A importância da linguagem clara e objetiva Aprender a escrever é, em grande parte, se não principalmente, aprender a pensar, aprender a encontrar idéias e a concatená-las, pois, assim como não é possível dar o que não se tem, não se pode transmitir o que a mente não criou ou não aprovisionou. (Othon M. Garcia) Seja claro, preciso, direto, objetivo e conciso. Construa períodos com no máximo duas ou três linhas. Os parágrafos deverão ter cinco linhas digitadas, em média, e no máximo oito. A simplicidade é condição essencial do texto. Prefira a palavra mais simples: votar (sufragar), eleição (pleito). Não faça uso de modismos e lugares-comuns: a nível de, deixar a desejar, encerrar com chave de ouro. Dispense preciosismos: soldado do fogo, aeronave. Não use formas pessoais nos textos. Disse-nos o deputado... / Chegou à nossa capital... / Não podemos silenciar diante de tal fato. Encadeie o texto de forma harmoniosa com os parágrafos seguintes. A falta de fluência faz a atenção do leitor se dispersar. A correção do texto é imprescindível. Confira sempre os nomes das pessoas, seus cargos, datas, horários, somas. Use a ordem direta (sujeito + verbo + complemento verbal). Preste atenção no ritmo do texto e nas regras gramaticais. Tenha livros de gramática, dicionário e tira-dúvidas e os consulte. Títulos O título de uma publicação deve ser breve, claro, conciso e fiel ao conteúdo do texto a que se refere. A titulação presta-se a chamar a atenção do leitor, criando uma expectativa sobre o assunto apresentado. Quando o título for extenso, aconselha-se dividi-lo em título e subtítulo. Evite: Numeral iniciando título. Quebra de palavras no final da linha, até mesmo das ligadas por hífen. Repetição de palavras. Abreviação de nomes próprios. Artigos definido (no início do título) e indefinido (no início e no meio do título). Gerúndio e jogo de palavras. Frase negativa. Exemplo de um texto objetivo, simples e direto: Irrequieto, Rubens Dell Nero sugeria chamar-se César e levava no bolso uma sovela, instrumento pontiagudo usado pelos sapateiros. Logo despertou a suspeita da polícia e foi preso segunda-feira como o possível “maníaco do estilete”, que já atacou sete mulheres em Pinheiros. No 14o Distrito, os policiais o filmaram e exibiram o teipe às vítimas. Mas nenhuma o identificou e Rubens foi libertado ontem à tarde. Veja, ao contrário, um parágrafo longo, sem pontuação e cheio de intercalações que dificultam a seqüência normal da leitura: O presidente Antonio José da Silva, em discurso ontem para cerca de 300 colonos do Projeto Cujubim, núcleo de colonização do Incra situado a 200 quilômetros de Porto Velho, que ele visitou pela manhã, determinou aos ministros da Agricultura, João de Souza, da Justiça, Pedro Roquete, da Saúde, Júlio Dávila, e da Infra-Estrutura, Luciano Queiroz, que comecem “a trabalhar duro, a partir de hoje, para a transformação desse projeto de assentamento de colonos num projeto-modelo para o Brasil”. Algumas “pérolas” para descontrair! "Estar" ou "está"? Dúvida cruel! Alonso diz que está com a mão no título Espanhol acredita estar muito próximo do bicampeonato mundial SILVERSTONE, Inglaterra – O espanhol Fernando Alonso, acredita está muito próximo de conquistar o título deste ano. Nas sete provas disputadas até agora, o piloto da Renault terminou três vezes em segundo lugar e venceu as outras quatro. É nisso que "dar", se você não "prestá" atenção no que vai "publicá"! Esse é mais um daqueles erros que não mata ninguém, mas aponta a principal deficiência dos meios de comunicação de massa: Pressa unida à falta de revisão. Reclamava o detento quanto ao seu novo companheiro de cela: - Como pode? Ele pegou menos tempo que eu. O crime dele é “indiondo”! No final do corredor, comentavam dois guardas: - Soldado, me tire uma dúvida... - Claro. - Ele assassinou um cacique? Erros mais comuns "Fazem" cinco anos. Fazer, quando exprime tempo, é impessoal: faz cinco anos / fazia dois séculos / fez 15 dias. "Houveram" muitos acidentes. Haver, como existir, também é invariável: houve muitos acidentes / havia muitas pessoas / deve haver muitos casos iguais. Para "mim" fazer. Mim não faz, porque não pode ser sujeito. Assim: para eu fazer, para eu dizer, para eu trazer. "Há" dez anos "atrás". Há e atrás indicam passado na frase. Use apenas há dez anos ou dez anos atrás. Mais erros comuns Nunca "lhe" vi. O pronome lhe substitui a ele, a eles, a você e a vocês e por isso não pode ser usado com objeto direto: nunca o vi / não o convidei / a mulher o deixou / ela o ama. Ela era "meia" louca. Meio, advérbio, não varia: meio louca, meio esperta, meio amiga. Mais erros comuns Não há regra sem "excessão". O certo é exceção. Veja outras grafias erradas e, entre parênteses, a forma correta: "paralizar" (paralisar) "calcáreo" (calcário) "beneficiente" (beneficente) "advinhar" (adivinhar) "xuxu" (chuchu) "benvindo" (bem-vindo) "previlégio" (privilégio) "ascenção" (ascensão) "vultuoso" (vultoso) "pixar" (pichar) "cincoenta" (cinqüenta) "impecilho" (empecilho) "zuar" (zoar) "envólucro" (invólucro) "frustado" (frustrado) “kilograma" (quilograma) Vícios de linguagem Barbarismo - Erro na pronúncia, grafia, flexão ou significado. Silabada: troca da sílaba tônica. Rúbrica (rubrica), interim (ínterim). Cacografia: erro na grafia ou na flexão. Excessão (exceção), reaveu (reouve). Deslize: erro no significado. Queimou o fuzil (fusível). Estrangeirismo com equivalente na língua portuguesa. Whisky (uísque), football (futebol), performance (desempenho). Solecismo - Erro de sintaxe (relacionamento entre palavras). Faltou (faltaram) dois algarismos. O encontrei (Encontrei-o). Arcaísmo - Uso de expressões em desuso. A comida está supimpa (excelente). Foi entrando à sorrelfa (sorrateiramente). Cacofonia - Mau som resultante da união de palavras. Ela tinha uma resposta. Chegou uma prima minha. Redundância ou pleonasmo vicioso - Repetição desnecessária de uma idéia. Subiu para cima sem entrar dentro de casa. Mais vícios, modismos e outros cacoetes A nível de... Em nível de... São locuções que devem ser evitadas por ser um modismo desnecessário e condenável. Na maioria das vezes, essas locuções são dispensáveis, e noutras podem ser substituídas por: com relação a, no que se refere a, como, no plano, no âmbito. Enquanto Não dá para engolir alguém dizendo “Eu, enquanto mulher, defendo...” Enquanto que Não existe a forma enquanto que. Maria é arquiteta, enquanto (e não enquanto que) Joana, médica. Através de Equivale a por dentro de, de um lado a outro, ao longo de. Exemplo: Maria olhava a chuva através da janela. Noutra acepção, use: por meio de, por intermédio de, mediante ou por. Exemplos: A notícia chegou por intermédio do Ministro da Fazenda. O pagamento foi feito por depósito bancário. Gerundismo De repente surgiu no Brasil a esquisita mania de usar o verbo estar seguido de outro verbo no gerúndio. Essa dupla na verdade é um trio, porque sempre vem outro verbo. Algo como “o economista vai estar realizando uma palestra”. O que poderia ser dito com apenas um verbo (realizará), ou com dois (vai realizar), acaba se transformando numa perífrase (rodeio de palavras) enfadonha. O grande problema é que isso parece chique, tem uma cara de coisa da língua formal, culta, mas não passa de uma grande chatice. Exemplo de gerundismo Um jogador de futebol deu entrevista à rádio Jovem Pan. Feliz com sua atuação, o jovem atleta ofereceu os gols à mãe. “Mande-lhe uma mensagem”, propôs o radialista. O jogador declarou seu amor à genitora e disse: “Desculpe, mãe. Seu aniversário foi ontem, mas eu não pude estar comparecendo à festa”. No sentido de... Já repararam que não se faz mais nada “para”, agora só se faz “no sentido de”? “Estamos trabalhando no sentido de conseguir verbas...” Aí está o exemplo de falsa sofisticação. Onde / Aonde Em frases como as que se seguem, use sempre em que, na qual ou no qual e não onde: Distribuiu memorando em que (e não onde) citava a Portaria. O partido em que ocorreu a irregularidade está proibido de fazer propaganda eleitoral. Arranjou um emprego em que colava selos nos envelopes. Vejam a diferença! Aonde usa-se com verbos em movimento: Aonde ele foi? Aonde essas medidas do governo vão nos levar? Onde indica permanência: Onde ele está? Encontrou os livros onde lhe indiquei. Onde equivale a em que apenas quando a referência é a lugar físico: A casa onde (em que) nasceu. O prédio onde (em que) trabalha. Em termos práticos, aonde pode ser substituído por a que lugar, para que lugar, enquanto onde equivale a em que lugar. Vá direto ao assunto. Não enrole. Não invente. Não use expressões só porque estão na moda, porque alguém as usou na televisão, ou porque parecem sofisticadas. No padrão culto da língua, é preciso tempo, tradição. E razão de ser também. Tenha bom senso. E fuja dos modismos, dos cacoetes. Escrever bem, escrever certo, deveria ser considerado um hábito tão fundamental quanto tomar banho ou escovar os dentes. (Martha Medeiros)