CASO CLINICO: ALCOOLISMO OBJETIVO: APRESENTAÇÃO DO CASO CLÍNICO VIVENCIADO NO INTERNATO, REVISÃO DA LITERATURA, MANEJO DO ALCOOLISMO EM ATENÇÃO PRIMÁRIA, DISCUSSÃO NO GRANDE GRUPO. SEMINARIO INTERNATO SAUDE COLETIVA 2011/1 GRUPO 2 Ana Paula VFB Sperb, Carla L Bruxel, Carolina N Kaemmerer ORIENTADOR: Guilherme Dantas (Preceptoria CEU/Vila CASO CLINICO ID: masculino, 52 anos, branco, casado, natural e procedente de POA, auxiliar de serviços gerais em auxílio-doença desde 2008 (seqüela de fratura e osteomielite joelho Esquerdo). QP: pirose e dispepsia, associadas a ingesta de aproximadamente 2l cachaça-dia há 38 anos. HDA: consumo de grandes quantidades diárias de cachaça regularmente desde os 14 anos de idade, diversas ocasiões de cessação, o maior período foi de 9 meses. Em alguns episódios experimentou sintomas de síndrome de abstinência (tremores, mal-estar, sensação de morte iminente). Há aproximadamente 2 anos iniciou com sintomas dispépticos e pirose, aos quais atribui piora com a ingesta alcoólica (um dos motivos de ter reduzido de 4 para 2 litros cachaça/dia). HMP: fratura fêmur Esquerdo com tratamento cirurgico em 2008, osteomielite 2008. Trauma em olho Direito na infância. Litíase renal diagnosticada em 2008. RS: vide QP e HDA. Demais: sp. Nega alergias. Nega tabagismo. HFamiliar: pai era alcoolista, bebia cachaça. O irmão mais velho (Amadeus) era alcoolista e faleceu aos 39 anos de complicações hepáticas. Mãe faleceu por complicações da asma. Tem 2 irmãs mais velhas, apenas uma, Jandira (60 anos) é alcoolista desde os 18 anos. Tem dois filhos hígidos. HPsicossocial: Paciente é religioso mas não é praticante de nenhuma doutrina, esposa é evangélica praticante, lazer é ficar com a sua família, ajuda a esposa a tomar conta da neta enquanto a filha trabalha. Tem um filho e uma filha adultos, e uma neta. Moram todos juntos e nega ocorrer alcoolismo ou outros transtornos de abuso de substâncias com os mesmos. Ciclo de vida Individual/ Etapas Psicossociais de Erickson Ciclo de vida familiar: família com filhos/fase dos avós EXAME FÍSICO: Bom estado geral. Acianótico, anictérico, eutrófico. SV estaveis. Abdomen inocente. Extremidades aquecidas e perfundidas. Afeto modulado. Sensopercepção preservada. Memória preservada. Orientado no tempo e espaço. Consciência: lúcida Pensamento de conteúdo e velocidade adequados. Linguagem adequada. Inteligência aferida na média. Atenção adequada. Conduta adequada 1) 2) 3) 4) Lista de Problemas/ Análise: Transtorno de dependência do álcool Dispepsia funcional? litíase renal (2008) Limitação funcional em MIE (2008) CONDUTAS INICIAIS Orientação quanto a cessação do uso de alcool omeprazol VO 20mg/dia exames retorno em 30 dias Exames? Janeiro 2011 Persiste com uso de alcool 2L/dia Persiste com queixas dispépticas 1. 2. 1. 2. 3. 4. 5. A: Dispepsia orgânica? Hepatopatia alcoolica cronica? C: Manter omeprazol Ecografia Abdominal Total RX Tórax Abordar cessação ou redução da ingesta Retorno em 15 dias Janeiro 2011 S: bem, sem queixas, traz RX torax solicitado na consulta anterior, relata que está há 7 dias sem beber, o fator motivador foi a morte do melhor amigo por complicações do alcoolismo. Está decidido a manter-se abstinente. Nega sintomas de Síndrome da abstinência. Em uso regular de omeprazol 20mg/diário com resolução dos sintomas dispépticos. O: RX torax: sp. SV estaveis. Abdomen inocente. Extremidades aquecidas e perfundidas. A: alcoolista crônico em abstinência há 7 dias Sem sintomas da síndrome de abstinência C: orientação e manejo verbal, vinculação com a equipe. disponibilização dos endereços do AA retorno 7 dias com familiar mais próximo (esposa) 31 JANEIRO 2011 S- bem, sem queixas. Não foi ao AA. Não tem vontade de ir. Conversou com a esposa, embora a mesma não possa vir a consulta (cuidando da neta pequena). Quanto ao que lhe teria levado a beber, relata que na adolescencia (14 anos) sentia-se menos amado pela mãe, e começou a beber após sua morte. O pai se afastou, e constituiu outra família. Passou a viver com o irmão mais velho, que já bebia. Está decidido a manter-se em abstinência. Prefere seguir acompanhando no posto. Tem confiança nos doutores. O- BEG. SV estaveis. A- alcoolista em abstinência há 15 dias. C- manter vínculo com equipe. VD em 15 dias. 23 Fevereiro 2011 VD: paciente em casa, na companhia da esposa. Estava bem e ficou bastante feliz com a nossa visita, bem como a esposa, que agradeceu muito a atenção. Hoje faz mais de um mês que ele não bebe, como ele mesmo fez questão de frisar : "doutora, domingo (dia 27/02) vai fazer 1 mês e 1 semana que não bebo". Nega vontade de beber e nega sintomas abstinência. Na ocasião da visita ele estava com dores abdominais em decorrência de uma gastroenterite, estava com diarréia há 2 dias, tinha sido atendido no PA BJ no dia anterior. Sem febre, vômitos ou outras queixas O: BEG.LOC.MUC. PA:125x85 mmHg, FC: 78 bpm, AC e AP: sp. Abdomem: RHA+, distendido e doloroso a palpação, Blumberg e Murphy negativos. Extremidades aquecidas, perfundidas e sem edemas, com pulsos pediosos simétricos e presentes. A: alcoolista em abstinencia há 30 dias sem sinais de síndrome de abstinência gastroenterite C: revisão no posto em 48h 25 FEVEREIRO 2011 S- bem, sem queixas, mantem-se abstinente. Não tem vontade de voltar a beber. C- passar o caso para a proxima equipe de internos, manter vinculo, seguir com controle frequente. dependênci a abuso Síndrome abstinência hepatopatia ALCOOLISMO encefalopatia DEFINIÇÃO (CID10) F10 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool Intoxicação aguda F10.0 Uso nocivo para a saúde F10.1 Síndrome de dependência F10.2 Síndrome de abstinência F10.3 Síndrome de abstinência com delirium F10.4 Transtorno psicótico F10.5 Síndrome amnésica F10.6 Transtorno psicótico residual ou de instalação tardia F10.7 Outros transtornos mentais e comportamentais F10.8 Outros transtornos mentais e comportamentais não especificado F10.9 Uso nocivo: requer que um dano real tenha sido causado, mental ou físico. 1) 2) 3) 4) 5) 6) Síndrome da dependência: fenômenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos no qual o uso de bebida alcoólica alcança prioridade maior que muitos outros compromissos. 3 ou mais sintomas em 1 ano: desejo ou compulsão; dificuldade de controlar comportamento de beber (inicio, término ou níveis de consumo) abstinência quando o uso foi diminuído ou parado; tolerância aumentada abandono de prazeres para utilizar álcool, aumento de tempo para adquirir efeitos do álcool ou aumento do tempo para se recuperar de seus efeitos; persistência de uso mesmo com diagnóstico de doenças fisiológicas ou comportamentais. Principais complicações orgânicas da Dependência de Alcool GastroIntestinais: hepatopatias, pancreatite, RGE Cirrose: homem deve beber em média 80 gramas de álcool ( 60 g para mulheres ) por semana, por 10 a 12 anos. Fonte: Neves, MM e cols. Concentração de etanol em bebidas alcoólicas mais consumidas no Brasil. GED 8(1):17-20, 1989 Síndrome de Wernicke – Korsakoff Cardiovasculares Hematológicas Neurológicas Obstétricas/neonatais DIAGNÓSTICO CAGE ( cut-down, annoyed, guilty, eye-opener) (sensibildade 94% e especificidade 97%) C= alguma vez o Sr sentiu que deveria diminuir a Caso clínico quantidade de bebida? A= as pessoas o aborrecem porque criticam o seu modo de beber? G= o Sr sente-se culpado/chateado pela maneira como costuma beber? E= o Sr costuma beber pela manha para diminuir o nervosismo ou ressaca? TRATAMENTO O contexto do tratamento da dependência de álcool pode incluir medicamentos, terapias comportamentais, ou ambos. Os pacientes que recebem tratamento médico com naltrexona, Intervenção Médica, ou ambos se saíram melhor nos resultados de consumo. Nenhuma combinação produziu uma melhor eficácia do que a presença da Intervenção médica. A abstinência não pode ser, então, o único objetivo a ser alcançado. Aliás, quando se trata de cuidar de vidas humanas, temos que, necessariamente, lidar com as singularidades, com as diferentes possibilidades e escolhas que são feitas. Período Crítico: primeira semana Tremores: 5-10h após última dose Convulsões/hiperatividade SNA: 24-48h Delirium tremens: 3-5 dias Ambulatorial: consultas freqüentes, esclarecer sintomas e sinais para familiares e orientar serviço de emergência. Uso de medicação pode ser necessário: Diazepan 20-40 mg/dia ou Lorazepan 4-8mg/dia. Tiamina (B1) 300mg/dia IM por 1 semana, e manter mesma dose VO por 3 semanas Disulfiran: inibidor da aldeído desidrogenase . Dose inicial 250mg/dia VO Anti-fissura (anticraving): Naltrexona (antagonista opioide), o que faz com o álcool diminua a sensação de prazer. 50mg/dia VO por 3 meses AA 1 - Admitimos que éramos impotentes perante o álcool - que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas. 2- Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade. 3- Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos. 4- Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos. 5- Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas. 6- Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter 7- Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições 8- Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados. 9- Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem. 10- Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente 11- Procuramos através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que o concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós e forças para realizar essa vontade. 12- Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades. o o o Porto Alegre: 39 grupos registrados Contato: 3226-0618 e/ou www.aars.org.br Os resultados dos AA são difíceis de avaliar, mas aproximadamente um terço permanece sóbrio de 1 a 5 anos, e um terço por mais que 5 anos (Fonte: AA) 1. Dependências do Vida Centro Humanistico,Sala 606 -Avenida Baltazar de O. Garcia, 2132 Fone: (51) 3341-6915 Email:[email protected] 2. CENSAARS: das 09h às 12h e das 13h às 17h Rua Voluntários da Pátria, 595/sala 315 – Centro - Fones: 3226-0618 www.aars.org.br 3. A.A. Mãos Amigas Dependências Hospital Psiquiátrico São Pedro - Av. Bento Gonçalves, 2466 – 4. A.A. Gaúcho Segundas às 19h 30min (F) e Quintas às 19h 30min (A) Dependências Igreja São Jorge - Av. Bento Gonçalves, 2948 - Bairro Partenon 5. A.A. Alto Petrópolis Domingos às 16h (A) Dependêcias da Igreja Metodista em frente ao Colégio Antão de Farias - Rua Bom Jesus, s/nº - Bairro Bom Jesus 6. A.A. Mente Aberta Sextas às 15 (A) Posto de Saúde - Hospital de Clínicas BIBLIOGRAFIA 1. Bruce B. Duncan et al. Medicina Ambulatorial: condutas de atenção primária baseada em evidências. Porto Alegre : Artmed 2004. 2. Anton RF et al. Combined Pharmacotherapies and Behavioral Interventions for Alcohol Dependence The COMBINE Study: A Randomized Controlled Trial. JAMA, May 3, Vol 295, 2006. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de DST/Aids. A Política do Ministério da Saúde para atenção integral a usuários de álcool outras drogas / Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Coordenação Nacional de DST e Aids. – Brasília: Ministério da Saúde, 2003. 4. Brasil. Ministério da Saúde. Saúde mental e atenção básica: o vínculo e o diálogo necessários. Inclusão das ações de saúde mental na atenção básica. Coordenação de Saúde Mental e Coordenação de Gestão da Atenção Básica, nº 01/03. http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/diretrizes.pdf 5. Cataldo Neto, A. et al. Psiquiatria para estudantes de medicina. Porto Alegre: Edipucrs, 2003. 6. G.J. da Paz Filho, L.J. Sato, M.J. Tuleski, S.Y. Takata, C.C.C. Ranzi, S.Y. Saruhashi, B. Spadoni. Emprego do questionário cage para detecção de transtornos de uso de álcool em pronto-socorro. Rev. Assoc. Med. Bras. vol.47 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2001 7. Deborah S. Hasin et al. Prevalence, Correlates, Disability, and Comorbidity of DSM-IV Alcohol Abuse and Dependence in the United States. Results From the National Epidemiologic Survey on Alcohol and Related Conditions. Arch gen psychiatry/vol 64 (no. 7), 2007. 8. Mark l. Willenbring et al. Helping Patients Who Drink Too Much: An Evidence-Based Guide for Primary Care Physicians. ,Am Fam Physician. 2009;80(1):44-50