NUNO DE SOUSA PEREIRA
DIRECTOR DA PORTO BUSINESS SCHOOL
'Não há uma
política consistente
de privatizações
em Portugal
1
Como avalia o aluno Portugal, após
ano e meio de intervenção externa?
Luís Gonçalves
[email protected]
A queda
do investimento privado e a evolução demográfica são as maiores ameaças da
economia portuguesa, aponta o economista. E
o Governo deve lançar já uma campanha de
atracção de capital estrangeiro.
O recuo na venda da TAP pode di-
minuir o interesse dos investidores
nas próximas
privatizações?
É preciso demonstrar que o recuo
na TAP teve um racional económico e estratégico e não foi resultado da pressão política e mediática. Se foi esse o caso, os investidores irão duvidar das futuras
operações e quem está contra as
privatizações fica a saber que, se
pressionar, o Governo cede.
Era necessário
avançar para privatizações de sectores estratégicos
como a energia, águas ou comunicação social?
Existem três razões para fazer
uma privatização: ser um sector
sem falhas de mercado - não havendo por isso razão para o Estado estar presente -, vender para
ter acesso a know-how ou pela necessidade de arrecadar dinheiro.
Até hoje, este último vector tem
dominado os outros dois. Não te-
mos tido uma política consistente de privatizações que garanta
um efeito positivo sobre a econo-
Portugal tem sido o bom aluno,
que se limita a aplicar a prescrição que lhe foi pedida. Há várias
coisas que estão a correr muito
mal, como o crescimento e o emprego. E isso também ocorre, porque a receita que nos está a ser
imposta está errada.
Está na altura de Portugal
questio-
nar o professor?
O Governo devia repensar o programa da privatizações?
Está na altura de dizer que concordamos que é necessário fazer
um esforço para consolidar as
contas públicas e reduzir o endividamento, mas também salientar
Sou, claramente, favorável a privatizações e defendo que o Estado
não deve ter uma presença tão pe-
que o país conseguiu equilibrar
as contas externas. Esse facto tem
de ser reconhecido
e deve ser
sada na economia nacional. Mas
não estou convencido de que a
aquisição de algumas empresas líderes em Portugal, por parte de estrangeiros, tenha sido um investimento estratégico para dinamizar
a actividade destas. Penso que foi,
até agora, um investimento muito mais financeiro e de absorção
de know-how
existente nessas
companhias. Corremos o risco de
acompanhado
mia portuguesa.
estar a privatizar companhias que
estão a ser compradas por outras
empresas estatais.
por uma mudança
de política,
que nos permita desmedidas indutoras de
envolver
crescimento e emprego. Que permita ter um solução de longo prazo e não apenas a solução financeira de curto prazo.
No longo prazo, quais são os maio-
res perigos?
A quebra do investimento privado e a evolução demográfica são
os maiores riscos para a economia portuguesa no futuro. Portugal arrisca-se a possuir empresas
'desactualizadas' após a interven-
Espero que o
regresso aos
mercados não
seja uma vitória
de Pirro
0 emprego tem
sido destruído
de forma
leviana em
Portugal
ff
ção externa. A emigração de muitos jovens e o envelhecimento
da
população pode ter consequências dramáticas no médio e longo
prazo. E até agora, não vejo que
isto esteja a ser ponderado pelas
autoridades. Não podemos ter a
ilusão de que esta geração, que
emigra agora, vai regressar dentro de três ou quatro anos. Muitos
destes jovens são pessoas com características para ser líderes nas
suas áreas e Portugal está a desaproveitar esse potencial. O emprego tem sido destruído de uma forma leviana no país.
Qual a solução?
É importante perceber que vale a
pena estar e investir em Portugal.
Mas isso implica uma mudança
estrutural distinta da que está a
ser feita. O país tem de fazer uma
campanha de captação de investimento estrangeiro, que promova
a captação de recursos humanos
qualificados e isso pressupõe uma
mudança do regime fiscal para as
empresas e a alteração de sectores como a Justiça e Administração Pública. A Função Pública
deve ser indutora de crescimento
económico e não dar a imagem de
algo onde é preciso fazer cortes.
Não é uma contradição o Governo
anunciar que vai reduzir o Estado
Social, ao mesmo tempo que avan-
ça para um 'enorme' aumenta os impostos?
Sim. Essa é mais uma visão de
metas orçamentais e até que ponto a paz social, que tem sido a
curto prazo e puramente financeira, sem ter em conta a estratégia
sobre o papel do Estado na economia. Essa reflexão devia ter sido
feita há dez anos e agora é dominada por um número de 4 mil milhões de euros.
Não se faz uma Yef undação' do Estado com um corte de 4 mil mi-
guês, se
lhões....
É um número muito difícil de alcançar, se não for assente numa
lógica de redefinição do papel Estado. As empresas estão a sofrer
o mesmo fenómeno. Com o asfixiamento financeiro actual, estas
apenas estão focadas no dia-a-dia
e não conseguem implementar
uma estratégia de longo prazo.
do Estado não é pos-
A refundação
sível sem a participação
Seria, claramente,
do PS?
contraprodu
cente.
0 Orçamento
do Estado (OE) para
2013 é realista?
Dificilmente
teremos apenas a
queda de 1% do Produto Interno
Bruto (PIB), algo que terá consequências nas receitas fiscais e na
orçamental, que ficará
aquém do previsto. A diminuição
acelerada dos custos de financiamento pode ser uma ajuda na factura com os juros, mas nunca será
suficiente para compensar a queda nas receitas.
0 primeiro semestre vai ser decisiexecução
vo para o Governo?
Decididamente. Os primeiros seis
meses, ou talvez menos, serão cruciais para perceber o grau de inca-
pacidade
do
cumprimento
das
mais-valia
do
programa
portu-
irá manter, quando
as
pessoas se aperceberem do impacto no seu orçamento das medidas
do 0E2013 em Janeiro e Fevereiro
ou da entrega do IRS, em Março.
A coesão social vai manter-se?
Depende de dois factores: o grau
de fragilidade política do Governo e a percepção pela população
de que existe uma luz ao fundo do
túnel.
A descida
para 7% nos juros da dívida pública é essa luz?
Portugal tem uma perspectiva de
regresso aos mercados hoje muito superior à que tinha há seis meses. Mas isso não é suficiente. O
regresso aos mercados é um meio
e não um fim. O fim é sairmos desta situação de empobrecimento
progressivo. Espero que o regresso aos mercados não seja uma vitória de Pirro.
O FMI deu margem para aliviar a
austeridade na Irlanda e a Comissão Europeia deverá dar um a dois
anos extra a Espanha e Itália, para
corrigirem os seus défices orçamentais. Portugal deve aproveitar
estas folgas e pedir o mesmo?
Tem de aproveitar. Não podemos
ter uma estratégia de 'terra queimada'. De destruir tudo e depois
pensar que, começando do zero,
tudo o que surgir irá resolver os
problemas. O enorme número de
insolvências de empresas não é
apenas um fenómeno de selecção
natural, que elimina as mais ineficientes, está também a generalizar-se e a absorver empresas
que, em situações normais, te-
riam todas as condições para
se-
rem bem sucedidos. As empresas
enfrentam hoje desvantagens,
em termos de fiscalidade e financiamento, face aos seus concorrentes externos que deviam ser
tidas em conta pelas entidades
internacionais.
Perfil
Nuno de Sousa Pereira é,
desde Julho de 2009,
director da Porto
Business School (antiga
Escola de Gestão do
Porto), cargo em que
sucedeu a Daniel Bessa. A
sua ligação à Faculdade
de Economia do Porto
dura, como professor, há
mais de 16 anos.
Leccionou em áreas como
Economia Pública e
Economia da Saúde. Fora
do âmbito académico, foi
director para Portugal no
Banco Europeu de
Investimento (BEI), durante quase dois anos, e foi
ainda director-geral do
gabinete de estudos económicos do Ministério das
Finanças, o GPEARI. Com
uma licenciatura e um
mestrado em Economia,
realizados na Faculdade
de Economia do Porto,
Nuno de Sousa Pereira
possui ainda um doutoramento em Economia da
Saúde, feito na Wharton
School, pertencente à
Universidade da
Pensilvânia, nos EUA. L.G.
PBS quer Top2o europeu
Novas instalações, mais
alunos e oferta formativa são as 'armas' para a
faculdade do Porto atingir a meta em 2023.
eventos estão agendados para Novembro de 2013.
O novo campus implicará um
investimento na ordem dos 14 milhões de euros e vai permitir duplicar o número de alunos, refor-
A Porto Business School (PBS)
quer estar entre as 20 melhores
até
çar a oferta formativa e acelerar o
«projecto de crescimento e internacionalização da escola»,
refere Nuno de Sousa Pereira.
Este é o principal objectivo para
a próxima década da instituição,
que comemora 25 anos de existência e inaugura as suas novas instalações no próximo ano. Os dois
Actualmente, a PBS ocupa o 55° lugar entre as melhores escolas de negócio na Europa, segundo o rankingéiaborado pelo Financial Times, em que
constam também as businessschoolàa.
Universidade Nova e da Católica
escolas de negócios europeias,
dentro de 10 anos.
O director da PBS salienta que,
nesta nova fase, pretende alargar as
parcerias internacionais (a PBS de-
tém uma aliança com a norte-americana Carnegie Mellon, por exemplo) e aformação em inglês nos seus
programas. Hoje, um dos MBA da
PBS - o Magellan MBA -, já é lecintegralmente, em língua
inglesa e um terço dos alunos são
estrangeiros. Sousa Pereira adiancionado,
ta ainda que, com as novas instalações, a escola terá «outra capaci-
dade» para captar novos alunos e
dentro e fora de portas.
professores,
La
Download

Press Review page - Porto Business School