Poupança e a Lei de Responsabilidade Fiscal: por que governos não podem gastar sem limites? Arilton Teixeira Formação de Gestores Agosto/2015 - Iconha Introdução • Há alguns anos atrás foi dito por um ministro de estado que “gasto público é vida”! • Seria isto correto? Sempre? • Por que governos deveriam restringir os gastos? • Respeitar o orçamento é uma escolha ideológica? Exemplos: EUA e Grécia • Após o choque de 2008, a economia americana e grega entraram em recessão, mas a economia americana retomou o crescimento em 2009. • O mesmo não ocorreu com os gregos que entraram numa profunda crise! • Mas, ambos tem um rápido crescimento da dívida publica. EUA Choque Fonte: www.tradingeconomics.com Grécia Choque Fonte: www.tradingeconomics.com Os limites da dívida: EUA e Grécia • O aumento da dívida ocorreu em ambos os países, após 2008. • Mas, os EUA voltam a crescer em 2009! • A Grécia teve crescimento positivo apenas em 2014, mas em 2015.... • Dois pontos são importantes: • A dívida grega já era maior em 2009 • A credibilidade grega já era bem menor: – enquanto em 2015 os gregos lutam por não ajustar, as instituições americanos já impõem restrições ao endividamento desde 2012!!!! Por que países podem ter níveis distintos de dívida (% do PIB)? • Esta resposta demandaria tempo, mas aqui vai a direção: • Depende da capacidade de pagamento do país. • E como mensurar isto? Alguns indicadores: • (1) Estabilidade das instituições; • (2) Credibilidade das instituições; • (3) Riqueza do país; • Em geral, (1)-(2) implicam em (3). A Dívida e os Riscos • Por que a crescente dívida pode reduzir o crescimento? • Por que os agentes se endividam? • Em particular, por que os governos se endividam? O papel da Dívida • A dívida é uma opção do consumidor/empresa para evitar mudanças rápidas no padrão de consumo/investimento diante de choques. • Ou seja, pode ser ótimo para o consumidor/firma se endividar em momentos de choques negativos (como o de 2008). A Dívida e o Governo • Se é ótimo para o consumidor/firma se endividar, não deveríamos aplicar a mesma lógica ao governo? • Algumas diferenças entre consumidor/firma e governo dificultam uma aplicação direta desta lógica: – O consumidor/firma que faz a dívida é o mesmo que irá pagá-la (ou quebrar). – O partido (no poder) que faz a dívida não é, necessariamente, aquele que vai “pagar”. – Os beneficiados pelos gastos não necessariamente pagarão por eles. Grupos de Pressão • Na democracia é direito dos cidadãos exercer pressão sobre o governo. • Grupos de interesse são formados para defender direitos ou benefícios. • Todo corte de gasto é disputado palmo a palmo por estes grupos de pressão. • Quem pode mais chora menos! Dívida Pública • Esta influência de grupos de interesse torna questionável as decisões de endividamento do governo. • Um rápido endividamento é feito para gerar crescimento ou para beneficiar determinados grupos? • A estes grupos interessa conter o endividamento? • Nos EUA existem limites ao endividamento do governo (redução de influência de grupos). • No Brasil temos a Lei de Responsabilidade Fiscal! Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) • A LRF foi promulgada em maio/2000. • O objetivo é gerar estabilidade macroeconômica com planejamento e controle dos gastos públicos. • Vários controles forma impostos pela LRF: • Controlar gastos (executivo, legislativo e judiciário): metas fiscais devem ser estabelecidas. • Propiciar o planejamento: metas devem ser verificadas periodicamente. • Evitar endividamento: teto estabelecido. • Em especial, a LRF estabelece os seguintes limites: Gasto com Pessoal PODER/ESFERA FEDERAL ESTADUAL MUNICIPAL EXECUTIVO 40 % 49% 54% LEGISLATIVO (inclui os Tribunais de Contas) 2,5% 3% 6% Judiciário 6% 6% - 0,6 % 2,0% - Ministério Público Fonte: COTTA LOVATTI (2006) Limites de Divida e Crédito (% da Receita Corrente Líquida - RCL) Limite para DCL (Dívida Corrente Líquida) 120% da RCL Limite Operação de Crédito 16 % da RCL Serviço da Dívida 11,5 % da RCL Fonte: COTTA LOVATTI (2006) Punições • Não é nosso objetivo aqui, mas a LRF estabelece punições para aqueles que desrespeitam os limites e as metas fixadas: • suspensão das transferências voluntárias, • proibição de contratação e/ou concessão de novos benefícios, • perda de cargo, multas, etc. Um olhada no Brasil • Passamos por um momento de instabilidade macroeconômica. • Podemos relacionar esta instabilidade com a LRF? • Vejamos alguns números para o Brasil: as metas fiscais e a dependência externa! Resultado do Setor Público (Déficit(-)) 2.0 1.0 Deterioração das Metas Fiscais ????? 0.0 2002 2003 % do PIB -1.0 -2.0 -3.0 -4.0 -5.0 -6.0 -7.0 Fonte: http:Ipeadata 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Transações Correntes (Poupança Externa) e Resultado do Setor Público 3.0 2.0 Resultado do Setor Público (NFSP) Deterioração das Metas Fiscais 1.0 0.0 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 % do PIB -1.0 -2.0 Transações Correntes -3.0 -4.0 -5.0 Aumento da Dependência Externa -6.0 -7.0 Fonte: http:Ipeadata 2014 Conclusões • O respeito ao orçamento não tem ideologia. É condição fundamental para a estabilidade macroeconômica. • No Brasil, a LRF tenta restringir os governos para mantermos nossa credibilidade e estabilidade. • Sem estabilidade, o risco aumenta, dificultando o planejamento dos agentes públicos e privados! • Como vimos nos Brasil, EUA ou Grécia, podemos violar o orçamento momentaneamente (e voltarmos a crescer, como nos EUA). • A tentativa de violar permanentemente o orçamento gera instabilidade e estagnação (como o Brasil)! Obrigado! Arilton Teixeira [email protected] 27-4009-4444 Dívida Pública - Brasil Fonte: http://www.fpabramo.org.br/fpadefato/?p=670