DA DÚVIDA À AUTONOMIA DO COGITO HAROLDO REIMER [email protected] [email protected] www.haroldoreimer.pro.br Cel. 8132 2158 Retomada Genealogia do pensamento ocidental Contingência histórica e afinidade eletiva entre ‘consciência crítica’ ocidental e filosofia grega Ancestrais de elite: Platão e Aristóteles Suposta superação do mythos pelo logos Grandes contribuições dos pensadores gregos: cidade ideal, forma de conhecimento, paideia, etc. Recepções seletivas posteriores Antiguidade e Idade Média (séc. IXV) Cristianismo: ganhando espaços a partir da periferia do Mediterrâneo => nova oferta de sentido => nova ética Séc. IV: religião oficial do império romano => “virada constantiniana” (+ Teodósio I – 380) Patrística: textos sagrados judaico-cristãos [Bíblia] => “mitologia verdadeira” Neoplatonismo: recepções seletivas de Platão e Aristóteles: Uno, hipóstases, alma, mundo sensível das sombras, primazia do mundo ideal (Deus) Afirmação do latim como língua oficial Teólogos => Ideólogos do novo sistema filosófico e religioso: Tertuliano, Justino, Agostinho Idade Média Queda do império romano do Ocidente (476 d.C.) Formação do sacro império romano germânico (Europa central – séc. IX-XVIII) Língua oficial predominante: latim Grandes sínteses: Tomás de Aquino Escolástica => Criação das universidades medievais Direito canônico Predominância absoluta da Igreja sobre a sociedade civil (=> coroação dos imperadores pelo papa até 1530) Subordinação do civil ao religioso [Igreja] => “cristandade” Escolasticismo / Universidades Universidade de Pádua (Itália) 1222 Universidade de Nápoles 1224 Universidade de Toulose (França) 1229) Universidade de Coimbra (1290) Universidade Complutense (1293) Universidade de Roma (1303) Universidade de Florença (1321) Universidade de Heidelberg / Alemanha (1386) Império romano: Roma (476) e Bizâncio (1493) Entorno do Mediterrâneo Avanço islâmico pelo norte da África Península ibérica (parcialmente islâmica – até1492) Grandes pensadores: Maimônides, Averrois Influências transmediterrâneas => Aristóteles em árabe Intercâmbios nas cruzadas no Oriente Próximo Império mongol em ascensão (=> caminho da seda) Renascença (séc. XV-XVII) Rupturas em várias áreas do saber com a AUTORIDADE por trás dos textos Volta às raízes clássicas do Ocidente após milênio de dominação da língua latina Leitura dos textos filosóficos gregos clássicos na língua original Leitura dos textos bíblicos nas línguas originais (hebraico, aramaico e grego) Antecedentes desde século XIV => influência árabe / sul península ibérica / Florença Florescimento no século XV/XVI Expoentes do Humanismo Lorenzo Valla (1407-1457 / Itália) Savonarola (1452-1489 / Itália) Pico della Mirandola (1463-1494 / Florença) Erasmo de Roterdã (1467-1536 / Holanda) Thomas Morus (1478-1536 / Inglaterra François Rabelais (1483-1543 / França) Martim Lutero (1486-1546 / Alemanha) João Calvino(1509-1564 / Suiça) Desidério Erasmo, de Rotterdam 14671536) Elogio da Loucura Edição crítica do Novum Testamentum – 1ª edição crítica na língua original = grego Subversão pelo retorno à língua clássica “Protestante é pior do que turco; pior do que protestante é católico crítico” (Panfleto no Vaticano) Martin Lutero (1486-1546) Ênfase no sentido literal do texto => retorno ao original Subversão do método da alegoria Princípio sola scriptura [somente a escritura] = caixa de Pandorra Cada indivíduo é sujeito de interpretação => muitos sujeitos Negativa do controle da consciência pela Instituição (Magistério) Criação de ‘novas verdades’ => consciência frente às Escrituras Verdade: mundo antigo e medievo A verdade é estabelecida em função das regras da LÓGICA Verdade é estabelecida em função da AUTORIDADE que a detém A fidelidade é garantida pelo AUTOR que está por detrás do texto ou documento Fidelidade guardada pela INTITUIÇÃO (=> Igreja romana) Mapa religioso Europa Humanismo / Reforma / Filosofia Moderna QUAL É O CRITÉRIO PARA ESTABELECER A VERDADE? Outra “afinidade eletiva” => FILOSOFIA DO CETICISMO (redescoberta no séc. XVI) Mudança de paradigma Thomas Kuhn (1922-1996) Livro: “A estrutura das revoluções científicas” PARADIGMA: “é aquilo que os membros de uma comunidade partilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em homens que partilham um paradigma", e define "o estudo dos paradigmas como o que prepara basicamente o estudante para ser membro da comunidade científica na qual atuará mais tarde". Ver K. Popper / M. Foucault Ceticismo Concepção filosófica e não série de dúvidas relativas a crenças religiosas tradicionais Origem no pensamento grego na disputa pelas possibilidades de conhecimento Duas escolas: “Acadêmico” => nenhuma forma de conhecimento é possível “Pirrônico” => não há evidência adequada ou suficiente para determinar se alguma forma de conhecimento é possível => suspensão do juízo acerca de todas as questões relativas ao conhecimento Fontes do ceticismo acadêmico “Zero socrático” => “sei que nada sei” escola de Platão => mundo das idéias Arcesilau (315-241 a.C.) Carnéades (213-129 a.C.) Cícero Diógenes Laércio Agostinho de Hippona Ceticismo pirrônico Pirro de Elis (360-274 a.C.) Discípulo Tímon (315-225 a.C.) Florescimento até séc. III Sexto Empírico (aprox. 200 / Alexandria) [Hipotiposes; Adversus mathematicus] Colocar tudo em dúvida Entre “algo que podemos conhecer” e “não se pode conhecer nada” => suspensão do juízo sobre questões controvertidas Exemplo “[...] para decidir a disputa que surgiu sobre o critério, devemos ter um critério aceito por meio do qual se possa julgar a disputa; e para ter um critério aceito devemos decidir primeiro a disputa sobre o critério. E quando o argumento reduz-se desta forma a uma raciocínio circular, encontrar um critério torna-se impraticável, uma vez que não permitimos que eles [os filósofos dogmáticos] adotem um critério por suposição, enquanto que se oferecem para julgar o critério por um outro critério nós os forçamos a um regresso ad infinitum” (Sexto Empírico) REFORMA / LUTERO => “Regra da fé” / “Aquilo que a consciência é obrigada a aceitar pela leitura das Escrituras” / “persuasão interior” “[...] vi que as opiniões tomistas, mesmo que aprovadas pelo Papa e pelos concílios, continuam sendo apenas opiniões e não se tornam artigos de fé, mesmo que um anjo dos céus decidisse o contrário. Porque aquilo que é afirmado sem a autoridade das Escrituras ou da revelação comprovada pode ser mantido como uma opinião, mas não há obrigação de se acreditar nisso” (Lutero) CONTRA REFORMA => instituição, autoridade e vida cristã simples “podemos ser todos da mesma opinião e estar em conformidade com a Igreja, se, quando esta define como preto algo que aos nossos olhos parece branco, concordamos que é preto” (Inácio de Loyola) DISPUTA PELO CRITÉRIO Reforma Negação de toda a estrutura que vinha determinando a ortodoxia ocidental durante séculos Afirmação de ‘nova verdade’ a partir do critério do livre exame das Escrituras => cristão não é cético = “individualismo” => Novo dogmatismo: os novos conteúdos da Reforma protestante Contra reforma Haveria uma catástrofe intelectual, moral e religiosa ao se adotar o critério do livre exame Qualquer sujeito pode se erigir como árbitro => uso do ceticismo para mostrar relatividade de todas as afirmações contrárias e buscar a submissão à autoridade => ‘fideísmo” Consequências Muitos usos do ceticismo Ceticismo = redescoberta do séc. XVI Gradativa diferenciação entre ceticismo da razão e ceticismo religioso Giordano Bruno (1548-1600) Michel Montaigne (1533-1598) Francisco Saches (1552-1632) Jean Pierre Camus (1584-1654) William Chillingworth (1602-1644) Michel Montaigne “Montaigne e seus seguidores forneceram a melhor defesa contra a Reforma. Uma vez que o cético completo não possui pontos de vista positivos, ele não pode possuir pontos de vista errôneos. E já que o pirrônico aceita as leis e costumes de sua comunidade, ele aceitará o catolicismo” (Popkin, p.96) Arsenal da contra reforma “O arsenal pirrônico provou ser uma excelente fonte de munição para devastar os adversários, bem como de uma teoria fideista que justificava a posição da Contrareforma francesa” (Popkin, p.124) “máquina de guerra” para levar os adversários ao total desalento “O ataque começa com o problema do critério levantado pela Reforma; como podemos decidir qual é a regra da fé, a medida pela qual a verdadeira fé pode ser distinguida da fé falsa?” (Popkin, p.127) “Se o critério da alternativa da verdadeira fé é o apelo às Escrituras, então [segundo os críticos da contra reforma] ninguém pode decidir com base apenas nas Escrituras o que elas querem dizer ou significam. Tudo o que os reformadores podem oferecer são opiniões duvidosas de Lutero, Calvino e Zwinglio” (Popkin, p. 128) => Discussões políticas e eclesiásticas na Europa central aceleraram debates sobre o fundamento do conhecimento Brasil ... Domínio ibérico / português Domínio católico absoluto (1492) Escravidão em pleno desenvolvimento Outros interessados Companhia da Indias Ocidentais (1602) Tentativas de invasão na Baía da Guanabara Domínio holandês no nordeste (1630-1654) Outros pensadores Influências ceticismo e hermetismo => revolução científica Nicolau Copérnico (1473-1543) Francis Bacon (1561-1626) Galileu Galilei (1564-1662) Johanes Kepler (1571-1630) Blaise Pascal (1632-1664) Reneé Descartes (1596-1650) Princípios para a direção do espírito (1628-9) Discurso sobre o método (1637) Meditações (1641) Método da dúvida sistemática “Não aceitar nada como verdadeiro que não possa ser claramente reconhecido como tal, isto é, evitar cuidadosamente a precipitação e o preconceito nos juízos, e não aceitar nada além do que se apresente à minha mente de maneira tão clara e distinta que não possa duvidar disso” Regras do método verificar se existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou da coisa estudada Analisar = dividir ao máximo as coisas, em suas unidades mais simples e estudar essas coisas mais simples Sintetizar ou seja, agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro Enumerar todas as conclusões e princípios utilizados, a fim de manter a ordem do pensamento Cogito ergo sum “Resolvi assumir que tudo o que penetrava em minha mente não era mais verdadeiro do que as ilusões de meus sonhos. Mas logo em seguida percebi que embora eu quisesse assim considerar todas as coisas como falsas, era absolutamente essencial que o “eu” [cogito] deveria de alguma forma existir, e observando que esta verdade “Penso logo existo” [Cogito ergo sum], era tão certa e segura que todas as mais extravagantes suposições dos céticos seriam incapazes de abalála, cheguei à conclusão de que poderia aceitá-la sem escrúpulos como o primeiro princípio da filosofia que buscava” (Discurso sobre o método) Percepções verdadeiras “Certamente neste primeiro conhecimento não há nada que me assegure de sua verdade, exceto a percepção clara e distinta do que afirmo, o que na realidade não seria suficiente para assegurar-me de que o que digo é verdadeiro se ocorresse que algo que concebo de maneira tão clara e distinta pudesse ser falso; e portanto me parece que já posso estabelecer como regra geral que todas as coisas que percebo de maneira tão clara e distinta são verdadeiras” (Meditações, III) Consequências O método da dúvida leva naturalmente ao cogito e não à suspensão do juízo e sobrenaturalmente à verdade [céticos pirrônicos] O processo de duvidar nos compele a reconhecer a consciência que temos de nós mesmos Duvidar e pensar é existir O processo da dúvida levada ao extremo acarreta a superação do ceticismo total Recurso à metafísica “Mas é certo que jamais tomaremos o falso por verdadeiro se dermos nosso assentimento às coisas que percebemos com clareza e distinção. Porque uma vez que Deus não é enganador, a faculdade do conhecimento que Ele nos deu não pode ser falaciosa, nem a faculdade da vontade, desde que não as estendamos além daquelas coisas que percebemos claramente ...” (Princípios) Deus [Metafísica] como fundamento “Reconheço ser impossível que Ele jamais possa me enganar; pois em toda fraude e em todo engano existe alguma imperfeição, e embora possa parecer que a capacidade de enganar é um sinal de sutileza ou poder, no entanto, o desejo de enganar sem dúvida alguma indica a malícia e a fraqueza, e portanto não pode ser encontrado em Deus” (Meditações) Reações ao método cartesiano Tradicionais: método negava a base do sistema tradicional => não mais a percepção da Idéia em si, mas a construção O método rejeitara o senso comum, a experiência e a autoridade, eliminando as possibilidades para um fundamento seguro para o conhecimento Se os dados sensoriais e o silogismo (aristotélico) se tornavam duvidosos, o que resta? Empirismo inglês (Locke [1632-1704], Hobbes [1588-1679]) Francis Bacon (1561–1626) "saber é poder” Novum Organum (Novo Órgão) => interesse pelo método da ciência "órgão" = instrumento do pensamento teoria dos ídolos: tornar o ser humano consciente das falsas noções que não permitem o caminho para as verdades ídolos da tribo => criados pela própria natureza humana, na espécie humana, ou seja, a própria família humana ou "tribo" ídolos da caverna => procedentes do indivíduo por si só e impedido de conhecer a verdade devido aos defeitos e erros dos órgãos de sentido, esses erros e defeitos são provenientes tanto da própria natureza, quanto por sua educação ou hábitos; ídolos do foro = ídolos do mercado => opiniões que o individuo recebe através da linguagem e relação com outros indivíduos, bloqueando o intelecto ídolos do teatro = opiniões adquiridas pelos indivíduos através das autoridades impondo pontos de vista transformados em leis Baruch Spinoza (1632-1677) Holandês judeu ‘Marrano’ = descendente de judeu ibérico Excomunhão : 1656 Tratado Teológico Político (ed: 1670) Spinoza – obras Tractatus de Deo et Homine Ejusque Felicitate (escrito por volta de 1662, publicação póstuma em 1852); Tractatus de Intellectus Emendatione (escrito em 1662, primeira edição em 1677); Renati des Cartes Principiorum Philosophiae Pars I et II, More Geometrico Demonstratae, per Benedictum de Spinoza (1663); Ethica in Ordine Geometrico Demonstrata (escrito em 1662-75, primeira edição em 1677); Tractatus Theologico-Politicus (escrito em 166570, primeira edição em 1670); Tractatus Politicus (incompleto, escrito a partir de 1665, primeira edição em 1677); Apreciações “Escritor obscurantista” “Arquijudeu blasfemo e completamente ateu” “Monstro atroz” “Diabo néscio” “Saltimbanco cego” “Idiota obcecado” “Traste filosófico” “Fedelho miserável” Tratado Teológico Político 1670 Crítica ao modo judaico de afirmação do conhecimento e sua apropriação pelo estado protestante holandês (=> superstição) Ceticismo religioso => dúvida do fundamento científico das afirmações religiosas Transferência do conhecimento de Deus para o conhecimento racional (geometria e matemática) Reações ferrenhas Antecedentes Isaac de la Peyrère (1596-1676) Huguenote, de origem judaica, convertido ao catolicismo Primeiro cético religioso Obras: Du rappel des juifs / Prae Adamitae Obras banidas no âmbito do reino holandês Marilena Chauí Spinoza explica que existe no universo uma única substância. Essa substância única, ela é de uma complexidade infinita, constituída de qualidades infinitas, que são ações que produzem todas as coisas. Na tradição filosófica e na tradição religiosa, uma substância infinita é Deus. Spinoza diz: é Deus. Só que, na tradição filosófica e na tradição religiosa, Deus com Estado é transcendente, isto é, ele está fora, separado do universo que ele criou ou que ele contempla. Na filosofia antiga, ele contemplava ... na filosofia judaica ou cristã, ele cria esse mundo por um ato contingente da sua vontade, mas ele está fora e separado. Então ele governa o mundo, ele se revela, ele pune, ele é monarca, ele é juiz, mas ele está fora. O Deus de Spinoza está dentro, ele é imanente ao universo. Cada um de nós e todas as coisas são expressões particulares, expressões singulares, expressões individuais dessa única substância infinita. Ela age produzindo tudo isso sem se separar dos seus efeitos. Ela é uma causa imanente. Essa causa imanente é que garante a existência de cada um dos seres singulares. E as articulações e unidade de todos eles na natureza é que forma a unidade complexa do universo, essa causalidade imanente é a nervura que prende todas as partes da realidade. Então, a causalidade imanente de Deus é um Deus que produz sem se separar das coisas por ele produzidas, é a nervura da realidade. Conhecê-lo é exercer o trabalho de pensamento na direção de conhecer a estrutura do universo, do modo de realização. Finalidade do estado: liberdade => pensamento livre e inteiramente descomprometido => liberdade de consciência, liberdade de crença “Mas suponhamos que essa liberdade pode ser reprimida e os homens dominados a ponto de não se atreverem a murmurar uma palavra que contrarie o prescrito pelos poderes soberanos; mesmo assim, nunca estes hão de conseguir que não se pense senão o que eles querem: o que iria necessariamente acontecer era os homens pensarem uma coisa e dizerem outra; corrompendo-se, por conseguinte, a fidelidade imprescindível num Estado e fomentandose a abominável adulação, a perfídia e, daí, os ardis e a completa deterioração dos bons costumes” (Tratado Teológico Político, p. 305) Jusnaturalismo Consequência da afirmação do indivíduo como sujeito [e fonte originária] do pensamento Hugo Grotius [1583-1645 – jurista, teólogo, filósofo] => separação entre direitos divinos e humanos; direitos naturais são construídos por acordos que brotam dos sujeitos em sociedade => inícios do direito internacional [tratados => final da guerra dos 30 anos] Hobbes [1588-1679]: preceito natural ou racional que busca impedir a ruína de si e de outrem Locke [1632-1704] => liberalismo = política dos homens livres / justificativa para escravidão perpétua Grotius - obras De republica emendanda, 1601 Parallelon rerumpublicarum, 1602 De iure praedae (que inclui Mare liberum), 1604 De antiquitate reipublicae Batavicae, 1610 Ordinum pietas, 1613 Defensio fidei catholicae de satisfactione, 1617 De iure belli ac pacis, 1625 De veritate religionis Christianae, 1627 Inleydinge tot de Hollantsche rechtsgeleertheit, 1631 Via ad pacem ecclesiasticam, 1642 De imperio summarum potestatum circa sacra, 1647 De fato, 1648 Annales et historiae de rebus Belgicis, 1657 No Brasil, teve publicada a obra "O Direito da Guerra e da Paz" (Unijuí, coleção "Clássicos do Direito Internacional", 2004) Verdades autoevidentes “Consideramos que estas verdades são sagradas e inegáveis: que todos os homens são criados iguais & independantes [sic!], que dessa criação igual derivam direito inerentes e inalienáveis, entre os quais estão a preservação da vida, a liberdade & a busca da felicidade” (Thomas Jefferson – 1766, apud Hunt, p.13)) Kant (1724-1804) O ‘mundo externo’ só pode ser percebido em nossos termos (racionais) e não em termos absolutos Prevalência da ‘razão pura’ Ler por si mesmo e não sob a autoridade de outrem (seja igreja seja academia) Imperativo categórico a partir da consciência racional => auto determinação da vontade (moral) Kant: estruturas do conhecimento SENSÍVEL: tempo e espaço INTELECTIVO: quantidade, qualidade, causalidade, necessidade Conhecimento intelectivo => JUÍZOS: ◦ analíticos [explicativos / correspondência entre sujeito e predicado / decomposição analítica do sujeito] => "todos os corpos são extensos" ◦ sintéticos (a priori) [predicado acrescenta algo ao sujeito não inerente a ele] => "todos os corpos são pesados" Imperativos categóricos: juízos universalizáveis Kant: O que é Iluminismo? “Uma resposta à questão: “O que é Iluminismo?” (1784) “Iluminismo [ou Ilustração] é a emergência do homem a partir de sua imaturidade autoincorrida. Imaturidade é a inabilidade de usar a compreensão sem ser guiado por outro. Essa imaturidade é auto-provocada se sua causa não é falta de entendimento, mas falta de resolução e de coragem para usar o entendimento sem ser guiado por outrem. O slogan do iluminismo, é: sapere aude! Ter coragem para usar seu próprio entendimento.” O que é iluminismo? O iluminismo é a saída do homem de um estado de menoridade que deve ser imputado a ele próprio. Menoridade é a incapacidade de servir-se do próprio intelecto sem a guia de outro. Imputável a si próprios é esta menoridade se a causa dela não depende de um defeito da inteligência, mas da falta de decisão e da coragem de servir-se do próprio intelecto sem ser guiado por outro. Sapere aude!1 Tenha a coragem de servir-te da tua própria inteligência! Este é o lema do Iluminismo. Síntese Ceticismo => nova afinidade eletiva filosófica para descontrução da tradição medieval Renascença / Humanismo / Reforma => afirmação da individualidade (sujeito), mas restrição ao campo dogmático da tradição Racionalismo [=> cogito cartesiano] => superação do ceticismo pela faculdade intelectiva Síntese (cont.) Da percepção metafísica à nervura do real (Spinoza) Empirismo inglês: conhecimento se constrói por processos sensoriais (sem negação da dimensão transcendente) Kant e a construção do conhecimento por meio da atividade reflexiva racional, sem recurso à metafísica, originando juízos transformáveis em imperativos categóricos universais Euforia do iluminismo: a saída da menoridade é um ato de coragem => sapere aude! “Ousar saber” Nascido na Alemanha, Immanuel Kant (1724-1804) oferece uma nova concepção à teoria do conhecimento, tentando superar a polêmica causada entre o racionalismo e o empirismo. Kant afirma que o ser humano pode ser feliz e organizar a sociedade usando a razão como ferramenta, e que não é Deus que comanda a sociedade e sim a própria razão humana. Com isso, Kant nega que o ser humano conheça algo que seja totalmente superior á matéria, assim como afirmam os empiristas, e nega ainda que seja necessária somente a experiência para que o ser humano conheça a matéria, assim como os racionalistas. Kant explica que tudo que conhecemos da matéria, é justamente o que a razão oferece á matéria, ou seja, as formas. Explica também que não se pode conhecer a essência das coisas, pois o noumenon (coisa em si) não permite acesso ao conhecimento, porém podemos conhecer os fenômenos que se tornam compreensíveis pelo fato de participarmos de sua construção. Após anos de reflexão, Kant elabora teorias como a Critica da razão pura; Critica da razão pratica; e a Critica do juízo. Na Critica da razão pura, Kant afirma que todo e qualquer conhecimento sobre a realidade sensível, nasce da experiência estruturada pelo tempo e pelo espaço. As representações oferecidas pela sensibilidade são ordenadas pelas "categorias do entendimento" que atuam como "moldura" das experiências. Essas características são a qualidade, quantidade, relação e modalidade. O conhecimento é um resumo onde o intelecto oferece a forma e a experiência oferece o conteúdo, essa relação é determinada pela imaginação, que Kant estabelece como faculdade criadora; Kant questiona ainda toda a metafísica, pois esta não pode ser uma experiência sensível, portanto não pode ser conhecida através da razão. Na Critica da razão pratica, Kant retoma com a metafísica, afirmando que a razão pratica trata da ação moral, pois os seres humanos agem por sua própria vontade seja ela boa ou má, já a ética não pode cair em "ilusão". Portanto a moralidade prova que existe algo que transcede o sensível, ou seja, prova a existência de Deus, formulando assim a metafísica da ética. Em sua ultima teoria, a Critica do juízo, Kant estuda as noções de finalidade e beleza, que não podem ser explicadas pela experiência mas que são inerentes ao ser humano. Essa intuição estética conclui a relação entre a imaginação e o entendimento, fazendo com que a imaginação se torne sensível e a sensibilidade se torne racional. As principais questões que Kant se preocupa são: "Como justificar filosoficamente a física?", e "Como justificar a moralidade?". Portanto, Descartes valoriza a razão diante dos sentidos e da tradição, e Kant valoriza a forma do conhecimento, espontâneo da razão, que é oferecida pela sensação.