Doença Meningocócica INTERNATO PEDIATRIA – HRAS – 2009 Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)/SES/DF Aluno: Vinícius Cunha Coordenação: Dra Luciana Sugai www.paulomargotto.com.br Brasília, 07/04/2009 DFV, feminino, 5 anos, natural e procedente de Brasília. Queixa Principal: “Febre há 12 horas” HDA: Mãe relata que criança apresentou quadro de febre (39°C) há 12 horas(às 17hs), cedeu temporariamente com Paracetamol. Houve retorno rápido, associado a calafrios, queda do estado geral, irritabilidade. Após 3 hrs iniciou quadro de lesões “avermelhadas” disseminadas em tronco e MMSS, posteriormente em MMII. Nega tosse, coriza, vômitos, diarréia, alterações de consciência Mãe procura PS do HCB às 22hs com piora progressiva e rápida do estado geral. Encaminhada ao HRAS (por questões burocráticas) durante a madrugada, às 5hs. RS: hiporexia desde a manhã; ANTECEDENTES: Gestação: perda de líquido e ameaça de parto prematuro no 6º mês; Pré-natal completo; Nascida de parto cesário com 40sem e 1dia, com 3.150g PC:? Estatura: 46 cm Chorou ao nascer, Vacina atualizada (sem cartão); Recebeu alta aos 3 dias de vida, sem intercorrências; SME até 6 meses, nega alergia; Portadora de Asma com crise no 2º ano evoluindo com PCR rapidamente revertida; Choque elétrico aos 4 anos; Nega cirurgias, hemotransfusões; HÁBITOS DE VIDA: Mora em apart com mãe, irmã, avós e 1 tia, sem animais em domicilio ANTEC. FAMILIARES: Irmã e Pai atópicos; Diabetes e hipertensão arterial Sinais Vitais: FR: 20 ipm; FC: 120 bpm; EC<2seg REG, eupneica, corada, desidratada leve, afebril, acianótica, chorosa, anictérica, irritada, consciente; Pele: presença de lesões petequiais em toráx anterior, em MMSS e MMII; Oroscopia: não realizada; Otoscopia: não realizada; Linfonodos: gânglios aumentados em cadeia cervical posterior; ARP: Tórax atípico, MV Rude, simétrico, sem RA e sem sinais de esforço respiratório. Sat02: 98%; ACV: RCR, em 2T, BNF, sem sopros. Pulsos cheios; ABD: Plano, RHA+, flácido, indolor a palpação, sem VMG; Ext: Sem edemas; SNC: pupilas isocóricas e fotorreagentes. Rigidez de nuca?, Kerning e Brudzinsk presentes Conduta: Solicitado Exames (HC, BQ, PCR), Punção lombar, Internação, HV e Antibioticoterapia (ceftriaxone ) HEMOGRAMA COMPLETO Hc Hg Ht VCM HCM CHCM Plaq PCR Ur Glic TGP K 4,77 mi/mm3 11,5g/dl 37,8% 79,2 fl 24,1 pg 30,4% 218000/mm3 1,82 mg/dl 26 mg/dl 120 mg/dl 12 U/l 3,4 mEq/l Leuc Seg Bast Linf Eos Baso Mono 6900 / mm3 66% 12% 18% 0% 0% 14% VHS Crea TGO Na Cl 2 mm/1h 0,59 mg/dl 26 U/l 136 mEq/l 100 mEq/l LICOR- ligeiramente turvo GLICOSE PROTEÍNAS CLORETOS LEUCÓCITOS NEUTRÓFILOS LINFÓCITOS HEMÁCIAS 92 mg/% 27 mg/% 121 mEq/l 455 mm³ 70% 30% 3 mm³ 07/03/2009 ÀS 14 hs Criança apresentou um episódio de vômito, aceitando parcialmente a dieta. Não apresentou febre. Diurese um pouco diminuída. Ao exame: FR:20 ipm; FC:100bpm; EC<1seg REG, sonolenta, responsiva, eupneica, normocorada Pele:mantinha as lesões; ARP, ACV e ABD sem alterações; SNC: Rigidez de nuca, Kerning e Brudzinsk presentes CD: manter vigilância, PA 4/4hs 08/03/2009 às 8hs Estável, sem intercorrências, sem febre, dieta pobre; Ao exame: mantido, com remissão dos sinais meningeos; CD: mantida, aguardando bacterioscopia; 09/03/2009 às 8hs Mantido quadro clínico, com um pico febril (37,8 ºC) CD: mantida 10/03/2009 às 8hs Dois picos febris (37,8 e 38ºC), dor em região de tórax anterior em petéquia e lesão em língua e lábio inferior; Ao exame: lesão vesicular em lábio inferior Dor a palpação de lesão petequial em tórax anterior esquerdo; HD:lesão herpética em lábio; Condrite em arco costal CD:iniciado Nimesulida 11/032009 às8hs Melhora da dor, sem outras queixas CD:Alta após dose de antibiótico; Retorno ambulatório - - - INTRODUÇÃO É um importante problema de saúde pública no mundo, com elevadas taxas de mortalidade tanto em países desenvolvidos (10%) e em desenvolvimento (50%!). Neisseria meningitidis é o agente causal da DM, bacilo gram negativo que está presente na nasofaringe de indivíduos normais. A DOENÇA se desenvolve quando o microrganismo se espalha a partir da mucosa nasofaríngea e invade a corrente sanguínea. - - - - A meningite isolada tem melhor prognóstico que a meningococcemia; Mais comum em meninos durante a infância. Esta relação diminui com a idade. Maior incidência: 6 m a 2 anos. Estes pacientes perderam os anticorpos maternos e ainda não amadureceram seu sistema imunitário humoral. Segundo pico incidência: adolescência (agrupamentos). - FATORES DE RISCO Contato íntimo com paciente com doença invasiva; Infecções virais, especialmente gripe; Tabagismo ativo ou passivo; Asplenia anatômica ou funcional; Doenças crônicas; Susceptibilidade determinada geneticamente: variações genéticas de opsoninas que participam da ativação do complemento. baixos níveis de TNF e altos níveis de IL-10, associam-se a doença meningocócica fatal. mutações em fatores de coagulação, aumentam o risco de complicações trombóticas. - - - QUADRO CLÍNICO: O espectro da doença varia amplamente, de febre e bacteremia oculta a sepse, choque e óbito; Padrões da doença incluem: bacteremia sem sepse, meningococcemia sem meningite, e meningite com ou sem meningococcemia; Pelo menos 80% dos casos tem manifestação clínica; - - - - Meningococcemia aguda pode inicialmente simular doença viral com faringite, febre, fraqueza, vômitos, diarréia e cefaléia; Mialgias e recusa de andar são os principais sintomas em 7% dos casos; Exantema: - maculopapular -> púrpura ou petéquias em 80% casos. - 13% dos pacientes o exantema permanece maculopapular - 7% não ocorre exantema. Dor abdominal; Extremidades frias, pode ser precoce Nível de consciência (normal no início do quadro) Quadros de encefalite. - - Na meningococcemia fulminante, a doença progride rapidamente durante horas, evoluindo para CHOQUE, taquicardia, hipotensão, púpuras e petéquias, hipotensão, CIVD, acidose, hemorragia supra-renal, insuf.renal, insuf.miocárdica, coma; Os sintomas de septicemia e meningite (cefaléia, fotofobia, rigidez de nuca e sinais meníngeos) podem ocorrer juntos, dificultando a distinção do quadro de depressão do nível de consciência devido à hipotensão (septicemia) ou à hipertensão intracraniana pela meningite. - - - - - DIAGNÓSTICO O diagnóstico definitivo é conseguido após o isolamento do microrganismo em fluídos estéreis, como LCR, sangue. As culturas podem ser negativas se já tiver iniciado ABT. Proteína C reativa elevada; Teste do látex: alta sensibilidade e especificidade, porém altas taxas de falso-negativos; Reação em cadeia de polimerase (sangue ou líquor) → rápido diagnóstico; Leucocitose (leucopenia indica pior prognóstico), Trombocitopenia, Distúrbios metabólicos: hipocalemia, hipomagnesemia, hiperglicemia e acidose metabólica → aumento do lactato PUNÇÃO LOMBAR: - - Confirma a presença de meningite, identifica a bactéria causadora e a sensibilidade antibiótica. Neutrófilos: 100 a 60.000 céls/ml (PMN) Proteínas: 100 a 1.000 mg/ml Glicose: < 60% glicemia Gram: + em até 60% casos, mesmo após uso de antibiótico; pode ser negativo em caso de uso anterior prolongado de antibiótico. CONTRA INDICAÇÕES - - - DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: DM pode ser semelhante a quadros de sepse ou meningite por outras bacterias gram-/+, vírus, endocardite bacteriana; Vasculites autoimunes (especialmente púrpura de HenochSchönlein), doença do soro, síndrome hemolítico-urêmica, doença de Kawasaki, PTI, erupções por drogas; Erupções petequiais benignas são comuns em infecções pelo Streptococos do grupo A e vírus. - TRATAMENTO: Combater a INFECÇÃO, o CHOQUE e a HIPERTENSÃO INTRACRANIANA - - - INDICADORES DE GRAVIDADE: Choque Ausência de meningite Exantema rapidamente progressivo Leucopenia Coagulopatia Deterioração do nível de consciência. - - ANTIBIÓTICOS: Enquanto se aguarda os resultados confirmatórios devese iniciar imediatamente o antibiótico; Efeitos : Líquor: morte do meningococo após 3-4 h da infusão EV. Redução em 50% das endotoxinas plasmáticas após 2h da infusão EV. Idade 1 a 3 meses Antibiótico Ampicilina e Cefotaxima Ampicilina e Cefotaxima com ou sem Vancomicina* Lactentes > 3 meses, Crianças e adultos Cefotaxima ou Ceftriaxona, com ou sem Vancomicina* Neonato Casos confirmados de meningococcemia Penicilina Obeservação * Suspeita de pneumococo resistente Pacientes alérgicos: Cefotaxima ou Ceftriaxona CHOQUE: - Reposição Volêmica: SF 0,9%, em bolus de 20 ml/kg, repetido até redução da FC e melhora da perfusão periférica. Se necessários volumes de 100 a 200 ml/kg. Estes pacientes necessitam de suporte ventilatório. Monitorização contínua da FC, PA, tempo de enchimento capilar, amplitude da pressão de pulso, dosagem de lactato e saturação venosa mista, pelo extravasamento capilar contínio, mesmo após estabilização. - - - Intubação endotraqueal e Ventilação Assistida : Indicação: sinais de choque persistente, mesmo após infusão > 40 ml/kg -> risco de edema agudo de pulmão. Monitorização rigorosa e instalação de suporte ventilatório. Suporte inotrópico: Pacientes que não respondem à reposição volêmica: Nora, Dopa, Dobuta, Adrenalina - - Correção dos distúrbios da coagulação e anemia: Hb < 7,0: concentrado hemácias Plaquetas manter 20.000 a 50.000, sem sangramento evidente > 50.000 a 100.000, em caso de sangramento. Hipertensão Intracraniana: Deve ser considerada na presença de diminuição nível de consciência, sinais neurológicos focais, hipertensão, bradicardia e agitação. CORTICOESTERÓIDES: - Diminuem a incidência de complicações neurológicas em crianças. Quando corticosteróides são utilizados, eles devem ser administrados com ou antes da 1ª dose do antibiótico. - PREVENÇÃO: Todos os contatos familiares Contatos durante 7 dias de doença (creches) secreções: beijo, uso de escova de dentes, talheres ou estreito contato social Dormir ou comer no mesmo cômodo que o paciente. Antibiótico Idade Dose Rifampicina Adulto > 1 mês < 1 mês 600 mg 12/12h por 2 dias 10 mg/kg 12/12h por 2 dias 5 mg/kg 12/12h por 2 dias Ceftriaxona > 15 anos < 15 anos 250 mg IM – dose única 125 mg IM – dose única Ciproflaxacina > 18 anos 500 mg – dose única Vacina anti-meningococo - - Medidas para melhorar o prognóstico: Reconhecimento e tratamento imediatos, com ênfase na terapia contra o choque e uso precoce de antibióticos. Considerar que qualquer criança com exantema petequial ou purpúrico, que não desaparecem à digito-pressão, como sendo doença meningocócica e instituir tratamento. Púrpura vascular mais comum na faixa etária pediátrica ( 6m aos 16 anos, mais freqüente aos 4 anos idade). Púrpura alérgica, não-trombocitopênica. Clínica: é incluída a clássica tétrade, que ocorre em qualquer ordem, a qualquer tempo, em um período de vários dias a semanas; - púrpuras simétricas, predomínio em MMII, com distribuição ascendente. - Lesões avermelhadas, com discreto relevo (púrpura palpável) acompanhadas de artralgia ou artrite, dor abdominal, doença renal. Laboratório: - hemograma e testes de hemostasia normais Diagnóstico Definitivo: - Biópsia de pele: infiltrados inflamatórios característicos de vasculite leucocitoclástica. Tratamento : - Sintomático. - Curso benigno, com resolução espontânea em 4 a 6 semanas. É um distúrbio no qual uma contagem baixa de plaquetas, de causa não identificada, acarreta em sangramento anormal. A causa da deficiência de plaquetas é provavelmente por uma reação auto-imune, nos quais anticorpos destroem as próprias plaquetas do indivíduo. Fagocitose no baço e fígado – trombocitopenia aguda Petéquias e equimoses. Elevações espontâneas das plaquetas, sem tratamento, 1 a 2 sem após início do QC e normalização em 4 a 6 sem. Laboratório: - Plaquetopenia intensa < 5.000 plaqts; - Prolongamento do TS; - Leucocitose, neutrofilia ou atipia linfocitária, associada à infecção viral. - anemia - Mielograma: hiperplasia do setor megacariocítico. Diagnóstico de exclusão das demais causas de trombocitopenia por consumo periférico (hiperesplenismo, hepatopatia ou CID). Tratamento : Transfusão de plaquetas < 20.000 a 30.000; Corticosteróides, Imunoglobulina Humana Intravenosa, Esplenectomia J Pediatr (Rio J). 2007;83(2 Suppl):S46-53: Doença meningocócica, sepse, meningite, cuidados intensivos, pediatria, púrpura. Central Nervous System Infections. Emergency Medicine Clinics of North America - Volume 27, Issue 1 (February 2009) Copyright © 2009 W. B. Saunders Company. Goldman: Cecil Medicine, 23rd ed.; Chapter 321 MENINGOCOCCAL INFECTIONS. Kliegman: Nelson Textbook of Pediatrics, 18th ed.; Chapter 190 Neisseria Meningitidis (Meningococcus). Cohen & Powderly: Infectious Diseases, 2nd ed.; Chapter 227 Neisseria . J. Pediatr. (Rio J). 1999; 75 (Supl.1): S46-S56: meningite bacteriana, meningite meningocócica, meningite pneumocócica, meningite por Haemophilus. Ddos Jailson, Milena, Vinicius e D. Paulo R. Margotto