II Congresso de Educação – UEG/UnU Iporá A formação de professores: uma proposta de pesquisa a partir da reflexão sobre a prática docente FLORESTAN FERNANDES E SUA LEITURA ACERCA DA UNIVERSIDADE E DESENVOLVIMENTO PROTO, Leonardo Venicius Parreira¹ Universidade Estadual de Goiás - Unidade Universitária de Iporá ¹[email protected] RESUMO Nessa comunicação o propósito é discutir o pensamento social do intelectual Florestan Fernandes no horizonte de crítica a sociedade capitalista em fins da década de 1960 e durante o período de 1970. Para esta reflexão, elegemos um de seus textos publicados nesse período, relacionado à sua crítica ao desenvolvimento da universidade, sobretudo brasileira, associada aos rumos do capitalismo naquele contexto, concebido pelo sociólogo como dependenteassociado às nações hegemônicas e centrais. A visão deste pensador de esquerda incide sobre os mecanismos de assimilação e cooptação dos grupos conservadores no interior da própria universidade mediante as formas institucionais de absorção e apropriação da ordem social competitiva entre seus pares da academia. Para Florestan Fernandes, a universidade deveria assumir a postura crítica de negação aos artifícios de integração a ordem social vigente. Por último, faz-se necessário associar o intelectual na tarefa de colaboração teórico/prática junto a classe trabalhadora, que é para este a classe fundamental na luta pela transformação da sociedade. Palavras Chaves: Intelectual, Universidade, Capitalismo INTRODUÇÃO Este trabalho insere-se no conjunto de pesquisas desenvolvidas no Programa de PósGraduação em História da Universidade Federal de Goiás (PPHG/UFG) relacionada aos estudos sobre a trajetória histórica do intelectual e militante Florestan Fernandes. Aqui, em específico, propomos uma reflexão a respeito da posição do sociólogo relacionada à sua análise acerca do desenvolvimento da universidade brasileira e sua relação com a lógica do desenvolvimento capitalista em fins da década de 1960 e 1970, situando a academia como um lugar de reprodução da dinâmica social a qual estava inscrita naquele período. Nossa reflexão percorrerá a leitura feita por Florestan Fernandes, presente no texto “Universidade e Desenvolvimento” (2004), que ora foi reproduzida de parte de sua obra “A 105 II Congresso de Educação – UEG/UnU Iporá A formação de professores: uma proposta de pesquisa a partir da reflexão sobre a prática docente universidade brasileira: reforma ou revolução?” (1979). Neste escrito, três serão os elementos apontados pelo sociólogo com os quais desenvolverá sua análise: a) a reflexão sociológica dos rumos da universidade no rumo do desenvolvimento social; b) os aspectos socioculturais inerentes as transformações do capitalismo no Brasil e na América Latina; c) relação entre o desenvolvimento social e a participação da universidade nesse processo. O contexto histórico da análise de Florestan sobre a universidade é o do regime de exceção ou notoriamente conhecido como regime militar brasileiro (1964-1884). Sob a égide desse sistema político, irá associar a estrutura institucional da universidade brasileira no percurso da ordem social competitiva, naquele momento, fortemente vinculada às forças de organização do capitalismo dependente. A compreensão do ulterior desenvolvimento da universidade, na leitura desse intelectual, é plausível se situarmos o conjunto das relações sociais de produção capitalistas naquela conjuntura. Outro aspecto relevante apresentado pelo estudioso incide na crítica do nível de reprodução por parte das instituições de ensino superior do modus operandi do capitalismo dependente, funcionando como sustentáculo das forças do capitalismo de centro, reconhecido por sua política imperialista. Assim, é possível afirmar que sua leitura da universidade brasileira reforça suas teses do desenvolvimento da ordem social competitiva, de uma sociedade capitalista periférica. MATERIAIS E MÉTODOS A teoria do capitalismo dependente evocada é o aporte teórico no qual este trabalho se fundamenta e pretende se apropriar segundo a perspectiva de análise esboçada por Florestan. Portanto, obras e textos relacionados a essa concepção teórica, produzidos pelo estudioso nos subsidiarão como fontes para o acesso da teoria social trabalhada por este pensador e militante. O referencial teórico-metodológico a ser operado é o materialismo histórico dialético. Esse método de análise nos permite partir da realidade histórica dos sujeitos e práticas sociais, como mecanismo de produção da crítica social. O materialismo histórico dialético é um recurso heurístico e constitui-se como uma teoria do conjunto das relações sociais, dessa forma, abstrai da realidade concreta as categorias necessárias para explicação dessa mesma realidade e sua compreensão (VIANA, 2007). 106 II Congresso de Educação – UEG/UnU Iporá A formação de professores: uma proposta de pesquisa a partir da reflexão sobre a prática docente Para o marxismo, expressão teórica/política da classe trabalhadora (KORSCH, 2008), ou na acepção gramsciana como a visão de mundo dos subalternos (GRAMSCI, 1987), o materialismo histórico dialético é o método que confere a possibilidade de superação de uma visão dicotômica na relação entre teoria e prática, compreendendo essa relação como produto da totalidade social, ou seja, construção histórica e interdependente entre essas duas dimensões do sujeito (teoria e prática) em sua ação no mundo (PEREIRA, 2006). Esse método propicia aproximação entre sujeitos e realidade concreta e a teorização produzida nessa relação dialética constroem análise crítica diante de situações de fragilidade e exploração das condições de aviltamento do ser humano, nas suas variadas particularidades. É uma teoria/método inserido no projeto político de emancipação da humanidade, portanto, as reflexões apontadas, como no estudo de Florestan Fernandes sobre a universidade e sua relação com o desenvolvimento capitalista, tem como fundamental preocupação, a superação destas relações no interior da universidade, negando quaisquer fatores de conformismo e de assimilação da ordem social. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os apontamentos teóricos da inter-relação universidade e desenvolvimento produzido por Florestan Fernandes (2004) estão inseridos no universo de suas teses e naquele momento de sua formulação teórica, inscreve-se nas preocupações sociológicas derivadas do desdobramento do que denominou de revolução burguesa no Brasil, uma tese fundamental para a compreensão do significado de seu pensamento no arcabouço das teorias interpretativas sobre o desenvolvimento histórico-social e a formação da nação. Seus escritos a respeito do capitalismo dependente, as classes sociais, as questões de âmbito nacional (educação, integração do negro na sociedade de classes, subdesenvolvimento e revolução burguesa) integram as preocupações teóricas e militantes deste sociólogo, considerando sua militância para além das atuações nos grupos em que esteve envolvido, mas também presentes em seus escritos, devido ao esforço dialético de integrar as demandas sociais e suas problemáticas como centro do trabalho intelectual. Em nossos estudos, temos afirmado que Florestan Fernandes corresponde a figura do intelectual orgânico, trabalhado por Antonio Gramsci (1987; 2010), compreensão esta no sentido associada ao intelectual comprometido com a classe trabalhadora, sendo este um indivíduo que propõe uma nova visão de mundo e colabora na organização da cultura, ou seja, 107 II Congresso de Educação – UEG/UnU Iporá A formação de professores: uma proposta de pesquisa a partir da reflexão sobre a prática docente devido a sua formação teórico, auxilia a outros/as no processo de formação, cuja centralidade está na formulação de postura/pensamento crítico diante da realidade social e seus desafios. O norte de superação das debilidades individuais e coletivas é outro aspecto proeminente da abordagem desse intelectual/militante frente as contingências sociais, posicionando sua produção teórica diante da classe trabalhadora para fortalecer a perspectiva da revolução social. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FERNANDES, Florestan. Universidade e desenvolvimento. In: IANNI, Octavio (org.). Florestan Fernandes: sociologia crítica e militante. 4 ed. São Paulo: Expressão Popular, 2004. ____________________. Em defesa do socialismo. In: Antítese – Marxismo e cultura socialista. Goiânia: Kelps, 2005. ____________________. Nova República? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986. ____________________. A ditadura em questão. São Paulo: Tao, 1982. _____________________. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987. GRAMSCI, Antônio. Concepção Dialética da História. 7 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1987. ________________. Caderno do Cárcere: volume 2. 5 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. KORSCH, Karl. Marxismo e Filosofia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2008. VIANA, Nildo. A Consciência da História: ensaios sobre o materialismo histórico-dialético. 2 ed. rev. Rio de Janeiro: Achiamé, 2007. _____________. Escritos Metodológicos de Marx. Goiânia: Alternativa, 2007. 108