integração e seqüência dos conteúdos curriculares de cada série e classe. O conselho de classe se converte em um espaço democrático quando todos os envolvidos no processo escolar têm participação garantida, inclusive os próprios alunos que estão sempre ausentes nas decisões sobre sua vida escolar. Para Rocha, o conselho de classe é uma reunião dos professores de uma turma com múltiplos objetivos: ―Avaliar o aproveitamento dos alunos e a turma como um todo, com objetivo de chegar a um conhecimento mais profundo do aluno e promover a interação dos professores e de elementos da equipe escolar‖. (ROCHA, 1986, p.9) Mas tal espaço pode caminhar em sentido inverso se não respeitados o fim para qual foi instituído, bem como o percurso de luta histórica desde os pioneiros da educação no Brasil. Estes lutavam por uma educação nova, democrática, no qual o processo pedagógico tivesse plena liberdade para ocorrer e houvesse um espaço para discussão coletiva, para que o aluno fosse avaliado de forma integral. Um espaço mais rico de transformação da pratica pedagógica e, talvez, dos mais mal aproveitados nas escolas é o conselho de classe. Queremos repensar a estrutura do conselho de classe, para dar mais sentido e coerência ao processo de avaliação que a escola desenvolve e ajuda mudar a prática educativa. (CRUZ, 2005, p. 11) Uma característica do conselho de classe é sua natureza democrática ao proporcionar um espaço rico para o debate, a visão integral do desempenho do aluno e reflexão sobre a prática pedagógica. Mas este, em algum momento do processo histórico escolar, se perdeu. Cruz 2005, alerta que a prática tem revelado que as reuniões dos conselhos de classes se tornaram meros momentos em que se discutem as notas e conceitos, enquanto alguns discutem problemas comportamentais da turma ou do aluno. 28 1.2. Composição do conselho de classe série Nas escolas estaduais de São Paulo, os conselhos são presididos pelo diretor com participação de professores da mesma classe, conselho de classe e pelos professores de igual série, conselho de série. De acordo com as normas regimentais, alunos também devem participar dos conselhos. O conselho de classe faz parte da organização burocrática da escola, com suas atribuições reguladas por lei. Com relação à legislação dos conselhos de classe e série, o (decreto 67/98 seção II artigos 204) orienta as escolas no sentido de esclarecer os procedimentos a serem adotados nas escolas públicas de São Paulo com relação aos conselhos de classe e série. Embora as funções e objetivos dos conselhos de classes estejam bem definidos em lei, tal instância democrática de decisões tem se desvirtuado e foge em muitos momentos aos objetivos pelos quais foram criados em algumas instituições escolares públicas. Assim, dentro do espaço escolar o conselho passa a adquirir implicações diversas à proposta inicial que é a avaliação de forma global do desempenho do aluno, bem como promover a inclusão social através do avanço na aprendizagem. Também é uma instância para se discutir o projeto pedagógico, sua adequação em função do ritmo de aprendizagem do aluno durante o ano letivo.Em tese seria uma forma de promover uma regulação no ritmo das aprendizagens, considerando que este proporciona uma analise geral em todas as disciplinas. 4 Seção II Dos Conselhos de Classe e Série: I - possibilitar a inter-relação entre profissionais e alunos, entre turnos e entre séries e turmas; II - propiciar o debate permanente sobre o processo de ensino e de aprendizagem; III - favorecer a integração e seqüência dos conteúdos curriculares de cada série/classe; IV- orientar o processo de gestão do ensino. § Artigo 21 - Os conselhos de classe e série serão constituídos por todos os professores da mesma classe ou série e contarão com a participação de alunos de cada classe, independentemente de sua idade. § Artigo 22 - Os conselhos de classe e série deverão se reunir, ordinariamente, uma vez por bimestre, ou quando convocados pelo diretor. § Artigo 23 - O regimento escolar disporá sobre a composição, natureza e atribuições dos conselhos de classe e série. (PARECER CEE nº. 67/ 98 - CEF/CEM - Aprovado em 18-03-98) Disponível em http://www.ceesp.sp.gov.br/Pareceres/pa_67_98.htm 29 1.3. Conselho de classe e série - Avaliação e Aprendizagem A relação do conselho e aprendizagem é indissociável, principalmente, se considerarmos que somente podemos avaliar o que ensinamos. O processo de avaliação consiste em examinar minuciosamente uma determinada situação em todos os aspectos em que ela se apresenta. O problema, neste caso, é o quanto nosso aluno assimilou da aprendizagem que participou e como avaliá-la. Para essa tarefa, deve estar claro na proposta pedagógica o compromisso de garantir efetiva aprendizagem e o ponto de partida será uma avaliação diagnóstica. Ela fornece subsídios para formular o plano de ensino a partir das necessidades apresentadas na avaliação efetuada. Tal avaliação, sem caráter de emitir juízos, servirá para o profissional conhecer a diversidade de alunos que compõe as suas turmas, suas características individuais, sua história com a educação escolar e se necessita ou não de atenção individualizada. A partir da avaliação inicial é possível criar registros individuais para acompanhar a evolução do aluno e propor intervenções pedagógicas quando necessário, refletindo sobre a situação que se apresenta: em quais componentes apresentam dificuldades e por quais motivos. Quais habilidades ainda não desenvolveram, e propor soluções para fazer com que venham a adquiri-la. Quais foram os aspectos de maior de maior crescimento e o que possibilitou o crescimento. Quais alterações serão necessárias na prática pedagógica durante o ano letivo e que necessita ser trabalhada. Porém, uma avaliação somente terá sentido se for resultado de um claro objetivo do que se deseja alcançar após o desenvolvimento das disciplinas que serão o meio utilizado para desenvolver as habilidades dos alunos e que propiciarão a ampliação de suas estruturas de conhecimento, possibilitando o seu domínio em determinada área de conhecimento. Para isso, devem-se fazer os questionamentos e observações com relação às habilidades pretendidas ao trabalhar os conteúdos. A clareza deve permear o processo educativo e somente se pode avaliar o conteúdo ou aprendizagem efetivamente realizada e desenvolvida em sala de aula. 30 Nesse sentido, as subjetividades devem ser policiadas para não interferirem nas avaliações da aprendizagem. Sendo assim, os comportamentos que consideramos ―inadequados‖, ―atitudes negativas‖, ―opção sexual‖, ―culturas de rua‖, ―comportamento agressivo‖, ―o/a educadinho (a)‖, ―o/a bonito (a)‖, ―aparência grosseira‖, ―o que não terá futuro devido sua historia pregressa‖, (o/a) ―preguiçoso‖, ―o/a vulgar‖, (o/a) ―fraquinho‖ (a), mas ―bonzinho‖ (a) e, soma se a esta lista, uma interminável fila de caracterizações que tendem a interferir na avaliação cotidiana e, no momento do conselho de classe, colaborarão definitivamente para agravar a situação do aluno estigmatizando-o, porque no conselho de classe e série é um momento em que todos se sentem mais livres para se expressarem. Dessa forma, as características pessoais, de personalidade e comportamento, bem como a sua origem social e a situação civil dos genitores, não devem entrar na composição da média do aluno, pois o foco tem que ser a aprendizagem. O conselho, um espaço rico em aprendizagens, é a instância que pode fornecer uma visão clara de todas as disciplinas que este aluno estudou. É um momento de repensar os conteúdos e o ritmo na aprendizagem do educando: quais áreas o aluno apresenta dificuldade? De que maneira as interferências pedagógicas lhe permitirão avançar para um aprendizado pleno? Como melhorar sua aprendizagem? Os anseios particulares e a falta de espaço de discussões para o encaminhamento de problemas que o professor detecta, constituem-se como motivos da perda de objetividade durante os conselhos. 31 1.4. Conselho de classe saberes incorporados - tempo de aprendizagem interior e julgamento subjetivo Sem deixar de levar em consideração as diferenças, cada individuo tem seu tempo interior e ritmo interior de aprendizagem. O professor deve ter um olhar diversificado sobre o conjunto da classe para detectar as dificuldades individuais, pois outro problema é como ensinar a alguém que não se conhece? O questionamento nos remete a outra questão pertinente que implicará no sucesso ou fracasso da aprendizagem: é preciso conhecer a pessoa a quem será ministrado aulas, conhecer os valores, a que e como são atribuídos estes valores, sua cultura, seu habitus É relevante saber, a partir da cultura formal, quais áreas precisam ser reforçadas, se o sistema de ensino possui classes de recuperação para atender a todos os casos de defasagem em disciplinas que compõe a grade curricular. O domínio dos códigos de acesso ao mundo do conhecimento faz-se necessário caso intencionamos mudar a correlação de forças existente na sociedade. Sobre a conquista desses códigos, desta linguagem escreve: Um dos principais mecanismos de conservação social é a linguagem. Ela é a mais inatingível das conquistas, pois a mais forte herança cultural é a linguagem. É nesta que estão todos os valores e experiências de uma classe. A linguagem falada está muito distante da linguagem utilizada no meio acadêmico. Resumindo, a principal função da língua é: conservar os valores que fundamentam a ordem social. (BOURDIEU, 2007, p.56). Nessa perspectiva, a função social da escola é prover meios para que o indivíduo saia da cegueira intelectual que o mantém preso e alienado no sistema de exploração capitalista. 32 A ampliação do universo e repertório, e o acesso democrático aos códigos e significados devem permear as ações cotidianas na instituição escolar, com o objetivo de emancipar o indivíduo ao qual foi negado o direito ao conhecimento e, mesmo no interior da escola, pode continuar por todos os anos que a frequentar sem se apossar do conhecimento. O autor afirma que o observado acima ocorre na escola de forma dissimulada e quase imperceptível: Com efeito, para que sejam favorecidos os mais favorecidos e desfavorecidos os mais desfavorecidos, é necessário e suficiente que a escola ignore, no âmbito dos conteúdos do ensino que transmite, dos métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de avaliação, as desigualdades culturais entre as crianças das diferentes classes sociais. Em outras palavras, tratando todos os educandos, por mais desiguais que sejam de fato, como iguais de direitos e deveres, o sistema escolar é levado a dar sua sanção às desigualdades iniciais diante da cultura. (BOURDIEU, 2007, p.53) Esclarece que o acesso à pesquisa científica e a obras culturais permanece restrito às classes privilegiadas que têm oportunidades mais numerosas, mais duradouras, mais extensas de freqüentar museus, viagens turísticas enriquecendo a prática cultural. (BOURDIEU, 2007). As crianças que povoam as escolas públicas na sua grande e esmagadora maioria não possuem acesso aos bens culturais, ficando com sua concepção de vida, gostos e estética moldados pela mídia que possui compromisso com as classes privilegiadas e que somente visam lucro. Ao levar uma prática limitada à sala de aula, a função social da escola, cujo objetivo maior é a emancipação, ficará comprometida definitivamente, pois ―dar‖ o mínimo não é o suficiente para promover o acesso aos bens culturais. E, utilizar a argumentação de que o aluno apresenta dificuldades de interpretação e de assimilação ou que não possuem pré-requisitos é permitir a continuidade da situação inicial de quando chegaram à escola, é legitimar a miséria. O professor e a gestão da escola, mesmo que em separado, pode fazer muito, se não se esconderem sob alegação de que o ―sistema‖ assim quer que 33 ―façamos‖ e continuarem com as práticas e saberes oferecidos aos alunos, quase sempre, sem significados para a vida dos mesmos; o que faz com que alguns fiquem anualmente pelo caminho para, futuramente, ocuparem vagas em subempregos, que não exigirão domínio de conhecimento ou qualificação. No interior da escola, os docentes continuam como formigas operárias, a de colocar nas fileiras as peças para reprodução do complexo sistema social em que vivemos. É fato que alunos oriundos de famílias com poder aquisitivo comprometidos apresentem um repertório cultural menor ao adentrar a instituição escolar e, que apesar de apresentarem dificuldades, poderão adquiri-lo no seu ritmo de aprendizagem, pois vale lembrar que todo conhecimento é adquirido e a escola não deve ser o local onde os alunos sejam alijados em seu direito básico à ―vida‖ em seu sentido pleno. A escola deve entender que o campo social é um lócus de luta de classes no qual cada indivíduo lutará com os meios que dispõe, ou seja, os meios dos quais seu espaço social lhe oportuniza. Dessa forma, os educadores que também são pertencentes a esta mesma classe trabalhadora, mas conhecedores dos mecanismos e do funcionamento das estruturas de manutenção de poder podem, mediatizados por uma prática pedagógica humana e uma avaliação democrática, envolver os alunos em um processo e emancipação. Bourdieu (2007) descreve o espaço social como um campo de lutas no qual os (indivíduos e grupos) elaboram estratégias que permitem manter ou melhorar sua posição social. Estas estratégias estão relacionadas aos diferentes tipos de capital: O econômico, sob suas diferentes formas e fatores de produção (terras, fábricas, trabalho) e do conjunto de bens econômicos (dinheiro, patrimônio, bens materiais) acumulado, reproduzido e ampliado por meio de estratégias específicas de investimentos culturais e à obtenção ou manutenção de relações sociais que podem possibilitar o estabelecimento de vínculos economicamente úteis a curto e longo prazo; e o cultural, que são as atitudes e disposições familiares, bem como o investimento propriamente escolar, como tempo de dedicação e aquisição de bens culturais e que são elementos definidores das chances objetivas do estudante acumular 34 capital cultural, e, por conseguinte, obter êxito escolar. Desse modo, ―não há distinção propriamente escolar que não possa ser relacionada a um conjunto de diferenças sociais sistematicamente associadas. (Bourdieu, 2007p. 77). Analisando os aspectos que compõem as estruturas sociais e sua influência nas pessoas e, considerando as categorias de capital que o autor explicita, as ações pedagógicas dos professores deverão ser orientadas no sentido de propiciar um aprendizado de aproximação com o saber e não de estranhamento, que pode formar uma barreira, prejudicando o processo de aprendizagem. Paulo Freire 2009 apresenta a forma de promover tal libertação em ―Pedagogia do Oprimido‖ em que denuncia a forte opressão exercida pelo sistema capitalista sobre os indivíduos. O domínio desse sistema extrapola a relação trabalhista, provoca a alienação total do ser com o objetivo principal de explorar para manter os privilégios da classe dominante, que somente continuará existindo se persistir a exploração física e intelectual da pessoa por meio das ideologias impostas por essa classe. Para manter esse domínio, promove um esvaziamento do ser dominado, o qual não oferece resistência ao ―opressor‖. A pessoa desenvolve sua personalidade nesse mundo, o único que passou a se considerado e legítimo, com imposição de verdades que não foram construídas pelo conjunto da população ―despossuída‖, mas que pelos mecanismos de opressão da classe dominante passa a aderir aos valores e a vivenciá-los com naturalidade. É uma ação desprovida de consciência critica, uma pseudo opção. Os valores que o professor possui, portanto, são os valores que a classe dominante possui e a medida do nosso juízo é a medida dos valores introjetados pelos dos modelos da elite. E é nessa perspectiva de juízo de valor que o aluno é avaliado. Nesse caso antes de tudo é necessário passarmos por uma ―desideoligização‖ que é o processo de libertação, que segundo Freire (2009) consiste na conscientização do indivíduo, em primeiro lugar. O oprimido necessita perceber a situação de opressão em que vive, para que ele possa recuperar sua humanidade roubada devido ao processo profundo de coisificação sofrida no sistema capitalista. ―Os oprimidos, como objetos, quase “coisas”, não têm finalidades. As suas são as finalidades que lhes prescrevemos opressores”. (Freire, Paulo. p.53, 2009, Vozes) 35 Segundo Gramsci, citado por Martins (p.92, 2008) sobre a ideologia: Gramsci (2008) refere que algumas instituições colaboram para repassar as ideologias como: sindicatos, igrejas e a escola. E a escola estará colaborando para a valoração ou depreciação de nossos alunos, quando fizer a manutenção dos valores burgueses e adotar estes como parâmetros nas suas avaliações subjetivas. (MARTINS, Marcos F, p.92, 2008) Freire (2009, p.37) alerta que existe uma pedagogia do opressor e que esta não pode promover uma educação para a libertação, porque está a serviço da manutenção da ordem. A pedagogia do oprimido, que não pode ser elaborada pelos opressores, é um dos instrumentos para esta descoberta crítica – a dos oprimidos por si mesmos e a dos opressores pelos oprimidos, como manifestações da desumanização (FREIRE, Paulo, 2009.p.37,Vozes) A educação para libertação só pode ser executada pelos excluídos e não por aquele que os oprime. O autor afirma ainda que o educador, comprometido com a práxis libertadora, sabe que a vocação primeira do homem é humanizar-se, e deve, portanto acreditar no seu potencial e do educando, eliminando a forma de ensino verticalizada que é o da transmissão de saberes e promover uma aprendizagem significativa, com uma avaliação reflexiva que deve ocorrer dentro de uma relação dialógica a serviço da promoção do homem. 36 1.5. Conselho de Classe e Série: uma visão crítica Essa parte do trabalho apresenta uma análise crítica do Conselho de Classe e Série com base nas obras Sandra Lian Zákia de Sousa e Ângela Imaculada Loureiro de Freitas Dalben, que possibilitam entender o conselho como instância avaliativa a qual teve várias transfigurações desde a sua implantação. O Conselho de Classe e Série inicialmente traz para a instituição escolar pública, o diálogo, o debate e o trabalho em grupo, criando uma prática democrática em que todos poderiam visualizar os resultados individuais alcançados pelos alunos nas respectivas disciplinas. O trabalho solitário do professor deu lugar a um colegiado que permite observar o percurso de cada aluno, considerando que os resultados devam ser socializados entre todos os professores, permitindo também redirecionar as ações pedagógicas da escola. A partir dos resultados, podem fazer interferências pedagógicas, modificando a trajetória inicialmente proposta por cada educador em função da evolução de seus alunos. Sendo assim, abre-se a possibilidade de mudar o fazer pedagógico; desacelerar ou acelerar os estudos respeitando os tempos individuais de aprendizagem. Assim, é possível pensar em uma nova perspectiva de educação e incorporar novas formas de avaliar o aluno, dando a ele o direito de participar ativamente de seu aprendizado, segundo a perspectiva que os tempos atuais exigem dessa instância. A experiência inicialmente rica se torna, com o decorrer do tempo, destituída dos significados iniciais da proposta. De acordo com Sousa (1998), a mesma passou ser um lócus para se: Discutir comportamentos negativos de alunos (sem a preocupação de procurar as razões dessas atitudes e buscar soluções para posteriores providencias a serem tomadas pela direção da escola; Discriminar conceitos negativos, realizando uma avaliação sob certo aspecto ―maniqueísta‖, rotulando bons e maus alunos, esses últimos vistos sob o prisma de pré-conceitos cristalizados: o aluno não tem pré-requisitos, não gosta de estudar, não dá para coisa, tem problemas familiares que interferem diretamente sobre seu desempenho, não quer saber de nada, e assim por diante. (SOUSA, 1998) 37 De acordo com Souza (1998), alguns fatores contribuíram para que o conselho adquirisse a conotação em que se apresenta atualmente. Entre possíveis causadores está à idéia de educação nos moldes tradicionais em que persiste no cotidiano escolar, o desejo cristalizado de formar o aluno ideal, passivo, sem voz e vez; reconhecedor de que nada sabe. Nessa mesma linha de pensamento, não há necessidade de transparência, diálogo ou decisões coletivas sobre a aprendizagem do aluno porque a autoridade máxima, neste caso, é o professor que tem o papel de juiz, cuja palavra é lei e suas decisões são decretos que devem ser executados e cumpridos. Desta forma, a verdade ocorre a partir do conhecimento perfeito que emana da escola personificada na figura do professor. Outro problema que nos apresenta é que a forma de pensar a mensuração e os conteúdos não evoluiu de acordo com as novas propostas de avaliação, que valoriza o qualitativo ao invés do quantitativo. Assim, continua-se somando todas as notas atribuídas ao aluno e fazendo a média aritmética, que na maioria dos casos não leva em consideração se houve evolução ou não e o porquê de tal desempenho. Sobre esta situação Sandra L. Z. Souza relata: O conceito, enquanto forma de representação de um dado julgamento, tem-se confundido com a própria finalidade da avaliação. No entanto, as informações obtidas quanto à aprendizagem do aluno, que usualmente são ―traduzidas‖ em uma dada forma de representação (conceito, nota, níveis etc.), deveriam constituir-se em indicadores para orientação e condução do processo de ensino. E, assim a discussão da qual se deveria ocupar os integrantes da Escola seria a análise do projeto e do processo de trabalho, possibilitadores de tal aprendizagem. (SOUSA, 1986) O conselho se torna um espaço de concepções diversas não resultando em mudanças de comportamento e de práticas em função dos alunos. Propõe, assim, trabalhar as diferenças buscando colocar em prática as propostas educacionais que as contemplem. A escola, sendo uma micro-representação da sociedade, abriga em 38 seu interior concepções diferenciadas que é um indicativo de que há espaço para uma construção de um colegiado democrático. Ressalta-se a evidência de que mais importante do que o consenso é a convivência com a diversidade; sugerindo que uma reflexão profunda pode emergir do conflito, o que torna esse espaço produtivo e ao mesmo tempo em que resgata a sua finalidade: Os confrontos e conflitos que emergem nos conselhos de classe e série não tem tido força para impulsionar o movimento de reflexão sobre essas divergentes posições. Penso ser fundamental o reconhecimento de que há na organização escolar posições que se contrapõem à tendência dominante de ―olhar a situação do aluno‖. Assim, para além de se buscar o consenso no momento do conselho de classe, penso que seria mais produtivo se esse espaço servisse para que fossem explicitadas, trabalhadas e aprofundadas as diferenças, que são expressão de projetos educacionais e sociais em realização na Escola. (SOUZA, Ideias p. 58, 1986 ) A autora afirma que o colegiado perde o foco no momento em que o espaço torna-se um classificador de notas azuis e vermelhas sem atrelar a estes números a causa original, que pode o sucesso ou aprendizagem não adquirida, sendo que em ambos os casos deve haver intervenções. No primeiro, é necessária para solidificar e ampliar ainda mais o conhecimento adquirido; já no segundo, uma vez identificado os motivos da não assimilação do aprendizado, as interferências devem ser feitas a fim de para se buscar novos caminhos para a efetivação do conhecimento dentro do tempo individual do aluno. Nesta reflexão, a autora busca mostrar a fragilidade da idéia de conselho: Busco explicitar a inconsistência da própria concepção de conselho de classe, organização subjacente e às orientações funcionamento, ao que normatizam associar seu sua sentido, essencialmente, a função classificatória da avaliação e, ainda, ao buscar contemporizar uma ênfase na avaliação como 39 responsabilidade individual do professor com a avaliação como responsabilidade coletiva dos profissionais da Escola. (SOUSA, P.48, ideias 1998) O conselho ganha sentido real e cumpre uma função primordial de proporcionar condições de identificar e, conseqüentemente, de diagnosticar, propondo soluções para que a aprendizagem se efetue dentro da Escola. Os conselhos deliberativos da escola devem deixar de ser ―um ritual burocrático‖ e se tornar um condutor das transformações das práticas pedagógicas, redefinido assim as ações no interior da Escola. O Conselho de Classe, a meu ver, ganhará sentido se vier a se configurar como espaço não só possibilitador da analise do desempenho do aluno e, mais do desempenho da própria Escola, de forma conjunta e cooperativa pelos que integram a organização escolar (professores e outros profissionais, alunos e pais), como também de proposição de rumos para a ação, rompendo-se com as finalidades classificatórias e seletivas a que tem servido. (SOUSA, p.58, ideias, 1998) Ao longo do tempo, o conselho de classe sofreu transformações e veio a se desvirtuar, ou seja, perdeu o sentido inicial para o qual foi instituído. Passou de um colegiado, cujo objetivo era fazer a análise dos resultados dos processos educativos de forma global, para um espaço que transforma a avaliação integral do aluno em um ritual burocrático. Este colegiado, muitas vezes, presta um desserviço, pois é utilizado para ―discriminar‖, ‖rotular‖ e, por vezes, construir uma avaliação negativa, ―maniqueísta‖. Assim, a sua função primordial de avaliar o processo de ensinoaprendizagem se perde. Os embates, que ocorrem no âmbito do conselho de classe, não conseguem acumular forças que possam resultar em ações positivas e provocar mudanças de comportamento a partir das reflexões e neste espaço que poderiam vir em forma de projetos que aglutinassem várias tendências em benefício da escola e, sobretudo, que devessem privilegiar o acompanhamento da evolução do domínio do conhecimento pelo aluno. 40 Outra pesquisadora que merece destaque na questão da análise dos Conselhos de classe e série é Ângela Dalben. Em ―Conselho de Classe e Série e trabalho escolar‖ (1994), a autora apresenta um conflito de difícil solução quando se refere ao Conselho de Classe e série ideal e o Conselho de Classe real - aquele que de fato acontece no âmbito da escola pública -, que se torna um verdadeiro dilema na organização e trabalho escolar, interferindo nas tomadas de decisões e rumos que estes possam ter. Este fato ocorre porque a instância almejada entra em confronto com a realidade, que é percebida durante a condução dos trabalhos na reunião de conselho e de seus resultados. É Interessante observar que a idéia de conselho de classe ―ideal‖, e de Conselho de Classe ―real‖ estará presente o tempo todo neste trabalho. As potencialidades do Conselho, aquilo que ele poderia ser e já foi entram em constante oposição com aquilo que a realidade objetiva atual apresenta para o seu funcionamento. (DALBEN, 1994, P. 86) Um dos graves problemas vividos pelos conselhos são as análises que ocorrem de forma isolada, pois cada professor mensura as atividades e as transforma em conceitos. A ação solitária de observar a evolução do aluno induz a algumas distorções porque impedem uma visão global. É nesse momento que se observa a manifestação da subjetividade, que pode comprometer uma avaliação que tem por obrigação ser criteriosa e isenta, sendo que a mesma está intimamente ligada aos valores, por vezes negativos, que são introjetados durante a vida e práxis do professor. O professor, ao vivenciar o cotidiano da sala de aula, leva consigo as verdades que representa o seu meio social e a tendência é reproduzir na escola, em escala menor, os tipos de relações da sociedade. A educação é efetuada sob a ótica de uma sociedade de contradições e a escola organiza-se tendo como parâmetro a forma como está posta as estruturas sociais, o que explica a divisão do conhecimento em disciplinas isoladas. Essa é umas das críticas registradas pela autora, que cita outro importante pesquisador da Educação o escritor Lukesi: 41 A avaliação escolar tem estado, no Brasil, a serviço de uma pedagogia dominante, a qual está a serviço de um modelo social dominante. Pode-se identificar esse modelo como liberal- conservador, preso especialmente a três pedagogias, que, apesar de diferentes, relacionam-se entre, com objetivo comum de conservar a mesma configuração estrutural da sociedade. São elas: a pedagogia tradicional, a escolanovista e a tecnicista. 1986 apud DALBEN, 1994, p.13) A idéia de reprodução das relações sociais no interior da escola, defendida por Lukesi, é reforçada com a exposição do pensamento da autora com relação à forma fragmentada do conhecimento proporcionado pela escola. Existe uma relação compartimentada e individualista de trabalho de cada professor, que se atém ao aspecto ―sem média ou não‖ em sua disciplina e, ainda, a visão compartimentada do aluno, que entra como objeto de discussão apenas quanto ao seu rendimento em uma ou mais disciplinas, isoladamente do processo coletivo de analise da relação professor x aluno x conhecimento. Não se encontra, portanto, um processo de analise dos significados desses resultados, não se tem a percepção da relação dialética entre quantidade x qualidade, uma visão dialética do processo pedagógico desenvolvido. (DALBEN, 1994, P.118) A materialização da idéia da reprodução das realizações sociais fica clara quando cada integrante do corpo docente encaminha o resultado do trabalho pedagógico em forma de notas. A autora ainda afirma que, normalmente, as análises já se encontram fechadas, concluídas e com o perfil do aluno também definido, ou seja, um produto acabado dentro de sua especialização. Desse modo, cada professor isola-se em seu espaço de trabalho e especialidade, não permitindo que haja crítica ou interferência nas suas ações. A autora entende que o espaço escolar reproduz as relações sociais existentes na sociedade que se baseia em um modelo excludente. Sendo assim, a 42 escola, inserida nesta sociedade, tende a transpor os modelos de organização para seu interior e, como resultado, temos uma visão fragmentada do processo educativo proporcionado também pelas divisões das disciplinas. A forma fragmentada de perceber os resultados pode levar a esta distorção e não proporciona um diálogo mais profundo entre o significado de quantidade e qualidade. Chega-se à conclusão de que a dinâmica do conselho, da forma que está posta, de fato leva tal espaço a reproduzir as relações de poder existentes na sociedade e que pode sim, contribuir para a manutenção da ordem social segundo Dalben: Conclui-se, com isso, que o conselho de classe tem reproduzido as relações hegemônicas da sociedade, carregando um processo de trabalho que reflete uma concepção de relação pedagógica semelhante, contribuindo para a manutenção da ordem social vigente. (DALBEN,1994,P. 192) As duas autoras apontam a fragilidade das ações, bem como os discursos existentes na instância conselho de classe. Os trabalhos delas convergem e apontam os pontos críticos do processo avaliativo escolar, que necessita de reflexão para que ocorram mudanças; redefinindo o papel do conselho de classe a fim de acompanhar, de fato o processo educativo. Um dos caminhos possíveis é o apontado por Paulo Freire (2004), que concorda que a escola reproduz a ideologia da classe dominante porque está inserida dentro de uma sociedade de classes, escreve: Neste caso, então, a escola indiscutivelmente reproduz e sempre reproduziu a ideologia da classe que esta no poder. Daí sua nãoneutralidade. Mas acontece é que a escola vive intensamente, através de nos as contradições que se dão na sociedade. A escola então, de um lado se dá também independentemente do querer e do poder, ela se da no jogo das contradições. Ao fazer isso, ela termina por contradizer também a ideologia que ela por tarefa deveria reproduzir. Na medida em que agente compreende o papel da 43 escola, a relação entre escola e sociedade e a estrutura dominante em termos dinâmicos, dialéticos, e contraditórios e não mecanicista agente então compreende melhor isso. (FREIRE, 2004, p. 37) Paulo Freire (2004), ao afirmar que há de fato uma reprodução, também aponta que por meio de uma relação educativa dialógica, é possível superar as contradições, o que seria uma saída para escola, de forma dinâmica, criar mecanismos de resistência ao processo excludente que se encontra na estruturada a sociedade. 44 CAPÍTULO 2 - AVALIAÇÃO Etimologicamente, avaliar significa fazer uma apreciação cuidadosa, de modo a permitir a formação de uma opinião, de um juízo justo, correto e a tomada de consciência do mesmo; ajuizar, determinar a valia de, apreciar, calcular, julgar 56. O homem passou por incontáveis avaliações para provar sua capacidade diante dos inúmeros obstáculos que se apresentaram em seu cotidiano, ao construir sua historia nas várias fases de sua jornada. No decurso da vida, passamos por diferentes formas de avaliação o tempo todo e ela é inerente as ações que pretendemos executar e as que efetivamente executamos. As decisões sobre os diversos atos que rotineiramente vivenciamos precedem de avaliação. Inconscientemente, exercemos a avaliação ao verificar se conseguimos desenvolver determinadas ações com eficiência e para isso nos provemos de meios para realizar a tarefa pretendida. No mundo contemporâneo, a avaliação é condição para o sucesso de um determinado empreendimento, é quando analisamos todas as condicionantes que interferirão de modo positivo ou negativo nos resultados. No processo educativo, ela é condição para que este se realize. As várias etapas das aprendizagens somente serão possíveis acompanhadas de uma avaliação permanente, eficaz e que deve acompanhar todo o percurso necessário na obtenção do conhecimento. A avaliação em educação é carregada de intencionalidade e deve objetivar o acompanhamento minucioso da aprendizagem que a pessoa avaliada está sendo submetida. Este acompanhamento, com rigor, é que será responsável pelo sucesso ou fracasso no resultado final e na educação, se o objetivo traçado de ensino foi alcançado ou não. Caso o resultado for negativo, esta indicará o caminho a seguir 5 FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p.205 45 para reorganização da metodologia utilizada, porque são diversos os caminhos das aprendizagens e uma das características da avaliação que deve ser reforçada é a sua face democrática. Se o caminho seguido foi diferente do traçado inicialmente, a avaliação por certo deverá ser também proporcionar a possibilidade de um novo trajeto. 46 2.1 Avaliação na Idade Média O pensamento Agostiniano influenciou a Idade Média durante muitos séculos e conforme sua concepção Deus ilumina a mente do ser humano e torna possível o pensamento correto.Para Agostinho, o homem receberia de Deus o conhecimento das verdades eternas‖. A memória e as coisas inatas Por esta razão, aprender estas noções de que não haurimos as imagens pelos sentidos, mas que sem imagens vemos no nosso interior tais como são em si mesmas – achamos que consiste em coligir pelo pensamento aquelas coisas que a memória encerrava dispersas e desordenadas e em obrigá-las, pela força da atenção, a estarem sempre como que à mão e a apresentarem-se com facilidade ao esforço costumado do nosso espírito. Quanta destas espécies nos traz a nossa memória as quais já antes havíamos encontrado e – como já me exprimi – as tivemos como que à mão! Nós somos de parecer que já aprendemos e conhecemos estas coisas7. Mas se deixar de recordá-las, ainda que seja por pequeno espaço de tempo, de novo imergem e como que escapam para esconderijos mais profundos. É assim, como se fossem novos, é necessário pensar, segunda vez, nesses conhecimentos existentes na memória – pois não têm outra habitação – e junta-los (cogenda) novamente, para que se possa saber.Quer dizer, precisamos de os coligir (colligenda), subtraindo-os a uma espécie de dispersão. E daqui (cogenda, cogo) é que vem (cogitar); pois (cogo) e cogito são como ago e agito, facio e (facito). Porém a inteligência reivindicou como próprio este verbo (cogito), de tal maneira que só ao ato de juntar (cogere) no espírito, e não em qualquer parte, é que propriamente se chama ―pensar (cogitare). (Santo Agostinho, 1973, p.203-204) 7 Alusão a teoria da reminiscência. Segundo Santo Agostinho, ―Deus iluminando a nossa mente deporia em nós muitos, conhecimentos que viriam depois a ser utilizado pela alma, à medida que os recordasse. Santo Agostinho adotou assim em parte a teoria platônica das idéias, segundo a qual a alma, ao encarnar num corpo, trazia do outro mundo as imagens das coisas. Aprender seria, portanto, recordar o que vira noutros tempos‖. (N. do T. Os pensadores 1972 pag.203) 47 A Idade Média é o período compreendido entre 476 d.C., com a tomada de Roma pelos hérulos, que eram os povos germânicos do sul da Escandinávia, até 1453 d.C., com o advento da conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos. Durante o período medieval, a avaliação consistia em memorizar e repetir fielmente as orientações do mestre, sendo assim ―a atenção e a memória eram os agrupamentos operatórios mais valorizados nas escolas desta época. (SOEIRO & AVELINE, 1982, p.12) Segundo ARANHA (2002) os parâmetros da educação na Idade Média se fundamentavam na concepção do homem como criação divina, de passagem pela terra e que devia cuidar primeiro da alma e da vida eterna. Este pensamento permeava as relações regulando todo modo de vida medieval. O modo de produção fora dos burgos era rigorosamente regulado pelas corporações de oficio. Para alguém ingressar tinha que produzir uma obra prima em determinada especialidade, após recebia o titulo de mestre e a licença para montar o negócio. O licenciado podia ter em sua casa vários aprendizes para auxiliá-lo e serem formados na profissão. Quando estes completavam seu aprendizado, eram submetidos a um exame para se tornarem oficiais e, para efetuá-los esses exames, era exigido do aluno o pagamento de uma taxa extremamente alta que deixava de fora a quase totalidade dos aprendizes. Somente os filhos dos mestres tinham possibilidade de custeá-la, ficando os mais pobres, fora do processo. A educação assim não é transmitida pelo professor, considerando que o saber esta no interior de cada um. O saber nessa perspectiva vem do interior do individuo, isto é possível porque segundo a verdade medieval ―Cristo habita o homem interior‖. Desta forma, a educação se dá por um processo de auto-educação possibilitada pela iluminação Divina. Nesse período, a verdade e o conhecimento eram transmitidos de forma oralizada e somente a igreja detinha o domínio cultural, pois a grande maioria da população era iletrada. A avaliação, neste caso, verificava a memorização fiel do conteúdo passado ao aluno que repetia igual ao que lhe foi ensinado. 48 2.2 Avaliação no Período Renascentista A nova imagem do homem. Quero que ele tenha nascido fidalgo e de casa nobre (...) Que seja conhecido entre todos os outros como ousado, forte e leal ao príncipe que serve. Que seja, como se diz, homem de bem: isto compreende a prudência, a bondade, a coragem, o domínio de si (...) Acho que sua principal, sua verdadeira profissão, deve ser a das armas; sendo admitido como mestre em todos os exercícios que convenham a um soldado. O primeiro, a meu ver, é saber manejar todos os tipos de armas a pé e a cavalo. Acharia também aproveitável que conhecesse a arte da luta. Quero que o homem da corte seja bem instruído nas letras e que conheça não apenas o latim, mas o grego. (...) Que conheça os poetas e também os oradores e historiadores, e, além disso, que saiba escrever em verso e prosa, particularmente nossa língua: além do prazer que terá, não lhe faltara temas de conversação com as damas. (...) Eu o elogiarei também se souber diversas línguas estrangeiras, particularmente o espanhol e o francês, porque o uso de ambos é muito difundido na Itália (...) Quero ainda mencionar mais uma coisa que, visto a importância que lhe concedo, não gostaria de ver esquecida: é a ciência do desenho e a arte de pintar. (Baldassare. Castiglione 8,apud. Aranha, pág. 86, 2002) O ideal descrito acima eram características que se desejavam para o novo homem, passado a rigidez do período medieval, para um tempo auspicioso e de grandes conquistas que se aproximava. No Renascimento houve uma substancial mudança no comportamento no tocante a pessoa humana, que passa ser o centro do universo, porém a forma de se avaliar não mudou mesmo o aluno agora vivendo 8 Baldassare Castiglione, Político aristocrata nascido em Aldeia de Casatico na Toscana, autor de O Cortesão tornou-se arbitro das maneiras aristocráticas do Renascimento e ofereceu o modelo do novo cavalheiro da época. Ofereceu o modelo do novo cavalheiro da época. 49 um novo tempo que estabeleceu outras demandas. O foco agora não é mais o futuro da alma, mas o presente do homem material. As pessoas possuem diferentes necessidades e, portanto, necessitam de uma nova escola que esteja em consonância com este novo comportamento da sociedade e que possa lhes oferecer uma educação e atenção individualizada que respeite as aptidões naturais de cada aluno. Mais devemos observar que, embora tenha modificado a concepção acerca do ser humano, o tipo de avaliação praticado permanece em forma de chamada oral de exercícios, ou seja, de verificação. Durante este período, em que se faziam os exames orais, veremos a seguinte observação: Os jesuítas se mostravam bastante exigente com a didática, recomendando a repetição dos exercícios a fim de facilitar a memorização. Para praticá-la à exaustão, os mestres recebem auxilio dos melhores alunos, chamados decuriões9 responsáveis por nove colegas, de quem tomam as lições de cor, recolhem os exercícios e marcam num caderno os erros e faltas diversa. Aos sábados as classes inferiores repetem as lições da semana toda: vem daí a expressão sabatina usada durante muito tempo para indicar formas de avaliação. (ARANHA, 2002, p 93) A escola permanece sendo um lugar que não possuía nenhum atrativo e, costumeiramente, levava os adolescentes a ter uma péssima impressão, como afirma Comênio que aos dezesseis anos escreveu sobre a sua escola secundaria de Prerov, sentindo-se profundamente decepcionado. É um lugar de seriedade sombria, sem atrativos, onde jovens estudantes, mal saídos da infância, são considerados adultos em miniatura e obrigados adotar as atitudes de adulto. Noções mais ou menos eruditas, de pouca ou nenhuma valia para a vida pratica, lhes 9 No exercito romano, uma decúria era um corpo de cavalaria e infantaria composto de dez soldados que tinha por chefe o decurião. 50 são inculcadas à custa de memorização. Verbalismo excessivo, muita decoração e pouco entendimento.O latim, língua indispensável para quem aspira a uma carreira culta, é ensinado a partir da gramática e de textos clássicos distanciados do interesse infantil. ―A letra com pancada entra‖ faz reinar na sala de aula, a palmatória e outros castigos corporais. (COMÊNIO, 1992, p. 17) Comênio é o mais velho de sua turma e, portanto, não só percebe, mas vivência e sofre com as conseqüências das falhas da escola do seu tempo e, principalmente, com a falta de metodologia reinante, principal motivo que o levará a elaborar sua metodologia revolucionária, a primeira de seu tempo e ainda dirá: Na educação da juventude usou-se quase sempre de um método tão duro que as escolas são consideradas como espantalhos das crianças ou câmaras de tortura das inteligências (...) o que se pode inculcar e infundir suavemente nos espíritos é neles impresso violentamente, ou melhor, é neles enterrado e ensacado. O que pode ser posto diante dos olhos de modo claro e distinto é apresentado de modo obscuro e confuso e intricado, como por meio de enigmas. O próprio estudo da língua latina, ó bom Deus, como é intricado, como é penoso, como é longo. (COMÊNIO, 1992, p.19) A prática descrita acima permanece ainda por alguns séculos sem sofrer alteração, mesmo com a proposta revolucionaria de Comênio 10 que muda a perspectiva da pedagogia, em que se preocupa com o ser social e indica essa ideia ao defender a democratização da educação e uma aprendizagem que tenha origem na realidade social do envolvido no processo educativo. Defende ainda que se aprende fazendo e fazendo algo que tenha relação com a vida. E sobre tal concepção, ele descreve em seu método explicitando da seguinte forma: 10 Amós Comênius 1592-1670, nascido na Moravia. Autor do livro Didático Magna 51 Aprenda a fazer fazendo. Os mecânicos não detêm os aprendizes das suas artes com especulações teóricas, mas põem-nos imediatamente a trabalhar, para que aprendam a fabricar fabricando, a esculpir esculpindo, a pintar, a dançar dançando etc. Portanto, também nas escolas, deve aprenderse a escrever escrevendo, a falar falando, a cantar cantando, a raciocinar raciocinando, para que as escolas não sejam senão oficinas onde se trabalha fervidamente. Assim, finalmente, pelos bons resultados da prática, todos experimentarão a verdade do provérbio: fazendo aprendemos a fazer (fabricando, fabricamur). Mostre-se o uso dos instrumentos, mais com a prática que com palavras, isto é mais com exemplos que com regras. (Comênio,apud Aranha, 2002, 104) 52 2.3. Avaliação na Idade Moderna e o Realismo na Pedagogia No século XVII ocorreram profundas mudanças e que podem ser percebidas na sociedade agora considerada moderna. Tais mudanças modificaram definitivamente a pedagogia vigente até então e foi por meio das suas idéias que originaram no Racionalismo e Renascimento. Dois pensadores que modificariam a forma de pensar e, sobretudo de pensar a educação, foram Amos Comênio e John Locke. A crença no poder da razão e na capacidade de discernir o próprio caminho, a autonomia do ser humano tem sua expressão máxima nesse período. Assim, o homem moderno busca uma educação do fazer concreto e não as teorias vazias de experiências. A pedagogia moderna vem responder a esses anseios pelas obras e metodologia difundidas por Comênio. Os pedagogos, influenciados por uma atmosfera da racionalidade, buscavam uma metodologia que tratasse da realidade na educação, cujo objetivo fosse torná-la mais interessante e eficaz, e que mantivesse uma ligação direta com a vida real. Tal educação deveria ser oposta a anterior oferecida na Idade Média e na Renascentista. A contribuição, nesse sentido, foi dada por Comênio que tomou para si a pedagogia como sacerdócio e durante toda sua existência promoveu uma educação social, tornando-se o maior educador do século XVII. Segundo Aranha11 2002 Comenio escreve ―(...) cumpre-nos agora demonstrar que nas escolas é preciso ensinar tudo a todos (...)”. Outro fator é que a classe burguesa, enriquecida, assume padrões aristocráticos e deseja uma educação que permita formar o homem de negócios. As escolas modernas são estruturadas por uma intensa articulação de leigos, de educadores, de religiosos, de nobres e de outra parcela da população que queria formar mão de obra operária para suprir a efervescente vida comercial. A avaliação escolar, nesse período, acontecia em forma de ―verificação‖, que é para burguesia uma forma de selecionar e classificar alguns para ocupar os postos de serviços e, dessa forma, instalar a exclusão social. 11 Op. cit., 100-101 53 O século XVII foi fecundo em idéias que despertariam a consciência política dos ingleses e influenciariam definitivamente o mundo. Entre os pensadores que mais destacaram neste período está John Locke (1632-1704) que defendia a idéia de que o Estado deveria ser organizado a partir de um acordo entre os cidadãos. O pensador não aceitava a submissão do indivíduo ao estado. Segundo Locke, em seu livro ―Segundo Tratado sobre o Governo Civil‖ (1689) os homens primitivos eram inseguros e temiam ser atacados por parte dos inimigos que poderiam saquear seus bens, tomarem suas propriedades, escravizá-los e matá-los. Sendo assim, para se proteger, os homens primitivos haviam se unido em sociedade e estabeleceram um pacto para criar o Estado. Está aqui um pensamento revolucionário para a época, quando ele diz que o Estado foi criação dos homens e não de Deus, diferente do que afirmavam os soberanos, ou seja, foi criado a partir de um contrato para proteger a vida, a propriedade e a liberdade dos homens. Está implícito também que, como o Estado tinha sido criado por acordo entre os indivíduos, então os homens tinham o direito de mudar o governo e, se o Estado fosse tirânico, os cidadãos tinham o direito de se rebelar contra a opressão. Locke é o pai do liberalismo político e defende que o Estado não pode sufocar as liberdades individuais. Assim, cada pessoa tem o direito de escolher suas próprias idéias religiosas, políticas ou filosóficas, de falar em público, de escrever seus pensamentos e artigos defendendo suas convicções, ou seja, a liberdade de expressão, sem se esquecer que o mais importante para o liberal é o direito à propriedade12 e à liberdade individual. Locke defendia que um homem só é realmente livre quando possui uma propriedade e faz dela o que bem entende. Mas tal liberdade tem um limite e para exercê-la deve existir uma lei, aprovada pela maioria dos cidadãos, que impeça que um indivíduo prejudique a liberdade do outro. Os princípios fundamentais do liberalismo político são: Os governos só existem para atender aos interesses individuais. 12 Esta noção funda-se na idéia de que os homens, ao nascerem, tornam-se naturalmente proprietários da própria vida e da liberdade, podendo igualmente dispor delas para poder viver em paz na sociedade,orientados pela razão. (MARTINS, F.M. p.12). 54 Devem proteger a propriedade privada, a liberdade, a segurança e a Vida. Quando o governo não atende aos interesses individuais, os cidadãos têm o direito de colocar outros homens para exercer o governo. Os homens responsáveis pelo governo representam os cidadãos. Eles São escolhidos a por meio do voto. A lei deve ser a mesma para todos. O próprio governo deve se submete às leis. A lei deve representar a vontade a vontade da maioria dos cidadãos. O governo não tem o direito de interferir na vida privada de um cidadão que cumpre a lei. Tem de respeitar sua propriedade, sua vida e sua liberdade. .(SHIMIDT Mario. As idéias Revolucionárias de John Locke. p.25-42, 2008) Nesse tempo, a Inglaterra abandonou o absolutismo e adotou o regime político liberal. Caso o governo não agradasse aos cidadãos, eles tinham o direito de eleger outros representantes para o parlamento. Porém, é importante observar que na Inglaterra do século XVII até o XIX, somente os médios e grandes proprietários de terras é que tinham direito de votar. Os princípios liberais ingleses influenciaram outros importantes movimentos como: a proclamação da República pelas treze colônias da América do Norte em 1776; e os filósofos iluministas da França no século XVIII admiraram a monarquia parlamentar inglesa e as ideias filosóficas de Locke. Vejamos alguns dos fragmentos dos escritos do filósofo Locke: (...) Ninguém pode ser expulso e submetido ao poder político de outra pessoa sem dar consentimento. (...) O grande objetivo da união dos homens em comunidades, submetidos a um governo, é a preservação da propriedade. (...) Não possuem autoridade o homem ou vários que passarem a fazer lei sem que o povo tenha escolhido passarem a fazer lei sem que 55 o povo os tenha escolhido para essa tarefa. Então, o povo não esta obrigado a obedecer. (...) sempre que os legisladores tentam tirar e destruir a propriedade do povo, ou reduzi-lo à escravidão sob poder arbitrário, o povo pode entrar em guerra contra o governo (...) quem julgará se o governo age contrariamente ao encargo recebido? A isto respondo: O povo será juiz. (MARTINS, F.M. LOCKE p.12 2008). As contribuições de Locke para a Educação Moderna estão claras ao introduzir ideia de uma mente desprovida de conceitos e como afirma o autor um papel em branco: Todas as idéias derivam da sensação ou reflexão. Suponhamos que a mente é, como dissemos, um papel em branco, desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer idéias; como ela será suprida? De onde lhe provém este vasto estoque, que a ativa e que a ilimitada fantasia do homem pintou nela com uma variedade quase infinita? De onde apreende todos os materiais da razão e do conhecimento A isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo o nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento. Empregada tantos nos objetos sensíveis externos como nas operações internas de nossas mentes, que são por nós mesmos percebidos e refletidos, nossa observação supre nossos entendimentos com todos os materiais do pensamento. Dessas duas fontes de conhecimento jorram todas nossas idéias, ou as que possivelmente teremos. LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano. 2.ed. São Paulo Coleção, Os Pensadores (Abril Cultural, 1978) Para se contrapor ao racionalismo de Descartes, Locke desenvolveu uma concepção de mente infantil e de educação no qual o professor tem um papel central no desenvolvimento da criança e para que isto ocorra, o mestre deve proporcionar experiências ricas e que auxiliem a criança no uso da razão. Locke orientava os 56 adultos de que a criança deveria ser submetida a educação desde tenra idade para que esta pudesse adquirir bons hábitos, porque os menores são mais receptíveis e flexíveis. A criança devia aprender por meio de repetição das atividades, ou seja, na escola utilizava-se a cópia. A escola utilizava de castigos físicos no seu sistema de ensino, principalmente com os maiores, os adolescentes, e Locke eram contrários, porque despertaria na criança uma resistência ao aprendizado. Era contrario também a política de recompensa, tão usual ―docinhos e presentes‖, porque poderia tirar o foco da criança que deveria ser o estudo, mas deveria ser incentivado o interesse no mérito e ao respeito porque isto a faria escolher a retidão. Sobre a forma de educação utilizada, Áries 1981 relata que: (...) nos séculos XIV ao XVII houve o estabelecimento e o desenvolvimento de um sistema disciplinar cada vez mais rigoroso. Era uma forma de disciplina humilhante; que não se aplicava apenas à infância: nos XV e XVI, o castigo corporal se generalizou, ao mesmo tempo em que uma concepção autoritária, hierarquizada e absolutista da sociedade. Mas entre os adultos, nem todos eram submetidos ao castigo corporal. Ao contrario, as crianças e jovens, qualquer que fosse sua condição, eram submetidos ao castigo corporal. Ao contrario, as crianças e jovens, qualquer que fosse sua condição, eram submetidas a um regime comum e eram igualmente surradas. O castigo fazia parte da atitude diante da infância. Mas a preocupação em humilhar a infância, para distingui-la e melhorá-la se atenuaria ao longo do século XIII. (ÁRIES ano, 1981 p.68) John Locke criou uma nova concepção de infância que possui etapas de desenvolvimento e necessita de atenção. Esse pensamento a respeito da criança e adolescente levaria, no século XIX, a se pensar uma nova educação que levasse em conta o ser em desenvolvimento. Contrapondo-se, dessa forma, ao modelo de educação medieval. O estudo, até então, tinha ênfase no ensino do latim, caracterizando um descaso com a língua nativa, e o cálculo. A pedagogia usada é realista e recusa o excesso de lógica; ressalta o estudo de história, de geografia e 57 das ciências sociais; valorizava a educação física, pois tinha a concepção de que o jogo constitui um excelente auxiliar da educação, uma vez que o exercício físico e o desafio mostravam a possibilidade de superação dos próprios limites. O pensador era membro da classe burguesa e, por isso, valorizava o estudo de contabilidade e escrituração comercial, preparando o aluno para a vida prática. Fazia parte também de sua proposta o ensino de um ofício, como a jardinagem e a carpintaria, sem que isso significasse valorizar o trabalho manual, mas devido à necessidade de desenvolver uma atividade segundo a perspectiva da escola ativa. Defendia uma educação regida com o propósito de tornar o espírito dócil e obediente. Era uma época de transição, por isso conservam-se os valores antigos, ao mesmo tempo em que descobriam novos pontos de vistas. Para Locke, o objetivo da educação é a formação do caráter e não a formação apenas intelectual, por isso propõe uma educação que tenha como meta o desenvolvimento completo, físico, moral e intelectual para formar o homem gentil. A educação do burguês deve ocorrer em casa, evitando a escola, porque poderia não conseguir acompanhar a educação com o rigor necessário. A idéia de dualidade da educação aparece nesse posicionamento ao defender que a educação dos filhos dos burgueses deva ser diferenciada da oferecida pela escola para o conjunto da população. Locke deixa claro quais áreas do conhecimento o jovem burguês deve receber para sua formação: deveria ter profundo conhecimento do mundo dos negócios, porque o objetivo maior era a preservação e ampliação do lucro; deveria, portanto, transformar em grande negociador o jovem burguês com habilidades voltadas para as relações públicas, porque era condição para relações comerciais bem sucedidas. Assim, os jovens deveriam realizar parte do aprendizado fora do país para ter domínio de línguas estrangeiras e conhecer novas culturas no momento em que as fronteiras comerciais se alargavam cada vez mais. 58 2.4 - Avaliação no Período Contemporâneo O importante pensador francês Rousseau fez a seguinte afirmação: Nascemos fracos, por isso precisamos de forças. Nascemos desprovidos de tudo, por isso temos necessidade de assistência. Nascemos estúpidos, por isso precisamos de juízo. Tudo o que não temos ao nascer, e precisamos adultos, é nos dado pela educação. Essa educação nos vem da natureza, ou dos homens ou das coisas. (ROUSSEAU, 1995, P. 10) Compreende-se por contemporâneo, o período que abrange desde a Revolução Francesa em 1789, até os dias atuais e teve início com o ideário iluminista e a importância da razão em lugar do pensamento mítico. Conhecido como século das luzes e da glorificação da razão humana, com seu poder de interpretar o mundo, a exemplo do homem renascentista que pregava uma separação entre a vida material e a espiritual. Nesse período, os filósofos franceses Rousseau, Voltaire, Diderot, D´,Alembert e Helvetius acreditam que o ensino era o único meio de livrar o homem do obscurantismo e do misticismo religioso. Dentre os pensadores, Rousseau foi o mais importante porque suas obras anteciparam o ideário da Revolução Francesa e constituíram também um divisor na história da pedagogia, transformando-a no que é hoje o pensamento pedagógico contemporâneo. Isso ocorreu porque o foco desviou dos professores e colocaram-se os interesses pedagógicos no aluno. Rousseau defende que o homem tenha uma educação integral em proveito próprio, para si mesmo. A educação era, até este período, ainda centrada na formação do homem para Deus ou para vida em sociedade. Rousseau não valoriza o ensino por meio da transmissão de saberes. Para ele, a criança deve ser estimulada a pensar porque o aprendizado não é um processo exterior, mas é interno e inerente ao desenvolvimento da criança. O 59 principio mais importante de Rousseau é de que o homem é bom por natureza e a sociedade é que o corrompe. Ele via a criança como ser integral e não ―uma miniatura do adulto‖ e instituiu as várias fases da infância ou do desenvolvimento infantil, tornando-se o precursor da pedagogia de John Dewey (1859-1952) e Maria Montessori (1870-1952). É ele quem lança, assim, os ideais para o que viria a ser a Escola Nova. (Aranha, 2002, pág.122). 60 2.5. A avaliação da aprendizagem Na contemporaneidade, a quantificação objetiva do aprendizado foi alvo de intensas pesquisas e experimentos, principalmente no século XIX e começo do século XX. O rendimento escolar sempre foi alvo de avaliação por parte dos mestres. Na Idade Média era utilizada a ―chamada oral‖ que era uma forma de examinar se os alunos tinham memorizado o ensinamento transmitido. Tal prática permaneceu até o século XIX, quando foram introduzidas gradativamente as perguntas escritas. Com a expansão do ensino, ocorrida a partir do Renascimento, e o conseqüente aumento da quantidade de alunos por mestre, a tomada de lição individual ficou muito difícil e, além disso, as perguntas escritas poderiam ser aplicadas a uma grande quantidade de alunos ao mesmo tempo, dando assim início a um novo tipo de avaliação Segundo Haydt 1997, que era a prova escrita: O primeiro estudo de que se tem notícia sobre o aperfeiçoamento das provas aplicadas nas escolas públicas é de 1845 em Boston. (...) Um grupo de educadores elaborou cuidadosamente as provas escritas, que abrangeram as matérias estudadas, e incluíram instruções para sua aplicação e correção, no final desse estudo sobre qualidade do ensino, as escolas eram classificadas de acordo com os resultados obtidos por seus alunos. (HAYDT, 1997, p.83) O estudo realizado em Boston, nos Estados Unidos em 1845, levou Horace Mann, secretário de Educação, a realizar um estudo semelhante no estado norteamericano de Massachuseutts e visitar as escolas públicas sob sua jurisdição e averiguar, através da inspeção, o quanto a qualidade de ensino estava comprometida, traçando assim um diagnóstico sobre as fragilidades existentes no sistema educacional do estado de Massachuseutts. Ao término da inspeção, divulgaram-se os resultados que muito desagradaram ao professorado. 61 Haydt 1997 escreve que: Ofendidos com a crítica os professores reagiram, mas acabaram por concordar em submeter seus alunos a uma prova escrita sobre as matérias lecionadas. Foi instituído um grupo composto por professores e membros das comissões escolares locais com intuito de preparar questões escritas sobre Aritmética, História, Geografia, Ciências, vocabulário e Gramática. Ao todo foram elaboradas 154 questões, que foram respondidas por 530 alunos da mesma série, escolhidos de um total de 7.526 alunos. Os alunos submetidos à prova escrita estavam na faixa de 13 anos e eram considerados os melhores da série examinada (...) Os resultados ratificaram as observações de Horace Mann e confirmaram suas criticas sobre as deficiências do ensino (...). É atribuída a Horace Mann a introdução de provas escritas nas escolas em substituição ao exame oral, que, até então, prevalecia. (HAYDT, 1997, 84) Segundo Haydt 1997, os resultados positivos das pesquisas, para tentar corrigir imperfeições nos sistemas educacionais, foram sendo estimulados a partir da experiência pioneira de Mann e, assim, em 1864, George Fisher elabora questões de Exatas, Matemática, Gramática e Composição com intuito de classificá-los de acordo com o aprendizado e com as notas atribuídas entre zero e cinco. Construiu, também, uma lista padronizada para classificar amostras de caligrafia. Posteriormente, em 1895, o professor de psicologia comportamental e educador norte americano James M. Rice no uso de suas experiências concluiu que era necessário adotar medidas mais concretas para avaliar o progresso das aprendizagens. Sua preocupação com a qualidade do ensino levou-o a fazer experimentos com milhares de alunos em diversos estados da Alemanha. Realizou testes com redação, fazendo a leitura de uma história e a observação de uma gravura e nesta prova era verificada também a ortografia. Também elaborou testes de aritmética e linguagem. Rice é considerado pioneiro no campo das pesquisas sobre a mensuração escolar e foi também precursor dos testes objetivos de rendimento. 62 Ao término de sua pesquisa, Rice chegou à conclusão que o sucesso ou insucesso do aluno tem relação direta com outros fatores que estão presentes no ato de avaliar: como registra em suas observações: O maior ou menor sucesso obtido pelos alunos dependia de inúmeras variáveis, independentes dos mesmos, tais como: o tempo despendido pelo professor com ditados de palavras, a freqüência com que esses exercícios eram feitos, o modo e o número de vezes que cada palavra era pronunciada. (HAYDT, 1997 pág.85) As pesquisas efetuadas pelos pioneiros, James. M.R, George Fisher e Horace Mann foram decisivas para a reflexão das práticas avaliativas, foram os primeiros a realizar testes de escolaridade abriram caminho para os estudos da avaliação da aprendizagem. 63 3. O CONSELHO DE CLASSE E A LEGISLAÇÃO ATUAL DE AVALIAÇÃO NA REDE DE ENSINO PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO Ao fazermos uma incursão pelo atual sistema de avaliação no Estado de São Paulo, a Progressão Continuada não se pode perder de vista o contexto nacional e mundial que originou esse sistema, implantado a partir de 1997. Também temos que estudar a política educacional dos sucessivos governos que estiveram à frente da política estadual paulista, após o regime militar, já que foram decisivos para preparar a rede de ensino para implantação do sistema hoje em vigor. A Progressão Continuada é prevista no art. 32 parágrafo 2 da nova LDBN como recomendação e surge como uma proposta de flexibilização, afirmando que, os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série podem adotar no ensino fundamental o regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema de ensino. (BRASIL, Lei nº 9394/96) A LBDN, em seu art. 22, traz os objetivos da educação abrangendo todos os níveis educacionais: Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. (BRASIL, Lei nº 9394/96) O art. 23 explica como deve ser organizada a educação básica – que engloba a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. (BRASIL, Lei nº 9394/96) 64 Esses artigos da (Lei nº 9394/96podem ser entendidos como uma tentativa de manter as diretrizes educacionais sintonizadas com a nova concepção de educação. Concepção que carrega em si as contradições resultantes das forças antagônicas, representadas pelas lutas da sociedade por meio dos movimentos sociais diversos e sindicatos para construção de uma legislação que atendesse às reivindicações populares a respeito da educação e também aos interesses de uma elite empresarial voraz em busca de ampliação de mercado visando à lucratividade com o ensino privado.Segundo GADOTTI 1999: O processo de discussão da LDB teve início ainda durante os debates para elaboração do capítulo da educação na Constituição. Com a promulgação da Constituição, em 05 de outubro 1988, os debates em torno de uma nova lei de diretrizes e bases se intensificaram. Foram três anos de trabalhos e negociações que envolveram os partidos, os fóruns de entidades científicas, sindicatos, centrais sindicais, entidades profissionais e numerosos educadores. (A formação do Educador e a Nova LDB) (Moacir Gadotti, IPF) (GADOTTI, ano1999, p.1) A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação foi gestada a partir dos anos 80 e a Constituição de 88 já previa a elaboração de lei complementar para criar as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN). A LDBN traz, em seus artigos, o retrato de um período conturbado, provocado pela crise mundial do petróleo e a luta das elites para se recomporem após essa crise através da implantação do ideário neoliberal nos países periféricos, caracterizando os anos 80 como década de intensa movimentação de ordem econômica, política e social. A sociedade buscava, dentro dos diversos movimentos sociais e políticos, a redemocratização do país em função do desgaste provocado pelo regime militar, que vigorou por mais de duas décadas. No campo econômico, o neoliberalismo avança derrubando antigas concepções de fronteiras geofísicas e mundializando a economia, introduzindo conceitos e práticas mercadológicas para o campo social. No Brasil, esse período se caracteriza também pelas intensas lutas sociais, por abertura política (campanhas das ―Diretas Já‖ e redemocratização) e para por fim à segregação dos direitos individuais e coletivos. 65 Tais fatos ocorriam dentro de um cenário mais amplo, em nível mundial, e mostravam uma movimentação dos países centrais, após a crise mundial do petróleo, em busca de sua recomposição e tendo como alvo central a destruição do Estado e do bem estar social no molde Keynesiano 13, porque este é visto como oneroso. Em seu lugar, surge a defesa de um estado mais moderno mais leve, ideia que compõe o conjunto de doutrinas neoliberais. A ideia básica do neoliberalismo é eliminar a participação do Estado na economia e conceder total liberdade ao mercado para investidores de capital externos, seus conjuntos de medidas são segundo (SHIMIDT 2004): Privatização da economia - As empresas estatais são vendidas sob a alegação de que as empresas de iniciativa privada possuem mais recursos para investir do que o governo e, além disso, os governos não sabem administrar. Propaga a concepção que a iniciativa privada é mais eficiente, mais moderna, mais lucrativa e produz com melhor qualidade. Liberação do mercado - São eliminados todos os mecanismos legais considerados como barreira ao livre comércio e investimentos, como taxas alfandegárias, com objetivo de facilitar as importações. Os investidores de capitais externos podem fazer seu dinheiro circular livremente e do mesmo modo sair do país quando melhor lhes aprouverem. Antinacionalismo - As empresas nacionais não devem receber ajuda dos governos porque se cria proteção para empresas nacionais, consideradas ineficientes, impede a livre competitividade e ainda que o capital estrangeiro, que traz o progresso, possa se instalar. 13 Keynesianismo - doutrina econômica resultante do pensamento de John M. Keynes (1883-1946), qualificada de ―revolução keynesiana‖, dada à rápida adesão dos economistas. As propostas da chamada ―revolução keynesiana‖ foram feitas no momento em que a economia mundial sofria o impacto da Grande Depressão, que se estendeu por toda a década de 1930 até o início da Segunda Guerra Mundial. De fato, sob o estímulo de grandes despesas governamentais, impostas pelo conflito mundial, a crise do desemprego deu lugar à escassez de mão-de-obra na maioria dos países capitalistas. Esta era a comprovação da eficácia das propostas keynesianas. Surgiu a convicção de que o capitalismo poderia ser salvo desde que os governos soubessem fazer uso de seu poder de cobrar impostos, reduzir juros, contrair empréstimos e gastar dinheiro. (SANDRONI, 1999, p. 324). 66 Menos Impostos - Os donos de capitais e banqueiros devem pagar menos impostos. O motivo segundo os defensores do neoliberalismo é ―que são os ricos que investem na economia. Se eles pagarem menos impostos terão mais capital disponível para investir e gerar empregos. Além disso, lucrarão mais e os lucros são o grande propulsor da economia moderna‖. Corte nos gastos públicos - Os governos gastam dinheiro demais. Quando as dividas se acumulam, os governos aumentam impostos e emitem papel-moeda, provocando a inflação e sufocando a economia. Considera que os trabalhadores e as pessoas, em geral, possuem muitos direitos sociais, o que somente colabora para onerar o Estado. Sendo assim, os gastos com políticas sociais tais como; aposentadorias saúde, educação, e ajuda aos desempregados devem ser redirecionados. Privatização dos serviços públicos - Tendo como idéia principal que o mercado pode regular tudo e com eficiência, o ideário de privatizações é defendido, principalmente, nos serviços essenciais como saúde e educação. A previdência deve ter um sistema complementar, permitindo que empresas explorarem estes ramos, sendo que até presídios podem ser terceirizados. A justificativa para tais ações é a mesma: empresas privadas administram melhor, oferecem melhores serviços e os consumidores podem escolher. Flexibilização do mercado de trabalho - Em nome de uma economia mais dinâmica é preciso que o empresariado tenha mais facilidade para contratar e demitir empregados. Isto significa flexibilização das leis trabalhistas, porque estas protegem demais os trabalhadores e é um prêmio para os empregados ineficientes, portanto devem ser eliminadas tais leis ou direitos. (SHIMIDT, Mario, O Neoliberalismo p.311. Nova História Critica) Após a queda das ditaduras na América Latina, os governos que as sucederam adotaram as medidas econômicas neoliberais e assim as políticas de Estado mínimo se instala como experiência, primeiramente, no Chile e Brasil, nos anos 90, com o governo eleito de forma direta que desenvolve uma política de consentimento de acordo com SILVA (2002): 67 Nas duas últimas décadas, houve explicita intervenção políticoideológica e financeira do Banco Mundial e do FMI nas decisões econômicas e sociais do país, avalizada pelo consentimento do governo federal e das elites dirigentes. E m primeiro lugar, houve o estreitamento das relações entre as equipes que elaboraram um conjunto de políticas de ajuste rigidamente controladas pelos dirigentes nacionais para todos os setores. As instituições, Banco Mundial e Fundo Monetário, não só captam os recursos nos países capitalistas avançados, como vêem a possibilidade de triplicá-los por meio de aplicações, de taxas de juros e de empréstimos ao Brasil, especialmente nos anos de 1980 a 1990, revelando sua capacidade de construção de ideologias que legitimam e justificam a intervenção nas economias dependentes. Em segundo lugar, a assertiva de prioridade em educação básica, inscrita nos documentos do banco mundial, esta revestida de sentido diferente ao que almeja a sociedade civil e entidades organizadas, ou seja, a centralidade do banco fundase na diminuição ou na privatização gradual desse direito, por meio do enfraquecimento das instituições escolares e cientificas e de nenhum aumento dos percentuais do PIB para a educação publica (3,7%) dos gastos totais ou (2,5) dos gastos correntes, da redução das verbas públicas e, ainda, pela superficialidade e pela banalização que vem sendo submetida a formação profissional. (SILVA, 2002, p.125) Os neoliberais têm agora novas formas de ação e conceitos que são absolvidos no cotidiano das pessoas quase sem resistências, o neoliberalismo atual é um conjunto de regras práticas de ação (ou recomendações), particularmente dirigidas a governos e de reformas das suas políticas. É importante observar que os neoliberais têm conceitos, não ideologia, o que leva as pessoas a absorverem as novas concepções sem resistência, incorporandoas no seu cotidiano. Elencam-se, abaixo, alguns destes conceitos: Gastar é ruim. ―É bom ter prioridades. É ruim exigir programas. Precisamos de parcerias, não de governo 68 Forte. Falem de necessidades nacionais, não de demandas de interesses Especiais. Exija crescimento, não distribuição. Acima de tudo tratem do futuro. Repudiem o passado Ao cabo de pouco tempo as idéias neoliberais começam a soar como combinações aleatórias de palavras mágicas. (SCHNEIDER, 1989, p. 7 apud DRAIBE, 1993, p. 89). E, por ultimo, a tese do Estado Mínimo: O Mercado constitui o melhor e mais eficiente mecanismo de alocação de recursos, a redução do Estado (do seu papel e de suas funções e obrigações) é o móvel dessa ideologia. 69 3.1. O neoliberalismo e as políticas educacionais no Estado de São Paulo A ideologia neoliberal caracteriza-se pelo ideal de um Estado não intervencionista, deixando um mercado de livre concorrência, ou seja, livre para auto-regulação. Um Estado sem fronteiras geofísicas formando assim as macroeconomias mundiais. Porém, esta livre concorrência tem fragilizado as indústrias nacionais e exterminando as micro-empresas, principalmente, nos países emergentes, isso se mostra claro nas junções de indústrias nacionais, internacionais e a interferência na soberania dos países. A reestruturação dos mercados é uma das conseqüências dessa política de mercado sem fronteiras e, para o trabalhador, sabemos que se traduz no desemprego e no arrocho salarial, provocado em parte pelo excessivo número de trabalhadores fora do mercado de trabalho. A não intervenção do Estado na economia e a defesa de um Estado mínimo levaram os governos a ver as necessidades básicas sociais - saúde, habitação e educação - como custo para o erário público, porque na ótica neoliberal o Estado tem que desonerar-se de encargos sociais14. Essa nova forma de pensar, que vem da hegemonia dos valores de mercado, tem reflexo sobre a organização escolar, introduzindo linguagens mercadológicas: metas, qualidade, eficiência. Influenciando na construção do projeto pedagógico, nos métodos de avaliação e, conseqüentemente, sobre o papel social da escola. A teoria do capital humano, de T. W. Schultz, expressa o valor econômico da educação, impregna os governos e influencia as práticas pedagógicas. A partir dos anos 1970, com a difusão da teoria do capital humano, expressando o valor econômico da educação, os governos nacionais e as instituições financeiras internacionais passaram a concebê-la como parte intrínseca do projeto de desenvolvimento econômico. Essa lógica coloca a educação pública como bem econômico que deve responder, da mesma maneira que uma mercadoria, à lei da oferta e da demanda. 14 Nova História Critica. Nova Geração. 70 Tratada pelos técnicos e economistas como mercadoria de exploração mercantil dos empresários, a educação pública passou a ser submetida à lógica da produtividade e competitividade, favorecendo o deslocamento do debate do eixo educacional pedagógico entre os educadores, políticos e empresários, para ser manipulado no terreno dos valores econômicos. (BIANCHETTI,1996 p. 96) (FRIGOTTO, 1999, p. 54) A educação acaba absorvendo os valores de um mercado competitivo e traz para o interior da escola a ideologia mercadológica. Os currículos educacionais têm sido modificados e fica claro que atende aos interesses da nova ordem mundial. Observamos na escola cada vez mais os discursos de autonomia e descentralização, que na prática significam descentralização das obrigações que o Estado teria para com a escola, como custo com a manutenção e sobrevivência, mas mantêm o controle dos conteúdos. A escola, na forma que está proposta, deve organizar-se dentro da lógica empresarial voltada às necessidades de mercado. Dessa forma, a educação acaba sendo uma mercadoria, mais um bem a ser consumido no mercado educacional. E quando é defendida, tal ideia desconstitui a escola como espaço público de construção de conhecimento e formação de sujeitos históricos conscientes e politizados. Assim, apaga-se na sociedade a ideia da educação pública como direito social e como conquista democrática, resultante de lutas e enfrentamento do povo. Ao transportarmos o pensamento neoliberal para o interior da escola o fazemos na forma de uma pedagogia da competição, de mérito individual e até achamos que a ―concorrência‖ é necessária para o avanço dos alunos e, dessa forma, ir preparando-os para o mercado competitivo. Procedendo assim, esquecemos as diferenças dos menos favorecidos socialmente e as ideias de igualdade e solidariedade se extinguem definitivamente. Por consequência, inclusive, da desvalorização e do desrespeito à dignidade da pessoa humana como atributo inalienável e indisponível de cada ser que, sendo único, possui um valor intrínseco inestimável que acaba sendo desconsiderado, pois só o melhor, o que demonstra aptidão para sobreviver no mercado competitivo merece apoio. 71 No caso das avaliações, fazemos uma padronização que estão em conformidade com as necessidades de mercado, pois avaliamos ―quantidade‖, ―aparência‖, ―competitividade‖, ―eficiência‖, segundo a visão das classes dominantes. Tomamos como referência a ―produção‖ do ―melhor aluno‖ da classe e avaliamos os demais por comparação à competência, à qualidade e à eficiência deste, que servirá como parâmetro para os demais. Porém, o que é mais importante é o percurso que o aluno refez dentro do conhecimento, isto no seu tempo interior. Diferenciar e reconhecer os vários tempos individuais se faz necessário para avaliar com justiça, sem comparações e sem estabelecer parâmetros para estas comparações. Quando construímos uma avaliação baseada em padronizações, estamos seguindo na contramão dos ideários de democracia, participação, inclusão e do exercício de cidadania dos alunos. Formamos juízos de valores, julgamos, sentenciamos e o veredicto final sempre é retenção do aluno - seja por defasagem de conteúdo, por indisciplina, pouca produtividade, falta de interesse e outros julgamentos subjetivos - ou a promoção do aluno para série seguinte, mesmo que este esteja esvaziado de saber. Dessa maneira, anos após anos, vamos eliminando e minando as chances de inclusão numa sociedade historicamente injusta. Não levando em consideração que o fato de estar na escola já é seu indicativo de busca de mudança social, já que milhares permanecem fora do universo escolar devido às barreiras que a vida lhes impõe. Mas a distorção do olhar sobre a avaliação foi produzida e introjetada pelos mecanismos de políticas educacionais, adotadas a partir de gestões sucessivas nos anos 80 até o momento vigente, e para se entender melhor essa situação, faz-se necessário abordar as políticas estaduais paulista dentro do contexto educacional. 72 3.2. Redemocratização da Rede Estadual e Políticas de Estado Mínimo Coube a André Franco Montoro, eleito pelo PMDB em 1982 como o primeiro governador de São Paulo após o regime de ditadura militar, introduzir novas políticas educacionais e sua bandeira era Participação e Descentralização. A sua gestão ocorre de 1983 a 1986 e o grande desafio era enfrentar o elevado número de reprovações e evasão escolar, bem como a democratização do ensino e a garantia de igualdade de acesso na educação. O principal objetivo, com relação à educação, era introduzir mudanças no sistema de ensino. Ao assumir, tendo como vice-governador Orestes Quércia, implantou uma política descentralizadora criando, em São Paulo, quarenta e duas regionais de governo e dando início à municipalização do ensino. Outras medidas foram tomadas em relação à educação: criou o (PROFIC) (Programa de Formação Integral da Criança), o Estatuto do Magistério e um fórum de educação estadual. Implantou ainda na educação, em 1984, o ciclo básico (CB) através do (Decreto n° 21.833) e instituiu, no Ensino Fundamental I, ciclos com duração de dois anos na tentativa de reorganizar o ensino e eliminar o altíssimo número de reprovações nas séries iniciais. Desta forma, um novo sistema de avaliação foi introduzido como mostra o artigo 1º do inciso I da lei que explicita seu objetivo: É instituído, o ciclo básico no ensino de primeiro grau das escolas da rede estadual com as seguintes finalidades: I – Assegurar ao aluno o tempo necessário para superar as etapas de alfabetização, segundo seu ritmo de aprendizagem e suas características sócio-culturais; II – proporcionar condições que favoreçam o desenvolvimento das habilidades cognitivas e de expressão do aluno previstas nas demais áreas dos currículos; III – garantir às escolas a flexibilidade necessária para a organização do currículo, no que tange ao agrupamento de alunos, métodos e estratégias e de ensino, conteúdos programáticos e critérios de avaliação do processo de ensinoaprendizagem. . (SÃO PAULO, 28-12 1983) 73 A iniciativa enfrentou certo grau de resistência, considerando que não houve um tempo para o debate, para o entendimento da proposta por parte dos professores e nem para saber a realidade da sala de aula, pois foi uma determinação da Secretaria de Educação e de seus especialistas. Outro ponto a ser considerado é que a implantação não teve o suporte dos novos parâmetros curriculares estaduais. Segundo Duran, Alves e Palma Filho: Estudos sobre o processo de implantação do ciclo básico realizados ainda em 1984 indicaram que, passado o impacto inicial, os aspectos positivos da medida começaram a ser percebidos por parte dos educadores. Mas para parcela significativa dos professores e diretores e diretores persistiam questões extremamente problemáticas: inexistência de espaço físico nas escolas, inviabilizando a efetivação das medidas previstas, apoio suplementar aos alunos, reuniões de professores; falta de um coordenador pedagógico para orientar os trabalhos; alta rotatividade do corpo docente das escolas; necessidade de reduzir o contingente de alunos por classe; resistência de rever os critérios de remanejamento de alunos, cujo índice era alto em razão da tentativa de homogeneização das turmas procedimento (considerado correto na proposta inicial do ciclo básico; indefinição de parâmetros claros para avaliação dos alunos que concluíram o ciclo básico em 1985. DURAN, ALVES e PALMA FILHO, 2006, p.95) Em 1987 Orestes Quércia foi empossado como governador do Estado de São Paulo, com mandato até 1990. A política adotada foi de continuidade da gestão anterior e prosseguindo as reformas iniciadas, como a descentralização e o avanço das municipalizações. Nesse período, têm início os primeiros financiamentos por recomendação do Banco Mundial para melhoria das escolas que atendiam à população mais carente. Para assegurar um ciclo de completa alfabetização, foi ampliado para dois anos o tempo para o aprendizado do aluno e os que não avançassem nesse período permaneceria um ano a mais no (CB), conforme a Resolução (SE 13/84) 74 A recomendação também ocorre no sentido da avaliação e que a mesma deveria respeitar o ritmo da aprendizagem dos alunos. As realizações desse governo foram: implantação da jornada única docente e discente (Decreto 28.170/88), continuidade das municipalizações da pré-escola e a descentralização do pessoal de apoio das escolas da rede pública. Para efetivação dessas mudanças, reorganizou a jornada dos professores e alunos, introduziu as disciplinas de Artes e Educação Física. Os demais níveis de ensino permaneceram sem alteração, considerando que a prioridade por recomendação do próprio Banco Mundial recaía sobre o ensino de 1ª a 4ª séries. O governo seguinte de Luís Antonio Fleury Filho, no período de gestão 1991 a 1994, institui um programa de reforma na educação paulista e implantou o programa de Qualidade Total15 dentro dos moldes neoliberais na educação. O discurso era de que a escola seria dotada de autonomia e o modelo baseado na qualidade total objetivava o racionamento de custo. O governo Fleury, em sua proposta de reorganização do ensino, criou a escola Padrão que veio acompanhada de mudanças não somente na estrutura, mas na organização do pessoal, equipamentos, recursos humanos e a reforma dos prédios. Teve início os financiamentos com as agências externas e o estabelecimento de metas para educação, de acordo com os compromissos firmados com o Banco Mundial e (CEPAL). Como resultado dessa reorganização, o (PROFIC) foi extinto, com a transferência de responsabilidades. Os Centros de Convivência Infantil foram transferidos da área de Educação para Secretaria do Menor. Continuou o avanço das municipalizações e, com a intenção de que os integrantes do quadro do magistério não solicitassem remoção, houve a restrição ao direito de remoção do docente a cada três anos. Além dessas mudanças, ainda houve a transferência da Divisão de Supervisão e Apoio às Escolas Técnicas Estaduais para a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico. O que se observa é o desmonte de 15 Qualidade total é uma técnica de administração multidisciplinar formada por um conjunto de programas, ferramentas e métodos aplicados no controle do processo de produção das empresas, para obter bens e serviços pelo menor custo e melhor qualidade, objetivando atender as exigências e a satisfação dos clientes.Freferick Taylor (1856- 1915) Administração Cientifica (princípios de qualidade total), Controle Estatístico de Processos (Walter A. Shewhart 1891-1967), Administração por Objetivos (Peter Drucker 1909- 2005) 75 várias ações da administração anterior com o objetivo de adequar ao ideário neoliberal que foi introduzido nesta administração e a adequação da estrutura para o novo projeto deste governo, a Escola Padrão. De acordo com (BITAR, 2003, p.267), todas essas iniciativas visavam diminuir despesas e delimitar o campo de atuação da Secretaria de Educação para o projeto que se encontrava em ―gestação‖, prestes a vir à tona, que seria a instituição da Escola Padrão. A Escola Padrão foi instituída através do Decreto Lei Estadual nº 34.035, de 22 de outubro de 1991, e sua implantação precedeu de intensa atividade envolvendo a formação de professores, via Faculdades conveniadas, para a nova forma de trabalho que seria o desenvolvimento de projetos perpassando todas as disciplinas. Segundo Utsumi 1995, p.37, a Secretaria de Educação produziu manuais, estabeleceu diretriz e normas legais que foram publicadas entre os meses de dezembro de 1991 e o inicio do ano letivo de 1992. Tal proposta de escola teve uma curta trajetória, enfrentou obstáculo em nível de logística e aplicabilidade considerando a extensão da rede estadual de educação paulista, não chegando a atender e atingir a contento todos os profissionais que a materializariam esta proposta. Utsumi relata em sua pesquisa as dificuldades enfrentadas. ― Até fevereiro de 94, continuavam apenas estes sete centros, o que dificultava a atualização dos profissionais de outras cidades. Alguns cursos oferecidos e de sua inadequação à sala de aula. ((UTSUMI, 1995, P.48) A Escola Padrão foi a marca do governo Fleury e findou juntamente com os 12 anos da hegemonia do PMDB no governo do Estado de São Paulo em dezembro de 1994. Em 1995, Mario Covas (PSDB) assumiu o governo paulista e teve início o desmonte do projeto da Escola Padrão, pois consideraram que este não tinha atingido seu objetivo que era a qualidade do ensino. Foi lançado então mais um programa de reorganização do ensino na Secretaria de Educação, sendo um dos objetivos a introdução de medidas de reestruturação da rede de ensino, algumas 76 iguais às já existentes na gestão anterior, e que estavam em pleno desenvolvimento como afirma OLIVEIRA, S.R.. F.1999 em Formulação de políticas educacionais: Os Decretos n.º 40.510/5 e nº 40.473/95, bem como resolução (SE 269), de 05 de dezembro de 1995 SP fixavam a reforma do ensino em três pilares centrais, a saber: A racionalização e reforma da estrutura administrativa, a descentralização e desconcentração dos recursos e mudanças no modelo de gestão. As medidas tomadas por esta gestão foram: ―Reorganização da rede física e informatização da rede; Mudança no padrão de gestão; Delegação de competências administrativas e financeiras às delegacias de ensino; Melhoria da qualidade de ensino com iniciativas no campo pedagógico, de avaliação e na carreira docente; Regime de progressão continuada; Flexibilização curricular; Mudança na concepção de avaliação; ( Instituição do SARESP, SEE-SP Decretos n.º 40.510/5- nº 40.473/95). Fica claro que a reforma se amoldava dentro do ideário neoliberal e todas as ações tomadas dentro do programa de reorganização das escolas da rede pública, dessa gestão e das anteriores, eram no sentido de transferência de responsabilidades para os municípios e a conseqüente diminuição de custos com a educação. Portanto, a Progressão Continuada juntamente com o SARESP compõe o sistema de controle de custo com a educação através dos índices de aprovação nessa gestão e que permanecerá até 2014. Sobre a política de Estado Mínimo, Marília Fonseca relata: Reorganização do quadro de pessoal (...) diminuição dos encargos financeiros do Estado na área da educação, em consonância com as políticas de ajuste. Privatização dos níveis mais elevados de ensino, especialmente o superior. A prioridade dos recursos voltada para o 77 ensino primário. Cesta de insumos educacionais que se mostraram determinantes para o desempenho escolar dos alunos de países como Brasil, segundo estudos internos do Banco. Assim, bibliotecas, material instrucional e livro texto foram privilegiados em detrimento de fatores humanos, como formação, experiência e salário do professor. (FONSECA 2007, p. 56) 78 3.3. A Progressão Continuada A Progressão Continuada foi implantada no Estado de São Paulo através da (Deliberação da CEE nº. 9/ 97) e (indicação do CEE N.º 08 1997), fundamentada na LDB nº. 9.394 / 96, no artigo 2º e na Lei estadual n.º 10.403, de 6 de julho de 1971. O Estado de São Paulo teve sua primeira experiência com regime de progressão continuada entre 1969 e 1972, ainda no regime militar, e retornou com o governo de Franco Montoro, quando se institui o ciclo básico em 1984 na tentativa de eliminar o alto índice retenção escolar nas séries iniciais e democratizar o acesso ao ensino. Na gestão Mario Covas, tal experiência foi estendida ao Ensino Fundamental II com o regime de ciclos. Objetivamente, a progressão começou em 1998 e ficou organizada em dois ciclos, compreendendo o Ciclo I -1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries e Ciclo II - 4ª, 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries. A partir da (Lei nº 11.274/06), houve a ampliação da educação básica para nove anos, sendo que os ciclos ficaram assim dispostos: o primeiro corresponde aos primeiros cinco anos (chamados anos iniciais do ensino fundamental) em que é desenvolvido, usualmente, em classes com um único professor regente; o segundo corresponde aos anos finais (6º ao 9ª ano), nos quais o trabalho pedagógico é desenvolvido por uma equipe de professores especialistas em diferentes disciplinas. O que se esperava com a nova organização do ensino era eliminar a ideia de ano letivo e adequar às ações pedagógicas ao ritmo de aprendizagem do aluno, o qual pode avançar na aquisição do saber. Os ciclos funcionam nas etapas do processo do ensino, respeitando a cultura que o aluno adquiriu anteriormente à sua chegada à instituição escolar, registrando a sua evolução - se o aluno está avançando dentro dos saberes - sendo, conseqüentemente, possível uma intervenção em qualquer tempo dentro do ciclo, com o objetivo único a promoção do aluno para o próximo ciclo. A avaliação ocorre no último ano de cada ciclo, após o aluno ter seu aprendizado desenvolvido, respeitando seu tempo de assimilação individual. O sistema proporciona o acompanhamento e reconhecimento das diferenças, o que não acontece com a seriação em que todos são considerados iguais no ponto de partida e, portanto, espera-se que, durante o processo de aquisição do saber e ao 79 final do ano, todos estejam no mesmo patamar. O ciclo evita, assim, o número cada vez maior de repetência escolar, que tradicionalmente se verificou no Brasil. O sistema de seriação configurou um quadro de exclusões, tendo a escola como maior responsável. A reprovação fez o Brasil, do início do século passado, apresentar números alarmantes de excluídos da incipiente rede de escola pública que não atendia a todos e os que nela adentravam ainda enfrentavam um rigoroso processo de seleção. Na década de 1920, segundo censo contido na publicação da Fundação IBGE: Séries Estatísticas Retrospectivas, 1970, numa população de (12.703.07), a taxa de escolarização era de apenas (8.99%) e sobre esta seletividade, o ensino de fato era destinado aos filhos da elite brasileira, conforme afirmações: Se lembrar que a educação popular estava abandonada e de que a educação média era meramente propedêutica, pode se ajuizar o quanto a educação foi minimizada, a ponto de transformar-se em mera ilustração e preparação para o exercício de funções, nas quais a retórica tem papel mais importante que a criatividade. (...) A cultura transmitida pela escola ―guardava, pois, o timbre aristocrático. (ROMANELI, 1978, p. 41) A educação, no inicio do século XX, comprovadamente não tinha no ensino das camadas populares o seu objetivo maior. Nesse contexto - de evasão, de retenção e de insuficiência de vagas para o conjunto da população -, é que se amadurece a idéia de progressão continuada na educação brasileira, utiliza-se de estudos e de pesquisas feitos no exterior para possível implantação no Brasil. Assim, os pioneiros brasileiros buscaram experiência em países que já tinham implantado ou estavam com classes experimentais para fazer suas reflexões, buscando com isso contribuir para a eliminação da repetência. 80 3.4. Histórico do sistema de Progressão Continuada Jeferson Mainardes (1998) em seu artigo ―Promoção Automática em Questão: argumentos, implicações e possibilidades‖, faz uma pesquisa profunda do processo de exclusão e a tentativa de implantação da progressão automática no Brasil como forma de eliminar a repetência já no começo do século. A grave questão da repetência vem atravessando décadas intermináveis como mostram estatísticas, ver (quadro1 pág. 14). Em artigos publicados na década de 1950, alguns educadores se mostravam preocupados com o problema da repetência. Já no ano de 1918, Sampaio Dória Secretário de Educação do Estado de São Paulo propôs a promoção automática para os alunos que tivessem frequentado um ano com aproveitamento e somente os com muita defasagem seriam retidos. Em 1921, Oscar Thompson diretor geral de ensino de SP na conferência de educação no ensino primário recomendou a aprovação em massa. A temática progressão automática permeou assim os debates em meados do século XX. Tais debates foram reforçados com o discurso do então Presidente da República Juscelino Kubitschek defendendo a idéia da promoção automática. O que vem provar que o Brasil há muito convive com o problema da exclusão provocada pelas altas taxas de repetência. (MAINARDES 1998, Pág.17) Trata-se dessa temática o artigo de Claudia. O. Fernandes relatando o estudo de Martin Wilson (1954) sobre a experiência inglesa de adequação série e idade realizada na Inglaterra: A Inglaterra vem praticando, de todo coração, há cerca de 20 ou anos, a prática de promoção por idade (...) o ato Educacional de 1994 (...) praticamente recomenda que toda criança inglesa passe para escola secundária aos 11anos. (WILSON, 1954, p.57 apud FERNANDES, 2000) De acordo com Claudia. O. Fernandes, Dante Moreira Leite 16 escreveu o artigo ―Promoção automática e adequação do currículo ao desenvolvimento‖ no qual 16 Cientista social. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php. Acesso 20/06/2010. 81 faz um estudo sobre a reprovação e o papel da escola na sociedade. Baseia suas teses na psicologia e pedagogia. Numa sociedade de extrema diferenciação de trabalho, importa despertar e manter as diferenças de interesse; num mundo em transformação rápida e constante, importa preparar o aluno para ajustar-se a situações novas, não repetir soluções apresentadas. Se pensarmos nestas condições peculiares da sociedade em que vivemos, perceberemos imediatamente que a classe homogênea, de ideal educacional, passou a ser apenas um problema didático. (LEITE,1959, p.19 apud FERNANDES, 2000) Fernandes, C.O 1997, em sua pesquisa escreve que LEITE (1959, pág.19), em seus argumentos em defesa da promoção automática, justifica-se baseando a questão da aprendizagem em autores como Dewey, Herbert Wright, Miller (psicólogos) e reafirma que a promoção automática: (...) é a única solução coerente para a pedagogia poder lidar com as diferenças de interesse e de desenvolvimento ao longo das faixas etárias. A organização das series por idade resolve o problema dos diferentes interesses decorrentes de idades diferentes: ―a única solução para esse problema é a promoção automática- que se fará por idade de sete anos no primeiro ano as de 8 no segundo e assim por diante‖(...) (Leite,1959, p. 28). (...) autor aprofunda sobre a instituição da promoção automática e afirma que esta não pode ter sucesso isoladamente. Implica uma ―transformação radical da escola, na medida em que transformam seus objetivos básicos e que professores e alunos passarão a viver em torno de outros valores e aspirações. (LEITE, 1959 apud FERNANDES, 1997) A leitura do artigo permite a impressão de que foi escrito nos nossos dias atuais, considerando que a inclusão do respeito às individualidades e a defesa da 82 proposta de ciclos estão presentes na maioria dos debates educacionais. Os princípios norteadores estão inseridos na progressão continuada vigente hoje no estado de São Paulo, porém foram escritos na década de 1950. Uma descrição sobre como se organiza uma escola sem reprovação, foi escrita por Wilson (1954), que orienta sobre a diversidade de tempos e de ritmo dos alunos, bem como deve ser a avaliação da aprendizagem. Relata a experiência inglesa em ―Avaliação e Promoção nas Escolas Inglesas‖ (1954, p.57) no qual afirma que, há vinte ou trinta anos atrás, a Inglaterra vinha praticando a promoção por idade. Embora a experiência inglesa defenda a promoção, o faz em função de sua organização administrativa e burocrática, de acordo com FERNANDES, 1997, p. 83, os debates prosseguiam no país. Em 1956, Matos (1956) afirma que o professor é responsável pelos altos índices de reprovação e o motivo desencadeador é a falta de formação adequada e a ineficiência escolar. Afirma que a escola é um direito e, portanto, não deve se tornar uma agência selecionadora de talentos privilegiados, mas deve proporcionar educação e cultura a serviço da juventude e da democracia e sobre esta função de democratizar o ensino Matos 1956, escreve: Não será por certo cortando mais da metade dos jovens nela matriculados que haverá possibilidade de prosseguir nos estudos, que a escola brasileira tanto primária como secundaria cumprirá esta sua nobre lição. (MATOS, 1956, pág. 257 apud FERNANDES pág.9 1997) A revista pedagógica RBEP traz o discurso de JK enaltecendo as experiências estrangeiras e relaciona a promoção com o progresso, defende uma escola menos seletiva: (...) onde as aptidões não são uniformes, no qual as diferenças são consideradas, e a sociedade precisa tanto das mais altas, quanto das mais modestas. Não mais se marca com ferrete da reprovação, em nenhuma fase do curso. Terminado este é ela classificada para o gênero de atividade a que se tenha mostrado mais propenso. De 83 forma racional a reforma seria econômica e prática, evitando o ônus da repetência e os males da evasão escolar. (RBEP, 1957, p. 144) Fernandes (1997, p.9) alerta que, na realidade, fica evidente a questão econômica, o que reforça a necessidade de implantação da promoção automática. Almeida Junior, em seu discurso ―Repetência ou Promoção Automática‖, no congresso estadual em Ribeirão Preto, comenta sobre o fato que lhe chamou mais a atenção na ―Conferencia Regional sobre Educação Gratuita e Obrigatória‖ promovida pela UNESCO em Lima no Peru. O documento continha dados estatísticos e sugeria a adoção de políticas de promoção automática nos países da América Latina, que poderiam seguir o exemplo do sistema inglês e recomendava: Revisão do sistema de promoções na escola primária, com o fim de torná-lo menos seletivo; Estudo, com participação do pessoal docente primário; Um regime de promoções baseado na idade cronológica dos alunos e em outros aspectos de valor pedagógico, e aplicável, em caráter experimental, aos primeiros graus da escola. (ALMEIDA JUNIOR, 1957, p.3) Em 1958, o jornal o Estado de São Paulo publicou uma critica de autoria de Luis Pereira, mostrando as contradições presentes na idéia de promoção automática, afirmando que o sucesso da implantação desse sistema nos países de Primeiro Mundo se deve a superação dos problemas. (...) tratava-se, pois de fundamentação proveniente da constatação de deficiências de certos alunos e não da existência de precárias condições materiais e pessoais do funcionamento escolar‖ (...) eliminasse as altas porcentagens de repetência, não afetaria de modo direto e profundo os fatores desse fenômeno e que levaria à perda de um valioso termômetro do funcionamento do sistema escolar primário – os índices de repetência. (Fernandes, pág.11 Promoção Automática na Década de 50) 84 E finalmente, encerrando as publicações na revista (RBEP) sobre a promoção automática, há o artigo da professora Heloisa Marinho que mostra os benefícios da inserção mais cedo da criança na escola, no antigo jardim da infância. A proposta é bem atual porque a partir de 2006 começou-se o movimento pelo ensino de nove anos, em que o último ano da antiga pré-escola é hoje o primeiro ano do ensino fundamental. Segundo a professora, após a realização de pesquisa comparativa no Rio de Janeiro, entre crianças que não foram matriculadas no jardim da infância e as que tinham freqüentado, concluiu-se que as crianças que fizeram o jardim da infância apresentaram um grau de desenvolvimento muito maior do que as que não fizeram. De forma geral, a ideia que passava desde a recomendação da (UNESCO), bem como a defesa dos teóricos para implantação da promoção automática nos anos 50 - como Leite, Almeida Junior e o próprio presidente da republica JK -, é que a escola era convocada a redefinir seu papel e redescobrir sua função social. A década desenvolvimentista demandava um novo Brasil, menos seletivo, que acolhesse seus próprios filhos oferecendo-lhes oportunidade de crescer junto com a nova fase que o país estava vivendo. Esses são os pensamentos que convergem para os ideais da escola nova, expressos na RBEP e sua bandeira nos primeiros vinte anos, segundo Patto 1996, pág., 87 in (Fernandes 2000) Os argumentos a favor da implantação foram muitos desde o inicio de debate a cerca deste tema e o ideal de renovação se faz sentir também no pensamento do presidente Juscelino Kubitschek, em seu discurso em defesa de uma nova educação e da promoção automática proferida às professoras de Belo Horizonte: As necessidades sociais de nosso tempo estão a exigir que a escola primária se transforme. (...) Entre os pedagogos modernos, já não se considera a escola primária simples estagio para aprendizagem dos rudimentos da leitura, da escrita e do calculo. Há de integrá-lo na economia nacional. (KUBITSCHEK, 1957, p.143 apud FERNANDES, 2000) 85 As idéias relacionadas à promoção automática tiveram inicio nas discussões realizadas e implantadas na Inglaterra desde o início do século XX, como afirmou H. Martin Wilson. Mainardes (1998, p.17) afirma que a UNESCO, na Primeira Reunião Internacional de Ministros de Educação realizada em Genebra, recomendava tal modalidade escolar para países do terceiro mundo com problemas de cobertura na área rural. Continua o autor: No período de 1968 a 1972, o estado de São Paulo implantou um sistema de promoção automática que só retornaria em 1984, no governo de Montoro com a implantação do Ciclo Básico. Outros estados também adotaram o sistema e foram eles: Santa Catarina (1970-1984), Rio de Janeiro (1979–1984). Todas estas experiências eram tentativas de fazer uma escola mais justa e sem exclusão provocada por um sistema de avaliação seletiva e que tinha como resultado a repetência e a evasão escolar. (MAINARDES 1998, p.17) Fernandes (1997), em sua pesquisa, comprova que a partir da 3ª Reunião Anual de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED) em 1979, é que se introduziu um novo cunho político e teórico às discussões anteriores acerca do tema da promoção automática. Aprofundando as análises sobre a seletividade escolar no 1º grau, os debates levaram às justificativas teóricas para as políticas educacionais que visavam à implantação de sistemas de avaliação que traziam uma perspectiva de não-reprovação, seja em séries, níveis ou ciclos. A novidade, em relação às propostas anteriores, se inseria na análise de que a implantação da promoção automática não deveria vir desacompanhada de uma série de outras medidas, não só no nível das políticas educacionais, como também no nível intra-escolar. A promoção automática exige como afirmou Almeida Junior (1957, p.11), atividades complementares para dar suporte e garantir sucesso e, neste sentido, estas medidas seriam: Aumento da escolaridade primária; Ingresso antecipado em pelo menos um ano, defendia no máximo sete anos; 86 Formação continua do professor; Modificação na concepção de ensino primário, abolindo a seletividade; Revisão dos critérios de promoção (semelhante à dos ingleses, Ou seja, que todas as crianças deviam ser submetidas ao conjunto dos estímulos propostos nas diferentes séries do programa. É necessária, segundo (Fernandes, 1997.p.11) o autor, uma reorganização estrutural, de administração central e nas práticas pedagógicas, sem as quais não se obtém sucesso. Leite (1959) reforça as argumentações de Almeida Junior e acrescenta outros argumentos de cunho psicopedagógicos em defesa da promoção, afirmando que as conseqüências negativas para crianças e adolescentes eram: sentimento de incapacidade (desprestigio diante de si), perda da noção de seu nível de realização, não reconhecimento dos valores da escola e evasão escolar por parte dos alunos repetentes que procuram dessa forma, evitar frustrações constantes. Entendia que as reprovações escolares eram mais graves que a reprovação social, porque o individuo não tem oportunidade nem de abandonar e, atividade. Abandonar a escola era se preparar mal para a vida adulta, segundo Leite, (1959) e para os seguintes problemas, propunha possíveis soluções: O desnível entre os alunos - propunha a adoção de metodologia diversificada, diversificação das tarefas, orientação de tarefas para grupos de cada classe e mais interação entre os próprios alunos; A adequação do currículo ao desenvolvimento do educando propunha, sobretudo, resumi-lo retirando os itens inadequados à idade dos alunos (já que todos na mesma classe seriam da mesma idade); Relação quantidade x qualidade do currículo - afirmava que aprender quantitativamente aprender com menos menos qualidade conteúdos e, vice não versa, significa aprender quantitativamente mais conteúdos não significa aprender melhor. ((In: Mainardes, 1994, p.19) 87 Na década de 60, alguns sistemas de ensino no país adotaram e realizaram experiências com o sistema de ciclos: o estado de Santa Catarina nas series iniciais de 1970 a 1984 e posteriormente em todo ensino fundamental; no Rio de Janeiro nas 1ª e 2ª séries de 1979 a 1984; foi novamente instituída em São Paulo no ano de 1968; em Minas Gerais em 1985 e nos estados do Paraná e Goiás em 1988. Nos anos 90, as administrações municipais de São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte adotaram também o sistema de ciclos. (Fernandes, 1997, p. 5) O entendimento em torno da adoção de ciclos e da promoção automática avançou por todo país e culminou com sua inserção na nova LDB (Lei nº 9394/96). Embora a discussão da promoção automática tenha permeado as várias décadas do inicio do século XX até a década de 80 e tenha sido implementada em alguns sistemas de ensino no país, tanto estaduais quanto municipais, é pertinente lembrar que existe uma substancial diferença entre promoção e a progressão automática. Iniciou-se, ainda no século passado, um debate sobre repetência e o injusto sistema educacional brasileiro e buscavam-se soluções mais adequadas. Com o tempo, qualificaram-se as discussões em torno da promoção automática e chegamos hoje ao sistema implantado desde 1997. No caso da promoção automática, o aluno vai sendo promovido para séries, etapas ou fases subseqüentes sem ter adquirido habilidades e competências, ou seja, sem o desenvolvimento das habilidades necessárias para a promoção. No entanto, a concepção de progressão trabalha a realidade do aluno contextualizando-a. É necessário ainda um acompanhamento contínuo das aprendizagens e aplicação de recuperação paralela, visando sanar as defasagens de aprendizagens apresentadas pelo aluno. Atualmente vários autores defendem a progressão continuada como forma de democratizar o ensino, ou ainda, sob a ótica psicológica, pedagógica, sociológica. Mas se analisada sob uma visão política e econômica, apresenta-se dentro das perspectivas neoliberais, com objetivo único de fazer avançar alunos, considerando que a permanência deles na escola por repetidos, anos tendem a onerar os cofres públicos. 88 3.5. Ciclos e Progressão Continuada A escola seriada refletia uma realidade social do começo do século XX que possuía uma dinâmica social totalmente oposta aos dias atuais. A escola organizada neste período refletia o sistema organizacional da divisão do trabalho e estava presente na fraca organização escolar do início do século. Ao adotar, em seu interior, o esquema utilizado na divisão do trabalho próprio da produção manufatureira, a escola passava a reproduzir práticas inerentes ao cotidiano das fábricas. Machado (1994) faz os seguintes registros, em sua tese de doutorado, sobre a padronização uniformizada das fábricas e sua adoção pela escola: Produção padronizada e uniformizada na escola se apresenta na divisão das classes em séries e na fragmentação do currículo; Homogeneização dos alunos por idade ou rendimento; Separação do conhecimento em disciplinas isoladas; Formação do professor na disciplina isolada; Uniformização do ensino e das aprendizagens em modelos únicos; Realização do percurso da aprendizagem do simples ao complexo com exigência do pré-requisito; Classificação conforme a qualidade e reprovar quando necessários como refugos da produção; Integração, no processo educativo, da distinção entre conceber e executar o produto, ocorrendo à separação entre o sujeito que concebe e o objeto produzido, entre o professor que ensina e o aluno que aprende, entre ensino e aprendizagem, entre escola e trabalho. . (Machado, 1994, Pág. 34) A proposta de ciclos e da progressão em São Paulo fundamenta-se na ideia do estado democrático, em que a pessoa é sujeito de direitos, e tem o objetivo primeiro de superar a concepção da escola seriada. Aprovada em 1997, a (Indicação (CEE Nº. 8/97) e a (Deliberação CEE n° 9/97) pelo Conselho Estadual de Educação, entra em vigor em 1998 até a presente data, tendo como objetivos principais a superação da cultura da repetência 89 tradicionalmente normatizada na escola pública, a criação de uma nova cultura da promoção e da superação dos obstáculos que impediam o aluno de avançar. A LDB/96 prevê que: A educação básica poderá organizar–se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. : BRASIL, LEI Nº 9394/96, art. 23. Nos termos da seção III, art.32, Inciso IV da mesma lei, § 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino fundamental em ciclos. § 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série podem adotar no ensino fundamental o regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensino aprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema de ensino ―(...) (BRASIL, LEI Nº 9394/96) Os sistemas de ensino estaduais e municipais podem, na forma da lei, instituir, se assim desejarem, em o regime de progressão continuada e ciclos. O ciclo é uma modalidade de organização de ensino que possibilita uma adequação ao ritmo e tempo do aluno, respeitando suas limitações e permitindo-o avançar de forma mais flexível, considerando que o ciclo não está preso em ano letivo tradicional. Também garante um ensino contextualizado e de acordo com os anseios da sociedade nos quais a escola e o aluno estão inseridos, isso proporcionará uma aprendizagem efetiva e uma diminuição significativa dos índices de reprovação escolar que é um dos fatores da exclusão social. Do ponto de vista das práticas pedagógicas, a novidade é que a avaliação ocorre de forma continua durante todo processo de aprendizagem e não simplesmente ao final deste. A avaliação se torna diagnostica e cumulativa sobre o conjunto do trabalho educativo realizado, pois se avalia o trabalho pedagógico e sua 90 eficácia a partir do domínio de aprendizagem que o aluno adquiriu nas determinadas áreas a que foi submetido. O sucesso da modalidade de ensino requer a adaptação de todos os envolvidos, bem como das instâncias decisórias da unidade escolar onde será implantado o sistema. Teóricos que estudaram a questão da progressão automática referiram-se aos suportes necessários a esse regime, sem os quais não se atingiria o objetivo. Noronha (2001, p. 119) elenca alguns destes suportes: Elaboração da proposta pedagógica com todos integrantes da comunidade escolar; Introdução gradativa dos Ciclos; Garantia do funcionamento dos Conselhos de Escola como espaço efetivo de discussão; Apoio técnico-pedagógico às equipes escolares para discussão e encaminhamento de soluções dos deslocamentos que essa sistemática requer; Discussão coletiva para elaboração de proposta de avaliação e estudo do sentido e significado da avaliação nos Ciclos; Discussão e elaboração coletiva de propostas metodológicas para trabalhar o processo ensino aprendizagem; Previsão de mecanismos que garantam à própria escola fazer o controle e avaliação do sistema de Ciclos; Organização do uso do material didático-pedagógico, biblioteca, midiateca, sala ambiente) no trabalho com Ciclos; Garantia do (HTPC) para discussões sobre a evolução da aprendizagem dos alunos; Garantia dos coordenadores pedagógicos para Ciclos e períodos; Elaboração de um projeto racional de implantação dos Ciclos, com etapas de avaliação, controle, correção de rumos; Discussão com a comunidade (alunos e pais) sobre o significado do ciclo e como se pode contribuir para que este sistema funcione como medida de inclusão escolar; Discussão das formas e processos de recuperação no decorrer do Ciclo. (NORONHA, 2001) 91 A progressão continuada não pode ser executada isoladamente ou burocraticamente, mas deve nortear o projeto político-pedagógico e, por seu intermédio , promover a democratização da educação e o acesso aos códigos que permitirão o exercício real da cidadania. Esta nova concepção rompe com o ranço das práticas herdadas do período militar, em que as avaliações eram carregadas de autoritarismo por parte do professor, como a nota de comportamento que podia reprovar o aluno independentemente do seu rendimento escolar, portanto tinha-se uma avaliação que era: classificatória, seletiva, punitiva e excludente. A progressão modifica a concepção de avaliação, que era vista como oportunidade para punir e passa ter um papel regulador das aprendizagens. Avaliação da aprendizagem na progressão deve acontecer ao longo do processo e deve ser: contínua e cumulativa, diagnóstica e formativa. Para que a progressão continuada, sob a forma de ciclos ou blocos, se traduza em medidas que visem realmente garantir a melhoria da qualidade de ensino, e não simplesmente melhorar os índices oficiais de repetência e evasão escolar, é preciso que haja um envolvimento de todos os profissionais da Educação - professores, administração alunos e pais. Uma reorganização do espaço e do tempo da escola, com a garantia de condições de trabalho para os professores e de estudo para os alunos. Contudo para que a proposta se efetive na prática escolar cotidiana,um novo conceito de avaliação deve constar no regimento escolar, conforme (PARECER CEE nº. 67/98), intitulado "Normas Regimentais Básicas para as Escolas Estaduais‖. Do processo de avaliação, Capítulo I, Dos Princípios: (§ artigo 32) - A avaliação da escola, no que concerne a sua estrutura, organização, funcionamento e impacto sobre a situação do ensino e da aprendizagem, constitui um dos elementos para reflexão e transformação da prática escolar e terá como princípio o aprimoramento da qualidade do ensino. artigo 40) - A avaliação interna do processo de ensino e de aprendizagem, responsabilidade da escola, será realizada de forma contínua, cumulativa e sistemática, tendo como um de seus objetivos o diagnóstico da situação de aprendizagem de cada aluno, em relação à 92 programação curricular prevista e desenvolvida em cada nível e etapa da escolaridade. artigo 41 – A avaliação interna do processo de ensino e de aprendizagem tem por objetivos: §2 diagnosticar e registrar os progressos do aluno e suas dificuldades; §3- possibilitar que os alunos auto-avaliem sua aprendizagem; §4- orientar o aluno quanto aos esforços necessários para superar as dificuldades; §5- fundamentar as decisões do conselho de classe quanto à necessidade de procedimentos paralelos ou intensivos de reforço e recuperação da aprendizagem, de classificação e reclassificação de alunos; §6- orientar as atividades de planejamento e replanejamento dos conteúdos curriculares. Os registros de avaliação serão definidos pela escola, desde que contemplem síntese bimestral e final em cada disciplina art. 42, §1º, portanto, não podendo ser síntese mensal, trimestral ou semestral (por exemplo), não podendo, vigorar no presente ano letivo. art. 8617. Durante o ano letivo de 1998, os resultados da avaliação do rendimento escolar dos alunos serão traduzidos em sínteses bimestrais e finais ...................................(PARECER CEE nº. 67/98) Regulamentando o regime de progressão continuada, o governo paulista esperava diminuir o número cada vez maior de repetência, instituir uma nova concepção sobre o ensino aprendizagem e sobre os processos de aquisição dos mesmos, introduzindo também uma nova concepção de avaliação junto ao professorado, gestores, pais, alunos e comunidade na rede estadual paulista. 17 Artigo 86 - Durante o ano letivo de 1998, os resultados da avaliação do rendimento escolar dos alunos serão traduzidos em sínteses bimestrais e finais, através das menções A, B, C, expressando rendimento satisfatório, e D e E, rendimento insatisfatório. 93 3.6. Política de avaliação do Estado de São Paulo O SARESP (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) foi criado pela da (Deliberação Nº. 27 em 1996), no governo de Mario Covas, com objetivo de avaliar o desempenho da aprendizagem na rede pública estadual, além de estabelecer um mecanismo de avaliação em consonância com o sistema de avaliação nacional, o (SAEB/MEC). O diagnóstico oferecido pelos resultados das avaliações permite ao governo planejar as políticas públicas direcionadas à educação. Permite ainda criar propostas de intervenções para as unidades escolares, na condução de políticas de formação contínua para os docentes da rede pública, e também traçar o perfil de futuros docentes que vierem a ingressar na Rede Estadual. Segundo o governo paulista, a avaliação proporcionava dinamização ao sistema, proporcionando as tomadas decisões pelo Órgão Central de maneira mais racional. As delegacias de ensino e as unidades escolares são beneficiadas pelo sistema de avaliação ao se apropriarem dos resultados para direcionar suas ações. Os motivos para a implantação do sistema de avaliação são: A imprescindibilidade de recuperar o padrão de qualidade do ensino ministrado no Estado de São Paulo; A importância em subsidiar o processo de tomada de decisões que objetivem melhoria da administração do sistema educacional através de resultados avaliativos cientificamente apurados; A necessidade de informar a sociedade e a comunidade educacional sobre o desempenho do sistema de ensino; A necessidade das delegacias de ensino e Unidades Escolares obterem resultados imediatos para tomada de decisões, em seus níveis de atuação. 94 Os objetivos específicos do SARESP são: I-―desenvolver um sistema de avaliação de desempenho dos alunos do ensino fundamental e médio do Estado de São Paulo, que subsidie a Secretaria da Educação nas tomadas de decisão quanto à política Educacional do Estado; II - Verificar o desempenho dos alunos nas séries do ensino fundamental e médio, bem como nos diferentes componentes curriculares, de modo a fornecer ao sistema de ensino, às equipes técnico-pedagógicas das Delegacias de ensino, e às Unidades Escolares informações que subsidiem: a) a capacitação dos recursos humanos do magistério; b) a reorientação da proposta pedagógica desses níveis de ensino, de modo a aprimorá-la; c) a viabilização da articulação dos resultados da avaliação com o planejamento escolar, a capacitação e o estabelecimento de metas para o projeto de cada escola, em especial a correção do fluxo escolar. (SEE-SP- deliberação nº. 27 em 1996) 95 3.7. Característica do SARESP-SP De acordo com a deliberação nº 27 que trata da do SARESP na Rede Pública Estadual de São Paulo a essa avaliação institucional possui algumas características e função assim especificadas: É um processo sistemático, gradativo e continuo de avaliação, com aplicações anuais. Abrange todas as escolas e alunos da rede estadual (obrigatoriamente); e para as escolas das redes municipais e particulares que aderirem ao sistema de avaliação. Propõe uma cultura de avaliação no âmbito da rede estadual. Fornece as escolas resultados imediatos. Estabelece um fluxo de informações entre os órgãos centrais da Secretaria Estadual de Educação (SEE), as Diretorias de Ensino (DE´s), as escolas e as demais. Disponibiliza aos estudantes e suas famílias, bem como à sociedade civil em geral, informações consistentes sobre a qualidade do ensino oferecido no Estado. (SEE-SP- deliberação nº. 27 em 1996) São utilizados dois instrumentos de Avaliação para se obter informações que servirão de subsídios para os docentes: uma prova escrita contendo trinta questões objetivas e uma proposta de redação – sendo narrativa para o Ensino Fundamental, e dissertativo, para o Ensino Médio. As questões são baseadas nas propostas curriculares da SEE e nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNS), Segundo a SEE-SP. O SARESP possibilita estudos longitudinais18; que são aqueles que permitem a análise dos eventos, fatos, fenômenos em uma linha 18 Um estudo longitudinal é uma pesquisa que busca encontrar correlação entre variáveis, através de observações repetidas dos mesmos itens ao longo de um ex 2001 tenso período de tempo frequentemente várias décadas. É um tipo de estudo observacional. São muito usados em psicologia para estudar tendências no desenvolvimento comportamental na vida de um indivíduo, uma vez que acompanham exatamente as mesmas pessoas. Disponível em: http://saresp.fde.sp.gov.br/2005/subpages/conheca.htm) 96 contínua no tempo. Assim, por exemplo, no SARESP podem-se analisar a evolução dos mesmos alunos em anos seguidos: 1996, 1997, 1998 e demais anos. (BITTAR, 2003, p.11) O documento de implantação previa a continuidade da avaliação para os anos de 1997 e 1998. Esse mesmo raciocínio de estudo longitudinal pode ser adotado com relação à escola e à delegacia de ensino. (Resolução nº 27, 03, 1996). A forma de organização desta avaliação envolvia todos profissionais da rede de ensino e era uma estratégia para que todos se sentissem co-participantes do processo, principalmente na análise dos dados e na utilização dos mesmos. A avaliação tinha como alvo os alunos matriculados nas escolas públicas estaduais, seus gestores, professores, coordenadores e comunidade escolar, tendo como objetivo verificar a evolução de aprendizagem e a qualidade de ensino. A avaliação ocorreu de forma gradativa. Em 1996, ano de sua implantação, realizaram os exames a 3ª e 7ª séries e o objetivo era avaliar os conhecimentos do ano anterior, ou seja, das 2ª e 6ª series respectivamente. As provas para o Ciclo I continham questões de Matemática e Português e as do Ciclo II de Geografia, História e Ciências. Em 1997, foram avaliadas as 4ª e 8ª séries e, novamente, as questões eram referentes às disciplinas: Português, Matemática, Geografia e Ciências. E, pela primeira vez, o Ensino Médio é avaliado nas disciplinas de Português (inclusive com prova de Redação) e Matemática. Na edição de 1998, optou-se por fazer a avaliação das 2ª e 6ª séries do Ensino Fundamental nas disciplinas de Português (questões objetivas e prova de redação), Matemática e Ciências; já para o Ensino Médio, as questões foram das disciplinas de Português (questões objetivas e redação), Química, Física, Biologia e História. No ano de 1999, a prova foi suspensa e voltou a ocorrer no ano seguinte, no qual foram avaliados os alunos das 5ª e 6ª séries do Ensino Fundamental e 3º ano do Ensino Médio. Assim, foram avaliados todos os alunos que estavam na Rede 97 Estadual no momento da implantação do SARESP, alternadamente entre os anos de 1996 a 2000. Em 2000, os alunos foram avaliados Português, Matemática, Biologia, Geografia, Ciências e História. A outra inovação é que os professores coordenadores e diretores, nessa edição, também tiveram que responder a um questionário que foi analisado pela Supervisão de Ensino de cada DE. Uma mudança de impacto significativa para os professores ocorreria em 2001 com (Resolução SE nº. 124, de 13 de novembro de 2001), e os alunos passavam a ser avaliados na 4ª e 8ª séries, mas com introdução de questões que avaliassem a competências e habilidades dos alunos. Nesse período, os docentes tiveram cursos de formação contínua para entenderem o novo jeito de avaliar por competências e habilidades. Porém, o que causou grande debate e revolta nos professores foi o novo objetivo para a avaliação nesta resolução: ―Aferir, junto aos alunos, as condições para continuidade de seus estudos no Ciclo II ou no Ensino Médio, uma vez que seus resultados constituirão em indicador essencial para promoção do aluno.‖ (São Paulo, Resolução SE 124/2001, art. 2). Pela primeira vez utiliza-se o SARESP, que é uma avaliação externa a unidade escolar e lhe confere a condição promover o aluno, retirando do professor a responsabilidade de avaliar o resultado do trabalho realizado em sala de aula e de promover ou não o aluno para a série ou ciclo seguinte. Isso teve grande repercussão na rede estadual, gerando protestos e reação da categoria. Ao final da avaliação em 2001, com base nos resultados, a Secretaria de Educação encaminhou os alunos com rendimento insatisfatório para recuperação intensiva em janeiro de 2002. Após, foram submetidos a uma nova avaliação e encaminhados para série seguinte em caso de resultado positivo, conforme (Resolução SE 14, de 18 de janeiro de 2002). No ano de 2002, a secretária de educação do Estado de São Paulo, Rose Neubauer deixou o cargo, pasta que ocupava desde 1995, ano em que teve início a administração Mario Covas. Em seu lugar, assume Gabriel Chalita, e ainda neste ano o SARESP ocorre seguindo o esquema da gestão da secretária anterior, porém 98 o novo secretário não utiliza os resultados da avaliação para promoção dos alunos como fez sua antecessora. Novas mudanças viriam e no ano de 2003, o SARESP se torna obrigatório para todos os alunos da rede estadual, exceto os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). A (Resolução 120/2003) traz no artigo 2º que os alunos seriam avaliados com objetivo de verificar se as aprendizagens para aquele nível ocorreram de forma satisfatória por meio de ―uma prova de leitura e escrita com vistas à avaliação das habilidades básicas previstas ao final de cada série.‖ Nos anos de 2003 e 2004, as avaliações do SARESP mantiveram sem alteração em seu formato da avaliação e mantinha–se a abrangência para toda Rede Estadual de Educação. A alteração ocorreu em 2005 com a introdução da prova de Matemática que havia sido aplicada pela ultima vez em 2000. Em 2006, o Estado de São Paulo está sob novo comando, mas a filosofia e política educacional continua. O novo governo e sua equipe implantaram algumas mudanças no sistema de avaliação, porém de ordem administrativa e de condução, porque a essência da avaliação continuou. Os objetivos, segundo a nova Secretária Maria Lucia Carvalho Vasconcelos, eram avaliar os resultados da aplicação desse sistema na rede e para tanto promoveu um seminário com todos os gestores, supervisores e professores coordenadores, professores de Português, Matemática e os ATP dessas mesmas disciplinas e o objetivo era: 1 -Aprofundar conhecimentos sobre avaliação educacional e escolar; 2 - Refletir sobre as características e objetivos de diferentes sistemas de avaliação; 3 - Refletir sobre as relações entre avaliação externa e avaliação interna; 4 - Discutir, identificar e propor ações que articulem metodologias de ensino e projetos educacionais, tendo em vista o enfrentamento dos dados de desempenho das últimas avaliações . (Caderno de Memórias CENP/SEE/SP, 2007. p. 4) Ocorrem mudanças também na organização do ensino e é criado a Escola de Período Integral. 99 A Secretária da Educação, no uso de suas atribuições, e considerando; as expectativas e as demandas apontadas pelas equipes escolares na operacionalização das diretrizes estabelecidas pela Resolução SE-7, 18/01/2006, quando do processo de implantação da Escola de Tempo Integral; a diversidade dos fatores que, diuturnamente, podem comprometer o desenvolvimento e a qualidade das atividades programadas pelas equipes escolares, com especial referência às Oficinas Curriculares; a necessidade de se otimizar, pedagógica e didaticamente, o funcionamento e a organização da matriz curricular dessas Oficinas; a importância dos ajustes na consolidação da oferta de um ensino público de qualidade, a promover aprendizagens e experiências bem sucedidas. Resolve: Artigo 2º - A Escola de Tempo Integral funcionará obrigatoriamente nos turnos da manhã e da tarde, tendo sua organização curricular constituída por componentes do currículo básico do Ensino Fundamental e por eixos temáticos das Oficinas Curriculares. (São Paulo, Resolução SE 77, de 29-11-2006) A docência da rede estadual não recebe bem tal medida, a insatisfação gerada é muito grande, o que seria uma ótima oportunidade para uma educação escolar integral se transforma, segundo professores da Rede, em depósito de crianças em período integral, considerando que as escolas não possuíam atividades educativas. Em janeiro de 2007, José Serra assumiu a gestão estadual e, em julho do mesmo ano, a (SE) lançou o plano de metas a serem atingidas até 2010, que continha metas ambiciosas como melhora no nível de ensino em 10% com resultado no índice de desempenho nas avaliações estaduais e nacionais do Ensino Fundamental e Médio, definindo também as seguintes ações para o Sistema de Avaliação: Realização, no mês de outubro, do SARESP com avaliação das seguintes séries: Ensino Fundamental (1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, 7ª, 8ª) e Ensino Médio 3ª série. A avaliação das escolas estaduais (obrigatória) e municipais (por adesão) permitirá a comparação dos resultados do SARESP com avaliações nacionais (SAEB e PROVA BRASIL), servirá como critério de acompanhamento das metas a serem atingidas pelas escolas. 100 Participação de toda Rede na Prova Brasil em novembro 2007. Realização de programas de capacitação da rede para participação do SARESP e da Prova Brasil. Capacitação dos professores para o uso dos resultados do SARESP no planejamento Pedagógico, das escolas em fevereiro de 2008. Divulgação dos resultados do SARESP 2007 para todas as escolas, professores país e alunos em março de 2008. Redução de 50% nas taxas de reprovação da 8ª série. Redução de 50% nas taxas de reprovação no Ensino Médio. Descentralização e/ou municipalização do programa de alimentação escolar nos 30 municípios ainda centralizados. (Lei 13123 08/07/2008) Essas e outras medidas complementares fizeram instalar na rede estadual de ensino uma cultura de trabalho por metas. A escola, assim como uma empresa, tem que atingir as metas previstas, ou seja, aumentar o índice de rendimento das aprendizagens que seria comparável ao produto final de qualquer processo produtivo de uma fábrica. O SARESP 2007 é precedido de orientações contidas na (Resolução 68/2007) que lista as seguintes séries: 1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, 7ª, 8ª para a avaliação em Língua Portuguesa e Matemática. Outros programas ocorreram nesse período como: Ler e Escrever, São Paulo faz Escola, Recuperação da Aprendizagem e Diversificação Curricular do Ensino Médio. As metas paulistas anunciadas em 2007 não foram cumpridas de acordo com a reportagem do jornal a Folha Online: Governo de SP não cumpre suas metas para a educação. Gestões Alckmin e Serra não atingiram os índices de redução de repetência e evasão. Em três dos quatro indicadores, a situação chegou a piorar; governo Serra culpa herança da gestão Alckmin, ambos do PSDB.(...) e continua o texto esclarecendo que: O governo paulista não conseguiu cumprir nenhuma das quatro metas a que se propôs para a melhoria na qualidade do ensino na rede estadual, para o período entre 2004 e 2007.O objetivo era, no geral, reduzir a 101 repetência e a evasão dos alunos, tanto no ensino fundamental (1ª a 8ª série) quanto no ensino médio (antigo colegial). Em três dos quatro indicadores, a situação chegou a piorar. Foi o caso, por exemplo, da reprovação no ensino médio: a meta era diminuir de 9,3% para 7% proporção de alunos que repetem o ano. A taxa, porém, subiu para 17,6%. O único que melhorou -evasão no ensino médio- ficou abaixo da meta (era 8,4%, esperava-se 6%, mas Ficou em (6,5%) Os objetivos foram determinados pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB) no Plano Plurianual 2004-2007. (Takahashi, 2008) Em 2008, intensifica-se o estado de tensão com o Programa de Qualidade na Escola (PQE)19,a SEE-SP que tem como objetivo de melhorar a qualidade do ensino no Estado de São Paulo Para realizar a tarefa, o Programa de Qualidade da Escola avalia anualmente cada escola estadual paulista de maneira objetiva, a fim de acompanhar a qualidade do serviço educacional prestado e propõe metas para o aprimoramento da qualidade do ensino que as escolas oferecem, a partir do Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (IDESP)20. Assim, o programa cumpre o papel de apoiar o trabalho das equipes escolares no esforço da melhoria da educação e de permitir que os pais de alunos e a comunidade possam acompanhar a evolução da escola pública paulista. (Nesse ano, a SEE-SP divulgou o IDESP de 2007 da 4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental 9EF) e da 3ª série do Ensino Médio (EM) para cada escola estadual paulista, bem como as metas de qualidade para o ano de 2008. 19 O IDESP (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo) é um indicador de qualidade das séries iniciais (1ª a 4ª séries) e finais (5ª a 8ª séries) do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Na avaliação de qualidade das escolas feita pelo IDESP consideram-se dois critérios complementares: o desempenho dos alunos nos exames do SARESP e o fluxo escolar. O IDESP tem o papel de dialogar com a escola, fornecendo um diagnóstico de sua qualidade, apontando os pontos em que precisa melhorar e sinalizando sua evolução ano a ano. http://idesp.edunet.sp.gov.br/Arquivos/Nota_tecnica2009.pdf. 20 http://idesp.edunet.sp.gov.br/o_que_e.asp acessado em 21/11/2009 Idesp.edunet.sp.gov.br/arquivos/notatecnicapqe2008.pdf Acessado em/21/12/2011//2010 102 Outras mudanças estavam previstas, por exemplo, na avaliação do Ensino Fundamental são acrescentadas as disciplinas de Ciências e na do Ensino Médio, as disciplinas de Biologia, Física e Química. O Conselho de Educação propõe a adesão sem obrigatoriedade das escolas particulares. A estrutura e organização da rede escolar pública estadual, bem como seus objetivos permanecem. Evidencia-se assim, o controle das ações pedagógicas e a materialização dos resultados dessa ação em forma de rendimento escolar. Em 2009, por sua vez, divulgou-se o IDESP 2008 para as mesmas séries, além das respectivas metas para 2009. Além disso, a SEE-SP desenvolveu um programa especial de acompanhamento e apoio às escolas com os menores valores do IDESP nas 4ª e 8ª séries do EF e na 3ª série do EM, em ambos os anos. A nota técnica apresenta as formas de cálculo do IDESP, do Índice de Cumprimento de Metas e do Adicional por Qualidade (IQ), que regem o pagamento da bonificação por resultado. Atingir a meta para ter participação nos resultados significa para o professor, o direito a bônus financeiro. Para que isso ocorra, o rendimento escolar dos alunos não pode ser igual e nem inferior ao ano anterior. Dessa forma, a escola tem que superar seus limites e os dos demais competidores, que são as outras unidades escolares com todos seus problemas. Instaura-se um esquema de competição e policiamento, fazendo nascer outro problema - o da responsabilização pelos fracassos,no qual um professor acusa o outro de não se esforçar para fazer formação, não dar aula direito, de faltar muito. Porém, como ―equipe‖, os fracassos terão que ser socializados e cobrados entre os integrantes da comunidade escolar. Novas mudanças foram introduzidas e a avaliação tornou-se optativa para as escolas particulares, conforme a (Deliberação CEE nº84/2009), dispõe sobre regulação, supervisão e avaliação das instituições de Educação Básica no Estado de São Paulo. O conselho Estadual de Educação, no uso de suas atribuições e com base na (Lei 9394), de 20 de dezembro de 1996, e na (Indicação CEE nº 84/2009) que trás a seguinte determinação: 103 § ―Art. 1º - Os resultados obtidos no SARESP integrarão a avaliação de qualidade das instituições privadas que ministram ensino fundamental e médio no Sistema de Ensino no Estado de São Paulo. § Art. 2º- As instituições deverão inscrever-se no SARESP, na forma determinada por Resolução anual a ser expedida pela Secretaria Estadual de Educação. (CEE84/2009 DOE 20/03/2009, Seção I p.67) Em abril de 2009, Paulo Renato Souza assumiu como novo Secretário de Educação do Estado de São Paulo. No seu discurso na posse do cargo nota-se a opção pela continuidade da Política Educacional com ênfase na avaliação de resultados: Na área da pedagogia os avanços foram notáveis. Desenvolveramse conceitos referentes à capacidade de aprender e se definiram as habilidades e competências necessárias. Neste ponto, ouso dizer que a pedagogia deu um grande salto no conhecimento empírico, pois passou a contar com indicadores quantitativos para fixar metas e objetivos para todo o ensino básico, dentro das novas exigências da sociedade do conhecimento. Mais importante ainda, foram desenvolvidos instrumentos de medição destas habilidades e competências, através de sofisticados sistemas de avaliação de alunos. Foram construídas escalas de aprendizagem que permitem comparações no tempo e no espaço das habilidades e competências dos estudantes. A partir desses avanços é possível contar com instrumentos precisos e de caráter universal para medir aquilo que se espera da escola na sociedade do conhecimento: Desenvolver a capacidade de aprender de nossos jovens. (Discurso de Posse Secretário de Educação SEE-SP ,SOUZA Paulo Renato , 2009) Segundo (IDESP), no resultado do (SARESP) 2009, somente 40,5% das escolas paulistas do ensino fundamental atingiram as metas de qualidade de ensino. A troca de gestores,na Secretária de Educação não provocou mudança na condução das políticas educacionais para o Estado de São Paulo. A transferência de 104 responsabilidade tem sido uma constante nesse modelo de administração: transferese para os pais,os quais que transferem para os professores e esses conclamam a comunidade a participar da escola, a fim de socializar os problemas gerados pelo sistema educacional. Alguns desses problemas foram relatados no seguinte artigo, publicado pela Secretaria de Educação- (SEE-SP) em notícias de 14/04/2009: De acordo com os dados apresentados nesta sexta-feira pela Secretaria Estadual de Educação, os alunos que concluíram o ensino médio recuaram 4,4 pontos na escada de avaliação de rendimento do SARESP, com 269,4 contra 273,8 apresentados no ano anterior em uma escala que varia de zero a 500. Além disso, a porcentagem de alunos que se enquadram no nível insuficiente (abaixo do básico) subiu quatro pontos percentuais, de 54,3% para 58,3%. Dessa forma, conclui-se que mais da metade dos alunos que concluíram o ensino médio no Estado de São Paulo não sabiam o conteúdo básico da disciplina de matemática, e continua: Já os alunos que apresentaram conhecimento suficiente (básico ou adequado) caíram mais de 4%, variando de 45,3% em 2008 para 41,2 no ano passado. Os alunos que se enquadram no nível de conhecimento avançado teve alteração de apenas 0,1% para cima, indo de 0,4% para 0,5%. Para o secretário estadual de Educação, Paulo Renato Souza, a queda no rendimento dos alunos do ensino médio em matemática acontece devido a inúmeros fatores, como a rebeldia dos alunos, complexidade do conteúdo lecionado nesta série e a falta de preparo dos professores. (SEE-SP, 14/04/2009) Não obstante, as sucessivas trocas de secretários e suas políticas educacionais, as reorganizações curriculares (as mais recentes ocorreram em 2006 e 2008) e os resultados obtidos só vêm comprovar a ineficiência da Educação Paulista. Em todas as avaliações externas – (SAEB), (SARESP) e (IDEB) - os estudantes paulistas tem apresentado resultados preocupantes, como reconheceu a própria Secretaria de Educação e lança a Resolução SE-6 tomando medidas: A Secretaria da Educação, considerando que: 105 Os indicadores de aprendizagem do aluno evidenciados nas avaliações externas, principalmente no SARESP, demonstram a necessidade de efetiva ação para melhoria da qualidade de ensino; cabe à escola garantir a todos os seus alunos oportunidades de aprendizagem, redirecionando ações de modo a que os alunos superem as dificuldades diagnosticadas; a recuperação constitui parte integrante dos processos de ensino e de aprendizagem e tem como princípio básico o respeito à diversidade de características e de ritmos de aprendizagem dos alunos; a necessidade de assegurar condições que favoreçam a implementação de atividades de recuperação paralela, por meio de ações significativas e diversificadas que atendam à pluralidade das demandas existentes em cada escola. (Resolução SE 6, de 24- 1 – 2008 - DOE 25/01/2008) Nesse ano em 1996, medidas de caráter intervencionista foram anunciadas pelo governo paulista em forma de uma recuperação para todos os Ciclos que aconteceu no início do período letivo, com material pronto com todas as atividades de recuperação que deveria durar 45 dias. O material didático foi em formato de jornal, motivo pelo qual foi apelidado de ―jornalzinho‖. O impacto foi muito forte porque desorganizou toda a concepção de processo educativo desenvolvido pelo professor e as avaliações ocorreram orientadas por um material estranho aos docentes e sem a participação dos mesmos na elaboração e o primeiro bimestre nesse ano começa somente em março com número de dias letivos menor. O (SARESP) de 2010, não difere dos anos anteriores com relação aos resultados e mantém os índices preocupantes nesta modalidade de avaliação Em 2010 segundo a secretaria foram avaliados todos os alunos do 3º ano, 5º, 7º e 9º anos do ensino fundamental e da 3ª série do Ensino Médio. O resultado mostra que (58,3%) dos alunos do Ensino Médio não adquiriram domínio do conhecimento nas áreas estudadas. A avaliação efetuada pelo SARESP 2010 numa pontuação que vai de 0 a 500 pontos os alunos atingiram a média de 269,4. A Nota de português no 9º ano (antiga 8ª) ficou em 229,2 e 206,6, em Matemática: 106 Níveis de Proficiência 5º EF 7º Níveis de Proficiência de Matemática – SARESPº 5E55ª5 5º EF Nº de proficiencia 5ª EF 7ª EF 9ª EF 3º EM Abaixo do <175 <200 <225 275 Básico 175<225 200 a< 250 225<300 275<350 Adequado 225a<275 250<a300 300<a350 350<400 Avançado > > > > Básico - 275 - 300 - 350 - 400 Tabela VI Fonte: http://saresp.fde.sp.gov.br/2010/pdf/Resultados_gerais_da_Rede_Estadual.pdf A pior situação foi considerada em português no 9º ano do Ensino fundamental, já que esta disciplina possibilita o entendimento das demais. No ano passado, a nota média do Estado em Português, foi de 229,2. A escala vai de (0 a 500) pontos: Níveis de Proficiência 5º EF 7º Níveis de Proficiência de Língua Portuguesa – SARESP- 2010E55ª5 5º EF Nºde proficiência 5ª EF 7ª EF 9ª EF 3º EM Abaixo do Básico <150 <175 <200 250 Básico 150<200 175 a< 225 200<275 250<300 Adequado 200a<250 225<a275 275<a325 300<375 Avançado >250 >275 > 250 >375 Tabela VII Fonte: http://saresp.fde.sp.gov.br/2010/pdf/Resultados_gerais_da_Rede_Estadual.pdf Este é o último (SARESP) em que a Secretaria de Educação encontra-se sob o comando de Paulo Renato Souza. Estes foram os resultados: Médias de Proficiência da Rede Estadual por ano/série e disciplina – SARESP 2010 ANO /SÉRIE Média de Proficiência por Disciplina PORTUGUÊS MATEMÁTICA CIÊNCIAS E CIÊNCIAS DA NATUREZA 5º EF 190,4 204,6 7º EF 203,7 212,1 222,5 9º EF 229,2 243,3 247,9 3ª EM 265,7 269,2 269,2 - Tabela VIII Fonte: http://saresp.fde.sp.gov.br/2010/pdf/Resultados_gerais_da_Rede_Estadual.pdf 107 Em 06/01/2011 a Secretaria de Educação de São Paulo está com novo gestor e passa agora a comandar o secretario Herman Voorwald.Novas medidas são anunciadas na expectativa de melhorar o ensino no Estado de São Paulo. Segundo o novo Secretario de Educação Herman Voorwald, a repetência ou reprovação não solucionam as deficiências do processo de aprendizado, além de serem insuficientes para determinar a capacidade ou não de cada aluno aprender. Muitas vezes a falha está no método e não no indivíduo e, por isso, uma avaliação a cada seis meses, por exemplo, pode apontar o que de fato o aluno aprendeu,alem de indicar o que precisa ser suprido por meio de uma recuperação imediata. 21 A proposta é que a avaliação da Rede Estadual, o SARESP, sofrerá modificações para 2011 e a pretensão é que ocorram duas avaliações por ano e a implantação de mais um ciclo no sistema de progressão continuada. 21 http://www.educacao.sp.gov.br/noticias 108 3.8. As Políticas de Avaliação Externa e o impacto nas práticas avaliativas Com objetivo de eliminar o baixo desempenho educacional e o problema crônico de repetência, a Secretaria de Educação nas últimas décadas tem lançado medidas que causaram uma ruptura nos tênues laços que possuem com os trabalhadores da Educação. A cada medida, a descrença e o descrédito têm avançado sobre o professorado da Rede Estadual Pública de São Paulo. A impotência diante das medidas que prosseguem, ano após ano, a deteriorar o ensino, tem levado alguns professores a abandonar a carreira do magistério. Políticas desenvolvidas desde a década de 90 pelo PSDB e que se mantiveram por quase 20 anos na condução do Estado não provocaram uma evolução nos setores sociais, principalmente na educação. A marca dessa administração são as medidas de cunho liberal, como fica evidente quando analisamos as sucessivas gestões no mesmo partido, entre elas a política de descentralização dos serviços com a municipalização das escolas em que se transfere para municípios a obrigação de oferecer o Ensino Fundamental. O fato é que o esquema intervencionista do governo aponta para a perda da autonomia do professor, que fica sem a possibilidade de decidir sobre o conteúdo e nem sobre as avaliações aplicadas. Todas as ações lançadas desautorizam e não consideram os envolvidos no processo educativo, alunos e professores, que não possuem nenhuma vez e voz. Prova disso é que a notícia sobre a recuperação de janeiro simplesmente foi colocada na web para ciência da Rede, não houve preocupação coma forma de comunicar para os professores e alunos, interessados diretos ou uma ação propriamente pensada na escola. É pertinente lembrar que o sistema de Progressão Continuada, instituído em São Paulo, não se constituiu em um mecanismo eficiente para melhorar a qualidade de ensino. Os herdeiros da progressão continuada povoam as escolas e as ruas, não sendo incomum encontrar os que ―passaram‖ pela escola e dela não levaram nada. Os herdeiros da progressão continuada têm, em sucessivos anos, desde sua implantação, apresentado resultados insatisfatórios, se não em todas as disciplinas, sempre, em alguma disciplina, o aluno não evolui. 109 Tal progressão é esvaziada da sua essência, porque não se faz acompanhar de medidas que propiciem a permanência do adolescente na escola. Sendo assim, a superlotação das salas de aula é incoerente com o sistema de progressão continuada, porque a mesma exige um acompanhamento contínuo das aprendizagens e intervenções quando necessárias. Além das salas lotadas, outros fatores vêm somar para que a construção do conhecimento não se efetive de maneira satisfatória no processo educativo, influenciando a falta de qualidade de ensino, como a baixa remuneração salarial dos docentes que são obrigados a ter uma jornada dupla ou tripla de trabalho para manter a sobrevivência e desprestígio por parte da administração. A característica coercitiva da administração se mostra quando se atrela o desempenho da rede ao bônus pago anualmente aos profissionais da educação pública estadual paulista. Há, também, a intervenção nas ações pedagógicos dos professores como considerar a nota do SARESP como fator determinante para que houvesse a aprovação do aluno, fato que ocorreu em 2001, quando pouquíssimos alunos não foram promovidos, desrespeitando assim o princípio de autonomia pedagógica e a capacidade do professor de avaliar o seu próprio trabalho. As resoluções são publicadas sempre no sentido de reverter os resultados negativos que se tornam constantes na educação paulista, mas as pesquisas têm provado que a superação desta doença crônica na sociedade, que é a exclusão escolar, ainda não foi curada. Em relação ao conselho de classe, pode-se afirmar que tem sido usado como veiculo de legitimação das resoluções e determinações impostas pela política de progressão continuada. Nessa perspectiva, o Conselho não avalia e, do mesmo modo, a idéia de avaliação integral proporcionada por ser instância deliberativa, se perde, pois os professores não têm mais a oportunidade de observar o percurso do aluno em cada disciplina. Desconsideram as intervenções que, embora sejam recomendadas, se concretizem e se efetivem como mecanismo diagnosticador que possibilita nova tomada de decisão-ação. Assim, o conselho somente poderá ratificar a promoção de todos os alunos pelo regime de progressão continuada e eventualmente declarar a retenção de alunos por excesso de falta, confirmando a evasão escolar. 110 As instâncias deliberativas que compõe o sistema escolar - Conselhos de classe/série e o Conselho de Escola - têm se desvirtuado, pois muitas vezes são usadas como uma maneira de expulsar da escola os alunos considerados ―inadequados‖, ―indisciplinados‖, e que não se enquadram nas normas e moldes escolares.Tal ação é sempre amparada pelo discurso de que ―o sistema quer que aprove, então vamos aprovar‖ ou ―sabendo ou não vão passar‖. E assim, um contingente imenso de jovens continua predestinado ao insucesso, por não receberem do poder público uma educação que seja garantia de emancipação e de cidadania. 111 4. REFLEXÃO SOBRE A PESQUISA REALIZADA A pesquisa de campo sobre o Conselho de classe/série foi realizada em escolas públicas, estadual e municipal, a partir do ano de 2009. O corpus da pesquisa é constituído por questionários diferenciados aplicados aos professores, pais e alunos. Foram respondidos no total 135 questionários, sendo cinqüenta questionários por professores, setenta por alunos e quinze pelos pais. Os questionários foram elaborados com o objetivo de verificar: O significado e grau de importância atribuída ao Conselho de classe e série pela totalidade dos entrevistados; Se o Conselho de classe e série pode colaborar para a exclusão social; Se existe correspondência entre as aspirações dos entrevistados ao que de fato acontece nos conselhos de classe e séries; Se as decisões tomadas no Conselho de classe e série tem apresentado resultados em benefício do aluno; Se de fato, o resultado da aprendizagem recebe uma criteriosa investigação e apreciação por parte do coletivo de professores. As escolas pesquisadas foram: EE Carlos Gomes, região central de Campinas/SP que oferece as seguintes modalidades de ensino: Ensino Fundamental e Ensino Médio regular diurno e (EJA) no período noturno; e CEMEP Prof. Osmar Passarelli Silveira, em Paulínia-SP, que oferece cursos técnicos em Turismo, Gestão Administrativa e Informática concomitante com o Ensino Médio (período integral) e Informática modular (período noturno). O perfil dos alunos das referidas escolas é parecido, pois no Ensino Médio regular a faixa etária é de quatorze a dezoito anos no período diurno e no período noturno a idade, para os que ingressam, giram em torno dos dezoito anos, mas não é raro encontrar adultos que retornam à escola para completar sua formação após anos de interrupção. Na Educação de Jovens e Adultos (EJA) o perfil dos alunos tem se modificado nos últimos anos, pois anteriormente a maioria deles eram adultos, agora é formada por jovens com média de dezoito anos. 112 4.1.ANALISE DE PESQUISA E GRÁFICOS DOS PROFESSORES Analisando as respostas dos professores, percebe-se de forma clara a reivindicação para que os seus pares façam uma avaliação global do aluno que possibilite um diagnóstico e encaminhamento de problemas, mas admitem que em muitos casos ocorram injustiças nas decisões. Manifestaram também o desejo de que as avaliações se realizem por áreas de conhecimentos e que o aluno seja avaliado em seus avanços nessas áreas. Pode-se concluir que se há solicitação para que seja feita uma avaliação global é porque esta não está ocorrendo nos conselhos de classe e série. A mesma lógica se aplica a solicitação de coerência e justiça ao se julgar os alunos. A solicitação de avaliação global por parte dos docentes nos leva a observar que a fragmentação é uma constante na educação, as disciplinas não apresentam relação entre si gerando, por conseqüência,um ensino compartimentado. A Interação das disciplinas se faz necessária no sentido de construir uma aprendizagem e avaliação global, que no caso significa uma interdisciplinaridade. Sobre esse tema, Japiassu (1976, p. 74) observa que ―(...) a interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa‖. Tal modalidade de trabalho possibilita a troca de experiência, amplia os horizontes para fora dos limites da própria disciplina e acima de tudo permite um acompanhamento integral do aluno. Ainda sobre o tema, a pesquisadora Ivani Fazenda (1994) considera que para trabalhar de forma multidisciplinar é condição: (...) uma condição especial ante o conhecimento, que se evidencia no reconhecimento das competencias, incompetencias,possibilidades e limites da própria disciplina e de seus agentes, no conhecimento e na valorização suficientes das demais disciplinas e dos que a sustentam. Nesse sentido, torna-se fundamental haver indivíduos capacitados para escolha da melhor forma e sentido da participação e, sobretudo no reconhecimento da provisoriedade das posições 113 assumidas, no procedimento de questionar. Tal atitude conduzira, evidentemente, a criação das expectativas de prosseguimento e abertura a novos enfoques ou apartes. E para finalizar, a Metodologia interdisciplinar parte de uma liberdade cientifica, alicerça-se no diálogo e na colaboração, funda-se no desejo de inovar, de criar de ir além e suscita-se na arte de pesquisar, não objetivando apenas a valorização técnico-produtiva ou material, mas, sobretudo, possibilitando um acesso humano, no qual desenvolve a capacidade criativa de transformar a concreta realidade mundana e histórica numa aquisição maior de educação em sentido lato, humanizante e libertador do próprio sentido de ser no mundo. (FAZENDA, 1994, p.69) A autora confirma desse modo que os conhecimentos transitam entre si com uma intencionalidade, que é a de buscar a formação integral do aluno. Sendo assim a proposta da interdisciplinaridade ainda se faz necessária e pode conduzir a resolução desse problema apresentado pelos professores, que é a necessidade de uma avaliação global. O pedido de autonomia aparece na pesquisa; os professores se queixam da interferência da direção da escola, da Diretoria de Ensino em muitos casos que envolvem a avaliação, promoção e retenção. Sobre as reflexões acima e as situações analisadas no cotidiano escolar foram efetuadas pesquisas acompanhadas de gráficos referentes a cada um dos envolvidos direto ou indiretamente no conselho de classe o professor e o aluno: 114 4.2.GRÁFICOS COM RESULTADO DAS QUESTÕES DOS PROFESSORES Gráfico1 1º Qual sua expectativa em relação ao conselho de classe e serie ao encaminhar para apreciação dos professores os resultados individuais de seus alunos? 25 20 20 15 10 8 8 5 5 MENOS QUE NOS AJUDE A NÃO TENHO INDIVIDUALISMO FORMAR OPINIÃO 5 2 2 0 COERÊNCIA RESPEITO A AUTONOMIA DE AVALIAR QUE A AVALIAÇÃO REFLEXÃO SOBRE SEJA GLOBAL A PRÁTICA PEDAGÓGICA OPINIÃO FORMADA A resposta a questão (um) evidencia o anseio do professor para que haja uma avaliação integral do aluno e que se tenha um o olhar pedagógico que resulte em abrangência completa. Essa expectativa nos fornece um claro indicativo de que a avaliação global desejada não é uma realidade nas escolas pesquisadas. Originamos de uma cultura que concebe o conhecimento de forma compartimentada em que cada professor avalia individualmente a sua disciplina. Não é incomum se ouvir as expressões ―sua disciplina‖, ―minha disciplina‖, a disciplina de matemática, a de física e assim por diante. Isso transmite a idéia de individualidade na condução da aprendizagem. Uma tarefa solitária na maioria das vezes, como assinala o professor B na resposta sobre sua expectativa com relação ao conselho: “Não possuo expectativas porque cada professor somente enxerga a sua disciplina, ou seja, de forma compartimentada”. 115 Quanto à expressão do professor ―menos individualismo‖, remete-nos a forma fragmentária de organização do currículo brasileiro. Ao produzirmos uma formação por disciplina, criamos uma separação dos saberes aprendidos pelos alunos. Almejamos uma avaliação integral a partir de um conjunto de disciplinas sem conexão entre si. O aluno divide-se em várias áreas como se o cérebro tivesse vários compartimentos e estes, no momento em que forem solicitados, serão acionados. E, se para a solução de determinado problema for necessário o domínio dos conceitos de várias disciplinas, o indivíduo tem que acioná-los individualmente e fazer a conexão entre eles para tentar chegar à solução. No entanto, se o estudo e a avaliação fossem efetuados por áreas, os avanços e intervenções de aprendizagens ocorreriam também por áreas de conhecimento e não individualizadas por disciplinas de forma estanques. A cultura da divisão por especialidade (disciplinas) está profundamente introjetada no imaginário pedagógico e por ela fomos condicionados em nossa formação. A aspiração é que os pares não pensem nas especificidades de suas disciplinas, o que reforça a idéia que não existe uma avaliação global. O desejo é que a avaliação ocorra principalmente por área de conhecimento e o percurso nas disciplinas que a compõe fosse objeto de intervenção toda vez que se fizer necessário, e, ao mesmo tempo se faria somatória das notas das diversas disciplinas que comporiam a média bimestral, representando a totalidade apreendida dos conceitos assimilados. A proposta é que a disciplina deixe de ser o foco e passe a compor de fato uma área de conhecimento e para atingir tal objetivo, e deve-se criar uma nova cultura de avaliação a ser incorporada. Sobre as áreas de conhecimento segundo os PCNS (2000) o conhecimento esta divididos em três áreas interligadas, são elas:Linguagens, códigos e suas tecnologias que compreende as disciplinas de Português, Artes, Inglês e Educação Física; Ciências da natureza, Matemática e suas tecnologias com as disciplinas de, Biologia, Física, Química e Matemática e Ciências Humanas e suas tecnologias compõe esta área, geografia,História,Filosofia e Sociologia.(PCNS,p.18.MEC)22 22 116 A orientação dos PCNS com relação às áreas é no sentido de integração dos conhecimentos comuns entre as disciplinas e afirma que o entrelaçamento de disciplina tem como principio: (...) a reunião daqueles conhecimentos que compartilham objetos de estudo e, portanto, mais facilmente se comunicam, criando condições para que a prática escolar se desenvolva numa perspectiva de interdisciplinaridade. A estruturação por área de conhecimento justifica-se por assegurar uma educação cientifica e tecnológica, na qual conceito, aplicação e solução de problemas são combinados com uma revisão dos componentes socioculturais orientados por uma visão epistemológica que concilie humanismo e tecnologia ou humanismo numa sociedade tecnológica. (PCNS, p.19. MEC) E com relação à avaliação dentro da área de conhecimento esta deveria avaliar o trajeto dentro do conjunto das disciplinas que compõe a área de conhecimento e não de forma isolada dentro de sua especificidade. Porque o estudo acontece por área e a avaliação da aprendizagem vem ocorrendo ocorre de forma não integralizada. Quando se fala em avaliação não podemos esquecer que há alguns itens a serem considerados, como: Quais os anseios e dificuldades? O que significa a porcentagem de conhecimentos não assimilados em relação à totalidade assimilada? Como trabalhar o percentual não alcançado, sem prejuízo do conhecimento adquirido durante o percurso da aprendizagem? Como estabelecer precisão nas tomadas de decisões objetivando a aprendizagem e a promoção? Outro ponto a ser lembrado é que a promoção não deve ser o objetivo primeiro do processo educativo, mas sim a conseqüência do desenvolvimento e 117 apropriação do conhecimento pelo aluno e, desta forma, o resultado favorável é a aprovação. Gráfico 2 2º Com relação às decisões tomadas nos conselhos, elas sempre são satisfatórias? 16 14 12 10 8 15 6 4 2 0 2 SIM 5 3 5 7 NÃO , PORQUE OS NÃO, DEVIDO O NÃO, TERIA QUE NEM SEMPRE AS SIM, SEMPRE ASSUNTOS POUCO TEMPO SER MAIS DECISÕES NEM ENTRAMOS EM TRATADOS NEM PARA DECISÕES OBJETIVO SEMPRE SÃO ACORDO SEMPRE JUSTAS CORRESPONDE AO OBJETIVO PROPOSTO PARA UM CONSELHO DE CLASSE Os professores pesquisados concordam que o conselho de classe e série é uma instância avaliativa e com poder decisório, mas é necessário o estabelecimento de objetivos claros nas deliberações para que representem o resultado das discussões, ou seja, a vontade do coletivo de professores. Sendo assim, o saber, as abrangências e os limites desta instância é uma condição para que o conselho de classe cumpra sua função de avaliar. Nesse sentido, os assuntos tipificados por alguns professores como ―paralelos‖ ao ambiente escolar nem sempre correspondem aos objetivos propostos para um conselho, e não deveriam constar da pauta de discussões em prejuízo da avaliação do processo de ensino aprendizagem como evidencia a resposta de três professores. Conforme afirma ainda um dos professores pesquisados: ―Raramente, 118 indicam estratégias, e que pouco ajudam no problema particular de cada aluno em especifico. Geralmente, os conselhos enumeram os problemas dos alunos e os encaminhamentos são protocolares apenas‖. O descontentamento ressalta-se ao observarmos, na (FIGURA 2), que quinze professores solicitaram mais objetividade (―conselho mais objetivo‖), bem como a eliminação de conversas paralelas que é uma rotina nessas reuniões. O resultado é que há ( 38%) dos docentes insatisfeitos com os procedimentos e encaminhamentos do conselho. O resultado evidencia um desvio de finalidade, segundo a resposta de 0% dos professores, é que “nem sempre as decisões são justas” e um dos motivos, alegado por outros 10%, é o ―pouco tempo para discussões dos assuntos pertinentes à evolução do aluno em suas aprendizagens‖. Para 14% dos entrevistados, as tomadas de decisões são satisfatórias; concordam com os procedimentos e resultados dos conselhos, não vislumbrando necessidade de mudanças na condução dos trabalhos, embora reconheçam que há problemas, os participantes sempre entram num acordo. E por fim, 4% dos professores estão absolutamente satisfeitos com os encaminhamentos e resultados dos conselhos de classe, para essa parcela o conselho ocorre dentro da lei e, portanto, não há prejuízos para o aluno. 119 Gráfico 3 3º Na sua opinião, quais assuntos ou atitudes podem atrapalhar o andamento dos conselhos de classe? 12 10 10 10 10 8 8 5 6 4 5 2 2 0 NÃO DISCUTIR LAMENTAÇÕES E NÃO ENVOLVER OPINIÕES ABSTEVE DE SOMENTE ALUNOS CONVERSAS PROBLEMAS CONFLITANTES OPINAR PROBLEMÁTICOS PARALELAS PESSOAIS DOS TEMPO ESCASSO FALTA DE ORGANIZAÇÃO ALUNOS NOS CONSELHOS Nessa questão foi solicitado ao professor que registrasse os eventuais problemas que contribuem para que não haja uma boa condução dos conselhos de classe e série. De acordo com as respostas, temos um quadro geral que reflete a realidade do que ocorre nas reuniões em que 20% dos entrevistados se mostram insatisfeitos com o conselho de classe e série porque são abordados assuntos que consideram inadequados para discussão. Um exemplo é ―discutir somente alunos problemáticos‖, pois consideram que estes casos não têm soluções e assim esperam que a instância tenha funcionalidade, conforme comprova a seguinte resposta: “Que o conselho seja objetivo e menos dispersivo. Perde-se muito tempo com histórias de vida dos alunos, que não acrescentam muita coisa”. Em função desta realidade é que surgem as inúmeras distorções, segundo um dos entrevistados: “Os conselhos de classe deveriam nos ajudar a estabelecer procedimentos para melhorar ou encaminhar determinadas alunos que estão fora do padrão, mas não é o que acontece‖. Sendo assim, o que de fato acontece na prática é o desvirtuamento dessa instância quando não se tem a clareza dos seus objetivos primordiais; quando não há apropriação desse espaço como ideal para fazer o acompanhamento das aprendizagens e praticar uma avaliação positiva e democrática: “Às vezes os conselhos fogem dos objetivos, no momento em que há perda de foco falando da vida dos alunos, sem conseguir resolvê-los”. 120 Somados a estes, há mais 10% de professores que afirmam que o espaço não deveria ser utilizado para falar dos problemas dos alunos - “Não envolver problemas pessoais dos alunos nos conselhos” - porque consideram que as aprendizagens ocorrem de forma independente do envolvimento emocional do aluno. Muitas vezes, é desconsiderado o emocional e foca-se somente no conteúdo, contudo o aluno é um todo e devem-se levar em conta, no momento de fazer a avaliação, todos os condicionantes que possam influenciar o desempenho do aluno para que não se cometam injustiças. Outros problemas colaboram para o insucesso dos conselhos de classe. Para oito professores o tempo é escasso para as discussões e para outros cinco, as opiniões conflitantes nem sempre permitem uma tomada de decisão coerente, expresso na seguinte afirmação: “Nem sempre e nem todos os professores possuem o mesmo sistema de avaliação, o que diferencia muito o resultado final entre as variadas disciplinas, dificultando uma decisão justa e coesa”. Isso vem gerar uma situação muito desagradável de impotência frente às situações que exigem uma tomada de decisão, afetando a falta de organização nos conselhos, de acordo com cinco outros entrevistados. Gráfico 4 4º Com relação às decisões tomadas nos conselhos com relação aos alunos são sempre imparciais? 3 2 2 2 1 SIM NÃO OS ALUNOS NÃO, PORQUE NÃO A HISTÓRIA SIM A MELHOR SÃO MUITO NEM SEMPRE SÃO DE VIDA DO DECISÃO PARA O ROTULADOS ÉTICAS PROFESSOR ALUNO PELOS INFLUÊNCIA PROFESSORES 121 De um total de cinquenta entrevistados, apenas dez responderam a questão acima, sendo que 30% entendem que as decisões são legitimas, contemplam e traduzem o que a coletividade conclui sobre os resultados, considerando serem imparciais e representativas da maioria dos professores e que o colegiado deve analisar o desempenho dos alunos com bom senso e responsabilidade. Outros 20% entendem que as decisões não são imparciais porque fatores como a subjetividade impedem tal avaliação e, neste caso, o histórico de cada professor compromete os resultados cuja conclusão é que ―o histórico de vida do professor influencia nas decisões”. O que vem a confirmar a ideia de que o rendimento não é avaliado em sua essência, mas a avaliação é composta por fatores externos a aprendizagem como as atitudes e comportamento dos alunos frente a escola. Porém, as atitudes que pesam na composição da avaliação não são igualmente analisadas quando o aluno não os possui. Bourdieu (2006) afirma que o ―ethos‖ é o conjunto de valores que o meio transmite. Assim, o comportamento e atitudes são inerentes ao meio social do aluno. Portanto, ao avaliar não queremos os resultados baseados nos valores que já introjetamos, mas devemos avaliar e valorizar o que foi produzido e ampliar seu universo enriquecendo-o com os valores e atitudes desejados para a convivência em sociedade. De acordo ainda com 20% das respostas, os “alunos são muito rotulados pelos professores”.Um dos prováveis motivos para que ocorra tal fato, seja devido a situação de aderência em que nos encontramos em relação ao opressor, como afirma Paulo FREIRE (2009, p.35), assim reproduzimos os conceitos da classe dominadora e é por isso também que as decisões do conselho de classe e série nem sempre são éticas, conforme ressaltam 10% dos entrevistados, uma vez que a nossa ética é também é a do dominador e ao internalizarmos seus princípios e valores, acabamos por repeti-los: Os oprimidos assumem uma postura que chamamos de ―aderência‖ ao opressor. Nestas circunstancias, não chegam a ―admira-lo‖, o que os levaria a objetivá-lo, a descobri-lo fora de si. Ao fazermos esta afirmação, não queremos dizer que os oprimidos, neste caso, não se saibam oprimidos. O seu conhecimento de si mesmos como 122 oprimidos, se encontra, contudo, prejudicado pela ―imersão‖ em que se acham na realidade opressora. ―Reconhecerem-se‖, a este nível, contrários ao outro, não significa ainda lutar pela superação da contradição. Dai esta quase aberração: um dos pólos da contradição pretendendo não a libertação, mas a identificação com o seu contrário. (FREIRE 2009, p.35) As palavras de Paulo Freire aplicam-se a todos envolvidos no processo educativo e, principalmente, para o docente que tem a tarefa de ser o agente mediador entre o conhecimento e o aluno. Pode-se assim efetuar essa mediação no sentido de libertação, da continuidade, e da opressão e manutenção do sistema de coisas. Gráfico-5 5º Existe algum outro componente ou atitude que interfere nas decisões coletivas que não seja estritamente a avaliação da aprendizagem do aluno nas reuniões de conselhos de classe? 4 3 3 2 SIM, A INDISCIPLINA E O COMPORTAMENTO E ASSUNTOS REFERENTE A COMPROMETIMENTO DO POSTURA DO ALUNO ORIGEM E VIDA PESSOAL FALTA DE OBJETIVIDADE ALUNO O conjunto de respostas da questão cinco se refere aos assuntos paralelos que comprometem os resultados e colaboram definitivamente para que não haja objetividade. Para 33% dos entrevistados, o comportamento e postura dos alunos interferem nas decisões sobre o rendimento verificado pelo conselho, evidenciando a dificuldade em se desvincular atitudes e comportamento do conjunto de produção 123 do aluno. Nessa mesma linha de análise, a indisciplina e o comprometimento dos alunos foram componentes citados por 25% dos professores e que têm um peso considerável nas reuniões. Juntando-se a estes assuntos, outros 25% afirmam que tratar da vida pessoal dos alunos contribuem negativamente nas decisões coletivas. Todas as respostas anteriores corroboram com a opinião dos demais 16%que apontam a falta de objetividade nas reuniões, como afirma o professor a seguir: ―Colocar o texto do professor aqui‖. Entende-se a partir dos resultados apresentados que há vários condicionantes que contribuem para que as reuniões do conselho de classe e série se tornem um espaço de conflitos e ausência de encaminhamentos, uma vez que não se mantém o foco na avaliação da aprendizagem, colaborando definitivamente para que a função do conselho não se concretize. Gráfico- 6 6º Os pares respeitam sua decisão ou autonomia para avaliar o seu aluno ou já teve que mudar alguma vez em função de interferência de uma maioria e mesmo de alguém com discurso mais convincente perante o conselho? 5 3 2 SIM, RESPEITAM AS OPINIÕES NEM SEMPRE CONVERGEM JÁ MUDEI DE OPINIÃO DIANTE DE ARGUMENTOS DE COLEGAS O conselho se apresenta, nessa questão como espaço de debate, no qual cada integrante expõe democraticamente suas avaliações individuais para que se possa se chegar a um consenso coletivo sobre a situação do aluno. 124 Com base nas respostas sobre o exercício da autonomia nas decisões dos professores em relação aos seus alunos, 50% afirmam que as idéias nem sempre convergem para um consenso, 30% alegam ter mudado de opinião sobre seus alunos em função de argumentos mais convincentes de colegas. No entanto, tais mudanças frequentemente não são feitas com a finalidade de ajudar o aluno, mas sim de se somar com a dos demais professores, formando um bloco de matérias mínimas para que seja possível a reprovação do aluno, por exemplo. Embora a visão da maioria sobre as decisões do conselho não seja positiva, os 20% restantes acreditam que os pares respeitam suas decisões, como assiná-la um professor: “As decisões refletem o que o grupo de professores entende sobre o processo educativo, portanto são satisfatórias”. Esta afirmação torna-se perigosa porque nem sempre a maioria está correta e corre-se o risco de não refletir a justiça e coerência. Gráfico 77º Você acredita que a participação do aluno no conselho de classe pode trazer alguma contribuição? 4 SIM, ACREDITO 2 NÃO, NUNCA OBSERVEI ALUNOS EM CONSELHO 4 ACHO QUE AS DECISÕES SERIAM MAIS JUSTAS 1 NÃO De acordo com os resultados, 80% dos professores acreditam que a participação dos alunos no conselho de classe e série seria bem vinda, 125 considerando que traria mais transparência ao processo de avaliação, porém os (20%) restantes afirmam nunca terem visto alunos participando dos conselhos, embora isso seja previsto pela legislação educacional. Artigo 20 - Os conselhos de classe e série, enquanto colegiados responsáveis pelo processo coletivo de acompanhamento e avaliação do ensino e da aprendizagem organizar-se-ão de forma a: § I - possibilitar a inter-relação entre profissionais e alunos, entre turnos e entre séries e turmas; Artigo 21 - Os conselhos de classe e série serão constituídos por todos os professores da mesma classe ou série e contarão com a participação de alunos de cada classe, independentemente de sua idade. (SÃO PAULO. Parecer CEE, Nº 67/98, de 18 de Março de 1998) O dado positivo é que, apesar de não se ter a prática de convocar os alunos para fazerem parte do conselho de classe e série, a maioria dos entrevistados entende ser positiva tal iniciativa, pois seria mais democrático e transparente o resultado do colegiado, visto que os alunos fariam parte do processo que avalia sua vida escolar e poderiam entender melhor a sua situação, contribuindo inclusive, para melhorar o processo de ensino aprendizagem. Gráfico- 8 8º Há alguma estratégia que você indicaria para aperfeiçoarmos as reuniões de nossos conselhos? 15 10 5 15 15 10 10 0 presença de não falar dos todos os problemas professores particulares de aluno não NÃO RESPONDEU 126 Na questão oito, quinze professores propõem a presença de todo corpo docente nas reuniões de conselho de classe e série. Uma das leituras possíveis para a análise dessas respostas é de que há uma expectativa de que as deliberações sejam conjuntas e representem de fato a posição do grupo. A aspiração pela presença de todo corpo docente evidencia que isso não ocorre normalmente. Outra sugestão é ―Não falar de problemas particulares de alunos”, o que nos remete a ideia da não compreensão da integralidade do aluno como pessoa pelos entrevistados. Isso não é novidade, pois esse mesmo ponto de vista já foi exposto em uma das respostas a questão três, como se o aluno pudesse ser dividido da seguinte forma: um fora da escola vivendo suas emoções boas ou ruins e outro, que ao adentrar o espaço escolar, se desliga das suas experiências pessoais, como se houvesse uma tecla da aprendizagem que ao ser acionada, fizesse o aluno somente pensar e executar de forma perfeita, as atividades propostas. Os que pensam dessa forma esquecem-se de que o resultado da aprendizagem depende de como o aluno interage fora da escola e que, num dia pode estar bem no outro, pode estar deprimido, podendo apresentar uma instabilidade emocional durante as avaliações. O aluno é um ser biopsicossocial, portanto não podemos desvincular o seu lado social do seu estado psicológico, porque os sentimentos e emoções são inerentes ao ser humano, que é também um ser biológico e está sujeito a constantes mudanças provocadas por um corpo em transformação. Na realidade, o que o professor almeja é um aluno possuidor de vários compartimentos com funções diversas para serem acionadas ou desligadas quando se achar mais conveniente. A ausência de respostas de quinze professores somadas a de dez que responderam simplesmente ―Não‖ indicam que as reuniões de conselho de classe e série são pouco significativas dentro do processo ensino aprendizagem para cerca de 50 % dos entrevistados. Podem-se ainda inferir outras ideias sobre as abstenções: 1°- Que não está claro para este professor o significado do conselho de classe e suas implicações na vida escolar dos alunos; 2º- Que não houve a percepção do conselho como espaço democrático aberto, no qual os professores podem dialogar com seus pares para encontrar soluções para seus alunos e para a melhoria para sua prática pedagógica; 127 3º- Que não admitem que a reflexão sobre a sua prática pedagógica se dá através da interação com os seus pares e que o seu isolamento constitui um dos elementos para o insucesso do aluno; 4º- Que um forte individualismo, provocado às vezes pelo isolamento em sua sala de aula com seus alunos, o leva a tomar atitudes rápidas para problemas do cotidiano que muitas vezes são efêmeros. Há algumas implicações para os alunos, quando o conselho de classe e série não atinge o seu objetivo, a saber: 1º - A avaliação, sob a perspectiva de um único professor, impede avaliação integral do aluno; 2º - Desestímulo ao aluno que não percebe seu esforço valorizado e avaliado de forma justa; 3º - A não observação dos diversos mecanismos utilizados por diferentes professores com vistas a resolver os problemas apresentados em sala, ou seja, a socialização das ideias em beneficio dos alunos; 4º - Prática pedagógica limitada, impossibilitando o enriquecimento do processo pedagógico objetivando o sucesso do aluno. Na realidade, todos os envolvidos no processo educativo saem perdendo quando não há consciência dos significados, da abrangência e dos limites que um determinado instrumento avaliativo possui, porque nenhuma proposta inovadora que vise a promoção de alunos terá resultados significativos se ao aplicá-las houver sectarismo, práticas individualistas e uma concepção de avaliação que não contemple as diferenças individuais e os diversos caminhos para se desenvolver a aprendizagem. 128 4. 2 ANALISE DA PESQUISA E GRÁFICOS DOS ALUNOS A pesquisa foi realizada por meio de um questionário, em que constam duas questões abertas sobre o significado do conselho de classe e sobre a expectativa dos entrevistados em relação ao conselho, e foi aplicado aos alunos de 8ª séries do Ensino Fundamental e do Ensino Médio regular e técnico de duas escolas públicas da Região Metropolitana de Campinas. As respostas catalogadas foram diversificadas, abrangendo desde o desconhecimento a respeito do conselho até uma preocupação com retenção e possíveis injustiças que os alunos poderiam sofrer. QUESTÃO 1º - VOCÊ SABE O QUE É UM CONSELHO DE CLASSE E SÉRIE? 13 14 12 10 10 8 6 4 10 8 6 6 8 5 2 2 2 0 129 Temos o seguinte quadro de respostas para a referida questão: 18,57% dos alunos acreditam que é uma reunião em que os docentes ―discutem o desempenho dos alunos” individualmente e da sua classe Conjunto dos alunos; 8,57% crêem que é o lugar em que se ―discute a situação dos alunos”, isto é, a evolução da aprendizagem, resposta similar a anterior; 14,29% dizem que é espaço onde os alunos são ―julgados‖. Então, para esses adolescentes há uma ideia de tribunal no qual o professor é juiz e os alunos são os réus que serão absolvidos (aprovados) ou condenados reprovados; 14,29% afirmam ser o conselho o “local onde tomam atitudes sobre os alunos”, remetendo à ideia de que o aluno não participa ativamente nas decisões sobre sua vida escolar e fica a mercê das atitudes tomadas pelo corpo de docentes, responsável pela sua trajetória escolar; 11,43% dizem ser ―o lugar onde solucionam problemas”, portanto o conselho é visto como um espaço em que, por meio do diálogo entre o colegiado de professores, de forma democrática, é possível mediar os conflitos e solucionar os atritos inerentes as relações originadas no cotidiano de sala de aula; 7,14% acham que nos conselhos se discute o comportamento do aluno, essa resposta poderia ser somada a dos que pensam que são ocasiões em que se discute o desempenho ou a situação dos alunos, uma vez que isso deveria levar a uma busca de soluções, a se traçar diagnósticos e fazer encaminhamentos com vistas a resolver conflitos; 11,43% não tem ideia do que representa o conselho de classe; 8,57% responderam simplesmente ―sim‖, o que não quer dizer que de fato saibam da importância, dimensão e o impacto que tais reuniões tem na sua vida escolar; 2,86% acham que os professores debatem ideias e outros 2,86% que o assunto é a melhoria do ensino. Ao analisar o conjunto de respostas, nota-se que um número significativo de alunos entende a função do conselho, mesmo que rotineiramente não se faça uma discussão com eles sobre o assunto, o que leva a uma porcentagem menor de alunos perceberem o conselho como um tribunal no qual se formulem sentenças a respeito deles ou não reconheçam a importância desta instância na vida deles 130 Gráfico - 10 QUESTÃO 2º -O QUE VOCÊ ESPERA DO CONSELHO DE CLASSE E SÉRIE? 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 20 18 14 12 2 2 2 Com a questão 2 pretende-se saber qual é a expectativa dos alunos em relação ao conselho de classe e série. Os alunos expressam claramente o que desejam que os professores verifiquem, como exemplificado na resposta a seguir: “Espero que discuta o aprendizado do aluno e das séries, se está bom ou regular, valorizar o desempenho do aluno.” Para o aluno é claro que as discussões devem ser em torno do desempenho das aprendizagens e reafirmam tal pensamento em diferentes respostas. Uma porcentagem de 25,71% dos alunos desejam o debate entre os professores sobre o desenvolvimento da aprendizagem da sala e que o resultado seja a melhoria de ensino para todos, conforme a resposta dada por um dos alunos: “Espero que discutam a situação dos alunos e procurem formas de melhorar a situação de cada um.” As respostas acima se complementam, porque ao verificar o desempenho do aluno individualmente e ao debater a situação deles, isso deveria resultar na melhoraria do processo de ensino aprendizagem. 20% mostram uma preocupação com a justiça na hora da avaliação dos alunos no conselho, somado a 17,14% que reivindicam uma análise individual dos 131 alunos, sem que haja comparação entre o que alcançou plenamente os objetivos estabelecidos e o que não os alcançou; e que fossem avaliados os esforços, os avanços ou os retrocessos dentro de um conjunto de fatores condicionantes que podem apontar resultados diversos. A solicitação de 5,72% de alunos, por meio das respostas ―que organizem a escola‖ 2,86% e ―que solucionem problemas‖ 2,86%, deve ser observada como indicadores de possíveis caminhos para que a escola se torne democrática e que promova a solução de conflitos que não devem ser encarados como apenas como negativos, porque são inerentes ao cotidiano de uma instituição que abriga em seu interior indivíduo com histórias de vida diversificada. Nesse caso, a promoção de uma educação que prime pela convivência com os diferentes tipos de pensamentos deve ser constante, incentivando a valorização do ser humano e sua inserção e acolhida no coletivo na comunidade escolar. 132 4.3 ANALISE DA PESQUISA E GRÁFICOS DOS PAIS Foi aplicado a 15 pais e / ou responsáveis um questionário contendo duas questões que versavam sobre a opinião que tinham a respeito das decisões tomadas pelo conselho de classe e série das escolas onde seus filhos estudam. Gráfico -11 1º) O que você espera do conselho de classe e série com relação as decisões tomadas sobre o seu filho? 6 5 4 6 3 2 3 2 1 2 2 0 Que sejam Uma avaliação Que o aluno Que ajude o Não justos completa melhore o seu aluno prejudique desempenho 133 40% dos pais e responsáveis têm a preocupação, a exemplo dos alunos, de que nos conselhos de classe e série não se cometessem injustiças e que houvesse uma avaliação ―completa‖ de seus filhos. Essa é a vontade confirmada pelas seguintes respostas de um pai: “Espero que o conselho analise o aluno como um todo, seu esforço pessoal e comprometimento” e que “a decisão final seja justa e objetiva”. 13,3 % esperavam que as decisões não prejudicassem os alunos, isso reflete também um desejo por justiça, uma vez que foi a maior reivindicação dos pais para os professores no conselho. Sendo assim, 53,3 % têm a expectativa de que haja justiça na avaliação dos alunos. O que é uma amostra preocupante e nos leva a indagar sobre a representação negativa da escola como um lugar onde se cometem injustiças. Para 20% é necessário que se faça uma avaliação completa. Mas o que isso significa? Vejamos o que uma mãe respondeu: “Eu espero uma avaliação completa, não só no âmbito escolar, mas que seja levada em consideração toda a estrutura do aluno seja familiar, escolar e emocional. E se ele tem alguma deficiência que já vem de outras séries.” Não há dúvida que há o desejo de uma avaliação integral ou global, como se costuma dizer no meio docente. A fala “que o aluno melhore o seu desempenho” 13,3% e que “ajude o aluno” esses 13,3% são igualmente relevantes, pois apontam caminhos que devemos seguir e traz em si o desejo de um acompanhamento contínuo e sistemático do seu desenvolvimento do seu filho. Algumas falas complementares às respostas dos entrevistados merecem atenção e análise, visto que contém uma mensagem implícita. Por exemplo, “que sejam coerentes e justos em suas decisões” converge para o ponto do processo de ensino aprendizagem em que deveria haver um acompanhamento contínuo e intervenções sistemáticas todas as vezes que se fizessem necessárias, pois se o professor notou a dificuldade de um aluno e não fez nada para ajudá-lo, também não pode penalizá-lo por isso. Outro exemplo, “Não, porque muitas vezes as decisões são tomadas pelo que o aluno é, baseado em seu comportamento, se é bonzinho, se si dá bem com todos, mas esquece que o aluno tem que mostrar a grande capacidade como está seu desempenho dentro e fora de uma sala de aula. Porque a gente não vê se o bolo é bom pela sua beleza e sim pelo sabor.” E a mãe completa seu raciocínio de forma brilhante: “Assim o aluno, também não deve ser 134 avaliado pela sua característica e pelo seu comportamento, e sim pelo seu desempenho”. O anseio é que o conselho de classe e série se torne um espaço de avaliação, no qual o aluno seja respeitado em suas individualidades e que seja analisado o seu avanço no processo de ensino aprendizagem; respeitando os tempos de aprender e as respostas individuais. O conjunto das respostas dos entrevistados mostra que para eles é clara a função do conselho de classe e série. Por outro lado, a escola que habita o imaginário popular é a que carece de melhoria e que a educação não se pode desconsiderar os anseios da sociedade em relação ao que considera ideal na instituição escolar. Gráfico - 12 2º) Você considera adequada as decisões tomadas nestes conselhos? 7 6 5 4 3 7 5 2 3 1 0 Sim, pois reprovam os alunos que não estudaram NÃO, NÃO SÃO JUSTAS Não, pois os alunos merem uma chance 46,7% dos pais e responsáveis entrevistados consideram injustas as decisões tomadas sobre seus filhos. Isso reflete a insatisfação dos pais com a instituição escolar ao mostrar discordância sobre os caminhos tomados em relação aos alunos. Para modificar a situação uma das entrevistadas sugere: “Acredito também que a escola tem que ter como parceria (fundamental) a família, pois só assim se tem uma 135 educação e ensino de qualidade.” Tal proposta parece ser um caminho eficaz na busca de soluções, pois o acompanhamento e a participação da família na formação do filho são fundamentais, não só nos momentos em que é solicitado pela escola o seu comparecimento para resolver conflitos em que seus filhos estejam envolvidos, conforme uma mãe registra: “O conselho de classe é interessante, mas não tem como tomar decisão de uma pessoa que só convive em sala de aula por 55 minutos, sendo muito pouco tempo. Por isso todos os conselhos de classe têm que ter a participação dos pais do aluno que irão tomar as decisões. Afinal o que conta não é o aluno ser bonzinho e sim o que ele teve a oferecer como aluno e sua participação em sala de aula.” A escola deve indicar caminhos e procedimentos para que haja uma colaboração da família na construção do conhecimento da criança ou jovem, assim envolvendo-os no processo de ensino aprendizagem, o que trará benefícios a toda a comunidade escolar. Há uma solicitação recorrente, tanto por parte dos alunos quanto dos pais, de que seja feita uma avaliação dos alunos, observando-os individualmente e de forma integral, como assinala o depoimento desta mãe: “Tenho uma filha na 2ª série. Espero que o conselho de classe pense nas necessidades da minha filha, no que será melhor para o seu desenvolvimento físico, psicológico, motor, emocional, enfim que pense em seu desenvolvimento como um todo. Que pense qual a melhor estratégia para seu aprendizado, que corrija falhas hoje para que no futuro seja uma pessoa com caráter. Acredito também que a escola tem que ter como parceria (fundamental) a família, pois só assim se tem uma educação e ensino de qualidade”. Para 20% as decisões do conselho não são justas, pois não há uma aprendizagem com acompanhamento e intervenções sistemáticas. Uma mãe expressa seu ponto de vista afirmando que as decisões dos professores são tomadas baseadas no comportamento dos alunos e não no seu desempenho intelectual. Por fim, 33,3% concordam com as decisões do conselho de classe e série, reconhecendo que os alunos reprovados não estudaram e por isso é justo o resultado recebido. Finalizando o capítulo, podemos verificar que as três categorias trabalhadas: professores, alunos e pais mostram uma angústia em comum, ou seja, a preocupação com relação ao acompanhamento da aprendizagem dos alunos que 136 deve ser individualizado, considerando-se as necessidades educacionais de cada um. Outro ponto de convergência entre os entrevistados é com relação à justiça na avaliação dos alunos, pois muitas vezes o rendimento escolar pode ser afetado por problemas diversos, como indisciplina, desinteresse, falta de concentração, além de fatores emocionais e sociais que podem contribuir para o fracasso escolar. Todos reconhecem a importância dos conselhos de classe e série e por isso desejam maior participação nessa instância deliberativa. Para que haja transparência, coerência e justiça nas avaliações dos alunos, não se preocupando somente com a aprovação ou retenção, é necessário que se aplique a legislação educacional que indica a participação dos alunos nos conselhos, podendo ser estendida também aos pais e responsáveis, havendo uma maior integração entre todas as esferas da comunidade escolar. 137 CONSIDERAÇÕES FINAIS O exercício da profissão de professor de Ensino Fundamental, de Ensino Médio regular e técnico possibilitou condições de observar e questionar a construção e resultados das avaliações no cotidiano escolar, sobretudo durante as reuniões coletivas de docentes. Percebe-se a inconsistência e fragilidade de elementos que compõem as avaliações e tomadas de decisões durante o conselho de classe, que se baseiam em comportamentos e atitudes, definindo para melhor ou pior o conceito do aluno. O conselho é de fato uma instância de avaliação da qual advêm decisões carregadas de subjetividade que se tornam um complicador de dimensões, muitas vezes, inimagináveis na vida dos alunos. Situações que originam indagações relativas à justiça, dada a forma como se torna complexo o ato de avaliar a aprendizagem em que se confundem critérios não mensuráveis - como ―comprometimento‖, ―boas maneiras‖, ―interação com o grupo‖ e ―participação‖ - com mensuráveis, isto é, as produções dos alunos. Não há debate sobre o processo de ensino aprendizagem, pois ficou delineada a seguinte situação apontada pela pesquisa realizada e muitas respostas não evidenciam que o conjunto de professores entende qual é a função primordial do conselho de classe. Em segundo lugar, fica claro que o conselho deliberativo carece de objetividade, aliás, um dos itens mais citados pelos próprios docentes, deixando evidente que a falta de critérios e objetivos previamente estabelecidos para a reunião à torna esvaziada de significado. Trazendo, consequentemente, a questão do tratamento diferenciado que se dá ao aluno em relação ao seu comportamento ou ao conjunto de suas atitudes em detrimento do desenvolvimento de sua aprendizagem efetiva. A falta de expectativa dos professores em relação ao conselho de classe mostra o grau de desgaste que o colegiado, responsável por analisar todo resultado do trabalho pedagógico, está submetido. Por último, não se observa o cumprimento do que a legislação estabelece em relação à função do conselho de avaliar e debater as questões de ensino aprendizagem. A LDB indica que deve haver a participação do aluno nos conselhos 138 escolares, mas nas escolas que foram objeto desta pesquisa isto não ocorre, o que dificulta uma maior transparência nas decisões e debates em torno das questões educacionais. As conclusões acima nos levam a visualizar um colegiado sem unidade, pois não forma um todo em função do ensino aprendizagem que é o objetivo final do conselho de classe, assim a produção de resultados negativos ocorre sucessivamente. Além disso, os docentes não possuem expectativas e não as têm porque não estão claros, ao encaminhar os resultados das avaliações para o conselho, quais os limites e abrangências do colegiado. Nesse estudo, a partir das observações realizadas, evidenciaram-se quais as práticas que contribuem para transformar um espaço, a princípio democrático, em um instrumento de legitimação da exclusão escolar. Na busca de possíveis respostas foi consultada bibliografia com estudos já realizados sobre conselho de classe e série, repetência e exclusão escolar. O embasamento teórico proporcionado pelo estudo da história da educação e das ciências sociais foi necessário para ampliar a visão sobre o tema pesquisado. Para o desenvolvimento foram revisitados os escritos sobre educação que investigaram as causas que mantêm a população brasileira alijada de seu direito à educação e autores que já realizaram este percurso de forma científica, considerados os pioneiros no estudo da exclusão social e escolar no Brasil. Os estudos efetuados evidenciam, através de dados já expostos, que se construiu, ao longo dos anos, uma cultura da repetência que mantém estreita ligação com o imaginário de excelência em educação que influencia os meios educacionais. O que traz preocupação é que há de fato uma exclusão concretizada mediante a maioria dos resultados dos conselhos de classe que, geralmente, determinam a retenção ou exclusão do aluno, geralmente do mais carente e desprovido do capital cultural conforme denunciam as pesquisas realizadas. As causas possíveis de a escola retirar de seu interior os que mais precisam dela estão ligadas ao entendimento claro da finalidade da educação na qual se destaca a socialização do conhecimento. O trabalho não teve a pretensão de esgotar o assunto e nem mesmo dar receita de soluções, mas sim de refletir sobre a temática em questão e provocar uma discussão sobre o assunto, especialmente sobre o papel da escola frente à sua 139 responsabilidade na promoção do ensino e no avanço dos alunos rumo a sua emancipação como pessoa humana. O Brasil desde sua ocupação, segundo demonstraram os estudos referenciados, não teve a educação popular como prioridade e o ensino é oferecido sempre em função de determinados interesses que não são exatamente os do povo. A pesquisa buscou entender o funcionamento do conselho de classe e série, quais as impressões e imagens dos professores, alunos e pais sobre o tema e a conclusão das análises das respostas dos entrevistados tem mostrado que outros fatores condicionantes colaboram para que a escola se torne um meio de exclusão, principalmente a baixa qualidade de ensino que faz os alunos ―passarem‖ pela escola com objetivos diversos: se divertir, fazerem amizades, passear, namorar e outros atos que são reflexos da sociedade atual como usar drogas e agir com violência. Enfim, a escola se torna um espaço para se fazer quase tudo, exceto aprender. Nessa perspectiva, as instâncias escolares em que se deve ter a participação da comunidade, como as (APM´s Associação de Pais e Mestres) e os conselhos de escola, concorrem para agravar a situação já precária das instituições educacionais públicas, mesmo que não sejam as únicas responsáveis, pois não agem para mudar a situação descrita, uma vez que são nessas é reuniões que exercemos a democracia. Os problemas apontados são amplamente conhecidos e as soluções também. Um exemplo são as de âmbito político, como as lutas sociais, não somente as que dizem respeito ao magistério, em que toda a sociedade pode cobrar do Poder Público políticas públicas em benefício dos mais carentes e dos excluídos. Tais ações são fundamentais porque tem reflexo direto em todas as esferas da nossa sociedade e também nas instituições escolares. No cotidiano escolar, uma saída possível seria a prática reflexiva na qual deve haver mais solidariedade e mais desprendimento para socializar as experiências e as soluções, tornando-nos capaz de enxergar e tratar o aluno com mais humanidade, pois somos todos feitos da mesma essência, somos todos iguais. Por último, pode-se apontar uma ação mais concreta: a) aplicar de fato a legislação dos conselhos, inserindo o aluno e dando-lhe vez e voz nos colegiados, b) trazer representantes da comunidade e a participação objetiva dos pais. Por fim, estreitar os laços mediatizados pelo diálogo, porque é dialogando com o outro é que torna 140 possível o reconhecimento,e aproximação entre os seres tornando possível visualizar as necessidades do indivíduo. E a concretude, se efetivará somente por meio de uma prática pedagógica dialógica resolvendo grande parte dos problemas educacionais do cotidiano escolar. É importante observar que segundo Caro 2004: Não havendo soluções miraculosas, sabe-se que, constantemente, as mudanças vêm com a conscientização, o conhecimento, o fortalecimento democrático, o estudo o aprofundamento e as pesquisas cientificam que mostram caminhos de transformação. (CARO, S.M.P., 2004) Nessa perspectiva os caminhos possíveis que se apresentam são os de articulação política, setor público e sociedade na busca de soluções efetivas para os problemas educacionais. A educação por meio de seus representantes nas instituições escolares e sociedade civil podem e devem construir uma educação que atenda as necessidades de toda sociedade. O século XXI espera e necessita que cada um compreenda e coloque em exercício o que há de melhor em si, novos saberes e experiências para que tenhamos educandos com uma formação humana e integral, que observe o todo do indivíduo e veja o homem como de fato é, um ser biopsicosocial e também espiritual . 141 REFERÊNCIAS ALMEIDA JÚNIOR. ―Repetência ou promoção automática?‖. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, n ° 65 v. XXVII 1957. www.rbep.inep.gov.br. ALVES, M. L.; DURAN, M. C. G. Ciclos e progressão continuada na rede pública de São Paulo: avanços ou retrocessos?.São Paulo, 2011 (digitalizado). ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação. Moderna. 2002 ARIÉS, P. História social da criança e da família. Trad. Dora Flaksman. 2. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1981. 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SEE-SP. Lei Estadual nº. 10.403/71. Institui normas e Reorganiza o Conselho Estadual de Educação. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-SP. Lei nº. 4.024/61. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº. 5.692/71. SÃO PAULO. SEE-SP. Parecer CEE/SP nº 67/98. Regimento das Escolas Estaduais. Disponível em http://www.ceesp.sp.gov.br/Pareceres/pa_67_98.htm http://lise.edunet.sp.gov.br/default.htm. Acesso em 2/02/2009. http://www.conteudoescola.com.br/site/content/view/8/57/. Acesso em 03/06/2009. http://www.ceesp.sp.gov.br/Pareceres/pa_67_98.htm. Acesso em /12/03/2010. http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000110.pdf.Acesso-06/02/2011. http://www.ceesp.sp.gov.br/i22-97.htm. Acesso em 08/02/2010. http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/pro/02_construcao.pdf. 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QUESTIONÁRIO II - PROFESSORES 1º - Qual sua expectativa em relação ao conselho de classe e série ao encaminhar para apreciação dos professores os resultados individuais de seus alunos? 2º- Com relação às decisões tomadas nos conselhos, elas sempre são satisfatórias? 3º - Em sua opinião, quais assuntos ou atitudes podem atrapalhar o andamento dos conselhos de classe? 4º - Com relação as decisões tomadas nos conselhos relacionada aos alunos , são sempre imparciais? 5º - Existe algum outro componente ou atitude que interfere nas decisões coletivas que não seja estritamente a avaliação da aprendizagem do aluno nas reuniões de conselho de classe? 6º - Os pares respeitam sua decisão ou autonomia para avaliar, ou você já mudou de opinião alguma vez em função de interferências; como discurso mais convincente perante o conselho? 7º - Você acredita que a participação do aluno no conselho de classe pode trazer alguma contribuição? 8º - Há alguma estratégia para as reuniões de conselho, que você indicaria para aperfeiçoarmos as reuniões? APÊNDICE 4 QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS 1º - Você sabe o que é um conselho de classe e série? 2º - O que você espera do conselho de classe e série?