TEORIA DA PERSONALIDADE E DA DINÂMICA DO COMPORTAMENTO SEGUNDO CARL ROGERS Márcia E. Soares Bezerra As contribuições de Rogers à Psicologia são notáveis: - Sua teoria enfatiza as relações humanas; - Nossa existência é vista como um processo contínuo e não episódico; - Contribuição no plano da relação interpessoal e grupal; - Necessidade do contato e da compreensão de si para melhor compreender o outro; - Crença no desenvolvimento positivo do ser humano; - Contribuições: prática clínica, área pedagógica e pesquisas científicas (examinou diversos aspectos da personalidade humana); - ACP sustenta uma filosofia que busca resgatar o respeito à pessoa humana. (MOREIRA, 2007, p.29) Utilização de tecnologias importadas: “Quando um ser humano pretende imitar outro já não é ele mesmo. Assim também a imitação servil de outras culturas gera uma sociedade alienada ou uma sociedade objeto. Quanto mais alguém quer ser outro, tanto menos é ele mesmo (...) É necessário partir de nossas possibilidades para sermos nós mesmos. O erro não está na imitação, mas na passividade com que se recebe a imitação, ou falta de análise ou autocrítica” (FREIRE, 1983 apud MOREIRA, 2007, p.59) TEORIA DA PERSONALIDADE “Essa teoria tem um caráter basicamente fenomenológico e está fortemente fundamentada no conceito de Self como conceito elucidativo”. (ROGERS, 1951, p. 604,) Organização da personalidade (desenvolvimento humano) Desorganização (desajuste psicológico) Reorganização (mudança e crescimento) “Todo indivíduo vive num mundo de experiências, em constante mutação, do qual ele é o centro” (ROGERS, 1951, p. 549). “Todo indivíduo vive num mundo de experiências, em constante mutação, do qual ele é o centro” (ROGERS, 1951, p. 549). Campo Fenomenológico Compreende tudo o que é experimentado pelo organismo em qualquer momento e que está potencialmente disponível à consciência. “Minha consciência e meu conhecimento efetivos de meu campo fenomenológico são limitados. Ainda é verdade porém, que, potencialmente, sou a única pessoa que pode conhecê-lo na totalidade. Uma outra pessoa nunca poderá conhecê-lo tão completamente quanto eu”. (CARL ROGERS, 1951, p.550) Organismo “Organísmico” Totalidade da pessoa em sua relação com o meio CONDIÇÃO MULTIFACETADA, INTERATIVA, SISTÊMICA, MUTÁVEL, COMPLEXA. O organismo reage ao campo da maneira como este é experimentado e percebido. O campo perceptivo, é para pessoa “realidade” (P2) percepção “realidade” comportamento - Hipótese -Confrontado -Testado -Não-testado “Mapa” O organismo reage ao seu campo fenomenológico como um todo organizado (P3) Tendência do organismo para respostas totais. Qualquer alteração em uma das partes pode produzir modificações em qualquer outra. Ex: fenômenos fisiológicos de compensação; conflitos interpessoais, insegurança, estresse e desenvolvimentos de doenças (asma, úlcera, etc). O organismo tem uma tendência e impulsos básicos - concretizar, manter e aperfeiçoar o organismo(P4) Há uma força direcional observada na vida orgânica. Tendência de preservar-se (assimilar comida, comportar-se defensivamente diante de ameaças, autopreservação mesmo que por via não usual) e mover-se na direção da maturação (diferenciação maior de órgãos e de função, independência, autoregulação e autonomia maiores). “Autoconcretização do organismo parece ser na direção da socialização” (ROGERS, 1951, p.555). “Os processos da vida não tendem meramente a preservar a vida, mas transcendem o status quo momentâneo do organismo, expandindose continuamente e impondo sua determinação autônoma a um âmbito cada vez maior de eventos” (ANGYAL apud ROGERS, 1951, p.556) O organismo move-se, em meio a lutas e dores, na direção do aperfeiçoamento e do crescimento (ROGERS, 1951, p.557) Postulado central da Teoria da Personalidade O ser humano tem uma tendência intrínseca para desenvolver todas as suas capacidades a fim de manter ou desenvolver seu organismo. Tendência Atualizante A tendência à atualização: - Preside todas as funções do organismo como um todo, sejam elas físicas ou experienciais; - Objetiva diferenciação e complexidade constantes; - Força motriz (motivação) do comportamento humano; - Capacidade de compreender-se a si mesmo e de fazer escolhas construtivas na vida; - Enquanto potencial é inerente ao ser humano, no entanto, ela não é completa e absoluta; - Sua potencialização requer condições interpessoais favoráveis / limites e condições do meio; percepções do indivíduo. “Existe uma fonte central de energia no organismo humano....talvez isto seja melhor conceitualizado como uma tendência na direção da satisfação , da realização, da manutenção e aperfeiçoamento do organismo” (ROGERS, 1980, p. 123) A tendência à atualização deve ser entendida a partir de uma perspectiva fenomenológica, ou seja, “o que ela procura atingir é aquilo que o sujeito percebe como valorizador ou enriquecedor, não necessariamente o que é objetiva ou intrinsecamente enriquecedor” (ROGERS & KINGET, 1959, p.41) Características da T.A (Brodley, 1999): - Individual e universal: expressão única para cada indivíduo, elemento motivacional de todos os organismos; - Ubíqua e constante: motiva o funcionamento do indivíduo em todos os níveis e em todas as circunstâncias; atua tanto em condições favoráveis quanto desfavoráveis. Pode ser distorcida ou interrompida, mas não destruída; - Processo direcional: é um processo seletivo que objetiva uma diferenciação e complexidade crescentes visando à integridade, a manutenção e o desenvolvimento do indivíduo; Características T.A (Brodley, 1999): -Tendência para a autonomia e não para a heteronomia: move-se no sentido da auto-regulação organísmica; - Atualização do eu (self): é um subsistema da tendência à atualização da pessoa como um todo; - Natureza social: dirige-se para o comportamento social construtivo, dada a própria condição social do ser humano, mas sofre influências do contexto sócio-políticocultural. TENDÊNCIA ATUALIZANTE Ampliação TENDÊNCIA FORMATIVA Defendo a hipótese de que existe uma tendência direcional formativa no universo, que pode ser rastreada e observada no espaço estelar, nos cristais, nos microorganismos, na vida orgânica mais complexa e nos seres humanos. Trata-se de uma tendência evolutiva para uma maior ordem, uma maior complexidade, uma maior inter-relação. [...] É muito provável que essa hipótese seja um ponto de partida para uma teoria da psicologia humanística. Mas ela é, sem dúvida, o fundamento da abordagem centrada na pessoa [...] Essa tendência se confirma ainda mais quando descobrimos que ela não se encontra apenas nos sistemas vivos, mas faz parte de uma poderosa tendência formativa do nosso universo, evidente em todos os seus níveis (ROGERS,1980, p.50) A complexidade desse processo, observado em psicoterapia, não depende apenas de fatores internos,mas inclui interações complexas e mútuas, as quais aumentam a possibilidade de surgimento de novos padrões, em acordo com uma série de condições. Em uma atualização ocorre uma mudança organísmica: é um evento não-linear, em que muitos fatores interagem ao mesmo tempo, não havendo apenas uma mudança psicológica (CASTELO BRANCO, 2008, p. 85) Experiência Experiência Experiência Self O organismo, psicologicamente concebido, é o locus de todaqualquer experiência. A experiência inclui coisa o Experiências A totalidade da Experiência experiência constitui potencialmente ao alcance da consciência Campo Fenomenal – Quadro de do organismo em um dado momento. Referência individual. Organismo Experiência Experiência Experiência Self Experiência Experiência Organismo Experiência Experiência Experiência Self Experiência Experiência Experiência Organismo Experiência Experiência Experiência Self Experiência Experiência Organismo Experiência Uma parte do campo da percepção total tornar-se gradualmente diferenciada como Self (P8) Organismo Self Campo fenomenológico Gênese: criança, paulatinamente, começa a perceber os objetos de seu ambiente e a ligar significados a esses objetos. O SELF Self ou Autoconceito é a parte do Campo Fenomenal que gradualmente torna-se diferenciada. É o conjunto organizado, porém mutável, de percepções referentes ao próprio indivíduo; é a idéia ou imagem de si (noção do eu); características atualizadas ou possíveis (qualidades, falhas, capacidades, limitações, valores, recordações, ...); a consciência de ser, de funcionar. SELF - configuração experiencial composta de percepções referindo-se: 1. ao indivíduo; 2. às suas relações com os outros; 3. com o ambiente; 4. e a vida em geral; Condições de Valia 5. assim como aos valores por ele atribuídos a essas percepções. Interação com o ambiente Interação avaliativa com os outros, principalmente pessoas socialmente significativas (pessoas-critério) (P9) ESTRUTURA DE SELF O Self pode ser concebido como uma configuração experiencial que se constitui e reconstitui em contínuo processo (self em relacionamento), sob a égide complexa de múltiplos fatores. Características do Self: - Encontra-se em fluxo contínuo; - Esta configuração experiencial acha-se disponível à consciência; - É também abrangido pela tendência ao desenvolvimento: tendência à atualização ou realização do self; - É o elemento regulador, orientador do comportamento. Como o self está ligado a valores, muito deles não são experienciados de forma direta, mas introjetados dos outros, principalmente de pessoas socialmente significativas O afeto dispensado por elas é de certa forma condicional Acolhida, confirmada pelo outro Para manter sua necessidade básica de apreço e consideração positiva A criança passa a introjetar os valores dessas pessoas, incluindo-os em seu autoconceito, mesmo que eles não provenham de suas próprias experiências organísmicas. Resultante do processo de socialização Valores, concepções e ideologias aprendidas também constituem os modos de ser e agir no mundo “A rede de pensamentos, sentimentos, opiniões, conceitos, valores; a conexão biológica entre as pessoas influenciam a maneira como uma pessoa se expressa” (WOOD, 1995, p. 211) Criança posturas e concepções rígidas introjeção de valores dos outros falseamento e distorção daquilo que ela experimenta Conflito entre o que ela experiencia e o seu autoconceito (self) Atribui a certos comportamentos um valor positivo que, a nível organísmico, experimenta como negativo ou desagradável. A pessoa tenta ser o “eu” que as outras pessoas querem que ela seja, em lugar do “eu” que ela é realmente. Por isso a família e outras relações institucionalizadas em nossa cultura parecem ser responsáveis por algumas áreas férteis para o desenvolvimento das “doenças” psicológicas (ROGERS, 1978, p. 197) . A medida que ocorrem as experiências podem ser (P11): a) Simbolizadas (alguma relação com o self); b) Ignoradas por não ter relação com a estrutura de self ; c) Negadas ou distorcidas porque são incoerentes com a estrutura de self. Aceita as que lhe convém Rejeita as que acha nocivas O Self seleciona as experiências Distorce as ameaçadoras Ignora as que não lhe interessam Organismo e Self: Congruência e Incongruência Uma pessoa é congruente quando as experiências simbolizadas que constituem o seu self espelham fielmente as experiências do organismo. As experiências organísmicas são aceitas sem ameaça ou angústia. Se está apto a pensar realisticamente. A incongruência entre o Self e o Organismo faz com que os indivíduos se sintam ameaçados ou ansiosos. Comportam-se defensivamente e seu pensamento se torna restrito e rígido. A Dinâmica da Personalidade Se o Self e a experiência total do Organismo são relativamente congruentes, a tendência de realização fica relativamente unificada. Em caso de incongruência, a tendência geral de realização do Organismo poderá chocar-se contra o subsistema daquele motivo – a tendência para realizar o Self. A Pessoa dividida tende a tensão, se sente pouco a vontade, de mau humor. Experiência Experiência Experiência Self Experiência Experiência Organismo Experiência Para proteger a integridade do Self, as experiências ameaçadoras não são simbolizadas, ou então são simbolizadas de modo distorcido. Nem sempre o intelecto dá conta daquilo que é experimentado diretamente pelo indivíduo. Essas experiências encontram-se no nível do pré-reflexivo, do vivido. Segundo Rogers o objeto ou situação da ameaça pode ser percebido inconscientemente, ou subceptado (registro organísmico prévio à simbolização). SUBCEPÇÃO: capacidade do indivíduo de discriminar entre estímulos ameaçadores e de reagir de acordo com isso, mesmo que não seja capaz de reconhecer conscientemente os estímulos a que está reagindo. A Subcepção do objeto ou situação ameaçadora pode produzir reações viscerais, como palpitações experimentadas conscientemente, como sensações de ansiedade, sem que a pessoa saiba identificar a causa do distúrbio. ANSIEDADE Tensão pelo conceito organizado do self quando “subcepções” indicam que a simbolização de certas experiências seria destrutiva para a organização. Maior parte dos compts. adotados (P12) Alguns casos: necessidades não simbolizadas pela incoerência com a estrutura de self (P13) Estrutura de self comportamento Não é “dono”. Desorganização da Personalidade Alto grau de incongruência entre o self e a experiência Experiências não são organizadas na estrutura do self Comportamento do indivíduo torna-se confuso e dividido Tensão psicológica básica ou potencial Responsáveis nem sempre aparentes Desajuste psicológico, comportamento neurótico ou desorganização da personalidade Experiência incoerente com a organização do Self (P16) Ameaça Rigidez perceptiva Mais rigidamente estrutura do Self é organizada para preservar-se. Teoria de Richard Hogan (1948): comportamento defensivo Abertura à experiência Ameaça Experiências percebidas incoerentes com o Self Ansiedade Aumenta a Suscetibilidade à ameaça Defesa (percepções recorrentes) Negação/ distorção incongruência Rigidez Perceptual Necessidade de deformar certos dados da experiência Simbolização incorreta ou discriminação perceptual insuficiente. O homem que se abre a si mesmo “transforma-se, se enriquece” (Heidegger) Liberdade Experiencial Condição em que a pessoa se sente livre para reconhecer e elaborar suas experiências e sentimentos pessoais sem que se sinta obrigada a negar ou deformar suas opiniões ou atitudes intimas para manter a afeição e o respeito de pessoas socialmente significativa para ela. O processo de desorganização psíquica Desacordo entre o Eu e a experiência Em conseqüência de alguma experiência crítica, é desvendado de maneira súbita e irrefutável Experiência corretamente simbolizada - Choque e a desorganização psíquica se produz. Processo de defesa impotente Inicialmente o desacordo é experimentado no nível da “subcepção” (ansiedade) A intensidade da angústia é proporcional á extensão do eu afetado Reorganização ou Ajustamento Psicológico (P15) Como pode ser melhorada essa situação? Como integrar harmoniosamente Self e experiência organísmica? Conceito de Self Redução da tensão interna; integração; aberta; sensação de autonomia; confiança; espontaneidade; consideração de si e do outro. Flexível, aberto, aceita e simboliza experiências antes negadas ou distorcidas. “Sob determinadas condições que incluem, fundamentalmente, a ausência da ameaça à estrutura pessoal, as experiências que estejam em desacordo com ela podem ser percebidas e examinadas, e a estrutura do Self revista para assimilar e incluir tais experiências” (Rogers, 1951, p. 587) Expansão do Self Segurança na exploração da experiência/campo fenomenológico Aceitação “À medida que a pessoa percebe e aceita em sua estrutura de Self uma maior parcela de suas experiências organísmicas, verifica que está substituindo seu sistema atual de valores – baseado amplamente em introjeções, que foram deformadamente simbolizadas – por um processo contínuo de avaliação” (ROGERS, 1951, p. 593)