Acidente Vascular Cerebral MSc. Roberpaulo Anacleto Definição • OMS – Acidente Vascular Cerebral define-se como: • “Sintomas e/ou sinais de perda de função cerebral focal e, por vezes, global, instalando-se rapidamente, com duração superior a 24 horas ou levando à morte, e sem outra causa aparente que a de origem vascular”. Epidemiologia Incidência anual: 2% população (países industrializados) Custos econômicos e sociais • Mortalidade 2ª causa de morte em Portugal 1/6 doentes morre no 1º mês após AVC • Dependência 1/2 dos sobreviventes - dependência permanente 10 a 20% dos doentes com AIT vão ter um AVC incapacitante nos 90 dias subsequentes Classificação Patológica • Arterial • Acidente vascular cerebral (AVC) • Isquémico • Acidente vascular cerebral isquêmico (AVC I) • Acidente isquémico transitório (AIT) • Hemorrágico • Acidente vascular cerebral hemorrágico (AVC H) (hemorragia parenquimatosa) • Hemorragia subaracnoideia (HSA) • Acidente vascular medular (AVM) • Venoso • Trombose venosa cerebral (TVC) AVC isquêmico - Fisiopatologia Oclusão de vaso intracraneano provoca diminuição do fluxo sanguíneo para a região cerebral que este vasculariza Diminuição do aporte de glicose aos neurônios (células com elevado metabolismo e baixa reserva de glicogênio) radicais livres de O2 por diminuição produção de ATP mitocondrial A magnitude desta diminuição depende da existência ou não de circulação colateral Febre Glicemia > 200 mg/dl ISQUEMIA AVC isquêmico vs AIT Ambos são: Episódios de disfunção neurológica focal de presumível etiologia vascular isquêmica Início súbito (abrupto) de sinais neurológicos com déficit máximo após segundos ou minutos AIT: Duração dos sintomas < 24 horas (geralmente < 1 hora); Sem evidência de enfarte isquémico agudo (exames imagem) AVC isquémico vs AIT AVC isquêmico: Déficit neurológico persistente (duração dos sintomas > 24 horas ou provocando a morte) Evidência de enfarte isquêmico agudo AVC isquêmico minor: Déficit neurológico persistente não incapacitante AVC isquémico vs AIT AVC hemorrágico Localização: • Difusa – Intraventricular e Subaracnoideia • Focal – Hemorragia intraparenquimatosa • Hemorragia no espaço epidural e subdural surge por trauma. Hemorragia profunda (GG base, subcortical) Causa mais frequente: HTA (hematoma hipertensivo) • Hemorragia lobar (cortical) Causa mais frequente: • Jovem – Malformação Artério-Venosa (MAV) cerebral • Idoso – Angiopatia amilóide cerebral AVC hemorrágico Hemorragia subaracnóidea Causas Traumatismo Craneano Ruptura do Aneurisma Sacular Hemorragia de uma Anomalia Vascular Extensão para o espaço subaracnóideo de uma Hemorragia Intracerebral Primária. Idiopática. Fisiopatologia Aneurismas saculares – bifurcações das artérias intracraneanas de médio e grande calibre 85% circulação anterior (polígono de Willis) 20% múltiplos aneurismas (bilateralmente e simetricamente em espelho) AVC hemorrágico Hemorragia subaracnóidea • Clínica • Cefaléia súbita de grande intensidade • Náuseas e vômitos • Afundamento estado de consciência • Convulsões • • • Sinais meníngeos F.O.: Edema papilar, h. subhialóidea HTA “reativa” AVC hemorrágico Hemorragia Intracerebral • Causas • mais comuns: hipertensão, trauma e angiopatia amilóide cerebral. • aumentam o risco: idade avançada, consumo de álcool e cocaína Inclui: 1. Hemorragia Intraparenquimatosa Hipertensiva 2. Hemorragia Lobar 3. Outras causas AVC hemorrágico Hemorragia Intracerebral Hemorragia Intraparenquimatosa Hipertensiva • Ruptura espontânea de uma pequena artéria que penetra o cérebro. • Desenvolve-se entre 30 a 90 min • Locais mais comuns: • tálamo • protuberância • putame • cerebelo. • Pode ser pequena, ou um grande coágulo pode comprimir os tecidos adjacentes herniação e morte. HEMORRAGIA MODERADA vs HEMORRAGIA GRAVE AVC hemorrágico Hemorragia Intracerebral hemorragia Lobar Sintomas surgem em alguns minutos. Clínica Hemianopsia (Hem. Occipital), afasia e delirium (Hem. Temporal esquerda), perda hemisensorial (Hem. Parietal), fraqueza do braço (Hem. Frontal) Geralmente os doentes têm cefaleias focais e vómitos. Outras Angiopatia Amilóide Cerebral Traumatismo craneano Tumores Cocaína Terapia Anticoagulante Encefalopatia Hipertensiva Abordagem inicial • Objetivos na fase inicial incluem: • Assegurar a estabilidade do doente • Reverter rapidamente quaisquer condições que estejam a contribuir para o mau estado do doente • Tomar medidas para definir a base fisiopatológica dos sintomas neurológicos do doente • Pesquisar potenciais contra-indicações para a trombólise em doentes com AVC isquémico agudo Abordagem inicial Assegurar a estabilidade do doente Sinais vitais pressão arterial, respiração e temperatura Pressão arterial Pressão arterial média (PAM) – normalmente elevada em doentes com AVC agudo Geralmente um mecanismo de manutenção da perfusão cerebral decisão de tratar: balanço entre o potencial risco de elevações sucessivas na pressão arterial vs possível declínio na função neurológica quando a pressão arterial é reduzida Abordagem inicial Assegurar a estabilidade do doente • Respiração • Doentes com PIC elevada devido a hemorragia ou isquémia – podem apresentar drive respiratório diminuído ou obstrução muscular das vias aéreas • Doentes com ventilação adequada – monitorizar Sat. O2 • Intubação – restaurar ventilação, proteger via aérea, importante na presença de vómitos Abordagem inicial Assegurar a estabilidade do doente • Temperatura • Febre pode piorar isquémia cerebral • Diagnóstico diferencial: meningite, empiema subdural, abcessos, endocardite infecciosa, pneumonia por aspiração e infecção urinária • Manter normotermia pelo menos nos 1os dias – antipiréticos Diagnóstico diferencial • Convulsões • Síncope • Enxaqueca • Hipoglicémia (perguntar se o doente toma insulina ou um • • • • hipoglicemiante oral) Overdose ou abuso de drogas Medicação no momento da admissão Acidentes recentes Histeria AVC isquêmico ou hemorrágico Classificação OCSP Exames: Início em actividade Cefaleia Afundamento do estado de consciência Deterioração progressiva TA muito elevada na admissão Tomografia Computorizada (TC) altamente sensível no diagnóstico de hemorragia no AVC agudo Imagiologia por Ressonância Magnética (IRM) mais sensível que a TC no diagnóstico precoce de enfarte cerebral Em doentes com isquemia que ainda não têm enfarte cerebral, tanto a TC como a RM podem estar normais Curso clínico AVCs embólicos • geralmente ocorrem repentinamente • os défices neurológicos indicam perda focal de função cerebral, que é máxima no início • recuperação rápida favorece este diagnóstico Trombose • sintomas frequentemente flutuam, variando entre um estado normal e anormal, ou progredindo gradualmente com alguns períodos de melhoria Curso clínico Oclusão das artérias perfurantes sintomas geralmente desenvolvem-se durante um período de horas ou no máximo alguns dias ao passo que a isquemia cerebral relacionada com grandes artérias pode evoluir durante um período de tempo mais longo Hemorragia intracerebral não melhora durante o período inicial progride gradualmente durante minutos ou poucas horas Hemorragia subaracnóidea por aneurisma desenvolve-se rapidamente disfunção cerebral focal é menos comum Factores de risco • Variáveis demográficas • Idade • Sexo • Raça • Diabetes • HTA • Anfetaminas • Cocaína • Doença cardíaca (patologia valvular, anterior enfarte agudo do miocárdio, fibrilhação auricular, endocardite) • Período pós-parto • Desordem da coagulação, prescrição de varfarina ou outro anti-coagulante TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO (TCE) Epidemiologia • Mundo - 10 milhões/ano internações • 3ª maior causa morte • Homens > Mulheres (2:1) • Jovens • Causas: • Acidente trânsito • Quedas • Agressões • Esportes Fisiopatologia • Primária: diretamente consequentes ao impacto do TCE • Secundária: reações orgânicas que se desenvolvem a partir do impacto inicial. Pressão Intracraniana • Normal – 10mmHg. • Volume total do conteúdo craniano – constante. • Determinantes: • Encéfalo • Líquor Aumento de qualquer um • Sangue PIC Mecanismos de Compensação • Expulsão líquor dos ventrículos e das cisternas para o espaço subaracnóideo • Diminuição sangue contido no sistema venoso encefálico Classificação • Morfologia • Fraturas de crânio: • Calota • Base • Lesões intracranianas: • Focais – Subdural, Extradural, Intracerebral • Difusas – Concussão, LAD FRATURAS DE CRÂNIO FRATURA DA BASE DE CRÂNIO Sinais clínicos • Por fístula liquórica (otorréia e rinorréia) • Equimose periorbital (“olhos de guaxinim”) • Equimose retroauricular (sinal de Battle) • Disfunção do VII (paralisia facial) ou VIII par (perda de audição) LESÕES INTRACRANIANAS Conclusão • Perda temporária da função neurológica que pode ser desde amnésia e confusão até breve perda da consciência. • Leve • Clássica – recuperação consciência < 6 horas LESÃO AXONAL DIFUSA (LAD) Lesão axonal difusa • Secção fibras nervosas • Consequentes ao movimento brusco do sistema nervoso sobre si mesmo • Mortalidade: até 33% • Alteração importante da consciência • Sem indicação cirúrgica CONTUSÃO CEREBRAL E HEMATOMA INTRAPARENQUIMATOSO Contusão cerebral/HIP • Comprometimento da superfície cerebral com vários graus de hemorragia petequial, edema e destruição tecidual. • Déficit: localização e tamanho da lesão • HIP: Podem ocorrer alguns dias após TCE HEMATOMA EXTRADURAL Hematoma Extradural ou Epidural • Localizados entre a dura-máter e a calota craniana • Forma biconvexa ou de lente • Mais frequente: temporal ou têmporo-parietal • Comumente resultam de ruptura da artéria meníngea média Hematoma extradural • “intervalo lúcido” – “fala e morre” • Tratamento cirúrgico: • Sintomático • DLM > 10mm • Assintomáticos quando hematoma > 10mm • Resultado: diretamente relacionado com estado neurológico do paciente antes da intervenção HEMATOMA SUBDURAL Hematoma subdural • Mais frequentes • 30% TCE graves • Habitualmente recobrem toda a superfície do cérebro • Unilateral – 80% • Mais comum: fronto-têmporo-parietal HSD • Clínica: • Alteração nível consciência • Déficits localizados • Anisocoria • Posturas patológicas • Grande efeito massa -> herniação: Tríade de Cushing (hipertensão, bradicardia e bradipnéia) Tratamento – Atendimento inicial • A – vias aéreas com proteção da coluna cervical • B – respiração e ventilação • C – circulação com controle hemorragia • D – estado neurológico • E – exposição (despir paciente) TCE leve • CT se perda consciência > 5minutos, amnésia, cefaléia grave, ECG < 15 ou déficit neurológico focal • Se exames normais e paciente assintomático -> após algumas horas pode receber alta sob observação nas próximas 24h. TCE moderado • CT crânio + avaliação NCR – TODOS • Hospitalização em UTI • Avaliação neurológica freqüente • Nova CT se necessário TCE grave • Prioridade à correção de hipotensão e hipóxia • Avaliação neurológica + CT crânio • IOT (cuidado com broncoaspiração) • Monitorização PCO2 (manter entre 30 e 35mmHg) – evitar hiperventilação • Se necessário expansão volêmica - cristalóides Tratamento TCE grave • Normalizar PIC • Otimizar PPC • Prevenir eventos que exacerbem ou desencadeiem lesões secundárias • Evitar complicações iatrogênicas Normalizar PIC • Intervir sempre que PIC > 20mmHg por mais de 5 – 10 min • Se possível, drenar líquor para controle PIC • Evitar hiperventilação (realizar somente se refratariedade) • Manitol – eficiente (0,25 – 1g/kg) Normalizar PIC • Reposição volêmica para evitar hipovolemia • Cabeceira elevada a 30º e centrada • Sedação: midazolam / propofol + opiáceo • Coma barbitúrico • Bloqueador neuromuscular • Corticóide – não recomendado • Hipotermia moderada (32 a 34º C) Manter PPC • PPC > 60mmHg • Capacidade transporte oxigênio adequada: Hb > 9, SatO2 > 95% • Expansão volêmica adequada • BH cuidadoso • Ajuste sedação • Drogas vasoativas, se necessário Prevenir eventos que exacerbam HIC • Prevenir e tratar hiponatremia • Normovolêmico • Evitar hipertermia • Evitar hipoxemia • Anticonvulsivantes (fenitoína/carbamazepina) • Evitar hiperglicemia (< 150mg/dl)