O Papa e as sua atuação O que mais chama a atenção no Papa é que ele parece não ter medo de tocar em assuntos tradicionalmente polêmicos para a instituição. Seus comentários nesses quase dois anos de papado mostram um pontífice tolerante com os gays, casais divorciados e com a teoria do Big Bang, que não coloca em lados totalmente opostos ciência e religião e ainda insere na agenda de declarações que buscam a humanização das relações entre os países que vivem em situação de conflito ou oposição, como é o caso de Israel e Palestina e EUA e Cuba. Mudanças na estrutura? Com esse perfil, Francisco tornou-se um papa pop -- e polêmico. Estaria ele buscando um caminho para uma Igreja Católica mais acolhedora? Há quem concorde com esse ponto de vista. Uns acreditam que, embora as palavras do papa Francisco valorizem o perdão ao próximo, na prática, não provocarão mudanças dogmáticas na religião. Aproximação sim. Mudança não A aceitação dos gays, a entrega da comunhão a pessoas divorciadas que se casaram de novo, aborto, o uso de preservativos, a ordenação de mulheres e o fim do celibato entre padres, temas que já foram alvo dos comentários de Francisco, são marcos morais do Catolicismo e dificilmente sofrerão mudanças em breve. Para outros, a preocupação nestes primeiros anos do pontificado deve ser com uma reforma estrutural e ética do Vaticano. Ações contra a corrupção Em 2012,a Cúria Romana, órgão administrativo da Santa Sé, foi alvo de denúncias de corrupção, nepotismo e abusos de poder, no escândalo conhecido como Vatileaks. Neste aspecto, Francisco promoveu mudanças nos cargos e implantou rígidos processos contra a lavagem de dinheiro visando dar mais transparência às ações. Uma das ações foi a divulgação do primeiro balanço financeiro do Banco do Vaticano, algo até então inédito. No final de 2014, em uma de suas mensagens, ele chamou a Cúria de “lepra do papado” e pediu que os Bispos e cardeais mudassem sua postura na condução da Igreja. Religião e política Francisco é um dos papas que mais aproximaram a religião da política. Constantemente fala sobre os conflitos entre Israel e Palestina. Ele defende a criação de um Estado Palestino e ofereceu o Vaticano para sediar um acordo de paz entre representantes dos países, fato inédito. Na recente abertura anunciada pelos EUA (um país de maioria protestante) a Cuba, o presidente norte-americano Barack Obama fez um agradecimento ao Papa. O Papa e a teoria do Big Bang Para o papa Francisco é possível a coexistência das teorias do criacionismo e evolucionismo, uma postura rara entre pontífices e católicos em geral. Durante uma assembleia da Pontifícia Academia de Ciências, no Vaticano, o pontífice disse que a Teoria do Big Bang (segundo a qual uma explosão há 15 bilhões de anos teria originado o universo) não se opõe à ideia de um criador divino, já que ela exigiria um criador. Da mesma forma, a evolução das espécies exigiria que os seres tivessem sido criados antes. Abertura para homossexuais e divorciados Outros temas já comentados por Francisco e que encontram resistência na ala mais conservadora da Igreja Católica são a relação com homossexuais e divorciados. "Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?", disse Francisco a um grupo de jornalistas após a Jornada Mundial da Juventude, em 2013. Depois, afirmou que a igreja tem o direito de expressar suas opiniões, mas não deve "interferir espiritualmente" na vida de gays e lésbicas. Em outubro de 2014, no Sínodo dos Bispos, convocado pelo Papa para discutir temas relacionados à família com autoridades religiosas, foram aprovadas propostas de se estudar um caminho para que os divorciados que se casaram de novo pudessem receber os sacramentos e de que "os homens e as mulheres com tendências homossexuais devem ser amparados com respeito e delicadeza" e que se "evitará qualquer marca de discriminação". Tolerância religiosa Francisco já condenou diversas vezes os combatentes do Estado Islâmico que mataram ou expulsaram muçulmanos xiitas, cristãos e outros na Síria e no Iraque, por não compartilharem a ideologia do grupo. Em janeiro deste ano, ele declarou que “as crenças religiosas nunca devem ser alvos de abusos causados pela violência e pela guerra", pregando que a tolerância entre as religiões e que a “liberdade de expressão não dá direito de insultar a fé do próximo”.