REFLEXÕES SOBRE ECONOMIA SOCIAL J. Silva Lopes SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social 15 de Abril de 2008 O Conceito de Economia Social (1) Economia Social: conceito pouco preciso. Economia social em comparação com Organizações da Sociedade Civil, Instituições não lucrativas, IPSS. As empresas da economia social são organizações de pessoas que realizam actividades com o principal objectivo de satisfazer as necessidades das pessoas e não tanto de remunerar os investidores capitalistas. O Conceito de Economia Social (2) Com base na definição da Carta de princípios de Economia Social estabelecida pela CEP-CMAF (Conferência Permanente das Cooperativas, Mutualidades,Associações e Fundações). O sector da economia social é o conjunto de empresas privadas organizadas formalmente: • Em que as decisões nas Assembleias Gerais são tomadas na base de “uma pessoa um voto” e não em função da parte de cada um no capital ou no volume de negócios; • Com autonomia de decisão e liberdade de filiação; • Criadas para servir as necessidades dos seus associados através do mercado; • Fornecendo bens e serviços, incluindo seguros e financiamentos; • E em que a distribuição pelos sócios de eventuais lucros ou excedentes realizados, não está directamente ligada ao capital ou às cotizações dos seus associados. O Conceito de Economia Social (3) A economia social também inclui empresas privadas organizadas formalmente, com autonomia de decisão e liberdade de filiação, que prestam serviços de "não de mercado" a agregados familiares e cujos eventuais excedentes realizados não podem ser apropriados pelos agentes económicos que as criam, controlam ou financiam. Economia Social Um dos pilares do Modelo Social Europeu Contribui para a coesão social, democratização das actividades económicas e sociais, desenvolvimento regional, criação de emprego. As Organizações de Economia Social O sector da economia social compreende: • Cooperativas • Mutualidades • Associações • Fundações Também podem ser consideradas organizações de economia social: • Muitas das Caixas Económicas • Caixas de Crédito Agrícola Mútuo Princípios das Organizações da Economia Social (1) Princípios que caracterizam as organizações da economia social (v. p. 6 rel. CESE): • • • • • Organização formal: personalidade jurídica; Primazia da pessoa sobre o capital; Adesão livre e voluntária; Controlo democrático pelos seus filiados: uma pessoa, um voto; Conjugação dos interesses dos filiados ou utilizadores com o interesse geral; Princípios das Organizações da Economia Social (2) • Defesa e aplicação responsabilidade; de princípios de solidariedade e de • Autonomia de gestão e independência em relação aos poderes públicos; • Repartição do excedente segundo critérios colectivos (muitas vezes, por exemplo, em função do montante da utilização dos serviços da organização). Afectação da totalidade ou de parte importante dos excedentes (lucros) à consecução de objectivos de responsabilidade social e/ou de prestação de serviços de interesse para os filiados e/ou de interesse geral. O Peso do Sector da Economia Social (1) Na EU, 11 milhões de empregos; 6% das população activa total. O peso do sector da Economia social é muito menor em Portugal do que na generalidade dos países europeus. Está mais desenvolvido nos países do Norte e do Centro (Países Nórdicos, Holanda, Suíça, França, Alemanha) do que nos do Sul. Em Portugal é muito mais fraco do que na Espanha e na Itália. Mas parece ter mais peso do que nos países de Leste. O Peso do Sector da Economia Social (2) Quadro 3 - Economia Social em Espanha Numero de empresas em 1992 Cooperativas Sociedades operárias Associações de deficientes Mutualidades Outras 51.508 25.555 20.266 3.501 440 1.746 Emprego no Sector da Economia Social (milhares) Total 2.498 N.º de trabalhadores em Cooperativas 318 N.º de agricultores e trab. Coop. Agrícolas 970 N.º de autónomos 354 Emprego indirecto 269 Outros 588 Fonte: CEPES Cooperativas (1) Quadro 1 - Número de organizações cooperativas em Portugal Agrícolas Artesanato Comercialização Consumo Crédito Cultura Ensino Habitação e construção Pescas Produção operária Serviços Solidariedade social Uniões e Federações Total 1998 908 43 52 212 164 237 110 493 22 101 393 60 83 2878 2002 924 51 62 203 146 263 135 565 26 101 447 107 91 3121 2006 903 60 59 189 120 299 144 580 25 101 511 173 96 3260 Cooperativas (2) A não lucratividade como característica essencial Quadro 2 - As maiores 100 organizações copoperativas do Mundo por países França Alemanha EUA Holanda Reino Unido Japão Suécia Dinamarca Suiça Itália Canadá Espanha Portugal Portugal Espanha 26 17 14 9 8 7 4 3 3 3 3 2 0 Lactogal em 262º lugar Mondragon: 264 emprersas,finanças, indústria retalho O 7º maior grupo económico espanhol Mutualidades (1) • • • • Sistema de protecção social que visa o auxílio mútuo das pessoas. Solidariedade. Auxílio recíproco. Ausência de fim lucrativo. Solidariedade. Democraticidade. Independência. Liberdade. Mutualidades na Europa Falta de dados estatísticos. Operam essencialmente no Sector do Saúde, na base de contratos com o Estado.Algumas também actuam no sector dos complementos de reforma. Algumas têm grande peso no sector da saúde dos respectivos países. Em Portugal Grande desenvolvimento a partir de meados do Século XIX até à década de 1930. Mutualidades (2) Quadro 4 - Número de Associações Mutualistas 1000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 1900 1909 1920 1930 1941 1950 1961 1981 1991 2006 Mutualidades (3) Actualmente: cerca de 80 Associações. Na sua maioria são extremamente pequenas (associações locais, por vezes ao nível de freguesia; associações com poucos membros ligadas a profissões; lutuosas). Muitas das que estão registadas já não funcionam. O Montepio contribuirá com mais de 80% e até talvez 90% para os activos totais do sector. Haverá cerca de 700.000 associados nas Associações Mutualistas. No Montepio há actualmente cerca de 410.000 associados. Diferentemente do que acontece na Europa, têm fraco peso no sector da saúde, embora várias delas se dediquem essencialmente a esse sector. Por causa do Montepio, há grande concentração em esquemas de previdência social e de poupança de largo prazo. Nessa área, há forte concorrência com o sector segurador e com bancos e outras instituições financeiras. Caixas Económicas Quadro 5 - Bancos de poupança e Caixas económicas no final de 2006 Membros do ESBG * Milhares de milhões de € Activos totais * Total dos Membros do ESBG Alemanha Espanha Reino Unido * França Áustria Noruega Holanda Portugal** 5216,7 2379,1 808,5 452,7 594,1 127 180,3 68,1 17 Quota de N.º de Cx Nº de Nº de mercado em Agências Pessoal Económicas agências** pessoal** % Activo 871 84,3 971,3 18,9 31,3 25,3 474 16,8 301,0 35,5 46 22,4 117,9 39,0 1 2,1 70,0 30 4,3 54,4 57 1,1 12,9 17,5 56 0,9 15,6 1 0,2 5,3 2*** 0,3 3,2 6,0 6,0 * Reino Unido: Lloyds TSB Group ** Portugal valores aproximados, sem a CGD *** Montepio e Cx. Ec. Angra do Heroismo. Há mais 6 registadas # Em Espanha a quota de mercado da totalidade das Caixas Económicas andará pelos 50% Caixas de Crédito Agrícola Mútuo Há 111 CCAM com activo total de cerca de 10 mil milhões de € Enquadramento Jurídico (1) Reconhecimento por parte do Governo, como um sector com características próprias, que carece de enquadramento jurídico específico. O tratamento jurídico específico não existe em todos os países. • Constituição: Portugal é um dos poucos países em que há reconhecimento constitucional. • Legislação regulamentar: nalguns países talvez excessiva; em Portugal relativamente abundante, mas muitas vezes com imperfeições e necessitando de actualizações (ex. Código Mutualista). • Um objectivo fundamental: definir a linha divisória entre Organizações de Economia Social e outras. E estabelecer as regras do funcionamento das Organizações da Economia Social e indicar os benefícios que eventualmente lhes devam ser atribuídos. Enquadramento Jurídico (2) Legislação da EU Em 1989 foi apresentada pela Comissão uma Comunicação ao Conselho sobre “As empresas de economia social e a realização de um mercado europeu sem fronteiras” que propunha estatutos europeus para as cooperativas, associações e mutualidades. Estatuto para uma sociedade cooperativa europeia (actividades transnacionais das cooperativas) Discutiu-se o Estatuto Europeu das Sociedades Mútuas (não se tem avançado) Políticas de Apoio a Organizações da Economia Social A Economia Social pode contribuir significativamente para ajudar a resolver problemas de desequilíbrios sociais e económicos e de ajudar a atingir vários objectivos de interesse geral. • Políticas institucionais • Políticas de difusão • Formação e Investigação • Políticas financeiras • Políticas de apoio com serviços concretos • Políticas de procura A nível europeu, apoiar: • redes de cooperação • sistemas de cooperação aberta (best practices, benchmarking) • investigações e ligações com Universidades Benefícios Fiscais Muito frequentes. Os benefícios fiscais são especialmente justificados em organizações sem fins lucrativos e organizações que na distribuição dos seus excedentes dêem prioridade a actividades de interesse social ou geral. A concessão de benefícios fiscais é duvidosa se os resultados aproveitarem essencialmente os associados que não tenham especiais carências económicas e se não se destinarem a encorajar a oferta de “bens de mérito” (p.e. esquemas de previdência, acções de defesa do ambiente, riscos de saúde mais difíceis de cobrir pelas seguradoras). Não é claro que os benefícios fiscais atribuídos a certas organizações de economia social, sejam justificados (ex. cooperativas de construção, cooperativas de ensino) Falta de Conhecimento e de Interesse do Público pela Economia Social (1) Influência ideológica a) Esquerda: grande peso atribuído a objectivos colectivos e de solidariedade: • Proudhon • Owen • Anarquismo b) Direita: • Primazia a valores individuais • Liberdade económica total. Protecção dos direitos de propriedade individual • O mercado de empresas capitalistas privadas produz sempre os melhores resultados Capital Social O conceito de capital social engloba: • redes e normas de cooperação social • confiança social Falta de Conhecimento e de Interesse do Público pela Economia Social (2) Número de associações em que os cidadãos estão envolvidos (%) Noruega Dinamarca Holanda Alemanha Portugal Espanha Moldávia Roménia Nenhuma Uma Duas 3 ou mais Total 4,6 9,5 13,1 72,8 100,0 7,9 14,9 19,8 57,4 100,0 10,9 11,5 15,6 62,0 100,0 30,2 27,1 21,0 21,7 100,0 46,6 29,7 12,7 11,0 100,0 51,6 23,9 11,6 12,8 100,0 80,2 14,4 2,8 2,5 100,0 80,4 13,6 4,0 2,1 100,0 Fonte: Viegas, J. M Leite (2004) O envolvimento dos portuguese é maior nas associações "de solidariedade social e religiosas" e nas "desportivas, culturais, e recreativas". É muito fraco nos outros tipos de associações:"consumidores", defesa de direitos de soberania", "pais e moradores", "intersses empresariais e financeiros", "sindicais e socioprofissionais" e "partidos políticos" Eficiência (1) O interesse pelas organizações da Economia Social fundamenta-se: • em razões ideológicas • em razões económicas Razões económicas: • serviços específicos que o sector capitalista não oferece ou oferece pouco • qualidade do serviço (p.e. serviços de proximidade) • preços • distribuição dos excedentes na proporção do valor dos serviços utilizados A efectividade das razões económicas depende da eficiência produtiva. Eficiência (2) Problemas de eficiência nas Organizações da Economia Social: • economias de escala • gestão pouco profissional (dirigentes voluntários ou mal pagos, resistência ao recrutamento de gestores qualificados que não sejam associados) • pessoal pouco qualificado (baixos salários, dificuldades em atrair ou reter os mais capazes) • mistura de rendibilidade com responsabilidade social Soluções: • colaboração entre organizações do mesmo ramo • alterações estatutárias • apoios do Estado (formação, fornecimento de alguns serviços) Mais peso à gestão e menos à ideologia divorciada do cálculo económico.