A AGRICULTURA DO AGRONEGÓCIO E OS RISCOS PARA O BRASIL Gerson Teixeira Brasília, agosto de 2014 SÉCULO XX – REVOLUÇÃO NA AGRICULTURA MODELO AGRÍCOLA AMERICANO – MARCA: ELEVADO PRODUTIVISMO CARACTERÍSTICAS IMANENTES: HOMOGENEIDADE GENÉTICA – ESCALA - ULTRAINTENSIVO EM CAPITAL, ENERGIA, E RECURSOS NATURAIS DE UM MODO GERAL FATO: DERRUBOU TEORIA DEMOGRÁFICA DE MALTHUS (FINAL DO SÉCULO XVIII) EUA – CUSTO DO ALIMENTO: MAIS DE 50% DO ORÇAMENTO FAMILIAR PARA < 10% RESULTADO: SUPERPRODUÇÃO (CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO MUNDIAL PASSOU A SUPERAR O CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO) Exemplo: Brasil - FAO: ÍNDICE DE PRODUÇÃO LÍQUIDA DE ALIMENTOS PER CAPITA (BASE 19992001)- Evolução 1975-2011: 140.0 120.0 100.0 80.0 60.0 40.0 20.0 0.0 VIRTUOSISMO PRODUTIVO – GARANTIU SEGURANÇA ALIMENTAR O QUE LEVOU À BLINDAGEM DOS SEUS MÚLTIPLOS EFEITOS COLATERAIS CAUSAS DA FOME: RENDA ASSIMETRIAS ORDEM INTERNACIONAL DEMOCRACIA TENDÊNCIA DE LONGO PRAZO DECLÍNIO DOS NÍVEIS DE RENTABILIDADE QUEDA REAL DOS PREÇOS (final da década de 1970 até meados década 2000) AUMENTO DOS CUSTOS PRODUTIVIDADE EM QUEDA CAUSAS DA TENDENCIA DE QUEDA DA RENTABILIDADE 1. NATUREZA EXCEDENTÁRIA DO MODELO PRODUTIVISTA 2. PROTECIONISMO: ARTIFICIALIZA OS PREÇOS PARA BAIXO 3. CONCENTRAÇÃO ECONÔMICA SEGUNDO USDA: ENTRE 1994 E 2009 - CONCENTRAÇÃO ECONÔMICA MEDIDA PELO ÍNDICE HERFINDAHL: - SEGMENTO DA AGROQUÍMICA: ELEVOU DE 198 PARA 937 SEMENTES – de 171 PARA 991 MÁQUINAS AGRÍCOLAS - DE 264 PARA 791; SAÚDE ANIMAL - DE 510 PARA 827 PREÇOS REAIS DOS ALIMENTOS – 1961 – 2014 – FAO PREÇOS E RELAÇÕES DE TROCA COM BENS INDUSTRIAIS - SÉCULO XX: REDUÇÃO SIGNIFICATIVA EM TERMOS REAIS Los términos de intercambio de los productos básicos en el siglo XX - José Antonio Ocampo Secretario Ejecutivo de la CEPAL y María Ángela Parra - tecnica de la CEPAL Indices de produtos agrícolas deflacionados pelo índice de valor unitário das manufaturas (MUV) das Nações Unidas (Taxas acumuladas - 1900-2000) CUSTO DE PRODUÇÃO CRESCENTE Gastos com consumo intermediário na agricultura americana- 1988 a 1997 Fonte: USDA Tx. Crescimento média: 4.19% aa 200 190 180 165 160 140 150 150 150 1990 1991 1992 170 176 180 1995 1996 140 126 US$ BI 120 100 80 60 40 20 0 1988 1989 1993 1994 1997 Gastos com o consumo intermediário na agricultura americana 2004 – 2013. Fonte: USDA Tx. Média de cresc: 5.66% aa Custo de Produção / Produtividade- AGRICULTURA EMPRESARIAL - MILHO - PLANTIO DIRETO - ALTA TECNOLOGIA SAFRA DE SECA - 2005/13 - Rio Verde - GO PRODUTIVIDADE Revistas Science (26/março/2010) e The Economist (23/03/2011) The Economist: produtividade dos alimentos básicos que cresceu à taxa de 3% aa na década de 1960, declinou, na atualidade, para a taxa de 1% aa. Revista Science- taxa de crescimento dos rendimentos de grãos caiu pela metade entre 1961-1990 e 1990-2007 FAO: Produtividade dos alimentos básicos: de 3% aa na década de 1960 para 1% aa, na atualidade; PRODUTIVIDADE EUA - Agricultura - Produtividade da terra e do trabalho Taxas médias anuais de crescimento (%) 1948-1953 1953-1957 1957-1960 1960-1966 1966-1969 1969-1973 1973-1979 1979-1981 1981-1990 1990-2000 2000-2007 2007-2009 Trabalho -0,81 -1,08 -0,83 -0,81 -0,61 -0,38 -0,19 -0,22 -0,43 -0,34 -0,35 -0,64 Terra 0,02 -0,17 -0,16 -0,07 -0,22 -0,29 0 -0,12 -0,09 0 -0,08 -0,12 Fonte: USDA COMO A ATIVIDADE SUBSISTE ECONOMICAMENTE? SUBSÍDIOS PROTECIONISMO – BARREIRAS TARIFÁRIAS E NÃO TARIFÁRIAS NOTADAMENTE AS SANITÁRIAS SUBSÍDIOS AOS PRODUTORES Fonte: OECD.Stat 300,000 250,000 OECD 200,000 China European union Japan US$ Mi United States 150,000 100,000 50,000 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Composição dos subsídios (principais) Fonte: OECD.Stat 90.0 80.0 70.0 60.0 Support based on commodity output % 50.0 Payments based on input use 40.0 Payments based on non-current A/An/R/I, production not required 30.0 20.0 10.0 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 0.0 SUBSÍDIOS AOS CONSUMIDORES Fonte: OECD.Stat 50,000 40,000 United States Ukraine US$ Mi 30,000 20,000 10,000 0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 -10,000 NO BRASIL SUBSÍDIOS MEDIDOS PELA OCDE 12.0 10.0 10.0 9.0 8.6 8.0 US$ BI 7.2 6.0 5.2 5.2 5.3 5.4 4.0 3.2 2.7 2.0 2.7 1.9 2.1 0.0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 gastos tributários com a agricultura empresarial: 2003 - R$ 680 milhões. Em 2013: R$ 13 bilhões (incremento de 1.800%) Lei Kandir - União aplicou, em média, R$ 4.3 bilhões/ano, de 2005 a 2011 BNDES – DESEMBOLSO ANUAL 35,000 Agropecuária Produtos alimentícios 30,000 Papel e celulose Total agronegócio* R$ MILHÕES 25,000 20,000 15,000 10,000 5,000 0 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO PASSIVOS AMBIENTAIS ‘PERDÃO DE DÍVIDAS RURAIS’ HIPÓTESE CENTRAL: ESTADO SUSTENTA ESSA ATIVIDADE (subvenções bilionárias + permissividades regulatórias + protecionismo) CENÁRIO FUTURO a) DEMANDA ALIMENTAR CRESCENTE: EM 2050 SERÁ 70% MAIOR COMPARATIVAMENTE A 1996 (FAO) b) ATÉ 2025 PRODUÇÃO DE GRÃOS E DE CARNES DEVEM AUMENTAR 50% E 100% PARA ATENDER A DEMANDA (OCDE-FAO) Como responder a esse desafio para a segurança alimentar com o atual padrão dominante de agricultura, sendo que: → níveis de rentabilidade mais críticos com os desdobramentos da crise climática - redução de 1/3 na produtividade caso o aquecimento global fique limitado a 2˚ C → até esse ponto alguma chance de êxito dos esforços de adaptação e mitigação da pesquisa científica. Mas seria uma atividade comercialmente possível apenas nos países com capacidade fiscal compatível →competição biocombustíveis: EUA - etanol representa 8% do combustível, mas consome 40% da safra de milho do país. no Brasil SP virou um canavial – área com cana sobre área total das LT passou de 37% em 1990 para 74% em 2012 → biodiversidade (vital para a agricultura do futuro no ambiente de excessiva tensão ambiental tem sido a principal vítima da agricultura empresarial (FAO: século passado – perda de ¾ da diversidade genética dos cultivos agrícolas) →agricultura: 50% a 2/3 das emissões de metano e óxido nitroso que permanecem anos na atmosfera - impacto maior que o CO2 → fertilizantes – principais emissores do N2O devem ter consumo crescente de 2.6% aa segundo o IFA → água: 4.2 milhões de m3 podem ser usados de forma sustentável. Consumo atual é de 4.5 milhões dos quais 70% pela agricultura →até 2030 agricultura produtivista vai precisar de 45% a mais de água. Não terá: a tendência é a de diminuição significativa dos estoques de água (IPCC e The Economist) CONCLUSÕES 1)PARA GARANTIR A SEGURANÇA ALIMENTAR: NÃO UMA SEGUNDA REVOLUÇÃO VERDE COMO ADVOGAM, MAS UMA CONTRAREVOLUÇÃO VERDE 2) AGRICULTURA COM DIVERSIDADE, MENOR ESCALA, MENOS QUÍMICA, AJUSTADA ÀS RESTRIÇÕES AMBIENTAIS SEM ABRIR MÃO DA EFICIÊNCIA ECONÔMICA 4) INCLUSÃO NO CIRCUITO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA DAS REGIÕES EXCLUÍDAS, PRINCIPALMENTE ÁFRICA - ESTIMATIVAS INDICAM POTENCIAL DE AMPLIAÇÃO DA ÁREA CULTIVADA, DE 12 A 30% DA ÁREA ATUAL (1.5 BILHÃO HECTARES) 6) AGRICULTURA FAMILIAR E CAMPONESA TEM POSSIBILIDADE DE UM NOVO E ARROJADO PROTAGONISMO NA ECONOMIA AGRÍCOLA MUNDIAL 7) REFORMA AGRÁRIA EM PAÍSES COMO O BRASIL ASSUMEM CARÁTER ESTRATÉGICONA ATUALIDADE RELATOR DA ONU PARA O DIREITO À ALIMENTAÇÃO, OLIVIER DE SCHUTTER: .... A COMUNIDADE INTERNACIONAL DEVE APOIAR UMA AGRICULTURA MAIS "FAMILIAR" E ABANDONAR MODELOS ATUAIS, RESPONSÁVEIS POR GRANDE EMISSÃO DE CARBONO E "INEFICIENTE DIANTE DO DESAFIO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS...... DEFENDEU EXPLICITAMENTE O ABANDONO DE POLÍTICAS AGRÍCOLAS INSPIRADAS NA "REVOLUÇÃO VERDE", BASEADAS PRINCIPALMENTE NO USO DE SEMENTES MELHORADAS GENETICAMENTE, FERTILIZANTES QUÍMICOS E RECURSOS À MECANIZAÇÃO Fonte: FAO PEDE A GOVERNOS MUDANÇAS NOS MODELOS AGRÍCOLAS, EM HTTP://WWW.PORTUGUES.RFI.FR/MUNDO/20101016-FAO-PEDE-GOVERNOSMUDANCAS-NOS-MODELOS-AGRICOLAS-0, ACESADO EM 04/01/2011 ÀS 17:50H).