LITERATURA - TROVADORISMO O ideal de beleza feminina Estereótipos das heroínas dos romances (clichês, lugares comuns da literatura da época): pele clara; rosto alongado; cabelos louros; boca pequena; olhos azuis; sobrancelhas bem desenhadas. A maioria dos autores omitem castamente tudo o que se encontra abaixo do pescoço. Pensa-se que os homens preferiam: mulheres de corpo delgado, linhas delicadas pernas longas, seio alto e pequeno; mas muitos textos apontam na época a preferência por formas generosas (para melhor desfrutar os prazeres do leito) O ideal de beleza masculino A beleza do cavaleiro não provém da musculatura, mas da graça da juventude e da elegância dos trajes. Mais que o vigor dos corpos, os romancistas se apegam à descrição da magnificência das roupas. Um cavaleiro sedutor é um cavaleiro jovem, amável, gracioso e bemvestido. Instrumentos medievais usados para acompanhar as cantigas OS CANCIONEIROS São compilações de algumas das cantigas medievais portuguesas. Conhecem-se 3 Cancioneiros de poemas em galego-português: "CANCIONEIRO DA AJUDA", encontrado no Convento da Ajuda, é o mais antigo dos Cancioneiros; provavelmente copiado em fins do séc. XIII, possui 310 cantigas, sendo que 304 delas são cantigas de amor. É considerado o mais incompleto dos 3 Cancioneiros, pois não contém os poemas do rei-trovador D. Dinis, mas é um documento valioso, pela grafia e partituras originais. "CANCIONEIRO DA BIBLIOTECA NACIONAL DE LISBOA" ou "CANCIONEIRO COLOCCI- BRANCUTI" , é o mais completo dos Cancioneiros galego-portugueses: possui 1647 cantigas de todos os tipos; encontrado primeiramente na biblioteca do Conde italiano Brancuti, no século XVI o Cancioneiro passou a pertencer ao humanista italiano Angelo Colocci ; em 1880, o Cancioneiro foi vendido à Biblioteca Nacional de Lisboa, onde se encontra até hoje. "CANCIONEIRO DA VATICANA". Pesquisando a biblioteca papal, Fernando Wolf descobriu esse Cancioneiro de 1205 cantigas, dentre elas as de D. Dinis , que aparecem também no "Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa". Cantiga da Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós (1189 – 98?) No mundo nom me sei parelha, "E, mia senhor, des aquel di' , ai! mentre me for' como me vai, me foi a mim muin mal, ca ja moiro por vos - e ai e vós, filha de don Paai mia senhor branca e vermelha, Moniz, e ben vos semelha queredes que vos retraia d'aver eu por vós guarvaia, quando vos eu vi em saia! pois eu, mia senhor, d'alfaia Mao dia que me levantei, nunca de vós ouve nem ei que vos enton [nom vi fea! “ valia d'ua correa". Cantiga da Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós (1189 – 98?) – TRADUÇÃO MODERNA No mundo ninguém se assemelha a mim, "E, minha senhora, desde aquele dia, ai enquanto minha vida continuar como está, Tudo me foi muito mal Porque morro por vós, e ai e vós, filha de Don Pai Minha senhora de pele branca e faces [rosadas, Moniz, e bem vos parece quereis que vos descreva de ter eu por vós guarvaia, quando vos eu vi sem manto! pois eu, minha senhora, como prova de [amor, Maldito dia me levantei, de vós nunca recebi, Que não vos vi feia! “ algo, mesmo que sem valor". Cantiga da Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós (1189 – 98?) – TRADUÇÃO MODERNA No mundo ninguém se assemelha a mim, "E, minha senhora, desde aquele dia, ai enquanto minha vida continuar como está, Tudo me foi muito mal Porque morro por vós, e ai e vós, filha de Don Pai Minha senhora de pele branca e faces [rosadas, Moniz, e bem vos parece quereis que vos descreva de ter eu por vós guarvaia, quando vos eu vi sem manto! pois eu, minha senhora, como prova de [amor, Maldito dia me levantei, de vós nunca recebi, Que não vos vi feia! “ algo, mesmo que sem valor". Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo! E ai Deus, se verrá cedo! Ondas do mar levado, se vistes meu amado! E ai Deus, se verrá cedo! Se vistes meu amigo, o por que eu sospiro! E ai Deus, se verrá cedo! Se vistes meu amado, por que hei gran cuidado! E ai Deus, se verrá cedo! Martin Codax, CV 884, CBN 1227 Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo! E ai Deus, se verrá cedo! Ondas do mar levado, se vistes meu amado! E ai Deus, se verrá cedo! Se vistes meu amigo, o por que eu sospiro! E ai Deus, se verrá cedo! Se vistes meu amado, por que hei gran cuidado! E ai Deus, se verrá cedo! Martin Codax, CV 884, CBN 1227 Quer'eu em maneira de proençal fazer agora un cantar d'amor, e querrei muit'i loar mia senhor a que prez nen fremusura non fal, nen bondade; e mais vos direi en: tanto a fez Deus comprida de ben que mais que todas las do mundo val. Ca mia senhor quiso Deus fazer tal, quando a faz, que a fez sabedor de todo ben e de mui gran valor, e con todo est'é mui comunal ali u deve; er deu-lhi bon sen, e des i non lhi fez pouco de ben, quando non quis que lh'outra foss'igual. Ca en mia senhor nunca Deus pôs mal, mais pôs i prez e beldad'e loor e falar mui ben, e riir melhor que outra molher; des i é leal muit', e por esto non sei oj'eu quen possa compridamente no seu ben falar, ca non á, tra-lo seu ben, al. El-Rei D. Dinis, CV 123, CBN 485 Ai, dona fea, foste-vos queixar que vos nunca louv'en [o] meu cantar; mais ora quero fazer um cantar en que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar: dona fea, velha e sandia! Dona fea, se Deus me perdon, pois avedes [a] tan gran coraçon que vos eu loe, en esta razon vos quero já loar toda via; e vedes qual será a loaçon: dona fea, velha e sandia! Dona fea, nunca vos eu loei en meu trobar, pero muito trobei; mais ora já un bon cantar farei, en que vos loarei toda via; e direi-vos como vos loarei: dona fea, velha e sandia! Joan Garcia de Guilhade, CV 1097, CBN 1486 Ai de mim, coitada ! Como vivo em grande cuidado por meu amigo que se ausenta alongado ! Muito me tarda o meu amigo na Guarda ! Ai de mim, coitada ! Como vivo em grande desejo por meu amigo que tarda e que não vejo ! Muito me tarda o meu amigo na Guarda ! (El-rei D. Sancho I, séc. XII-XIII) Don Foão, que eu sei que á preço de livão, vedes que fez en guerra - daquesto soo certão: sei que viu os genetes, como boi que fer tavão, sacudiu-se e revolveu-se, alçou rab’ e foi sa via a Portugal. Don Foão, que eu sei que á preço de ligeiro, vedes que fez en guerra - daquesto sou verdadeiro: sol que viu os genetes, come bezerro tenreiro, sacudiu-se e revolveu-se, alçou rab’ e foi sa via a Portugal. Don Foão, que eu sei que á prez de liveldade, vedes que fez e na guerra - sabede-o per verdade: sol que viu os genetes, come can que sal de grade, sacudiu-se e revolveu-se, alçou rab’ e foi sa via a Portugal. (D. Afonso Mendes de Besteiros) Ai flores, ai flores do verde pino, se sabedes novas do meu amigo! Ai Deus, e u é? Ai, flores, ai flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado! Ai Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amigo, aquel que mentiu do que pos comigo! Ai Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amado aquel que mentiu do que mi ha jurado! Ai Deus, e u é? -Vós me preguntades polo voss'amigo, e eu ben vos digo que é san'e vivo. Ai Deus, e u é? Vós me preguntades polo voss'amado, e eu ben vos digo que é viv'e sano. Ai Deus, e u é? Senhor fremosa, pois me non queredes por Martim Soares Senhor fremosa, pois me non queredes creer a coita'n que me ten Amor, por meu mal é que tan ben parecedes e por meu mal vos filhei por senhor, e por meu mal tan muito ben oí dizer de vós, e por meu mal vos vi: pois meu mal é quanto ben vós havedes. E pois vos vós da coita non nembrades nen do afán que mi o Amor faz sofrer, por meu mal vivo máis ca vós cuidades, e por meu mal me fezo Deus nacer e por meu mal mon morrí u cuidei como vos viss', e por meu mal fiquei vivo, pois vós por meu mal ren non dades. continua Desta coita en que me vós tẽedes, en que hoj'eu vivo tan sen sabor, que farei eu, pois mi a vós non creedes? Que farei eu, cativo pecador? Que farei eu, vivendo sempre assí? Que farei eu, que mal día nací? Que farei eu, pois me vós non valedes? E pois que Deus non quer que me valhades nen me queirades mia coita creer, que farei eu? Por Deus, que mi o digades! Que farei eu, se logo non morrer? Que farei eu se máis a viver hei? Que farei eu, que conselh'i non hei? Que farei eu, que vós desemparades?