Desastres, mudança climática e
gênero
Comissão Interamericana de Mulheres
Trigésima Quarta Assembléia
Santiago do Chile, Chile
10 a 12 de novembro de 2008
Ana Lya Uriarte
Ministra Presidenta
Comissão Nacional do Meio Ambiente
Desastres “naturais”
Os
desastres deflagrados por
perigos naturais, como inundações,
secas, tormentas, tsunamis,
terremotos e deslizamentos, estão
aumentando devido ao
desenvolvimento não-sustentável e
à mudança climática.
Tendência dos desastres naturais, 1975-2005*
Esses
eventos são responsáveis
pela perda de milhares de vidas
humanas todos os anos.
As
perdas econômicas excedem
as contribuições de ajuda
internacional nos países em
desenvolvimento e algumas vezes
ultrapassam inclusive seu produto
interno bruto anual.
Fonte: ISDR
Risco de desastres: ônus sobre a população pobre
Os
desastres afetaram 2,5 bilhões de pessoas na última
década, com custos de US$570 bilhões. Morreram 889.000
pessoas. Os principais perigos estão relacionados com o
clima – inundações, tormentas e secas.
Os
países mais pobres são afetados cinco vezes mais
(97% das vítimas vivem em países em desenvolvimento).
A
vulnerabilidade a perigos naturais se agrava pela
degradação de terras, por assentamentos mal planejados,
pela falta de informações e de preparação, pela
desigualdade de gênero e pela pobreza.
Risco de desastres maiores e mudança climática
Indícios
de eventos extremos mais intensos e
periódicos (Quarto Relatório do IPCC) – aumento de
temperatura, perda de geleiras e gelo polar, secas,
chuvas intensas, ondas de calor, tormentas tropicais
mais fortes.
Deltas
povoados na Ásia, Pequenos Estados Insulares
e África entre os mais afetados.
Impactos
de duas maneiras: (i) mais eventos extremos;
e (ii) maior vulnerabilidade a riscos – a partir de pressão
sobre ecossistemas e água.
Grande
vazio de conhecimento sobre as
conseqüências humanitárias e econômicas específicas.
Mudança climática e desenvolvimento sustentável
A
mudança climática é e será uma grave ameaça ao
desenvolvimento sustentável, com impactos observados e
esperados em meio ambiente, energia, saúde humana,
segurança alimentar, economia, recursos naturais e infraestrutura física.
Segundo
o IPCC, a mudança climática está ocorrendo e
se exacerbará, afetando de maneira diferenciada as
diversas regiões, gerações, idades e grupos de rendas,
ocupações e gênero e, sobretudo, os pobres.
Requerem-se
políticas e ações de adaptação à mudança
climática que integrem conhecimento e experiência na
redução do risco de desastres.
Desastres, mudança climática e gênero
A
importância da eqüidade de gênero foi reconhecida
em muitos processos globais.
A
Plataforma de Ação de Beijing, que forneceu
orientação valiosa para muitos outros processos
internacionais.
A
Segunda Conferência Mundial de Redução de
Desastres (2005), que enfatizou a necessidade de
incorporar a perspectiva de gênero em todos os
processos de tomada de decisão para a gestão de
desastres e que culminou com a preparação do Plano
de Ação de Hyogo.
No
entanto, em relação aos processos de negociação de
mudança climática, infelizmente a maior parte do debate
tem passado ao largo da questão do gênero.
Impacto humano por tipo de desastres: Comparação 2004-05
Total de afetados
Total de mortes
Tormenta de
vento
Incêndios
Onda/Tsunami
Vulcões
Deslizamentos
Inundações
Temperatura
extrema
Epidemias
Terremotos
Secas
Total
Distribuição de desastres por tipo de renda
Fonte: J. García, ISDR
Desastres, mudança climática e gênero

Embora as estatísticas de gênero e impactos de
fenômenos extremos não estejam sistematizadas,
estima-se que, para cada homem morto devido a
essa causa, morram de 3 a 5 mulheres.

90% das 140.000 mortes em Bangladesh em 1991
foram de mulheres.

56% das mortes pelo tsunami em Indonésia em 2004
foram de mulheres.

A possibilidade de morte de mulheres e crianças é 14
vezes maior que a de homens.
Por que esta diferença?
Desastres, mudança climática e gênero
Por que esta diferença?
1. Não se pode considerar a mulher como vítima de maneira
simplista, somente por seu sexo.
2. As mulheres não são vulneráveis porque são “naturalmente
fracas”: as mulheres e os homens enfrentam vulnerabilidades
diferentes devido à sua condição de gênero.
3. As diferenças nas mortes por desastres naturais estão
diretamente ligadas aos direitos econômicos e sociais das
mulheres. Quando estes não são protegidos, morrem mais
mulheres que homens.
Fonte: Comissão sobre o
Status da Mulher, ONU
Desastres, mudança climática e gênero
Por que esta diferença?
4. As mulheres desempenham um papel importante em
fornecer ajuda à família e à comunidade, tanto em atividades
de prevenção como nos desastres.
5. Mas são afetadas de maneira desproporcional pelos
desastres e, muitas vezes, enfrentam violência de gênero e
exploração em seguida a eles.
6. Sua vulnerabilidade é muito maior devido a sua posição
subordinada na família, que provém de valores culturais
tradicionais e patriarcais.
7. São muitas vezes excluídas do planejamento para a resposta
aos desastres, o que implica que suas necessidades não são
abordadas adequadamente.
Desastres, mudança climática e gênero
Por que esta diferença?
8. Em geral, mulheres e meninas são responsáveis pela coleta
de lenha e água. A mudança climática aumentará sua carga
de trabalho devido à redução na disponibilidade de água e
outros recursos.
9. As mulheres grávidas são particularmente suscetíveis a
doenças relacionadas com a água. A anemia resultante da
malária responde por um quarto dessas mortes. A mudança
climática exacerbará sua vulnerabilidade a doenças e
pragas.
10. As mulheres são as principais produtoras de cultivos básicos
no mundo, fornecendo até 90% dos alimentos de
subsistência no setor rural pobre e em torno de 60-80% dos
alimentos em muitos países em desenvolvimento. A mudança
climática continuará afetando sua atividade, pois já está
impactando a segurança alimentar mundial.
Desastres, mudança climática e gênero
Por que esta diferença?
11. Devido a necessidades econômicas, a probabilidade de que
os homens migrem, sazonalmente ou por alguns anos, é
maior. Os lares deixados para trás, liderados por mulheres,
são muitas vezes os mais pobres.
12. Segundo a Agência de Refugiados das Nações Unidas, 80%
dos refugiados do mundo são mulheres e crianças. “Para as
donas de casa e mães jovens afetadas por inundações e
deslocadas, é mais difícil encontrar trabalho remunerado.”
13. Por último, a carga desigual de trabalho devido a
responsabilidades produtivas e reprodutivas, a falta de
controle dos meios de produção, a mobilidade restrita, as
facilidades limitadas para educação e emprego e as
desigualdades na ingestão de alimentos em relação aos
homens tornam as mulheres mais vulneráveis.
Desastres, mudança climática e gênero
Se esta é a situação, o que se pode fazer?

Entender que as mulheres, que constituem a maioria da
população mundial, são agentes de mudança com um papel
significativo nos esforços globais para abordar a mudança
climática e seus impactos adversos.

Identificar e analisar impactos específicos de gênero, relativos
a inundações, secas, ondas de calor, doenças e outras
mudanças ambientais e desastres.

Incorporar a perspectiva de gênero em todas as iniciativas de
gestão de risco de desastres.
Desastres, mudança climática e gênero
Se esta é a situação, o que se pode fazer?

Incorporar a perspectiva de gênero nos processos da
Convenção de Mudança Climática e do Protocolo de Kyoto:

Garantir que as mulheres e as peritas/os em gênero
participem de todas as decisões relativas a mudança
climática.

Apoiar o desenvolvimento de uma estratégia ou plano de
ação de gênero no âmbito da Convenção.

Aumentar o acesso eqüitativo de mulheres a enfoques de
mercado como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.

Assegurar a eqüidade de gênero em todas as fases e
aspectos dos mecanismos financeiros (desenho,
implementação, avaliação de propostas, etc.).
Desastres, mudança climática e gênero
Se esta é a situação, o que se pode fazer?

Fortalecer capacidades em grupos e organizações de
mulheres, incluindo entrega de recursos, respeitando a
cultura e o conhecimento tradicional, para apoiar o papel da
mulher na gestão de desastres e da mudança climática.

Assegurar a inclusão de gênero em comunicações, educação
e treinamento, desenvolvendo padrões de curriculo e
introduzindo-o em programas de educação e capacitação
formais e informais.

Assegurar a participação e oportunidades para a mulher em
ciência e tecnologia, aumentando o financiamento e
desenvolvendo uma agenda de redução de risco específica
de gênero.
Desastres, mudança climática e gênero: Conclusão

A eqüidade de gênero é possivelmente a meta mais
importante no campo da redução de desastres e da mudança
climática, uma vez que ela contribui para reduzir os riscos e a
vulnerabilidades de maneira efetiva e sustentável.

Fica muito por fazer ainda para implementar as
recomendações anteriores. São cada vez mais numerosos os
exemplos de melhores práticas, mas as necessidades são
maiores. A expansão urbana não planejada, a degradação
ambiental e o aquecimento global são alguns dos principais
riscos.

Os vazios são enormes e só podem ser preenchidos com a
ação concertada dos governos e das organizações
internacionais para dar uma alta prioridade a estes temas.
Desastres, mudança climática e gênero: Conclusão

A eqüidade de gênero é possivelmente a meta mais
importante no campo da redução de desastres e da mudança
climática, uma vez que ela contribui para reduzir os riscos e a
vulnerabilidades de maneira efetiva e sustentável.

Fica muito por fazer ainda para implementar as
recomendações anteriores. São cada vez mais numerosos os
exemplos de melhores práticas, mas as necessidades são
maiores. A expansão urbana não planejada, a degradação
ambiental e o aquecimento global são alguns dos principais
riscos.

Os vazios são enormes e só podem ser preenchidos com a
ação concertada dos governos e das organizações
internacionais para dar uma alta prioridade a estes temas.
Desastres, mudança climática e gênero:
Conclusão
PROCESSSOS DE ADAPTAÇÃO NÃO
SERÃO EFETIVOS SE NÃO FOREM
ACOMPANHADOS DE COMPROMISSOS
DO ESTADO COM A EQÜIDADE DE
GÊNERO E A INTEGRAÇÃO SOCIAL.
Obrigada!
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