TERAPIA COMPORTAMENTAL PARA INSÔNIA: UMA REVISÃO DOS ÚLTIMOS 10 ANOS Patrícia Motta Cordeiro Gonçalves1 Renatha El Rafihi Ferreira2 Eduardo Miyazaki3 Dra Maria Rita Zoéga Soares4 Resumo: A insônia, diagnosticada quando há dificuldades repetidas para iniciar e/ou manter o sono, despertar precoce ou sono não restaurador, causa prejuízos para a qualidade de vida e bem-estar das pessoas. O que demanda a criação de diferentes tratamentos para insônia. Embora o tratamento mais comum seja o farmacológico, o uso prolongado de medicamentos pode resultar em conseqüências negativas como a dependência e a tolerância. Diante disso, os estudos de intervenções não medicamentosas para o manejo da insônia estão sendo ampliados. As estratégias não-farmacológicas mais abordadas para o tratamento da insônia são aquelas relacionadas a mudanças de comportamento. Entre estas estão à terapia cognitivo-comportamental, a higiene do sono, o controle de estímulos, a restrição do sono e as técnicas de relaxamento. Considerando as intervenções comportamentais descritas, o objetivo do presente estudo foi o de apresentar uma síntese e análise de resultados de pesquisas sobre programas de intervenção não-farmacológicas para insônia, publicadas nos últimos dez anos. Por meio do levantamento realizado em 4 bases de dados: WEB OF SCIENCE, SCOPUS, PSYCOINFO e LILACS, no período de 20 de agosto a 24 de setembro de 2009, com as seguintes palavras-chave: Sleep, insomnia e cruzamentos com behavioral intervention, behaviour analysis, behavioral treatment. O critério para seleção dos artigos incluiu publicações sobre programas ou procedimentos de intervenção que manipulassem variáveis que visassem o manejo da insônia em adultos. Foram excluídos os trabalhos a) publicados no período anterior a 1999; b) pesquisas que não abordavam programas de intervenção (estudos de revisão, de levantamento ou de caracterização) e c) estudos realizados com crianças. Desta forma, foram selecionados para análise 14 artigos. O objetivo de todos os artigos analisados foi de testar a eficácia da terapia comportamental para insônia em adultos. Os resultados demonstraram que em 93% (n=13) dos estudos a terapia comportamental foi efetiva na melhoria da qualidade de sono. Esta revisão fornece evidências que as intervenções comportamentais representam uma opção de tratamento eficaz para o manejo da insônia em diferentes populações. Palavras-chave: insônia, intervenção comportamental, adultos. 1 (Fundação Araucária - UEL) [email protected] 2 (mestranda em Análise do Comportamento – bolsista CAPES) [email protected] 3 (Iniciação Cientifica - CNPQ) [email protected] (Orientadora) [email protected]. Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil. 4 Referencial teórico e objetivos: Devido a sua alta prevalência na população em geral, a insônia é uma das doenças mais comuns encontradas na prática médica (Riba, 1993; Shochat et al.; 1999; Soares, 2005; Soares, 2006). Pesquisas epidemiológicas indicam que aproximadamente 15% da população geral sofre de insônia crônica e cerca de 20% a 40% apresentam sintomas de insônia de modo intermitente, sendo mais freqüentes as queixas entre as mulheres e indivíduos mais velhos, a insônia pode ser, ainda, um sintoma secundário de quadros como câncer e insuficiência renal. Dada a freqüência da insônia na população e os efeitos negativos na qualidade de vida das pessoas fazem-se necessárias técnicas que possam contornar o quadro e colaborar com a melhoria da qualidade de vida da população. Assim, a partir da perspectiva da Análise do Comportamento, o presente estudo tem como objetivo apresentar uma síntese e análise de resultados de pesquisas sobre programas de intervenção não-farmacológicas para insônia, publicadas nos últimos dez anos. Método: O levantamento bibliográfico foi realizado em 4 bases de dados: WEB OF SCIENCE, SCOPUS, PSYCOINFO e LILACS, no período de 20/08 a 24/09 de 2009, nos idiomas inglês, português e espanhol. As palavras-chave utilizadas foram: Sleep, insomnia e cruzamentos com behavioral intervention, behaviour analysis, behavioral treatment. O critério para seleção dos artigos incluiu publicações sobre programas ou procedimentos de intervenção que manipulassem variáveis que visassem o manejo da insônia em adultos. Foram excluídos os trabalhos a) publicados no período anterior a 1999; b) pesquisas que não abordavam programas de intervenção (estudos de revisão, de levantamento ou de caracterização) e c) estudos realizados com crianças. Resultados: Foram selecionados para análise 14 artigos. O objetivo de todos os artigos analisados foi de testar a eficácia da terapia comportamental para insônia em adultos. As amostras foram diversificadas: adultos (35,7%, sendo 7,1% destes trabalhadores de uma empresa), idosos (14,3%), pessoas acometidas por câncer de mama (21,4%), com tinham traumatismo crânio-encefálico (14,3%), doença renal crônica (7,1%) e vítimas de crimes violentos (7,1%). Além da TCC outras estratégias utilizadas foram aumento da atividade física diária, maior exposição ao sol, estruturação da rotina de dormir e diminuição dos ruídos ambientes. Os resultados mostram que quando foi empregada a TCC juntamente a outras técnicas de manejo da insônia os pacientes apresentaram diminuição de compostos plasmáticos associados a inflamações, 14,28% (n=1), no uso de medicamentos a noite, 14,28% (n=1), nos níveis de depressão e ansiedade, 14,28% (n=1), e uma maior qualidade de vida global no pós-tratamento, 28,57% (n=2). Os pacientes que receberam tratamento cognitivo-comportamental de insônia demonstraram, ainda, melhora significativa do humor, fadiga geral e físico e cognitivo global e dimensões da qualidade de vida, 14,28% (n=1). Quando comparado ao tratamento farmacológico, a terapia comportamental sustentava seus ganhos clínicos por mais tempo que a farmacoterapia isoladamente, além disso, foi avaliado por como mais eficaz do que a farmacoterapia sozinha e, os indivíduos ficaram mais satisfeitos com a abordagem comportamental. Percebeu-se que todos os participantes que receberam intervenção cognitivo-comportamental tiveram maior participação na vida social e física, em atividades e conversa social. Os resultados demonstraram que em 93% (n=13) dos estudos a terapia comportamental foi efetiva na melhoria da qualidade de sono. Considerações finais Os artigos expostos demonstram que a aplicação de tratamentos nãofarmacológicos para a insônia, em especial, técnicas cognitivo- comportamentais, apresentam resultados eficientes e duradouros para o quadro, além disso, podem ser realizados em grupo, alcançando os mesmos resultados que a aplicação individual, o que demonstra que, em relação ao tratamento farmacológico, o tratamento cognitivo-comportamental parece ser um tratamento mais barato e de efeito mais satisfatório e duradouro. Assim, esta revisão fornece evidências de que as intervenções comportamentais representam uma opção de tratamento eficaz para o manejo da insônia em diferentes populações. Referências bibliográficas: Adachi, Y., et AL. (2008). A brief behavior therapy administered by correspondence improves sleep and sleep-related behavior in poor sleepers. Japanese Society of Sleep Research. 6 (1):16-21. Alessi, C., et al. (2005). 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