FLORESTAN FERNANDES (1920 – 1995) Pensando bem... 1. "Na sala de aula, o professor precisa ser um cidadão e um ser humano rebelde." 2. “A tendência democrática de escola não pode consistir apenas em que um operário manual se torne qualificado, mas em que cada cidadão possa se tornar governante.” 3. “Todos os homens são intelectuais, mas nem todos os homens desempenham na sociedade a função de intelectuais.” Florestan Fernandes – 1920 - São Paulo - filho de uma imigrante portuguesa analfabeta, que o criou sozinha, trabalhando como empregada doméstica; Aos 6 anos, Florestan começou a trabalhar como engraxate e depois em vários outros ofícios = “início de sua aprendizagem sociológica” contato que teve com os habitantes da cidade; Aos 9 anos, a necessidade de ganhar dinheiro o fez abandonar os estudos, que só recuperaria com um curso supletivo; Aos 18, foi aprovado para o curso de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo e, por essa época, iniciou sua militância em grupos de esquerda. Contra o regime militar, é exilado no Canadá e nos Estados Unidos, onde leciona em universidades. De volta ao Brasil, filiado ao Partido dos Trabalhadores, elegeu-se deputado federal em 1986 e 1990. Florestan morreu em 1995, de câncer. Publicou quase 80 livros durante a vida, nos campos da sociologia, da antropologia e da educação. A Revolução Burguesa no Brasil e Sociedade de Classes e Subdesenvolvimento estão entre os títulos mais importantes. Na defesa pela educação dizia: "Em nossa época, o cientista precisa tomar consciência da utilidade social e do destino prático reservado a suas descobertas". Como se deu o processo de inserção do negro na sociedade após a abolição da escravidão? Que lugares o negro passou a ocupar? Isso fez/faz diferença para a atual sociedade? Segundo o professor Florestan, para os negros o resultado desse processo histórico de nascimento da sociedade de classes gerou a sua exclusão social, uma vez que “...O negro e o mulato foram eliminados das posições que ocupavam no artesanato urbano pré-capitalista ou no comércio de miudezas e de serviços, fortalecendo-se de modo severo a tendência a confiná-los a tarefas ou ocupações brutas, mal retribuídas e degradantes... O impacto da competição com o “estrangeiro” foi aniquilador para o negro e o mulato, porque eles não contavam com elementos: seja para resguardar as posições relativamente vantajosas, já adquiridas; seja para concorrer nas sucessivas redistribuições das oportunidades econômicas entre os grupos étnicos concorrentes...” (FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes / Vol 1 e 2. São Paulo, Ática, 1978) No livro: A integração do negro na sociedade de classes A cidade São Paulo é objeto de estudo Os negros libertos enfrentam o estilo de vida individualista e competitivo A industrialização rápida da cidade não abre nova perspectiva de investimentos nos quais o negro não encontra espaço Recebe influência do filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937). De Gramsci Herda do filósofo o conceito de CIDADANIA como um objetivo da escola. A ESCOLA deveria ser orientada para a elevação cultural das massas = livrá-las de uma visão de mundo que, por se assentar em preconceitos e tabus, predispõe à interiorização acrítica da ideologia das classes dominantes. “A tendência democrática de escola não pode consistir apenas em que um operário manual se torne qualificado, mas em que cada cidadão possa se tornar governante” “Todos os homens são intelectuais, mas nem todos os homens desempenham na sociedade a função de intelectuais” FLORESTAN - a educação e a ciência têm, potencialmente, uma grande capacidade transformadora: "Um povo educado não aceitaria as condições de miséria e desemprego como as que temos". "A escola de qualidade não era redentora da humanidade, mas um instrumento fundamental para a emancipação dos trabalhadores". "Ele acreditava que o sucateamento da escola, com péssimas condições de trabalho e estudo, fazia parte das tentativas de sufocar a democratização da sociedade por meio da restrição do acesso à cultura e à pesquisa", diz a pesquisadora Ana Heckert. O Brasil, dizia o sociólogo, é atrasado também em relação ao que ele chamava de cultura cívica, ou seja, um compromisso em torno do mínimo interesse comum; Por dois motivos: - estimularia as massas populares a participar politicamente - tiraria das classes dominantes a prerrogativa de fazer tudo o que quisessem sem precisar dar satisfações ao conjunto da população. A escola é lugar primordial / indispensável para se obter conhecimento? Por quê? Bom professor é aquele que faz o aluno aprender tudo o que o professor conseguir ensinar? Por quê? Defendia a democratização do ensino a democracia como liberdade de educar e direito irrestrito de estudar Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (1996); ESCOLA para Florestan: critica a prática em sala de aula, com ênfase em três pontos: - a concepção do professor como mero transmissor do saber, que, para ele, fragilizava o profissional da educação; - a ideia de que o aluno é apenas receptor do conhecimento, quando o aprendizado deveria ser construído conjuntamente na escola; - e o ensino discriminatório, que trata o aluno pobre como cidadão de segunda classe. "Para Florestan Fernandes, a educação transformadora se faz com uma escola capaz de se desfazer, por si mesma, do autoritarismo, da hierarquização e das práticas de servidão“. Analisando a sociedade brasileira... nega as “explicações” correntes, como a do subdesenvolvimento enquanto atraso, ou como a que recorre a processos sociais (de urbanização, de industrialização...) como se eles fossem em si mesmos explicativos; nega, também, as propostas decorrentes destas supostas “explicações”, como a da superação do subdesenvolvimento através da aceleração do crescimento econômico. a história é obra dos homens - “é falsa a ideia de que a história se faz, que ela se determina automaticamente. A história é feita coletivamente pelos homens e, sob o capitalismo, através de conflitos de classe de alcance local, regional, nacional e mundial.” O homem se constrói como ser social A interação é determinante, desde o homem simples ao mais rico de uma sociedade O sentido de existir socialmente é participar de condições e situações, produzir ações e reações, praticar atitudes e relações que são interdependentes e agem mutuamente. E o subdesenvolvimento a explicação sociológica do subdesenvolvimento econômico deve “ser procurada no mesmo fator que explica, sociologicamente, o desenvolvimento econômico sob o regime de produção capitalista: como as classes se organizam e cooperam ou lutam entre si para preservar, fortalecer e aperfeiçoar, ou extinguir, aquele regime social de produção econômica”. “o modelo concreto de capitalismo que irrompeu e vingou na América Latina reproduz as formas de apropriação e expropriação inerentes ao capitalismo moderno com um componente adicional específico e típico: a acumulação de capital institucionaliza-se para promover a expansão concomitante dos núcleos hegemônicos externos e internos (ou seja, as economias centrais e os setores sociais dominantes). Ex. Sudeste do Brasil, sobretudo São Paulo = centro econômico do país. Das diferenças para com as classes sociais... “a classe social só aparece onde o capitalismo avançou suficientemente para associar, estrutural e dinamicamente, o modo de produção capitalista ao mercado como agência de classificação social e à ordem legal que ambos requerem, fundada na universalização da propriedade privada, na racionalização do direito e na formação de um Estado nacional formalmente representativo”; a sociedade de classes, identificada com a sociedade capitalista, possui ajustes reguladores do privilégio econômico com suas consequências sociais, culturais e políticas. Ex. diferenças nos investimentos por parte do setor público, mais dinheiro nos bairros nobres e quase nada na periferia. Na AL Na América Latina, “quer se trate das metrópoles, das cidades ou do campo, as classes sociais propriamente ditas abrangem os círculos sociais que são de uma forma ou de outra privilegiados e que poderiam ser descritos, relativamente, como ‘integrados’ e ‘desenvolvidos’. Tais setores coexistem com a massa dos despossuídos, condenados a níveis de vida inferiores ao de subsistência, ao desemprego sistemático, parcial ou ocasional, à pobreza ou à miséria, à marginalidade sócioeconômica, à exclusão cultural e política, etc” Trata-se de “uma realidade sócio-econômica que não se transformou ou que só se transformou superficialmente, já que a degradação material e moral do trabalho persiste e com ela o despotismo nas relações humanas, o privilégio das classes possuidoras, a super concentração da renda, do prestígio social e do poder, a modernização controlada de fora, o crescimento econômico dependente, etc” Florestan esclarece que não se trata “apenas de defender a ‘liberdade’ e a ‘democracia’. Porém, de pôr em evidência que a sociedade de classes engendrada pelo capitalismo na periferia é incompatível com a universalidade dos direitos humanos: ela desemboca em uma democracia restrita e em um Estado autocrático-burguês, pelos quais a transformação capitalista se completa apenas em benefício de uma reduzida minoria privilegiada e dos interesses estrangeiros com os quais ela se articula institucionalmente”. U.E. Londrina/PR (2006) Em relação ao processo de formação social no Brasil, o sociólogo Florestan Fernandes escreveu: “Lembremo-nos de que da vinda da Família Real, em 1808, da abertura dos portos e da Independência, à Abolição em 1888, à Proclamação da República e à “revolução liberal”, em 1930, decorrem 122 anos, um processo de longa duração, que atesta claramente como as coisas se passaram. Esse quadro sugere, desde logo, a resposta à pergunta: a quem beneficia a mudança social?” Fonte: FERNANDES, F. As Mudanças Sociais no Brasil. In IANNI, Octavio (org) Florestan Fernandes: coleção grandes cientistas sociais. São Paulo: Ática, 1986, p. 155-156. De acordo com o texto e os conhecimentos sobre o tema, em relação à indagação feita pelo autor, é correto afirmar que a mudança social beneficiou: a) Fundamentalmente os trabalhadores, uma vez que as liberdades políticas e as novas formas de trabalho aumentaram a renda. b) Os grupos sociais que dispunham de capacidade econômica e poder político para absorver os efeitos construtivos das alterações ocorridas na estrutura social. c) A elite monárquica, pois ao monopolizar o poder político impediu que outros grupos sociais pudessem surgir e ter acesso aos efeitos construtivos das alterações na estrutura social. d) Os grupos sociais marginalizados ou excluídos, pois, em decorrência deste processo, passaram a fazer parte do processo produtivo. e) A população negra, uma vez que a alteração na estrutura da sociedade criou novas oportunidades de inserção social. De acordo com o sociólogo brasileiro Florestan Fernandes há grupos diretamente responsáveis pela situação de exclusão dos ex-escravos e consequentemente ligados à marginalização social da parcela negra da população brasileira. Tal responsabilidade deve-se A) às elites sindicais, que não deram acesso aos benefícios da sociedade – trabalho, renda e escolaridade. B) às elites coloniais, pois está comprovado que somente este grupo não propiciou acesso aos benefícios da sociedade – trabalho, renda e escolaridade. C) às elites urbanas, exclusivamente, pois não deram acesso aos benefícios da sociedade – trabalho, renda e escolaridade. D) às elites dirigentes, que não deram acesso aos benefícios da sociedade – trabalho, renda e escolaridade. Alternativa D Para Octavio Ianni, Florestan Fernandes é o fundador da sociologia crítica no Brasil. Assinale a alternativa que NÃO está CORRETAMENTE sintonizada com o seu pensamento crítico: a) Para que a ciência, a tecnologia científica e a educação fundada em ambas possam exercer influência construtiva no crescimento econômico, no desenvolvimento social e no progresso cultural do Brasil, cumpre modificar primeiro o arcabouço estrutural e o sistema organizatório da sociedade brasileira. b) A expansão da ordem social democrática constitui o requisito sine qua non de qualquer alteração estrutural ou organizatória da sociedade brasileira. c) Nas condições peculiares da sociedade de classes dependente e subdesenvolvida, a mudança e o controle da mudança são, com maior razão, fenômenos especificamente políticos. d) A burguesia é sempre a mesma, através da história. e) Nas condições peculiares da sociedade de classes dependente e subdesenvolvida, a mudança e o controle da mudança são, com maior razão, fenômenos especificamente políticos.