Docentes: Prof.ª Dr.ª Constança Pomba Prof. Dr.ª Isabel Fonseca Prof.ª Dr. Miguel Carreira Lisboa, Maio de 2013 Discentes: Ana Rita Moreira 2008031 Bernardo Cabaço 2008112 Bruno Moreira 2008035 Carina Santos 2008116 Eva Cunha 2008034 Maria Manuela Oliveira 2008134 Sarah Féré 2008062 Identificação Truka Cadela Labrador Retriever 8 meses 38 kg Anamnese Incontinência urinária intermitente desde jovem Aumenta quando excitada Donos associaram à introdução de um novo animal em casa Já foi tratada para infecção urinária (diagnóstico pelos clínicos assistentes) Terapêutica com antibióticos, sem melhoria Enurese Nictúria Noctúria Exame Físico Dermatite em redor da vulva e na porção interna dos membros pélvicos Manchas de urina na pelagem ventral da área pélvica Edema da região genital T = 39,4ºC Frequência cardíaca = 125 bpm Frequência respiratória = 17 ccp Auscultação SADR Lista de Problemas Incontinência urinária intermitente Infecção urinária Enurese Nictúria Noctúria Dermatite da região vulvar e porção interna dos membros pélvicos Hipertermia Diagnósticos Diferenciais Incontinência urinária associada a infecção do tracto urinário recorrente… Alterações anatómicas (ureteres ectópicos) Pielonefrite Cistite Urolitíase Disfunção neurológica Diagnósticos Diferenciais Incontinência urinária associada a infecção do tracto urinário recorrente… Distúrbios comportamentais Doença endócrina Disfunção hepática Neoplasia Exames Complementares Pressão arterial Urocultura Hemograma TSA Bioquímicas Radiologia Urianálise Ecografia Pressão Arterial Sistólica: 130 mmHg (131 ± 20) Diastólica: 90 mmHg (74 ± 15) Fazenda, M.I.N. 2009. Estudo da relação entre a obesidade e a hipertensão em cães. Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina Veterinária. Lisboa: Faculdade de Medicina Veterinária – Universidade Técnica de Lisboa Hemograma Parâmetro Resultado Valores de referência Eritrócitos (x106/mm3) 6,72 5,5 – 8,5 MCV (m) 66,1 60 – 77 Hematócrito (%) 40 37 – 55 Leucócitos (103/mm3) 17,8 6 – 17 Hemoglobina (g/dL) 14,3 12 – 18 Plaquetas (103/mm3) 254 180 – 320 Bioquímicas Parâmetro Resultado Valores de referência ALT (U/L) 34,3 20 – 44 AST (U/L) 20,8 10 – 35 FA > 188 < 69 BUN 45 54 – 71 Creatinina 0,9 0,77 – 1,4 Glucose 115 90 – 130 Colesterol 272 116 – 300 Urianálise Parâmetro Resultado Valores de referência Leucócitos 200 - Proteína +++ + Sangue ++ - pH 6 5 – 7,5 Densidade 1020 1015 – 1045 Sedimento Presença de bactérias - Urocultura e TSA Urocultura Escherichia coli > 105 UFC/mL TSA Susceptibilidade: • Enrofloxacina • Amicacina • Nitrofurantoína Resistência: • Amoxiciclina • Amoxiciclina + Clavulanato • Cefovecina • Tetraciclina • Trimetropim + Sulfametoxazol • Gentamicina Radiologia Tórax Projecções: LL e DV SADR Proprietários vão pensar na realização de urografia de contraste Ecografia Transabdominal Dilatação da pélvis renal esquerda Estrutura tubular tortuosa e dilatada poderá corresponder ao ureter, com trajecto dorsal à bexiga Lista de Problemas Leucocitose Aumento da FA Diminuição da BUN Leucocitúria Proteinúria Hematúria Bacteriúria À ecografia: dilatação da pélvis renal esquerda estrutura tubular tortuosa e dilatada Diagnósticos Diferenciais Incontinência urinária associada a infecção do tracto urinário recorrente… Alterações anatómicas (ureteres ectópicos) Pielonefrite Cistite Urolitíase Disfunção neurológica Sinais e Sintomas Incontinência urinária ITU Ureteres ectópicos* Pielonefrite Cistite Urolitíase Disfunção neurológica Dermatite vulvar Manchas de urina pélvicas Edema genital Hipertermia Leucocitose ↑ FA* ↓ BUN* Proteinúria Hematúria Bacteriúria Leucocitúria Dilatação pélvis renal esquerda Estrutura tubular tortuosa dilatada *Animal jovem Agente patogénico ITU ITU Quebra na imunidade ITU Agente patogénico • BACTERIANO, fúngico ou viral • Via ASCENDENTE ou hematogénea • Comensal ou contaminante E. coli – 1/2 a 1/3 Staphylococcus, Streptococcus e Enterococcus – 1/4 a 1/3 Proteus, Klebsiella, Pasteurella, Pseudomonas, Corynebacterium e géneros mais raros – 1/4 a 1/3 75% - 1 espécie 25% -2 espécies 5% - 3 espécies ITU Ag K - capsular Ag O - Somático Hemolisina Fímbrias Plasmídeo-R Aerobactina Baixo tempo de geração na urina ITU Imunidade Características da micção Anatomia Local Local Sistémica Barreiras das mucosas Propriedades antimicrobianas da urina Inata Adquirida Sinais Clínicos – ITU Podem estar presentes ou não Dependem: 1. 2. 3. 4. 5. 6. Virulência Quantidade do agente patogénico Doença concomitante Estado do SI Duração da infecção Local da infecção Tracto urinário posterior: polaquiúria, estrangúria, disúria, hematúria e incontinência Tracto urinário anterior: febre, dor abdominal, hematúria, PD/PU, anorexia e depressão Diagnóstico – ITU Pode se recorrer: Hemograma Bioquímicas Rx simples e de contraste ao abdómen Ecografia Análise do sedimento: Cistoscopia • Leucocitúria: Incubação 24 a 48 horas Urianálise • 0-5 leucócitos/campo – inflamação • se crescimento contagem– cistocentese Urocultura • 0-5 neutrófilos/campo • não crescimento até 72 horas– descartar • 5-10 neutrófilos/campo Fazer cateterização/micção TSA (24 horas) • Bacteriúria: • 1000 UFC/mL– cistocentese • 10 000 UFC/mL – cateterização • 100 000 UFC/mL – micção/compressão manual Exames complementares – ITU Os resultados dos testes laboratoriais e imagiológicos também variam com a localização e duração da infecção e com a presença de uma doença concomitante. Testes Laboratoriais Imagiológico Tacto urinário posterior Tracto urinário anterior Hemograma N Hemograma: leucocitose Urianálise: piúria, hematúria, proteinúria, bacteriúria Urianálise: piúria, hematúria, proteinúria, bacteriúria Urocultura: bacteriúria significativa Concentração de urina inadequada + azotémia (IR) Rins normais Renomegália Estruturas alteradas do TUP Forma anormal do rim Urocistólitos e uterólitos Nefrólitos, ureterólitos Parede da bexiga fina e irregular Pélvis renal dilatada Cistite enfisematosa Evidência de obstrução do fluxo Epidemiologia e Fisiopatologia do Ureter Ectópico Cães, gatos, ratos, equinos e humanos 3ª causa de anomalias congénitas Agnesia uretral, hipoplasia testicular / hidronefrose, megaureter Idade juvenil machos (24 meses) fêmeas (10 meses) 89% a 95% Incontinência urinária Entre 32 a 92% dos casos são de ureter ectópico bilateral Infecções urinárias ocorrem em 64% dos doentes afectados por esta anomalia Epidemiologia e Fisiopatologia do Ureter Ectópico O diagnóstico faz-se por urografia de excreção Intramurais ou extramurais (cão e gato) 1984 um estudo nos EU com 217 casos (Huskies, Newfoundland, Buldog, WHWT, Foxterrier, Miniatura e Poodle) 1995 um estudo no Reino Unido com 174 (Labrador, Golden retriever e Skye terrier) Factor genético e alterações vitamínicas Fisiopatologia do Ureter Ectópico Desenvolvimento embrionário normal do trato urinário do cão O ducto mesonéfrico e o ducto metanéfrico partilham em comum a abertura do ducto excretor quando aperece os primórdios da bexiga. A bexiga cresce, o ducto comum sofre apoptose e o ducto mesonéfrico e metanéfrico adquirem uma abertura individual. Com o contínuo crescimento, o ducto mesonéfrico é deslocado caudalmente e abrse-se na proeminência dorsal da parede da uretra equanto que, as aberturas ureterais permanecem na bexiga. Fisiopatologia do Ureter Ectópico Desenvolvimento embrionário anormal do trato urinário do cão Se o ducto metanéfrico originar-se mais cranialmente do que o normal no ducto mesonéfrico, o ducto metanéfrico não irá antingir e establecer uma abertura individual na bexiga (trigono) O ducto metanéfrico em posição ectópica. O ducto metanéfrico é então arrastado caudalmente com o ducto mesonéfrico que abre na uretra nas fêmeas ou no ducto deferente ou uretra nos machos. Tratamento - ITU ITU simples AB empírica: Amoxicilina/clavulanato; cefalosporinas; trimetropim+ sulfadiazina; enrofloxacina (10 – 14 dias). Diagnóstico incorrecto Terapêutica e posologia incorrecta Resistência bacteriana Factores predisponentes não identificados ITU Complicada Tratamento - ITU Urocultura Antibioterapia Escherichia coli > 105 UFC/mL TSA Susceptibilidade: Enrofloxacina Amicacina Nitrofurantoína Tratamento - ITU Enrofloxacina (fluoroquinolona) Amicacina (Aminoglicosídeo) Nitrofurantoína • Mecanismo de acção: Inibição da sintese de DNA • Espectro de acção: Aeróbios G- (excelente) e G+ (moderada) • Efeitos adversos: Erosão das cartilagens em animais jovens • Formulação: PO e parenteral (5 mg/kg/dia) • Mecanismo de acção: Inibição da síntese proteica • Espectro de acção: Aeróbios G- (excelente) e G+ (limitada) • Efeitos adversos: Nefrotóxico, ototóxico e bloqueio neuromuscular • Formulações: IM/SC (5 – 10 mg/kg TID) • Mecanismo de acção: inibição de sistemas enzimáticos • Espectro de acção: Aeróbios G- e G+ • Efeitos adversos: GI, hepáticos, ... Só Formulação de • Formulações: PO 4mg/kg TID Medicina Humana Tratamento - ITU Antibioterapia: Nitrofurantoína Posologia: 4 mg/kg TID PO 4 a 6 semanas Tratamentos adjuvantes possíveis: Acidificantes (cloreto de amónia ou ácido ascórbico) Antissépticos urinários (mandelato de metenamina) Extracto de cranberry e GAGs Auto-vacinas Tratamento - ITU Monitorização: Urocultura 3 a 5 dias após início da terapêutica 5 a 7 dias após o final da terapêutica Fundamental a eliminação dos factores predisponentes no sucesso da terapêutica Tratamento – Ureter Ectópico Confirmação do DX Tipo de UE Alterações associadas Exames RX contraste Definição do Protocolo CX a realizar Tratamento – Ureter Ectópico Tratamento Cirúrgico Efectuado o mais precocemente afim de prevenir alterações secundárias (hidronefrose e hidroureter) devidas a ITU ascendente ou obstrução Dilatação da pélvis renal esq Estrutura tubular tortuosa e dilatada •HIDRONEFROSE/ITU anterior •HIDROURETER Tratamento – Ureter Ectópico Pré-operatório Correcção de desequilíbrios hidro-electrolíticos e ácido-base AB apropriada Função renal Protocolo Anestésico Se função renal OK – sem restrições Atenção se alteração da função renal Tratamento – Ureter Ectópico Neoureterostomia UE Intramurais Técnica CX Ureteroneocistostomia UE Extramural Nefroureterectomia Lesão renal associada Tratamento – Ureter Ectópico 42 a 67% incontinência pós-cirúrgica Má técnica cirúrgica Agonistas α adrenérgicos: Fenilpropanolamina (1,5 a 2 mg/kg PO BID ou TID Efiderina (inicio: 0,4 mg/kg até 4mg/kg PO BID ou TID Imipramina (2 a 4 mg/kg PO BID Recanalização do ureter distal ocluso (intramural) Hipoplasia Vesical Incompetência do esfíncter vesical Tratamento – Ureter Ectópico Técnicas Recentes Ablação a laser guiada por citoscopia Permite diagnóstico e tratamento do UE intramural Descrita pela primeira vez em 2006 por McCarthy Alternativa com mínima invasão evitando complicações e riscos Allyson Berent (2011): estudo prospectivo avaliando 30 cadelas 77% continentes (follow-up de 12 meses) Prognóstico da ITU O sucesso do tratamento da ITU complicada está dependente do tratamento da afecção primária Intervenção cirúrgica Terapêutica antibiótica Caso contrário: • pH da urina • Antibioterapia nas últimas 4-6 semanas • Extensão da excreção do AB na urina • Agente patogénico é resistente ao AB previamente iniciado mas há melhoria • Não tendo havido melhoria clínica substituiu-se AB • O novo AB não deve ser da mesma classe do que resultou no insucesso terapêutico anterior Prognóstico da ITU RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA ! Prognóstico da ITU ITU como complicação na sequência de doenças endócrinas (que são + frequentes em ) Síndrome de Cushing Síndrome de Addison Diabetes mellitus Em qualquer das situações: • Alteração dos mecanismos de defesa • Depressão da função imunitária • Redução da densidade urinária Realizar sempre urocultura já que 3,5% das ITU’s podem estar ocultadas Prognóstico do Ureter Ectópico Ureteroneocistostomia pode comprometer a irrigação e inervação culminar em hidroureter e hidronefrose A dilatação ureteral resultante de manipulação cirúrgica do ureter geralmente resolve-se em 4-6 semanas após cirurgia Se o hidroureter já existia antes da intervenção? Prognóstico do Ureter Ectópico Disúria é uma complicação a curto prazo colocar um cateter uretral e um sistema fechado de colheita de urina por um período de 24-48h após a cirurgia Se a incontinência permanece por mais de 2 a 3 meses após a cirurgia, deve fazer-se uma urografia de excreção ou cistoscopia para reavaliar os ureteres. O prognóstico para uma completa recuperação do controlo do esfíncter uretral é incerto! PERFILOMETRIA DA PRESSÃO URETRAL Bibliografia Andrew J. Rosenfeld.; Sharon M. Dial. 2010. Clinical Pathology for the Veterinary Team. 1st edition Blackwell Publishing. Ames, Iowa, USA. Berent, A ; Weisse, C. 2011. Correcting Ectopic Ureters in Juvenile Dogs, DVM , 42(5), 105-112. Ettinger, S. J.; Feldman, E. C. 2010. Textbook of Veterinary Internal Medicine. 7th edition. Volume 2. Saunders Elsevier. St. Louis, Missouri, USA. Fazenda, M.I.N. 2009. Estudo da relação entre a obesidade e a hipertensão em cães. Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina Veterinária. Lisboa: Faculdade de Medicina Veterinária – Universidade Técnica de Lisboa Gough, A. 2007. Differential Diagnosis in Small Animal Medicine. Blacwell Publishing. Oxford, UK. Hosten, A. O. 1990. Clinical Methods: The History, Physical, and Laboratory Examinations. 3rd edition. Walker HK, Hall WD, Hurst JW, editors. Butterworths. 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