SERVIÇOS HI-TECH
VISIONÁRIOS,
POLÊMICOS E
FUNCIONAIS
• por Fabio Steinberg
Já ouviu falar em ‘uberização’? É a chamada
economia colaborativa, onde aplicativos, como o
Uber e o Airbnb, sinalizam um novo meio de fazer
negócios. Apoiados em smartphones e tablets,
estabelecem linha direta entre consumidores e
fornecedores, oferecendo serviços personalizados.
Atuam nos transportes, como carros de aluguel, na
hotelaria e causam, como tudo que é novo, muito
barulho onde chegam
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SERVIÇOS HI-TECH
S
COMO FUNCIONA O UBER
e há um ano alguém fos-
dores, geralmente antes desagrega-
se picado pela mosca tsé-
dos. Parece pouco, mas esse processo
Quando o passageiro solicita o
-tsé contraindo a doença do
tem revolucionado hábitos arraiga-
carro pelo smartphone, vê no dispo-
sono e acordasse hoje, teria dificul-
dos, pois estabelece alternativas mais
sitivo uma foto com o perfil do mo-
dade para entender o que significa
vantajosas a serviços já consolidados,
torista, a nota dada por outros clien-
Uber e Airbnb, e porque esses dois
como os táxis, no caso do Uber, e hos-
tes aos seus serviços, e localização
nomes até recentemente desco-
pedagem, como a Airbnb.
no GPS. Só entra para esse ranking
nhecidos provocam tanta celeuma
O aplicativo Uber, criado por
motorista com histórico escrutina-
nas cidades onde aparecem. É que,
uma startup americana para orga-
do, que pode ser eliminado caso não
mais que palavras estranhas ou
nizar em um único lugar o acesso
seja bem avaliado. Ele dirige carros
sopa de letras do novo vocabulário
a carros de aluguel, até então autô-
de luxo, veste terno, abre a porta
urbano, elas simbolizam um novo
nomos, surgiu em 2009. Cinco anos
para o passageiro, oferece água,
conceito de fazer negócios, conhe-
depois, já era uma poderosa empre-
revistas e salgadinhos e deixa o ar
cido como economia colaborativa.
sa presente em 300 cidades de 55
condicionado ligado. A corrida sai
O que é isso? Nada mais do que
países, avaliada em US$ 45 bilhões.
5% mais cara que a de um táxi, tem
criar aplicativos que se apoiam na
Hoje, só nos Estados Unidos, engo-
o trajeto definido pelo Google Maps
tecnologia de comunicação e equipa-
liu quase metade dos transportes
e é debitada em cartão de crédito.
mentos móveis, como smartphones
terrestres de viajantes de negócios,
Mas, o aplicativo descobriu que
e tablets, para estabelecer uma linha
e avança em todas as cidades com
a vida de pioneiro não é fácil. A sua
direta entre consumidores e fornece-
serviços diferenciados.
chegada em qualquer cidade tor-
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nou-se senha para provocar a ira de
HOSPEDAGEM COMPARTILHADA
de de se tornar fornecedor oficial de
taxistas. Foi assim na Espanha, na
O mesmo turbilhão que o Uber
serviços de hospedagem alternativa
França, e em dezenas de metrópoles
provoca no universo dos transpor-
em todo o mundo. O roteiro é pareci-
tes individuais, o Airbnb causa nos
Diferente da reação dos taxis-
do. Os taxistas, além de se manifes-
meios de hospedagem. Adotando
tas, os meios de hospedagem perce-
tar ruidosamente contra o aplicativo,
o princípio similar, a empresa se
beram que não seria criando empe-
ganham a seguir a simpatia e adesão
define como um mercado comuni-
dos governos. É aí que prefeituras e
tário para pessoas comuns anun-
estados descobrem que não ganham
ciarem e reservarem acomoda-
um centavo com o aplicativo em ta-
ções pela internet. Trocando em
xas e impostos. “É preciso considerar
miúdos, um aplicativo organiza a
que antes do Uber simplesmente
distribuição, antes individual, de
não havia esse serviço. Nada mais
quartos em residências particula-
natural que falte regulamentação
res. Orquestrados sob a mesma ba-
para algo que não existia”, explica
tuta, proprietários de imóveis ga-
Fabio Sabba, porta-voz do Uber.
nharam em conjunto um poder de
AÇÃO E REAÇÃO
fogo financeiro superior à maioria
das redes hoteleiras. Com comis-
No Brasil, bastou um ano para
sões competitivas entre 6% e 12%,
pipocarem protestos de taxistas
tornou-se a segunda maior startup
nas cidades onde o aplicativo che-
da indústria de viagens, avaliada
gou: Belo Horizonte, Brasília, Rio
em US$ 20 bilhões. O Airbnb sur-
de Janeiro e São Paulo. Em abril de
giu em 2008 em São Francisco, na
2014, o trânsito já caótico paulista-
Califórnia, mesmo berço do Uber.
no foi paralisado com manifesta-
Está presente em mais de 34 mil
ções de 2.500 motoristas incentiva-
cidades de 190 países. No Brasil, já
dos por sindicatos e cooperativas.
conta com 45 mil locações, 20 mil
Como consequência da pressão,
delas no Rio de Janeiro.
uma liminar em favor do sindicato
Na prática, o Airbnb aprovei-
dos taxistas do Estado determinou
tou-se do cochilo da indústria hote-
a suspensão dos serviços da Uber
leira que, com o crescimento, aban-
no país. Além de multas pesadas
donou a essência original: oferecer
pela desobediência, o juiz foi mais
serviço, cordialidade e conforto.
longe: proibiu o Google, a Apple, a
Rápida no gatilho, a empresa virtu-
Microsoft e a Samsung de fornecer
al consegue acionar de imediato o
o aplicativo e exigiu suspender re-
parque instalado de residências dis-
motamente o serviço de usuários
poníveis em um lugar para iniciar
que já o possuam instalado em
seus negócios, enquanto os hotéis
seus celulares. No início de maio,
levam até quatro anos entre a deci-
o Tribunal de Justiça de São Pau-
são de construir até a operação. Um
lo revogou a liminar. Se a briga irá
recente exemplo foi a conquista de
continuar ou não, é outro capítulo
50% do mercado cubano assim que
de uma novela de sobressaltos, re-
o governo americano decidiu nor-
cheada de vitórias e derrotas para
malizar as relações entre os dois pa-
ambos os lados, e que deve se es-
íses (veja box à pág. 14). Tampouco
tender por muito tempo.
deixou passar batida a oportunida-
dos Jogos Olímpicos Rio 2016.
UMA BOMBA CHAMADA
DISRUPTURA
Estamos à beira de uma explosão
provocada pelo excesso de
informação que, ao se digitalizar,
ganhou vida própria e infinitas
frentes, tornando-se difícil
de administrar. O fenômeno
ganhou o nome de disruptura.
Tem como combustível os dados
armazenados no mundo - 90%
criados nos últimos dois anos, e
que devem crescer 50 vezes até
2020. O estopim são os 6 bilhões
de portadores de dispositivos
móveis no mundo, que já alcançam
87% da população do planeta.
Isso afeta em especial as áreas
que lidam com mobilidade – do
turismo à hotelaria, das viagens
aéreas aos transportes terrestres.
O consumidor exige experiências
mais individualizadas, quer se
sentir engajado, deslumbrado
e compreendido em suas
necessidades. Quer ser tratado de
forma personalizada. O desafio
é decifrar essas informações
digitais abundantes, mas
desorganizadas e transformálas em dados úteis para melhor
entender o consumidor. Uma nova
geração de empresas, a começar
pelas startups Uber e Airbnb, já
entendeu isso e explora a nova
tendência com muita competência.
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cilhos operacionais para o aplicativo
afirmou o jornal The New York Times
falar na Netflix e a choradeira atual
que iriam recuperar a preferência
em 1920, para ter que se retratar
das operadoras de cabo.
do consumidor. “Os hotéis precisam
na edição de 1969, quando a Apollo
Tanto o Uber como o Airbnb de-
se reinventar e resgatar a magia da
11 chegou à lua. “Não há qualquer
claram interesse em soluções para
hospitalidade”, afirma o consultor
possibilidade do iPhone obter uma
se adequar à legislação brasileira, a
em economia colaborativa Colin
participação significativa no merca-
exemplo do que já ocorreu nos Es-
Nagy. Menos barulhentos, mas não
do”, foi a declaração desastrosa do
tados Unidos, onde operam sem so-
menos preocupados, os hoteleiros
então todo poderoso presidente da
bressaltos. Afinal, não se rema con-
preferem correr atrás do tempo per-
Microsoft Steve Ballmer ao jornal
tra o progresso. Até porque, mais que
dido. Há os mais pragmáticos, que
USA Today, em 2007.
tecnologia e economia gerada, há um
encontraram fórmulas de conciliar
A resistência a inovações e tec-
ingrediente que alavanca o sucesso
suas atividades tradicionais com a
nologias emergentes se confunde
meteórico dos dois aplicativos. É que
do Airbnb, transformando o proble-
com a história da humanidade.
em seu DNA está a confiança e a se-
ma em oportunidade.
Quando implantadas, causam re-
gurança do consumidor, a garantia
sistência cultural e burocrática,
implícita de que não será enganado
ADMIRÁVEL MUNDO NOVO
para, a seguir, serem assimiladas
nem correrá riscos, algo com deman-
“A uberizacao dos negócios é
até ganhar legislação própria. Foi
da infinita nos dias de hoje.
uma nova indústria”, explica o es-
assim com o primeiro carro que
pecialista Cezar Taurion. De fato.
surgiu em 1769 na França. O com-
Filhos legítimos da economia com-
plexo veículo de três rodas movido
partilhada e colaborativa, tanto Uber
a vapor encontrou imensa má von-
como Airbnb representam tecnolo-
tade dos defensores do transporte
gias disruptoras, capazes de modifi-
a cavalo. Coração da indústria de
car paradigmas consagrados, e com
transporte, os animais eram tão po-
isso obrigar o mundo a se adaptar
pulares que o trem era conhecido
a um novo modelo. O seu exemplo
na época como “cavalo de ferro”, a
será replicado cedo ou tarde nas
bicicleta, como “cavalo de pobre”,
demais áreas da economia, a come-
e o bonde elétrico, como “carroça
çar pela alimentação. Ambos apli-
sem cavalo”. Em 1901, o presidente
cativos tiveram a visão de usar em
do Michigan Savings Bank chegou a
suas áreas os smartphones e tablets
declarar: “O cavalo veio para ficar,
como ferramentas de simplificação,
mas o automóvel é apenas um mo-
capazes de se travestir ao mesmo
dismo”. Uma frase que o tempo se
tempo em GPS, câmera, cartão de
encarregou de ridicularizar. Nem o
crédito, gerador de mensagens ou de
lobby da poderosa indústria eques-
conexão com as mídias sociais, entre
tre de então – em 1880 havia mais de
outras funções. Estima-se que em
200 mil cavalos circulando em Nova
2017 mais de 3 bilhões de pessoas do
York – conseguiu interromper a
planeta terão um smartphone, sen-
evolução tecnológica. O mesmo tipo
do que as 40 milhões de unidades
de reação aconteceu, só para men-
já existentes no Brasil devem quase
cionar situações recentes, quando
dobrar.
surgiram alternativas digitais para
“Um foguete jamais será capaz
produtos consagrados, como a foto-
de deixar a atmosfera terrestre”,
grafia, o livro e a imprensa. Isso sem
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MERCADO CUBANO
Mal o presidente Barak Obama
anunciou as primeiras medidas
para reatar as relações dos
Estados Unidos com Cuba,
interrompidas há 50 anos, em
apenas três meses o Airbnb
angariou mais de mil residências
locais para seu aplicativo. O
processo foi acelerado porque
já havia uma cultura de alugar
“casas particulares” – uma rede
de residências familiares que
servem de receita suplementar
para centenas de famílias. Vai de
apartamentos em Havana a casas
com vários quartos nas praias.
Ao preço médio de US$ 43, soa
como pechincha para milhares
de norte-americanos ávidos em
conhecer Cuba.
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