Casos clínicos Nefrologia Pediátrica UFRN/Departamento de Pediatria Internato em Pediatria II - 2011.2 Ana Karina da Costa Dantas Sessão Interativa Enfermaria # Ambulatório Caso clínico 1 • Lactente de 6 meses, sexo masculino, é levado ao ambulatório de pediatria com queixa de febre há 48horas, adinamia e náuseas, sem sinais de localização ao exame físico. Antecedentes gestacionais: 3 consultas pré natal, não realizou USG gestacional. • Hipóteses diagnósticas? • Que exames vocês solicitariam? Caso clínico 1 • Considerando-se a possibilidade de ser Infecção do trato urinário (ITU), qual exame confirma o diagnóstico? a) EAS b) Hemograma c) Urocultura d) Ultrassonografia de vias urinárias Diagnóstico laboratorial EAS: exame de suspeição (Leucocitúria, hematúria, nitritos, leucoesterases) UROCULTURA: ÚNICO confirmação diagnóstica Caso clínico 1 • Após ter decidido qual o exame ideal para o diagnóstico de ITU em crianças, nessa faixa etária (6meses), qual a forma adequada de coleta da urocultura? a) Saco coletor b) Sonda vesical c) Jato médio d) Punção supra-púbica Diagnóstico laboratorial: Forma de coleta Academia Americana de Pediatria Idade SEM Controle esfincteriano Forma de coleta Punção supra-púbica Sonda vesical Saco coletor* * 85% falso positivo Caso clínico 1 • Devo aguardar o resultado da urocultura para iniciar o tratamento? a) Sim b) Não Tratamento medicamentoso • A introdução do antimicrobiano deve ser realizada logo após a coleta adequada da urocultura (Campbell-Walsh 2007,Pediatrics 2002, An Pediatr 2007) • Escolha do antimicrobiano: empírica Bacteriúria assintomática: CI Cistite: melhora dos sintomas (benigna) Pielonefrite: abordagem precoce → ↓cicatrizes → preservar função Durante o primeiro ano de vida, a incidência de Pielonefrite aguda poderá atingir até 90% dos casos de ITU febril (>38,5º) Marild et al.; 1988 - Hansson & Jodal; 2004 Bacteriologia da ITU • • • • Enterobactérias: E. coli (80-90%) Klebsiella: neonatos Proteus: 30% dos meninos Staphylococcus saprophyticus: 20-30% adolescentes • Providencia, Citrobacter, Streptococcus grupo D, Enterobacter, Pseudomonas, S. aures ou epidermidis, Candida: imunodepressão, mal formação do TU, manipulação cirúrgica, catéteres, cálculos Caso clínico 1 • Que antibiótico você iniciaria empiricamente para o paciente do caso 1? a) Sulfametoxazol-trimetoprin b) Ácido nalidíxico c) Ceftriaxone d) Amicacina e) Nitrofurantoína “A cura da ITU depende principalmente da concentração urinária do antibiótico, mais do que da concentração sérica.” Stamey et al., 1974 MELHOR ANTIBIÓTICO ITU ALTA CONCENTRAÇÃO URINÁRIA Tratamento: escolha antimicrobiana • Alta concentração urinária e baixa concentração intestinal • Erradicação e ↓ recorrência Antibiótico Aminoglicosídeo e Nitrofurantoína Sulfas e Ácido Nalidíxico Cefas (1ª e 2ª geração) e Amoxacilinas TGU TGI +++ - ++ + + ++ Caso clínico 1 • Considerando-se o tratamento do lactente do caso clínico 1, qual a melhor via de administração do antibiótico e por quanto tempo deve ser feito o tratamento? a) IV, 5 dias b) VO, 10 dias c) IV, 7 dias d) VO, 14 dias Tratamento medicamentoso • Duração do tratamento (Revisões sistemáticas Cochrane) – PNA: 7 a 14 dias – Cistite: 3 a 4 dias – Bacteriúria assintomática: contra-indicado • Via de administração do antibiótico – IV, oral ou IV→oral: sem diferença significativa quanto a: tempo de resolução da febre, recorrência da ITU ou dano do parênquima renal Escolha via administração: estado geral, vômitos, dificuldade de aceitação VO Caso clínico 1 • Após o término do tratamento do paciente do caso 1, sendo esse o primeiro episódio de ITU daquele paciente, devemos instituir quimioprofilaxia? a) Sim b) Não Tratamento Profilático • Indicações: – Investigação morfofuncional do TU após 1º episódio confirmado de ITU – Anomalias cirúrgicas do TU (até correção) – Refluxo vésico ureteral (< 5 a 7 anos) – ITUs repetição (TU normal) – Durante realização de UCM • ↓ multiplicação de bactérias uropatogênicas, ↓ predisposição a novos surtos de ITU • Doses subinibitórias: 1/3 a ¼ da dose terapêutica Controvérsias Caso clínico 1 • Após concluir o tratamento da ITU, confirmado por urocultura, que exames (laboratoriais) devem ser solicitados no seguimento? a) Urocultura pós tratamento b) uréia c) creatinina d) todas as opções acima Caso clínico 1 • Após concluir o tratamento da ITU, confirmado por urocultura, que exames (imagem) devem ser solicitados no seguimento? a) nenhum, pois foi 1º episódio b) Ultrassonografia de vias urinárias c) Uretrocistografia miccional retrógrada d) Cintilografia renal com DMSA Investigação por imagem do Trato urinário • Após 1º episódio de ITU confirmada = TODOS • Stephen et al (2008): selecionar população de alto risco de desenvolver dano renal • Finalidade: diagnosticar mal formações ou disfunções miccionais: ↑ risco novos surtos • Anormalidades estruturais do TU/ITU: 50% ♀ e > 50% ♂ no 1º ano de vida • RVU: 40 – 60% das ITU Diagnóstico por imagem USG Rins e vias urinárias (TODAS AS IDADES) DMSA 0-5 anos UCM >5 anos DMSA Toporovski et al, Nefrologia para Pediatrias, 2010 Ultrassonografia das VUs • Triagem • Examinador dependente • Baixo custo • Fácil execução Uretrocistografia miccional (UCM) • Trato urinário inferior • RVU e VUP (♂) • Solicitado após Urocultura Negativa Classificação do Refluxo Representação esquemática do RVU segundo o IRSC Fonte: Toporovski J e col. Infecção do trato urinário na infância, 2006 Cintilografia renal com DMSA •Detecção de cicatriz renal • Solicitado mínimo 3 meses após surto agudo •Pode fazer diagnóstico de pielonefrite • Avaliar função tubular Caso clínico 2 • MCD, sexo feminino, 6 anos, apresenta queixa de disúria, polaciúria e dor em hipogástrio há 3dias, associado a febre (até 38,5 ˚ C). • Exame físico normal, exceto por depressão em região sacral (coluna) • Ritmo intestinal: a cada 3 dias com fezes endurecidas e esforço evacuatório. • Ritmo urinário: apresenta manobras de retenção e molha a calcinha frequentemente. Caso clínico 2 • Considerando-se o diagnóstico de ITU, que exame você solicitaria para confirmação diagnóstica e a forma de coleta adequada? a) Urocultura por sonda vesical b) EAS por Jato médio c) Urocultura por Jato médio d) EAS por sonda vesical Diagnóstico laboratorial EAS: exame de suspeição (Leucocitúria, hematúria, nitritos, leucoesterases) UROCULTURA: ÚNICO confirmação diagnóstica Diagnóstico laboratorial: Forma de coleta Academia Americana de Pediatria Idade SEM Controle esfincteriano COM controle esfincteriano Forma de coleta Punção supra-púbica Sonda vesical Saco coletor* Jato Médio Sonda vesical** * 85% falso positivo ** Vulvovaginites, Balanopostites Diagnóstico laboratorial da ITU em crianças Método Resultado da Urocultura Aspiração supra-púbica Qualquer crescimento bacteriano: ITU confirmada Sonda vesical Jato médio Saco coletor ≥ 103 UFC/ml de um único patógeno: ITU confirmada ≥ 105 UFC/ml de um único patógeno: ITU confirmada ≥ 104 UFC/ml de um único patógeno em crianças sintomáticas: ITU provável. Cultura negativa ausência de ITU ≥ 105 UFC/ml de um único patógeno: ITU provável Faixa Etária Recém nascidos Lactentes Pré escolares e escolares Manifestações clínicas Baixo ganho de peso, anorexia, vômitos, dificuldade de sucção, irritabilidade, hipoatividade, convulsões, pele acinzentada, hipotermia ou vômitos ocasionais, palidez, hipotermia, icterícia FEBRE, baixo ganho pôndero-estatural, diarréia, vômitos, dor abdominal, irritabilidade, choro freqüente (ao urinar), alterações no aspecto , odor ou volume urinário (raros) Febre (+ ou -) Adinamia, dor abdominal, calafrios = PNA Enurese, urgência, incontinência, retenção urinária, disúria, polaciúria, alteração urinária = Cistite Caso clínico 2 • Você iniciaria o tratamento empírico antes do resultado da urocultura? a) Sim b) Não Caso clínico 2 • Que antibiótico você usaria e por quanto tempo? a) Nitrofurantoína por 10 dias b) Ceftriaxone 3 dias c) Cefalexina por 7 dias d) Gentamicina, 5 dias Caso clínico 2 • Você deixaria essa criança com profilaxia após término do tratamento? a) Sim, caso a criança tenha ITUs repetição b) Não, pois a criança tem mais de 5 anos c) Não, se for episódio único e pela idade (> 5 anos) d) Sim, independente da idade e número de episódios Caso clínico 2 • Você solicitaria algum exame (laboratorial e/ou imagem) para investigação após o tratamento? a) Sim. Uréia, creatinina, urocultura + USG b) Não c) Sim. Apenas laboratório. d) Sim. Ur, creatinina, UC, USG e DMSA. Caso clínico 2 • Considerando-se os casos clínicos 1 e 2, teria alguma recomendação geral a ser dada, além do tratamento medicamentoso? a) Orientar recorrência b) Corrigir padrão miccional c) Corrigir ritmo intestinal d) Todas acima Tratamento da ITU • Medidas gerais • Tratamento medicamentoso • Quimioprofilaxia Tratamento: Medidas gerais • Orientação familiar – Explicar recorrência – Abordar fatores de risco • Hábitos urinário e intestinal – Disfunções vesicais: altera fluxo urinário – estase – resíduo pós miccional – Correção e orientação • Importância da leucorréia – 50% sint urinários – 8%: ITU (SV) e 30-40%: oxiuríase Pesquisar e corrigir: Hábito urinário e intestinal Pesquisar e corrigir: Hábito urinário e intestinal Caso clínico 3 • Menina de 7 anos queixando-se de disúria e retenção urinária associado a prurido anal, nega febre. Ao exame físico, hiperemia e secreção vaginal sem odor característico. • Ritmo intestinal: constipação. • Ritmo urinário: adequado Caso clínico 3 • Como você conduziria esse caso? a) Colheria UC por jato média e iniciaria empiricamente o tratamento para ITU. b) Trataria a vulvovaginite e oxiuríase inicialmente e após colheria UC por jato médio. c) Colheria UC por sonda vesical, iniciaria o tratamento para vulvovaginite e oxiuríase e aguardaria o resultado da UC. d) Colheria UC por sonda vesical e iniciaria o tratamento empírico para ITU. ITU: Quando pensar e como diagnosticar Criança suspeita Manifestações clínicas ao diagnóstico Urocultura Exames laboratoriais Hemograma PCR Urina (EAS) ITU: Como conduzir Acompanhamento clínico Laboratorial Imagem Alterações anatômicas e/ou funcionais do TU Importância: prevenir cicatrizes renais e preservar função renal Obrigada!!! “Seja você, a mudança que espera do mundo”. Gandhi [email protected]