RELEVANCIA E DILEMAS DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO Alberto Albuquerque Gomes 04/11/2015 1 1. Primeira grande questão: preocupação de alguns autores com um balanço histórico a) Gouveia (1971, 1976), que examina a pesquisa educacional desde seu início como atividade regular, com a criação do Inep em 1938, até a década de 70; b) Gatti (1983), que estende a análise até 1982; d) "Avaliação e perspectivas na área de educação" (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – ANPEd, 1993) - 1982 a 1991. e) Cunha (1979,1991) f) Mello (1983) g) Warde (1990). 04/11/2015 2 2. Problemas apontados a) Primazia do ensino sobre a pesquisa no âmbito das universidades, deixando aos docentes pesquisadores pouca disponibilidade de tempo para a pesquisa e a orientação; b) Ausência de equipes com articulação/continuidade suficientes para o estabelecimento de linhas de investigação que favoreçam a produção de um corpo sólido e integrado de conhecimentos. c) Falta de apoio efetivo das universidades e das agências de fomento ao desenvolvimento de pesquisas. 04/11/2015 3 3. Deficiências apontadas a) Fragilidade das revisões bibliográficas de teses e dissertações; b) Pobreza teórico-metodológica na abordagem dos temas, com um grande número de estudos puramente descritivos e/ou "exploratórios"; c) Pulverização e irrelevância dos temas escolhidos; d) Adoção acrítica de modismos na seleção de quadros teóricometodológicos; e) Preocupação com a aplicabilidade imediata dos resultados; f) divulgação restrita dos resultados e pouco impacto sobre as práticas. 04/11/2015 4 4. A centralidade da questão teórico-metodológica a. Pobreza teórico-metodológica + adesão aos modismos + preocupação com a aplicabilidade imediata dos resultados. b. Muitos pesquisadores iniciantes permanecem "colados" em sua própria prática, dela derivando o seu problema de pesquisa e a ela buscando retornar com aplicações imediatas dos resultados obtidos. c. O fato de que esses estudos não permitem a transferibilidade ou 04/11/2015 replicação em situações semelhantes. 5 5. Teorização e transferibilidade do conhecimento a. As pesquisas atuais parecem desconsiderar que a produção do conhecimento científico constitui um processo de construção coletiva ao longo do tempo. b. Uma revisão bibliográfica bem feita serve para dois aspectos: Contextualização histórica e teórica do problema Análise do referencial teórico 6. A revisão bibliográfica tem dois propósitos a. Para reflexão do próprio pesquisador sobre as questões teórico-metodológicas pertinentes ao tema; b. Para construção do relatório do estudo. 04/11/2015 6 7) Problemas na construção do texto 1. Falta de introdução que proporcione um "pano de fundo" às questões focalizadas. 2. Não situando o problema na discussão mais ampla sobre o tema focalizado, o pesquisador reduz a questão estudada ao recorte de seu próprio estudo. 3. A contextualização do problema exige um processo continuado de busca para se conhecer e analisar criticamente o estado atual do conhecimento. 4. Este exercício deve ser feito antes mesmo da construção do projeto de pesquisa sem prejuízo da sua continuidade; 5. Falta de definição do paradigma que sustenta a pesquisa; 04/11/2015 7 8. Transferibilidade objetividade do conhecimento e 1. A única objetividade a que podemos aspirar em nossas pesquisas é aquela que resulta da crítica interpares, uma vez que ela permite expor as tendenciosidades do pesquisador. 2. As bancas examinadoras: grandes responsáveis pela baixa qualidade de muitos trabalhos desenvolvidos em nossas pós-graduações; 04/11/2015 8 8. Transferibilidade objetividade do conhecimento e 3. Parecem evitar a crítica, a discordância, como se isso fosse uma forma de destruir o conhecimento produzido e não a forma de construí-lo. 4. As áreas do saber que mais progridem são aquelas que mais se expõem e que mais naturalmente aceitam a crítica mútua como prática essencial ao processo de produção de conhecimentos confiáveis. 04/11/2015 9 9. Resgate da relevância a. A dificuldade atual de se definir o que constitui pesquisa está diretamente vinculada às mudanças verificadas na conceituação de ciência e de método científico, resultantes da crítica do paradigma positivista. b. Todas as tentativas de estabelecer critérios de demarcação para distinguir, inequivocamente, o que pode e o que não pode ser considerado ciência, falharam. 04/11/2015 10 9. Resgate da relevância c. A ausência de critérios de demarcação consensuais e o abandono das falsas certezas prometidas pelo modelo tradicional de ciência trouxeram uma considerável desorientação aos pesquisadores, principalmente no campo das ciências humanas e sociais, o que, freqüentemente, descambou no valetudo. d. É preciso que pesquisas no campo da educação sejam rigorosas, atendendo assim aos requisitos da tradição científica. 04/11/2015 11 9. Resgate da relevância e. As conceituações de pesquisa científica encontradas nas ciências naturais sempre decorreram da prática concreta dos cientistas; num processo análogo, é perfeitamente legítimo construir, nas ciências sociais, uma idéia de cientificidade, que pode ser distinta da adotada nas ciências naturais e mais adequada à natureza dos fenômenos por elas estudados, sem desprezar o rigor, como se este fosse uma seqüela positivista. 04/11/2015 12 10. Desafios a. Revisões bibliográficas mais amplas e rigorosas; b. Evitar alguns tipos de revisão: Summa: evitar a tentação de esgotamento do tema. Arqueológica: revisão exaustiva “histórica” mesmo que não haja ligação direta entre o tema e revisão “histórica” Patchwork (miscelânea, colcha de retalhos): colagem de conceitos, pesquisas e afirmações de diversos autores colados de forma aleatória; Suspense: embora haja planejamento prévio, alguns pontos da pesquisa permanecem em “suspense” no trabalho e não são revelados nem ao final da “trama”;. 04/11/2015 13 Coquetel teórico: ajuntamento de autores para tentar explicar pontos obscuros da pesquisa; Apêndice inútil: apesar do grande esforço da revisão teórica não há uma relação entre este esforço e o esforço de interpretação dos dados. Falta cruzamento teórico com o exercício empírico. Monástico: longos e estéreis estudos que parecem uma “penitência” ao leitor. Rococó: excessiva e pouco confiável erudição teórica. Estilo rebuscado, mas pouco convincente; Caderno B: abordagens pouco profundas e quase “preguiçosas”. Uso e abuso de fontes secundárias e comentaristas. 04/11/2015 14 Cronista social: modista. Cita os autores em evidência mesmo que não sejam essenciais à sua pesquisa; Colonizado X xenófobo – Excesso de citações de autores estrangeiros em detrimento dos nacionais X Resistência em citar autores estrangeiros mesmo que a literatura nacional seja pobre; Off de records: preservação das fontes. Afirmações sem referir concretamente as fontes. Ventríloquo: excessiva dependência das palavras de outros autores sem expressar a sua própria opinião.. 04/11/2015 15 10. Desafios 3. Generalização dos estudos em profundidade de fenômenos microssociais, contextualizados, para o estudo de outros contextos semelhantes. 4. A "descrição densa" dos contextos e sujeitos da pesquisa não parece ser suficiente para favorecer a transferibilidade dos conhecimentos produzidos. 5. A identificação de padrões, dimensões e relações, ou mesmo a construção de modelos explicativos, não é incompatível com o estudo de fenômenos microssociais; 04/11/2015 16 10. Desafios 6. A aplicabilidade dos conhecimentos na área da educação depende do desenvolvimento de teorias próprias, seleção adequada de procedimentos e instrumentos, análise interpretativa dos dados, organização em padrões significativos, comunicação precisa dos resultados/conclusões e da sua validação pela análise crítica da comunidade científica. 7. Os problemas a serem enfrentados no campo da educação, em nosso país, exigem soluções sustentadas por um corpo de conhecimentos significativamente mais amplo e mais confiável do que aquele que estamos produzindo. 04/11/2015 17