Epidemia de riscos Paulo Vaz VII Congresso Brasileiro deBioética Propostas • Mudança nas relações entre normal e patológico: normalidade inatingível, cuidado crônico com a saúde e generalização do estado de quase-doente. • Princípio do não-dano e autenticidade generalizada. Se não há consenso sobre a boa vida, extrair da interioridade a possibilidade de regras: relação com os prazeres e a compaixão. Índices de mudança • Modernidade: Saúde é a vida no silêncio dos órgãos. Doença e sintoma. • Atualidade (doenças orgânicas): Sáudável não designa mais quem não está doente, mas aquele que tem uma baixa probabilidade de adoecer no futuro; no limite, aquele que não terá nenhuma doença (Dawber). • Atualidade (doença mental): Nível superior de funcionamento em diversas atividades. Procurado pelos outros. Um problema nunca o esmaga. (APA) Lugar de fala • Pesquisa normal: reduzir o sofrimento através da descoberta de sua causa. • Articulação causal também é classificação hierárquica de atos e indivíduos. Por sermos seres com consciência, a classificação afeta o classificado. Saber causal é modo de dar sentido à conduta. • Por ser modo de constituir os indivíduos, é também modo de de fazer moralidade e política: distribuição de responsabilidade pelo sofrimento. Exemplos: fator de risco na infância para o crime; acidentes e motoristas bêbados. Doenças orgânicas: modernidade • Contrapartida anatômica. Entidade que existe independente do mal-estar de indivíduos. • Doença não é castigo por pecado, não depende do que se é. Doença desmoralizada. • Experiência: limitação temporal e espacial do cuidado com a saúde. Saúde – doença (sintoma e intervenção) – retorno à saúde. Doença mental: modernidade • Ausência de contrapartida anatômica; doença funcional; doença remetida a um espaço psíquico. • Desvio era signo da doença. Transformar o que antes era visto como imoralidade em doença. • Limitação espacial e temporal do cuidado. • Raridade atual da doença, mas universal na sua forma virtual: resto de loucura em todo são e resto de sanidade em todo louco. • Ética: objetivar o que nos torna objetos; sob outro ponto de vista, culpa. Fator de risco • Nem causa suficiente, nem necessária da doença. Designa o que amplia as chances de um evento ocorrer. Saber probabilístico e multi-fatorial. • Longo tempo entre exposição ao fator e advento do sintoma. • Enfatiza a ação individual. Estilo de vida. • Futuro novamente na forma da relação entre crédito e dívida. Credor é saber probabilístico. Incerteza de recompensa e castigo. Conceito de risco • Arrependimento prévio. Incerteza não só em relação ao que ocorrerá, mas também ao que seremos. Arrepender-se por fazer e por não fazer. (Luhman) • Risco e dupla contingência: futuro provável e dependente de decisão. (Luhman) • Regra da boa vida quando há a incessante injunção social de que “a vida é agora”. Sociedade do crédito. Moderar os prazeres e a própria moderação. • Vocabulário de atribuição de responsabilidade em cultura globalizada, com indivíduos frágeis. Problemas éticos com o fator de risco • Cuidado crônico com a saúde. Relação com o futuro reduzida ao controle de possibilidades negativas. Forma do futuro reduzida à catástrofe antecipada. • Invasão do cotidiano por peritos. Exemplo da pesquisa médica sobre redução de gordura. • Espiral de controle e ansiedade (Crawford) • Controle do acaso e morte à distância. • Cultura contra expor o outro ao risco. O que é possível ser feito com riscos de baixa probabilidade e alta magnitude. Doença mental e sofrimento psíquico • Centralidade do sofrimento no diagnóstico. Um problema de saúde mental é um sofrimento. Valorizar a interioridade de indivíduos • Polos de vítima e agressor na multiplicidade de novas doenças mentais. • Cuidado crônica: pela indiferença crescente entre cura e redução de sintomas, medicamento torna-se alimento; pela impossibilidade de não sofrer, todos podem se tornar doentes mentais. A falha de performance e o sofrimento. Polo da vítima • Depressão: relação técnica com o sofrimento. Sofrimento não abre a necessidade de repensar a vida. Sofrimento não abre novos futuros. • Estresse pós-traumático: sentido da experiência já é dado e é negativo. Movimento de minorias e estresse pós-traumático. Ampliação do que pode causar estresse: ver um morto, saber inesperadamente da morte de parente ou próximo; depois de 11 de setembro, ver na TV um sofrimento. Polo do agressor • Ambiguidade dos “vícios”: além do auto-controle (e, portanto, desculpável), mas pode causar sofrimento a outros. • Transtorno de personalidade anti-social: impulsivo, incapaz de adiar prazeres e não leva em conta sofrimento que causa. • Pedofilia e estupro: a dimensão do incurável. • Esquizofrênicos punidos quando cometem homicídio.