Friedrich Nietzsche
(1844-1900)
Professora Karina Oliveira Bezerra
p.453-455
Vida
• VIDA = luta contínua, vontade de potência, conjunto de forças em luta
• Vida como luta - a luta garante a permanência da mudança: nada é senão vir a ser.
• Vida como "Vontade de Potência" = vontade de poder. Necessita de obstáculos que a
estimulem, precisa de resistências para que se manifeste, requer oponentes para
exercer-se. Para que ocorra luta é preciso antagonistas. E como ela é inevitável e sem
trégua ou termo, não pode implicar destruição dos beligerantes. Não pode caracterizarse pela adaptação ao meio em que se acha mas quer exercer-se sempre mais sobre o
que está a sua volta.
• Viver = ser cruel e inexorável com tudo o que em nós é velho e enfraquecido.
• a vida enquanto vontade de potência é o critério para avaliação dos valores. Bom é
aquilo que favorece a "vontade de potência" e mau o que desfavorece.
• Vida como conjunto de forças em luta - querendo vir a ser mais forte a força esbarra em
outras que a ela resistem. É inevitável a luta por mais potência. A cada momento as
forças relacionam-se de modo diferente, dispõem-se de outra maneira. A todo instante,
a "vontade de potência", vencendo resistências, se autosupera e, nessa superação de si
faz surgir novas formas. É pois força criadora.
Moral dos nobres x Moral dos escravos
• Moral dos nobres - surge da afirmação. Mais da auto-afirmação.
• Nela não existe o "bom" da moral dos escravos" mas o "forte" que é o criador de valores.
• "Forte" = nobre, poderoso, feliz, o que diz sim a si mesmo, não precisa se persuadir de sua felicidade pois ela é
ação (ser ativo é parte necessária da felicidade), vive com confiança e franqueza diante de si mesmo. Despreza o
bem estar, a segurança. Não é "prudente".
• Moral dos escravos - moral dos ressentidos. O ressentido, incapaz de admirar o forte imputa-lhe o erro de ser
forte. Chama-o de mau. Não cria valores, inverte o que foi posto pelos nobres. O que vem dos nobres é mau. O
que vem dele é bom.
• Quer transformar em força a própria fraqueza (renúncia, paciência, resignação)
• É a impossibilidade de agir neste mundo que o leva a forjar a existência de outro, onde terá posição de destaque,
ocupará lugar privilegiado, ser figura eminente.
• Traveste sua impotência em bondade, a baixeza temerosa em humildade, a submissão aos que odeia em
obediência, a covardia em paciência, o não poder vingar-se em não querer vingar-se e até perdoar, a própria
miséria em aprendizagem para a beatitude, o desejo de represália em triunfo da justiça divina sobre os ímpios.
• O Reino de Deus aparece como produto do ódio e do desejo de vingança dos fracos. Ódio e ressentimento são as
palavras chaves para compreender o ressentido. É a diferença que causa o ódio, ou melhor, é a recusa da
diferença que o engendra.
• O Bom na moral dos escravos = requer estímulos exteriores para poder agir, precisa se persuadir da felicidade, é
passivo (quer sossego, paz). Concebe o inimigo como mau. Valoriza a segurança, o bem-estar. É prudente. É o
manso, domesticado. Remete a Deus a vingança. Foge de toda a maldade e exige pouco da vida. É o paciente. É o
medroso. É o sofredor. Enquanto o nobre sempre afirma ele sempre nega. É o piedoso.
Ética das emoções e do desejo
• Há uma concepção ética, francamente contrária à racionalista (e, por isso, muitas vezes
chamada de irracionalista), que contesta à razão o poder e o direito de intervir sobre o
desejo e as paixões, identificando a liberdade com a plena manifestação do desejante e
do passional. Essa concepção encontra-se em Nietzsche e em vários filósofos
contemporâneos.
• Embora com variantes, essa concepção filosófica pode ser resumida nos seguintes
pontos principais, tendo como referência a obra nietzscheana A genealogia da moral:
A moral racionalista foi erguida com finalidade repressora e não para garantir o
exercício da liberdade;
A moral racionalista transformou tudo o que é natural e espontâneo nos seres
humanos em vício, falta, culpa, e impôs a eles, com os nomes de virtude e dever, tudo o
que oprime a natureza humana;
Paixões, desejos e vontade referem-se à vida e à expansão de nossa força vital,
portanto, não se referem, espontaneamente, ao bem e ao mal, pois estes são uma
invenção da moral racionalista;
Transgredir normas e regras estabelecidas é a verdadeira expressão da liberdade e
somente os fortes são capazes dessa ousadia. Para disciplinar e dobrar a vontade dos
fortes, a moral racionalista, inventada pelos fracos [...] submeteram a vontade à razão,
inventaram o dever e impuseram castigos para os transgressores
A força vital se manifesta como saúde do corpo e da alma, como força da imaginação
criadora. Por isso, os fortes desconhecem angústia, medo, remorso, humildade, inveja.
A moral dos fracos, porém, é atitude preconceituosa e covarde dos que temem a saúde
e a vida, invejam os fortes e procuram, pela mortificaçãodo corpo e pelo sacrifício do
espírito, vingar-se da força vital;
A moral dos fracos é produto do ressentimento, que odeia e teme a vida,
envenenando-a com a culpa e o pecado, voltando contra si mesma o ódio à vida;
A moral dos ressentidos, baseada no medo e no ódio à vida (às paixões, aos desejos, à
vontade forte), inventa uma outra vida, futura, eterna, incorpórea, que será dada como
recompensa aos que sacrificarem seus impulsos vitais e aceitarem os valores dos fracos;
A sociedade, governada por fracos hipócritas, impõe aos fortes modelos éticos que os
enfraqueçam e os tornem prisioneiros dóceis da hipocrisia da moral vigente;
• Nietzsche critica o pensamento socrático e platônico e a tradição da religião
judaico-cristã por terem desenvolvido uma razão e uma moral que subjugaram as
forças instintivas e vitais do ser humano, a ponto de domesticar a vontade de
potência do homem e de transformá-lo em um ser fraco e doentio.
• Ao criticar a moral tradicional racionalista, considerada hipócrita e decadente,
Nietzsche propõe uma moral não-repressiva, que permite o livre curso dos
instintos, de modo que o homem forte possa, ao mesmo tempo, acompanhar e
superar o movimento contraditório e antagônico da vida.
• A dificuldade, está em saber se o que devemos criticar e abandonar é a razão ou
a racionalidade repressora e violenta, inventada por nossa sociedade, que precisa
ser destruída por uma nova sociedade e uma nova racionalidade.
A crítica da moral e a transvaloração dos valores
em Nietzsche: Uma possibilidade para a formação
de um indivíduo além-da-moral.
• Através da Vontade de Poder seria possível uma
transvaloração dos valores morais, visto que o
homem poderia ir para “além” das imposições e dos
limites que o mesmo se impingiu...
• A transvaloração seria um processo necessário e
libertador de uma moral que tem no niilismo uma
das suas principais e das mais nefastas
conseqüências, pois faz do homem um negador da
vida e, portanto, um aniquilador de si mesmo.
Embora Nietzsche pareça deixar essa tarefa nas
mãos de um “homem do futuro” ou para um “alémdo-homem”, seu legado de transformação é
inegável.
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Friedrich Nietzsche (1844