Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Medicina Departamento de Medicina/Saúde Mental Disciplina de Saúde Mental - MCM 481 Prof. Esther Gonzaga Spiler Droga: qualquer substância (exceto alimentos) não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais sistemas produzindo alterações em seu funcionamento Droga Psicotrópica: altera as funções psíquicas atuando no SNC e modificando o comportamento, o humor e/ou a cognição. Podem ser: depressoras, estimulantes ou perturbadoras Drogas depressoras do SNC: causam lentificação psicomotora, reduzindo momentaneamente a ansiedade, atenção, concentração, capacidade de memorização e capacidade intelectual álcool barbitúricos benzodiazepínicos inalantes opiáceos Drogas estimulantes do SNC: aceleram a atividade de determinados sistemas neuronais, causando um estado de alerta exagerado, insônia, agitação psicomotora e aceleração dos processos psíquicos. anfetaminas cocaína crack tabaco Drogas perturbadoras do SNC: produzem distorções qualitativas no funcionamento cerebral (delírios, alucinações e alteração na sensopercepção). Por isso, são também chamadas de alucinógenos ou psicotomiméticos maconha (Cannabis sativa) LSD ecstasy anticolinérgicos Diminuição da sensibilidade aos efeitos da droga, que ocorre como resultado da prévia exposição a ela Leva à necessidade de quantidades cada vez maiores da substância para atingir intoxicação ou o efeito desejado Uso nocivo: consumo de uma substância psicoativa que é prejudicial à saúde, causando complicações físicas ou psíquicas Síndrome de dependência: conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após repetido consumo e uma substância psicoativa, associado ao desejo poderoso de usar a droga, dificuldade de controlar o consumo, utilização persistente apesar da consequências nefastas, priorizando o uso da droga em detrimento de outras atividades e obrigações, com aumento da tolerância pela droga e, às vezes, um estado de abstinência física Binge: uso compulsivo e por curto período (festas) Lapso: uso da substância durante o tratamento, sem mudança nas atitudes do paciente (não tenta colaborar) Recaída: uso da substância durante o tratamento, com mudança nas atitudes do paciente, após período de abstinência Intoxicação: estado consequente ao uso de uma substância psicoativa em grande quantidade perturbações da consciência, funções cognitivas, percepção, afeto ou comportamento, ou de outras funções e respostas psicofisiológicas a natureza destas complicações depende da categoria farmacológica da substância consumida assim como de seu modo de administração DURANTE A INTOXICAÇÃO: Maior risco de acidentes, tanto no lazer quanto no trabalho, que variam de pequenos até a morte Criminalidade Violência familiar Suicídio DURANTE A ABSTINÊNCIA: Complicações físicas e psíquicas Criminalidade e morte CRONICAMENTE: Diminuição a imunidade Piora da qualidade do sono, alimentação, cuidados pessoais e higiene Causa direta e indireta de diversas doenças clínicas (inclusive DST’s) e psiquiátricas Abandono e perda de emprego Abandono familiar Abstinência é pela interrupção abrupta do uso: Ansiedade, insônia, irritabilidade, diminuição da concentração, cefaleia, anorexia, náuseas, vômitos e tremores Pode ocorrer do 1º ao 11º dia após a retirada Tratamento: troca de um BZD de meia-vida curta por um de meia-vida longa Efeitos: discreta elação, sensação de relaxamento, percepções delirantes e alucinoses (cores e sons), desintegração temporal (parece passar mais lento), hiperoexia (“larica”), xerostomia Uso crônico: síndrome amotivacional ou apatoabúlica (parece depressão) – pognóstico ruim Pode precipitar: T. do Pânico e outros T. de Ansiedade, Depressão, T. Bipolar e psicoses (principalmente Esquizofrenia) Abstinência: irritabilidade, insônia, fissura, ansiedade, mudança no apetite, perda de peso e desconforto físico Tratamento: Naltrexona Topiramato Acamprosato Dissulfiram Benzodiazepínicos Anti-depressivos Grupos de ajuda (Alcoólicos Anônimos – AA e ALANON) Internação em casos graves 1. Admitimos que éramos impotentes perante o álcool - que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas. 2. Viemos a acreditar que um Poder Superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade. 3. Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos. 4. Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos. 5. Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas. 6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter. 7. Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições. 8. Fizemos uma relação de todas as pessoas a quem tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados. 9. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem. 10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente. 11. Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade e relação a nós, e forças para realizar essa vontade. 12. Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes Passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades. Quadro clínico: Taquicardia Hipertensão arterial Aumento da força de contração do músculo cardíaco Náuseas e vômitos Piloereção Midríase Tremores Aumento do consumo de oxigênio Aumento da temperatura corporal em até 2oC Estado confusional breve, mas com risco de morte, que se acompanha de perturbações somáticas Usualmente é consequência de uma abstinência absoluta ou relativa de álcool em usuários gravemente dependentes, com longa história de uso O início usualmente ocorre após abstinência Em alguns casos, o transtorno aparece durante um episódio de consumo excessivo de bebidas alcoólicas Sintomas prodrômicos: insônia, tremores e medo; mas também podem ocorrer convulsões Tríade clássica: obnubilação da consciência, confusão mental e alucinações ou ilusões vívidas (principalmente visão de animais subindo pelo corpo) e com tremores marcantes Delírios, agitação, insônia ou inversão do ciclo sono-vigília e hiperatividade autonômica também são comuns Instalação: 1 a 3 dias Duração: 1 semana a 2 meses (maioria entre 10 e 12 dias) Idosos: curso mais prolongado; maior risco de mortalidade; maior número de complicações; mais frequentemente a recuperação não é total Sangue: HC (com VCM elevado), níveis das enzimas hepáticas (TGO, TGP, GGT, FA), magnésio, sódio e potássio, amilase, lipase, função renal e glicemia Para o diagnóstico diferencial das complicações podem ser solicitados: RX de tórax, abdome e/ou crânio ou TC de crânio Manejo no Hospital Geral, segundo a APA (American Psychiatry Association): 1. 2. 3. 4. 5. diminuir a exposição a estímulos externos e garantir um ambiente seguro e monitorado para pacientes intensamente intoxicados verificar quais substâncias foram utilizadas, vias de administração, dose, tempo desde a última dose, se o nível de intoxicação está diminuindo ou aumentando remover as substâncias do corpo – por lavagem gástrica, por exemplo, se o tempo de ingestão for recente, ou por aumento da taxa de excreção (diuréticos/hemodiálise) reverter os efeitos da substância através da administração de antagonistas promover suporte clínico adequado para estabilizar os efeitos físicos provocados pelo uso da substância Dieta leve, quando aceitar. Pacientes com confusão mental devem permanecer em jejum, por risco de boncoaspiração. Nesses casos, hidratar com 1.000 ml de solução glicosada 5% + 20ml de NaCl 20% + 10ml de KCl 19,1% a cada 8 horas. Repor tiamina IM, nos primeiros 7-15 dias e VO após esse período. Administrar doses de 600mg/dia para evitar a Síndrome de Wernicke (ataxia, confusão mental e, às vezes, anormalidades da movimentação ocular extrínseca) Diazepam: 10-20mg VO a cada hora ou Clordiazepóxido: 50-100 mg VO a cada hora Nos casos de hepatopatias graves: Lorazepam: 24 mg VO a cada hora Pacientes agitados ou violentos devem ser contidos, se não forem suscetíveis à intervenção verbal Mais de 90% das crises convulsivas ocorrem até 48 horas após a interrupção do uso de álcool (pico entre 13 e 24 horas) e estão associadas com evolução para formas graves de abstinência. Devem ser tratadas com Diazepam Diazepam até 60mg/dia (ou Lorazepam até 12mg/dia, em casos de hapatopatia grave) Haloperidol ao menos 5mg/dia (ou Risperidona até 4mg/dia) Contenção mecânica no leito em caso de agitação/agressividade Binge Meia-vida: Cocaína: 1-2 horas Metanfetaminas: até 12 horas Abstinência: depressão, fadiga, ideação suicida, disforia e insônia. Pode durar de horas até 10 semanas Consumida há 5000 anos nos Andes Inibe recaptação de dopamina, noradrenalina e serotonina na fenda sináptica Principais vias de uso: Injetável Inalada Fumada (pasta ou crack) Ingerida Efeitos: intensa sensação de bem-estar, hiperforia, taquicardia (até IAM), hiporexia, aumento da autoconfiança e da libido Síndrome de abstinência: disforia, fadiga, pesadelos vívidos, insônia/hipersonia, hiperorexia, agitação e/ou lentificação psicomotora Tratamento da dependência: não há consenso. Pode-se usar o topiramato, benzodiazepínicos, antidepressivos (bupropiona, trazodona, fluoxetina), carbamazepina Psicoterapia Grupos de ajuda (Narcóticos Anônimos – NA e NARANON) Produzido a partir da cocaína, bicarbonato de sódio ou amônia e água Única droga conhecida que pode causar dependência na primeira dose Sobrevida média do usuário de 4 anos Efeitos: febre, dispneia intensa, dor torácica, queda de PO2 “Pulmão de crack”: pneumonite eosinofílica tratada com corticóides Uso na gestação: RN de baixo peso, microcefalia, anormalidades comportamentais neonatais e até atraso no desenvolvimento psicomotor (Retardo Mental) CRECHES ABORDAGENS VOLTADAS À FAMÍLIA ORIENTAÇÃO VOCACIONAL PROCESSO DE ENTRADA E AVALIAÇÃO ASSESSORIA & PLANO DE MONITORAMENTO PSICOTERAPIA TRATAMENTO (USO DE DROGAS) EQUIPE MULTIDISCIPLINAR FARMACOTERAPIA CUIDADOS CONTÍNUOS ABORDAGENS EDUCACIONAIS APOIO JURÍDICO ORIENTAÇÃO E DIAGNÓSTICO PARA DST-AIDS Comorbidades clínicas frequentes na Dependência Química: BK (álcool / cocaína / crack) Desnutrição / anemia / desidratação / def. vitaminas Doenças infecto-contagiosas (inclusive sexuais) Diabetes mellitus (álcool) Dispepsias (álcool) Polineuropatia periférica (álcool) Demência (álcool / BZD? / maconha?) Neoplasias (uso crônico – álcool / maconha) Epilepsias (álcool / cocaína / crack)