Caso Clínico: Malformação adenomatóide cística congênita Gabriela G. Dias Internato ESCS Pediatria 2009 Instrutor: Dr. Paulo R. Margotto www.paulomargotto.com.br 8 de junho de 2009 Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)/-SESDF Identificação: RN de L.F.B Masculino DN: 06/04/09 Procedente do HRC Queixa Principal: Dispnéia ao nascer HDA: RN nascido de parto vaginal, bolsa rota no ato, prétermo(35sem), baixo peso (2450g), AIG, Pc: 33cm, Est: 49cm, Apgar 8-7, TS O+, CD negativo, apresentou desconforto respiratório leve ao nascer, necessitando de reanimação(?). Permaneceu 05h no CPAP e 06h no HOOD. Admitido na UTIN do HRAS no dia 07/04/09, com 37h de vida, hemodinamicamente estável, respirando em ar ambiente, taquidispneico leve/moderado; gasometria normal e saturação 94-95%. HDA: Mãe, 26 anos, TS B+, em acompanhamento na medicina fetal do HRAS por malformação pulmonar, realizou 08 consultas de pré-natal, apresentou 02 episódios de ITU (tratados). Exame físico: BEG, corado, hidratado, anictérico, acianótico, taquidispnéico, afebril, ativo e reativo. Em incubadora aquecida, ar ambiente, oximetria contínua e SOG. Exame físico: AR: MV em HTE, s/ RA, TSC + TIC moderadas FR:70 ipm Sat: 94-96% em ar ambiente ACV: RCR 2T BNF s/sopros FC: 158bpm, pulsos amplos e simétricos Abd: globoso, RHA +, flácido, s/VMG Ext: bem perfundidas, sem edema. DX: 70mg/dl Exames: Ecografia 08/01/09: IG 24s + 5d LA aumentado (2+/4+) Malformação em todo o HTE Ecografia 19/02/09: IG 30s +3d LA aumentado (2+/4+) Múltiplas malformações císticas ocupando HTD. Exames complementares: Ecografia 19/03/09: IG: 33s + 3d LAN Imagem cística em todo o HTE, desviando o mediastino Doppler AU: normal TC (14/04/09): Malformação no terço inferior do pulmão esquerdo (D) Exames: ATENÇÃO: A LESÃO É NO LADO ESQUERDO! Exames: 06/04 09/04 HT (%) 28/04 29/04 05/05 50 49 36,3 - 50,4 Hb 17,8 18,1 12,4 13,2 16,9 Plaquetas (mil) 120 157 223 - Leucócitos (mil) 12,5 7,57 8,67 - 15,7 segment. 60 46 33 - 71 Linfo. 33 45 62 - 14 mono 07 06 02 - 10 Eosin. 00 03 02 - 01 Basóf. 00 00 01 - 00 bastões 00 00 00 - 04 - - - - <0,31 PCR 201 Exames: Gasometrias 06/04 29/04 04/05 05/05 pH 7.42 7.42 7.27 7.37 pCO2 26 59.5 53.1 40.6 pO2 126 37.2 73.4 42.5 HCO3 17 22.9 21.7 23 SatO2 99% 95.5% 95% 83.7 BE -6 -1.2 -2.3 -1.2 Evolução: O recém-nascido evoluiu com necessidade de UTI Neonatal por 24 horas Foi, após esse período, enviado ao Alojamento Conjunto (Unidade Canguru), onde permaneceu por 7 dias Obteve licença médica por 9 dias Retornou para realização de cirurgia (já com 01 mês de vida): Malformação adenomatóide cística tipo I (enviado peça para a anatomia patológica) Dois dias após o procedimento, sofreu reabordagem cirúrgica para remoção de Corpo Estranho (dreno torácico) Com 9 dias de pós-operatório, recebeu alta hospitalar. Cirurgia Imagens cedidas pela Dra. Jaisa Moura Imagens cedidas pela Dra. Jaisa Moura Imagens cedidas pela Dra. Jaisa Moura Malformações Pulmonares Gabriela Graciano Dias Internato ESCS Pediatria HRAS 2009 Instrutor: Dr. Paulo R. Margotto Causas: Mecânicas •MAC •Hérnia diafragmática •Atresia de esôfago •Enfisema lobar congênito Cardiovasculares •ICC Neuromusculares •Hipertensão intracraniana •Síndrome hipóxico-isquêmica •Werding-Hoffmann Metabólicas •Hipoglicemia •Hipocalcemia •Erros inatos do metabolismo Pulmonares •Doença da membrana hialina •Taquipnéia transitória do RN •Síndrome da aspiração meconial •Displasia broncopulmonar Malformação Adenomatóide Cística MAC Definição: Defeito no desenvolvimento embrionário dos bronquíolos terminais e ductos alveolares. Falha do mesênquima pulmonar em progredir para o desenvolvimento alveolar Epidemiologia: Doença rara (1000 casos descritos na literatura) Representa 25% das malformações pulmonares Incidência estimada em 1:25000 gestações Sem predominância de gênero ou pulmão acometido (D ou E) Patogênese: Aberrações nos genes da via de sinalização (Hoxb-5), importantes na proliferação e diferenciação celular das últimas 07 subdivisões das vias aéreas menores Consistem na proliferação dos bronquíolos distais com dilatação anormal Supridas pela circulação pulmonar Contém músculo liso, células colunares, cubóides e ciliadas Asssemelham-se a hamartomas pulmonares Por meio de canais malformados, não cartilaginosos se comunicam entre si e com brônquios Se ficam ocluídos, contém líquido e se abertos, gás em seu interior Classificação: Segundo Stocker 1- grande cistos ( 10cm), cercado por pequenos cistos que lembram bronquíolos. Os cistos se assemelham a cisto congênito. E o tipo mais freqüente (ocorre em 60 a 70% dos casos).Maior possibilidade de recuperação total 2- de origem brônquica (15-20% dos casos). Há múltiplos cistos de 0,5cm e microscopicamente tem aparência bronquiolar. O prognóstico é menos favorável, devido à gravidade das malformações associadas 3- ocorre em 8-10% dos casos; é considerado derivar das estruturas bronquiolar-alveolar, sendo observados exclusivamente em RN do sexo masculino. Há volumosas lesões com múltiplos cistos de 0,5-1,5cm de parede fina, lembrando bronquíolos e estruturas alveolares. O prognóstico é mais grave, devido ao tamanho da lesão. Classificação: Tipo 1: Cistos circundados maiores com epitélio pseudoestratificado colunar similar ao do trato respiratório, circundado por múltiplos cistos menores, com células produtoras de muco Tipo 2: Epitélio colunar cubóide com paredes fibromusculares finas (esponja) Tipo 3: Cistos microscópicos com epitélio simples cubóide e parede fibromuscular muito fina Morfologia: Clínica: Assintomático Compressão de estruturas adjacentes aos pulmões Compressão e infecção do próprio cisto ou do parênquima acometido Desconforto respiratório ao nascer Hipertensão pulmonar persistente Hipoplasia pulmonar (explica a persistência da dificuldade respiratória mesmo após a ressecção do parênquima pulmonar acometido) Diagnóstico diferencial: Sequestro pulmonar Cisto broncogênico Enfisema pulmonar congênito Hérnia diafragmática Diagnóstico: Ecografia gestacional (melhor acurácia entre 18 e 20 semanas): lesões císticas no pulmão fetal polidrâmnio: redução da deglutição devido à compressão do esôfago e aumento da secreção pela MAC; Tomografia computadoriza Radiografia de tórax: hipertransparência e ausência de trama correspondente ao cisto Diagnóstico: Left: X-ray image of an asymptomatic newborn with an antenatally diagnosed CCAML in the right lower lobe. Right: CT scan confirming the presence of multiple normal cysts in the right lower lobe Diagnóstico: CT scan of cystic adenomatoid malformation of the right lung Diagnóstico: Complicações: Malignidades (carcinoma broncoalveolar, rabdomiossarcoma, blastoma pleuropulmonar) Pneumotórax espontâneo Hemoptise Hemotórax Abscesso pulmonar Pneumonias com má resposta ao tratamento Hidropsia fetal (Insuficiência cardíaca, compressão da cava inferior) Conduta: Parto vaginal é recomendado Seguimento ultrassonográfico é recomendado durante o pré-natal Manuseio pós-natal depende da clínica ao nascimento: Sintomáticos • Avaliação radiológica imediata (raio-X de tórax e TC) • Excisão cirúrgica Assintomáticos • TC com 01 mês de vida, mesmo se na USG prénatal houver regressão da lesão • Cirurgia é controversa, mas preferida na maioria dos casos pelo risco de malignidades e infecções recorrentes Tratamento: Involução espontânea é rara e pode ser apenas aparente, necessitando de cirurgia tardiamente 10% dos casos (massa cística grande, hidropsia fetal) requer intervenção pré-natal Só é realizada se : cariótipo normal e ausência de outras anormalidades detectáveis Amniocentese (temporária, pois o líquido reacumula) Shunt toraco-amniótico (risco de sepse e trabalho de parto prematuro) Ablação percutânea com laser Tratamento: Excisão da lesão cística com lobectomia para garantir ressecção completa da lesão e evitar escape aéreo no pós-operatório Toracotomia aberta Vídeotoracoscopia (menos invasiva e melhor resultado estético) Cirurgia entre 03 e 06 meses, para haver crescimento pulmonar compensatório Complicações: Precoces • Escape aéreo • Pneumotórax • Sepse • Fístula broncopleural Tardias • Pneumonias • Recorrência da lesão • Aumento da resistência vascular reativa Tratamento: Ressecção do lobo pulmonar acometido pelo cisto em RN sintomático Prognóstico: Bom, na maioria dos casos Ruim se: hidropsia fetal acometimento bilateral Polidrâmnio, desvio de mediastino, diagnóstico em idade precoce não são fatores de pior prognóstico Hérnia diafragmática Definição: Presença de vísceras abdominais na cavidade torácica por defeito diafragmático Epidemiologia: Ocorre em 1 em cada 2000 a 5000 nascimentos Corresponde a 8% das malformações dos neonatos Ocorre preferencialmente à esquerda Há discreta preponderância do sexo masculino Associa-se em 50% dos casos, a outras malformações (anomalias cromossômicas, cardiopatias congênitas e defeitos do tubo neural) Fisiopatologia: Sexta semana de gestação Não fechamento dos canais pleuroperitoneais Forame de Bochdalek abertura na região póstero-lateral do diafragma Continuidade entre as cavidades pelural e peritoneal Herniação de vísceras abdominais para o tórax Clínica: Desconforto respiratório nas primeiras horas de vida Cianose Palidez com piora progressiva (deglutição de ar distende as alças intestinais e comprime o pulmão) Prognóstico: Mortalidade entre 50 e 65%, na ausência de anomalias associadas, chegando a 90% na presença de anomalias severas Maior sobrevida quando ocorre à esquerda A hipoplasia e a severidade da hipertensão pulmonar são os maiores determinantes da mortalidade Diagnóstico: No pré-natal: Ultra-sonografia Polidrâmnio Pós-natal: Radiografia de tórax: desvio do mediastino compressão do pulmão contralateral sonda enteral aparece em local diferente do esperado ausência de gás no abdome Abdome escavado Ruídos hidroaéreos no tórax Bulhas cardíacas deslocadas Diagnóstico: Anteriorposterior x-ray image of a newborn with a left-sided congenital diaphragmatic hernia. Bowel loops can be seen in the left hemithorax. Diagnóstico: Diagnóstico: Fig. 11 A 12-year-old boy with repaired right Bochdalek hernia and hypoplastic lung. a Chest radiograph shows a small, lucent right lung and asymmetric increased pulmonary vascularity to the left lung. b Contrast-enhanced CT scan with mediastinal windows shows hypoplasia of right main pulmonary artery. c Posterior view of a perfusion scan of the lungs confirms marked asymmetry of pulmonary perfusion with 93% of total pulmonary flow to the left lung Conduta: Ventilação mecânica (PEEP fisiológica) Intubação precoce para prevenir acidose, hipóxia e vasoconstrição (hipertensão) pulmonar pela mesma SNG em aspiração para descompressão das estruturas abdominais presentes no tórax e permitir expansão pulmonar Objetivos: PaO2>55 e SatO2>80% Analgesia e sedação: reduz ingesta de ar e a estimulação simpática e permite a complacência (sem paralisia muscular) Uso de surfactantes é controverso (desuso) Decúbito sobre o lado afetado (permite a expansão do lado normal) Tratamento: Emergência fisiológica e não cirúrgica Cirurgia para fechamento de defeito diafragmático e redução das vísceras Entre o primeiro e quinto dia de vida, para estabilização hemodinâmica e da fisiologia pulmonar Acompanhamento multidisciplinar Intraoperative image during surgical repair of a left Bochdalek hernia. View through a left transverse incision shows the colon (C) entering the chest though a large defect (arrows) Complicações: Falência pulmonar na adaptação à vida extra-uterina (circulação sistêmica recebendo sangue pouco oxigenado) Hipertensão pulmonar persistente, por alteração da vascularização Refluxo gastroesofágico Atraso do desenvolvimento Retardo do crescimento Deficiência auditiva Anormalidades músculoesqueléticas (escoliose, deformidades esternais). Consultem: Diagnóstico pré-natal e manejo da malformação cística congênita de pulmão Autor(es): DunCombe GJ, Dickinson JE and Kikiros CS . Apresentação: Ana Marily Soriano Ricardo Dificuldade Respiratória no recém-nascido: avanços Autor(es): Paulo R. Margotto Obrigada! Dda Gabriela