Ensino Médio 3ª Série. Espionagem no Brasil Espionagem abre discussão sobre preparo do Brasil para uma guerra cibernética Alvo de espionagem estrangeira, a presidente Dilma Rousseff disse em um discurso na ONU que "o Brasil sabe proteger-se" de ameaças vindas pela rede. O sistema de defesa cibernética do país, no entanto, ainda dá os primeiros passos e está longe de garantir segurança contra ataques, apesar de o tema já figurar como prioridade na Estratégia Nacional de Defesa. Entre as medidas discutidas pelo governo estão a criação de uma agência nacional de segurança cibernética e a implementação de ações integradas entre os muitos órgãos envolvidos na proteção da rede de computadores brasileira. Atualmente, a segurança da rede brasileira não é centralizada. Fragilidade A fragilidade do sistema de segurança cibernético brasileiro foi escancarada no escândalo envolvendo o vazamento promovido por Edward Snowden, ex-colaborador da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês). Documentos mostraram que a presidente foi alvo de espionagem, assim como o Ministério das Minas e Energia a Petrobras, com suspeitas de espionagem comercial nesse último caso. Especialistas reforçam que "nenhum país está 100% protegido" da ação de hackers, sejam eles ativistas, integrantes de grupos criminosos ou funcionários de agências de inteligência de outros países. Dilma atacou a bisbilhotagem na rede em discurso na ONU e disse que 'o Brasil sabe proteger-se‘. Todos também destacaram que o Brasil está dando passos importantes na construção de um sistema de defesa e segurança cibernética, embora esteja em um estado ainda inicial. Nenhum deles se disse surpreso pelos casos de espionagem revelados por Snowden. A espionagem em si é sobretudo resultado de uma vulnerabilidade do sistema de segurança cibernética (que inclui a proteção de dados de instituições governamentais, privadas e de cidadãos em geral). Há também o conceito de defesa cibernética, nos moldes militares. Redes de órgãos públicos e de empresas estratégicas podem ser vítimas - agora e, principalmente, no futuro - de ataques que se assemelham aos de uma campanha de guerra. A fronteira entre segurança e defesa pode ser tênue. E as batalhas não são convencionais - travada na rede mundial de computadores, essa guerra silenciosa pode ter caráter destrutivo, mas os que estão no frontgeralmente não vestem o uniforme de um país, embora estejam a serviço de interesses de Estados nacionais. A estratégia de defesa e boa parte das políticas gerais de segurança está a cargo do Centro de Defesa Cibernética do Exército (CDCiber), que responde ao Ministério da Defesa. Para o professor Adriano Cansian, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de São José do Rio Preto, o principal desafio do Brasil é se proteger contra os chamados "ataques de negativa de serviço". Tais ataques ocorrem quando sistemas são bombardeados com falsos acessos, que acabam congestionando e derrubando sites. Foi o que ocorreu em 2011, quando o site da Presidência e de vários ministérios e órgãos da administração federal foram alvo de ataques ao longo de vários dias. O braço brasileiro do movimento de hackersLulzSec assumiu a ofensiva que, segundo o grupo, tinha a intenção de mostrar a vulnerabilidade do sistema. Ex-colaborador da NSA, Snowden escancarou a fragilidade dos sistemas de segurança cibernética Cansiam diz que as redes de determinados órgãos podem requerer atenção especial por serem estratégias em caso de guerra virtual. O pesquisador, que é consultor de segurança cibernética de órgãos governamentais, diz no entanto que "o maior problema é perder a conectividade da rede, por negativa de serviço". "Como criamos dependência muito grande da rede, seja no comércio, no setor de serviços e entretenimento, se um ataque se prolongar, as consequências podem ser danosas. Imagina se por causa de um ataque a China ficar impossibilitada de fazer comércio com o mundo durante 20 dias… Isso vai ser sentido em todo lado", diz. Por que os EUA espionam o Brasil? Motivos econômicos e políticos estão entre as principais causas do grande interesse do país norte-americano em relação ao Brasil. Parte do mundo foi pego de surpresa quando Edward Snowden, ex-funcionário terceirizado da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos, revelou no início de junho que o seu país espionava dados telefônicos e de internet de muita gente ao redor do planeta. Além disso, uma reportagem de julho deste ano revelou que o Brasil é o país mais monitorado em toda a América Latina, o que causou reações negativas por parte do governo brasileiro, com a presidente Dilma Rousseff cancelando uma visita oficial que faria aos Estados Unidos. Mas apenas em janeiro de 2013, foram espionados 2,3 bilhões de telefonemas e mensagens. Novas informações dão conta de que setores estratégicos do país, como a Petrobrás e o Ministério de Minas e Energia (MME), além da própria presidente da República, também foram alvo de espionagem. Enfim, o fato de o Brasil ser o país mais “observado” em toda a América Latina levanta um grande questionamento: por que os Estados Unidos espionam o Brasil? Guerra econômica Quando as informações sobre a espionagem dos Estados Unidos foram reveladas, muitos analistas acusaram o país norte-americano de tentar garantir interesses econômicos de suas corporações, o que foi prontamente negado por Washington. Entretanto, as últimas revelações mostram o contrário. Uma reportagem do dia 08 de setembro revelou documentos ao qual teve acesso e que comprovam que a Petrobrás, maior transnacional brasileira a atuar no mundo, teve sua rede privada espionada pela NSA. Os documentos evidenciam o interesse estadunidense em torno do petróleo brasileiro, afinal, informações obtidas por meio de espionagem poderiam favorecer algumas empresas nos leilões do PréSal. No último final de semana, uma nova informação reforçou ainda mais o cunho econômico das espionagens realizadas pelos Estados Unidos no Brasil. Foram apresentadas informações de que o MME foi alvo de espionagem por parte da NSA. Os dados coletados de comunicações de computadores, telefones fixos e celulares do Ministério de Minas e Energia foram monitorados pela agência em parceria com a Agência Canadense de Segurança em Comunicação. Além de EUA e Canadá, Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia, outros três países que colaboram com as espionagens norteamericanas também tiveram acesso aos dados. Em sua conta pessoal no Twitter, a presidente Dilma Rouseff afirmou que as novas informações confirmam a existência de “razões econômicas e estratégicas por trás de tais atos [de espionagem]”. Guerra informacional As explicações oficiais da NSA não negam a espionagem, mas tentam explicá-la ao usar a “guerra ao terrorismo” como justificativa. O diretor da NSA, general Keith Alexander, falou sobre o tema ainda em julho deste ano durante uma conferência. Após ser interpelado por um jornalista, ele respondeu o seguinte: Sabe, a realidade é que não estamos coletando todos os emails das pessoas no Brasil, nem ouvindo suas conversas no telefone. Por que faríamos isso? O que alguém levou foi um programa que analisa os metadados ao redor do mundo, que você usaria para encontrar atividades terroristas que possam transitar [entre países]. O Brasil é uma central importante na transmissão desses dados, com uma série de cabos passando pelo nosso litoral. EUA e Canadá espionaram Ministério de Minas e Energia. Os serviços de espionagem dos Estados Unidos e do Canadá colaboraram para espionar as comunicações do Ministério de Minas e Energia do Brasil, segundo documentos do exanalista da CIA Edward Snowden . Segundo os documentos, a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) dos EUA colaborou com o Centro de Segurança das Telecomunicações do Canadá para obter dados das ligações telefônicas e do fluxo de e-mails desse Ministério. Esses órgãos de segurança teriam utilizado um programa de informática chamado Olympia para realizar um mapa detalhado das comunicações do Ministério com outros países. As denúncias são apoiadas em documentos que Snowden entregou ao jornalista americano Glenn Greenwald, colunista do jornal britânico "The Guardian“. Greenwald afirmou que, segundo fica comprovado nos documentos, o objetivo da espionagem ao Ministério tem "claros fins econômicos". Esta denúncia se junta a outras divulgadas anteriormente por Greenwald que revelaram que os EUA espionaram a Petrobras e as comunicações eletrônicas e telefônicas da presidente Dilma Rousseff. jornalista americano Glenn Greenwald, colunista do jornal britânico "The Guardian“ que mora no Rio de Janeiro. Dilma protestou na Assembleia Geral da ONU por este caso de espionagem, que considerou "uma violação" da soberania do país, "uma afronta" e "uma falta de respeito" que não pode ser justificada na luta contra o terrorismo. Devido à suspeita de espionagem e por entender que o Governo de Barack Obama não deu explicações suficientes, Dilma decidiu adiar a visita de Estado que faria a Washington no dia 23 de outubro.