Léa Lucia Cecillio Braga Diretora do Departamento de Proteção Social Básica/DPSB da Secretaria Nacional de Assistência Social/SNAS do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome/MDS Seminário Trabalho Social com Famílias: significado, concepções e metodologias Léa Lúcia Cecílio Braga Diretora do Departamento de Proteção Social Básica/DPSB Secretaria Nacional de Assistência Social / SNAS Ministério Desenvolvimento Social e Combate à Fome/MDS Brasília - Maio /2014 Metodologias de trabalho com famílias: diálogo entre experiências Proteção Social: Assistência Social Proteção Social: Promover o acesso a direitos sociais; Garantir direitos socioassistenciais (escuta, sigilo, participação, usufruto de serviços, qualidade no atendimento, etc); Contribuir para a restauração e resgate de direitos violados; Assegurar proteção proativa por meio das seguranças socioassistenciais. Vigilância Socioassistencial: identificar vulnerabilidades, riscos e violação de direitos no território, para fortalecer ações de prevenção, promoção e atendimento. Defesa de Direitos: propiciar informações sobre direitos e sobre quais órgãos devem ser buscados em caso de violação. Fortalecer o protagonismo e processos coletivos de participação social para defesa de direitos. Assistência Social: Conceito de Família Família na Política Nacional de Assistência Social • A família é reconhecida como o núcleo primário de afetividade, acolhida, convívio, sociabilidade, autonomia, sustentabilidade e referência no processo de desenvolvimento e exercício da cidadania. • O Estado deve prover proteção social às famílias, apoiando-as no exercício de sua função. Família na NOBSUAS/2005 • Núcleo afetivo, composta por laços consangüíneos, de aliança ou afinidade, onde os vínculos circunscrevem obrigações recíprocas e mútuas, organizadas em torno de relações intergeracionais e de gênero. A matricialidade sociofamiliar não deve ser entendida como uma forma de desresponsabilização estatal, frente à responsabilização das famílias. A centralidade da família no campo da assistência social deve ser compreendida como estímulo a práticas que promovam a proteção e a participação cidadã. 5 Trabalho Social com Famílias: Um pouco da trajetória 1988 • CF. Marco no processo democrático brasileiro e na proteção social das famílias como direito do cidadão e responsabilidade do Estado. 1993 • LOAS. Reconhece as funções da Assistência Social e as seguranças socioassistenciais, que devem nortear o trabalho social. Lança as bases legais para a estruturação desta política no país por meio de sistema descentralizado. 1995 • Extinção da LBA e do CBIA e vinculação a Ministério específico, constituindo-se como passo fundamental para a reestruturação da política de AS no Brasil, distanciando-a da filantropia, da fragmentação e da atenção por segmentos. 1997-1998 • Aprovada primeira NOB da Assistência Social, em 2007, e a segunda NOB em 1998; 1999 • Aprovada a 1ª PNAS e iniciado o financiamento federal dos Núcleos de Apoio à Família NAFs. 2003 • IV Conferência Nacional delibera pela implementação do SUAS. • Os NAFs dão origem ao Plano Nacional de Atendimento Integral à Família. É criado o Bolsa Família, com pouco mais de 3 milhões de famílias beneficiárias. 2004 • Criado o MDS. Com a SNAS solidificam-se as estruturas de gestão necessárias à consolidação de uma rede descentralizada no país, com oferta de serviços, programas, projetos e benefícios por meio do SUAS. • Aprovada a PNAS, que estabelece como princípios estruturantes para a intervenção da política de assistência social a matricialidade sociofamiliar e o território. • Plano Nacional de Atendimento Integral à Família dá origem ao Programa de Atendimento Integral à Família, PAIF, ofertado pelos CRAS. • Sentinela é transformado em Serviço continuado de atenção a famílias e indivíduos em situação de violência, ofertado pelos CREAS. 2005 • NOB SUAS - consolida a concepção de serviço para o desenvolvimento do trabalho social com famílias, e lança, no campo normativo, as bases necessárias para assegurar a continuidade do financiamento, sob as quais se constroem, nos anos seguintes, um sistema público com capilaridade e escala nacional. 2006 • NOB RH: marco na profissionalização da área, com reconhecimento de que o trabalho social deve ser conduzido por equipes de referência. • Rompe-se com a lógica per capita de financiamento dos serviços de acolhimento (Portaria MDS nº 381/2006), considerando os debates sobre o direito à convivência familiar e o enfrentamento da cultura da institucionalização. 2009 • Aprova a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, que: • Define um rol de serviços que compõem o SUAS, delineando as atribuições da área e priorizando o trabalho social com famílias. • Estrutura como serviços essenciais e continuados o acompanhamento familiar realizado pelo PAIF e PAEFI, a serem prestados exclusivamente nos CRAS e CREAS. • Protocolo de Gestão Integrada de Serviços, Programas, Benefícios e Transferência de Renda no trabalho social com famílias. 2010-2011 • O SUAS passa a compor os Planos Prioritários Nacionais – BSM, Viver sem Limite, Crack é Possível Vencer, particularmente com os serviços de abordagem e acompanhamento familiar. 2011 • Aprovada a Lei que incorpora o SUAS na LOAS (Lei nº 12.435/2011). • O PAIF e PAEFI são reconhecidos no campo legal. A estratégia de busca ativa para a identificação da “população invisível”, e viabilização de sua inserção no CadÚnico, com acesso a renda, serviços e inclusão produtiva . Equipes volantes/Lanchas • Ampliam-se as ofertas na PSB e ocorre expansão mais significativa dos serviços de proteção social especial. • No contexto de revisão da NOB SUAS, temas centrais da agenda da política: a profissionalização da área, a valorização dos trabalhadores e a qualificação do atendimento e da gestão, temas abordados na VIII Conferência Nacional. 2012 • Alteração da NOB SUAS, visando o planejamento pelos entes federativos, a modernização da gestão e a qualificação do atendimento à população. • Programas AcesSUAS, na perspectiva de acesso dos usuários ao mundo do trabalho, e CapacitaSUAS, para qualificação permanente dos trabalhadores e constituição de Rede Nacional com IES. • Intensificam-se os avanços na PSE, ampliando as possibilidades para o trabalho social com famílias: Reordenamento da PSE de Alta Complexidade (POP Rua), Abordagem Social, Centros Dia e Residências Inclusivas. 2013 • Expansão e reordenamento do SCFV para os diversos ciclos de vida, e dos Serviços de Acolhimento para criança/adolescente, uma conquista histórica para a área. • Pactuada a Estratégia de Enfrentamento ao Trabalho Infantil, conferindo nova caracterização ao PETI. • Pactuados diferentes desenhos de regionalização, considerando as especificidades dos serviços de PSE e dos territórios com municípios de pequeno porte. • A rede de PSB e PSE atinge mais de 10.000 unidades públicas com serviços cofinanciados pelo MDS. Mais de 590 mil trabalhadores. • BPC alcança quase 4 milhões de beneficiários e o PBF atinge quase 13,8 milhões de famílias. • Trabalho Social Com Famílias Deve partir da compreensão contextualizada das situações de vulnerabilidade e risco pessoal e/ou social vivenciadas pelas famílias, de suas demandas e potencialidades. • Precisa ser conduzido por profissionais capacitados e necessariamente definido com a participação das famílias. • Exige a construção de vínculos e compromissos entre as famílias e os profissionais. • Requer que sejam refutadas as práticas baseadas no senso comum, que reproduzem idéias carregadas de preconceitos e culpabilizam as famílias por sua situação social, de forma a manter o status quo, e impossibilitar os movimentos de transformação da realidade. Reclama alinhamento às diretrizes, pressupostos e objetivos do SUAS. • • Indica adotar-se abordagens e metodologias participativas e apropriadas ao cumprimento dos objetivos do Serviço. 11 Aspectos a serem considerados no Trabalho Social com Famílias • Contexto social mais amplo: histórico, econômico, cultural, ambiental. • Território onde vivem as famílias: carregado de potencialidades, recursos, vulnerabilidades, riscos, história e dinâmica. • Pertencimento a grupos populacionais específicos. • Nível de acesso às políticas públicas, direitos e condições dignas de sobrevivência e cidadania. • Identificação das potencialidades e dos recursos que as famílias possam acessar para apoiá-las na superação das vulnerabilidades e riscos pessoais e sociais. 12 Aspectos a serem considerados no Trabalho Social com Famílias • A pluralidade dos membros da família, constituída na relação social, ocupando diferentes posições/funções. • O papel da família, suas potencialidades e necessidades individuais e coletivas. • As relações familiares, comunitárias e redes sociais de apoio. • Os ciclos geracionais de reprodução da pobreza, violência, exploração. • O reconhecimento de que a família é espaço de cuidado, proteção e socialização, mas também de conflito, isolamento e até mesmo de violações. 13 Trabalho Social Com Famílias DEVE BUSCAR • Apoio às famílias para a ampliação de sua capacidade protetiva, autonomia e superação das situações de vulnerabilidades sociais e riscos pessoais e sociais • Ampliação do acesso a direitos e integração entre acesso a renda, serviços e programas das diversas políticas públicas • Desenvolvimento de consciência crítica e fortalecimento de processos democráticos e emancipatórios • Fortalecimento do protagonismo e da participação social e construção coletiva de projetos societários que incluam mudanças na realidade onde vivem • Construção de novos projetos de vida individual, familiar e comunitária • Transformação das relações – sejam elas familiares ou comunitárias, com resgate, fortalecimento ou construção de novas relações 14 Princípios que devem nortear o trabalho social com famílias • Ética, respeito à dignidade, diversidade (arranjos familiares, gênero, etnia, orientação sexual) e não-discriminação • Liberdade e autonomia das famílias • Horizontalidade nas relações entre profissionais e usuários • Equidade na oferta • Integralidade na atenção e Intersetorialidade nas prestações • Superação de abordagens e posturas funcionalistas e conservadoras, fundamentadas na tutela, subalternidade, moralização e ajustamento a modelos pré-estabelecidos. 15 Trabalho Social Com Famílias: Metodologia Acolhida: Contato “qualificado” da família com o SUAS. Consiste no processo inicial de escuta das necessidades e demandas trazidas pelas famílias, bem como de oferta de informações sobre as ações do Serviço, da rede socioassistencial e demais políticas setoriais. Deve ser cuidadosamente planejada para que a família sinta-se respeitada e apoiada, reconhecendo o Serviço como um direito e como referência para o atendimento e acompanhamento das famílias no território. Estudo Social - análise tecnicamente qualificada sobre a família (situação de vulnerabilidade social vivenciada), determinante para explicitar: • a necessidade de inserção da família no atendimento ou no acompanhamento familiar, • enumerar as situações de vulnerabilidade social vivenciadas, identificar as potencialidades e recursos que as famílias possuem • identificar/reconhecer as características e especificidades do território que influenciam e/ou determinam as situações de vulnerabilidades vivenciadas pela família. Tipos de acolhida: • Acolhida particularizada • Acolhida em Grupo A acolhida, em especial, se realizada em grupo, oferece importantes insumos sobre a ação mais adequada a determinadas famílias, tais como temas para oficinas com famílias e para ações comunitárias. 16 Acolhida Particularizada: processo de acolhida de uma família, ou algum de seus membros, de modo particularizado. Pode ocorrer • No CRAS - no espaço físico do CRAS • No Domicílio - consiste no processo de acolhida de uma família, ou de algum de seus membros, realizado em seu próprio domicílio. Acolhida em Grupo: processo de acolhida realizado de modo coletivo (duas ou mais famílias), pode ser empregada de modo prévio à acolhida particularizada. Pode ser empregada de modo a organizar o processo de acolhida no Serviço, em especial quando há um grande de número, pois ela otimiza o repasse de informações e sana dúvidas. As acolhidas particularizada e em grupo se complementam. Assim, as famílias que participaram da acolhida em grupo deverão, gradativamente, ser acolhidas também de modo particularizado. Oficinas com Famílias: encontros previamente organizados, com um conjunto de famílias, com objetivo de promover o alcance de aquisições, em especial o fortalecimento dos laços comunitários, o acesso a direitos, o protagonismo, a participação social e para a prevenção a riscos. • Buscam suscitar uma reflexão sobre um tema de interesse das famílias, sobre vulnerabilidades e riscos ou potencialidades identificados no território; • Os objetivos a serem atingidos são de curto prazo. • • - • • • Ações Comunitárias: de caráter coletivo, voltado para a dinamização das relações no território. Objetivos: Promover a comunicação comunitária, a mobilização social e o protagonismo da comunidade; Fortalecer os vínculos entre as diversas famílias do território, desenvolver a sociabilidade, o sentimento de coletividade e a organização comunitária, por meio, principalmente, do estímulo à participação cidadã. As Ações Comunitárias, devido seu papel na divulgação e promoção do acesso a direitos assume importante papel na prevenção das situações de vulnerabilidade e riscos sociais que podem incidir no território. Busca-se, desta forma, sensibilizar as famílias do território, fazendo-as reconhecer suas condições de vida, as possibilidades de mudança, as iniciativas já existentes para sua melhoria e a existência de recursos naturais, culturais e econômicos,. Tipos de ações comunitárias: palestras, campanhas socioeducativas, e eventos comunitários • Ações Particularizadas: atendimento prestado pela equipe técnica do CRAS às famílias (algum(ns) membro(s) ou todo o grupo familiar) após a acolhida, de modo individualizado. Ela pode ocorrer: No CRAS No Domicílio O atendimento individualizado tem por meta: • conhecer a dinâmica familiar de modo aprofundado e • prestar um atendimento mais específico às famílias que pressupõem sigilo de informações e podem gerar encaminhamento para a Proteção Social Especial ou para o Sistema de Proteção de Direitos. A ação particularizada não deve se tornar uma prática tecnicista de resolução de “casos”. • Encaminhamentos: Processo de orientação e direcionamento das famílias, ou algum de seus membros, para serviços socioassistenciais, setoriais, benefícios assistenciais e programas de transferência de renda. • Objetivo: promover o acesso aos direitos e a conquista da cidadania. • Tipos de encaminhamento: • os encaminhamentos para a rede socioassistencial do SUAS; • os encaminhamentos para a rede setorial de políticas públicas. Atendimento e Acompanhamento às Famílias Atendimento Inserção das famílias nas nos serviços socioassistenciais Acompanhamento Ação imediata de prestação ou oferta de atenção, com vistas a uma resposta qualificada de uma demanda da família ou do território. Significa a inserção da família em alguma das ações do PAIF: acolhida, ação particularizada, ação comunitária, oficina com famílias e encaminhamento. Inserção da família em um conjunto de intervenções desenvolvidas de forma continuada, a partir do estabelecimento de compromissos entre famílias e profissionais, que pressupõe a construção de um Plano de Acompanhamento Familiar - com objetivos a serem alcançados, a realização de mediações periódicas, a inserção em ações do PAIF, a fim de superar gradativamente as vulnerabilidades vivenciadas. a) Particularizado, se destinado a somente uma família; b) Grupo, se dirigido a um grupo de famílias que vivenciam situações de vulnerabilidade ou têm necessidades similares. 20 Reflexões sobre Trabalho Social com Famílias • Centralidade na família: é preciso assegurar a participação das famílias neste processo. • Sabemos o que os usuários querem e esperam desta política e do trabalho social? • O que pretendemos propiciar às famílias por meio do trabalho social? Que resultados e impactos pretendemos alcançar? • Qual a abrangência de nossas ações? Quando envolvem os indivíduos? As famílias? A comunidade? O território? A sociedade? É preciso resgatar a dimensão da comunidade e do território como campo do trabalho social. • Que contribuições esperamos das diferentes categorias profissionais ao trabalho social? • Como coletivizar demandas, transformando experiências individuais em processos de participação social e mudança? Reflexões sobre Trabalho Social com Famílias • Como construir referências metodológicas que possibilitem o alinhamento conceitual e de práticas, sem limitar as intervenções profissionais adequadas à realidade das famílias e dos territórios? • Quais limites, possibilidades e desafios temos encontrado para o trabalho integrado com as famílias na PSB e PSE? • Como temos trabalhado com a intersetorialidade? Com complementariedade? Como “Balcão de Encaminhamentos”? • Como trabalhar de forma intersetorial, sem sobrecarregar as famílias com encaminhamentos e atendimentos por diferentes equipes de diferentes instituições? Desafios para a Assistência Social após 8 anos de SUAS • Qualificação da oferta e universalização da cobertura dos serviços, por meio do aprimoramento do diagnóstico e do financiamento compartilhado • Adequação dos Equipamentos • Construção dos processos de intervenção, considerando a função da AS, as diversidades e especificidades das famílias e dos territórios • Profissionalização da área e disseminação de conhecimentos • Metodologias de atendimento e reordenamento de práticas • • Consolidação da Gestão Integrada de Serviços, Benefícios e Transferência de Renda • Fortalecimento da Intersetorialidade e trabalho em rede nos territórios Pela sua atenção, Obrigada! [email protected]