Cetoacidose Diabética Fabíula Morosi Czarneski R1 – Pediatria-Hospital Regional da Asa Sul www.paulomargotto.com.br Brasília, 20 de junho de 2010 Introdução Complicação aguda, caracterizada pelo acúmulo de corpos cetônicos (cetonemia) na deficiência de insulina, com consequente acidose metabólica, podendo levar à morte. É a principal causa de hospitalização e mortalidade em pacientes diabéticos, com idade inferior a 20 anos. A maioria dos casos fatais está relacionada ao edema cerebral (0,5 a 2%) (Wolfsdorf J. et al., 2005- 2006). Primeira manifestação de DM1 em 15 a 67% dos casos (dados mundiais). Fatores Precipitantes Falta de insulina absoluta (interrupção do uso, primodescompensação). Falta de insulina relativa: aumento da necessidade induzida por outros fatores (infecção, trauma, drogas, doenças agudas) (Giugno K. et al., 2005). Fisiopatologia INSULINA Glicogenólise Hiperglicemia (Hormônios contra-reguladores) Gliconeogênese Lipólise Diurese osmótica Corpos cetônicos Desidratação Acidose metabólica Perfusão Vômitos tecidual Ácido lático Hiperventilação A produção de corpos cetônicos é anormalmente elevada quando a degradação de triacilgliceróis não é acompanhada pela degradação de carboidratos. A oxidação da acetil-CoA pelo ciclo de Krebs fica então impedida: a acetilCoA condensa-se formando os corpos cetônicos. Quadro Clínico Poliúria, polidipsia, polifagia, emagrecimento caracterizam o DM. Na evolução para CAD, ocorrem náuseas, vômitos, anorexia progressiva, dor abdominal, fadiga e sinais de desidratação: sede, taquicardia, saliva espessa, perfusão diminuída. Taquipnéia (hiperventilação para compensar a acidose metabólica). Hálito cetônico. Pode haver alteração da consciência (da sonolência ao coma), sendo que a sonolência alternada com a irritabilidade e o estado comatoso indicam comprometimento cerebral. Observações Importantes A desidratação é hiperosmolar e clinicamente pode-se subestimar o grau real de desidratação. Idade inferior a 5 anos, gravidade da acidose metabólica e elevação da uréia são fatores de risco de edema cerebral em CAD.( Dunger DB et al.,2004). Diagnóstico Laboratorial PH < 7,3 e/ou bicarbonato < 15 mEq/l Glicemia > 200mg/dl Cetonemia e cetonúria Wolfsdorf J. et al., 2006 Classificação da CAD Leve: pH = 7,3 - 7,2 Moderada: pH = 7,2 - 7,1 Severa: pH < 7,1 Dunger D.B. et al., 2004; Wolfsdorf J. et al., 2006. EXAMES Para diagnóstico: gasometria arterial, cetonúria e glicemia capilar. Colher eletrólitos ( potássio, cloretos, sódio) para controle e uréia, creatinina, hemograma completo, lactato na admissão. Protocolo de Tratamento da Cetoacidose Sociedade Brasileira de Pediatria Tratamento da Cetoacidose Rapidez e segurança, mas sem pressa. A glicemia deve diminuir em ritmo lento (90-100mg/dl por hora), para evitar complicações, principalmente o edema cerebral (osmóis idiogênicos= substâncias com atividade osmótica intracelular). Dieta zero. HIDRATAÇÃO VENOSA e INSULINA Hidratação Venosa 1) Fase rápida com soro fisiológico a 0,9%, 20ml/kg em 20 minutos. Pode ser repetido até a estabilidade circulatória (dois acessos). 2) Hidratação em Y Hidratação Venosa Pós-FR – em Y a) Soro fisiológico 0,9% correr EV em 6 horas. b) Holiday a) Correção da desidratação de acordo com a depleção do espaço extracelular Idade Volume do EEC (% peso) Grau de DEEC % de DEEC leve 15% RN 40% Lactente 30% moderado 20% Pré-escolar 25% grave 25% Escolar e adulto 20% choque 30% Por exemplo: criança de 8 anos, peso: 20Kg, com respiração de Kussmaul, olhos encovados, xerostomia, hipoativo, consciente e orientado. Volume do EEC: 20% de 20 = 4 litros Grau de DEEC: (grave) 25% de 4=1000 ml. (menos a fase rápida= o volume de SF 0,9% que vai correr em 6 horas). b) Hidratação de Manutenção (Holiday) A correção da glicemia é mais rápida que a correção da acidose. Portanto, nos pacientes que apresentarem queda importante da glicemia , acompanhada ainda da cetonemia, aumenta-se a infusão de glicose de acordo com a glicemia, conforme a seguinte tabela: Glicemia (mg/dl) Concentração do SG >300 5% 200 a 300 7.5% <200 10% 3) Reposição de Potássio Na CAD, o potássio total está diminuído (aumento da excreção urinária, vômitos, aumento da aldosterona pela desidratação). Porém, no momento do diagnóstico, o potássio sérico pode estar normal ou elevado, pois a acidose provoca saída de potássio do meio intra para o espaço extracelular. Fazer a reposição, conforme tabela a seguir: K inicial (mEq/L) Potássio >6 2 a 4 mEq/Kcal/dia 4a6 4 a 6mEq/Kcal/dia <4 6 a 8 mEq/Kcal/dia Insulinoterapia Insulina regular, 0,1 UI/Kg/hora. IM (ou EV por infusão contínua diluída em soro fisiológico). Até cetonúria menor ou igual a 2+ e glicemia < 300 mg/dl. Monitorar glicemia capilar e cetonúria de 1/1h até a correção da acidose. Corrigida a acidose (pH > 7,3 e bicarbonato > 15) e aplicadas pelo menos três doses de insulina IM, o paciente passa a receber insulina regular subcutânea de 4/4h, de acordo com o esquema: Glicemia mg/dl < 200 Insulina Regular UI/kg/dose 200 a 250 250 a 300 > 300 0,10 0,15 0,20 0 Liberar a dieta (para diabético) suspender o soro de manutenção. Com 6 horas de evolução, colher controle de gasometria e eletrólitos. e IMPORTANTE Bicarbonato: somente em casos extremos! Se pH = 6,9 e persistir após 1 hora de hidratação (1-2 mEq/ kg em 1-2 horas) (Wolfsdorf J. et al.,2006). Insulina NPH Iniciar pela manhã com ingesta restabelecida. 0,5 UI/Kg/ dia, SC, 2/3 antes do desjejum e 1/3 antes de dormir. Complicações Distúrbios eletrolíticos Hipopotassemia Hiponatremia dilucional Hipoglicemia IRA Edema cerebral Obrigada ! Fabíula Morosi Czarneski Do Editor do site www.paulomargotto.com.br, Dr. Paulo R. Margotto Consultem: Tratamento de Cetoacidose Diabética: Insulina Regular X Análogo De Insulina De Ação Rápida (Aspart) – Revisão d literatura e Proposta De Rotina Terapêutica (Apresentação) Autor(es): Maria Cecília Rodrigues Leite Araújo Objetivos: Estabelecer uma conduta única a ser adotada na Emergência Pediátrica do HRAS, Atualizar medidas terapêuticas, Buscar a simplificação do tratamento da CAD, bem como reduzir o seu custo. Comparar o tratamento da cetoacidose diabética tradicional com insulina regular frente ao uso de análogo de insulina de ação rápida (Aspart).